Artes
Quadrinista Hugo Canuto relê clássicos da Marvel e apresenta heróis como Orixás

O artista e co-criador da Marvel, Jack Kirby, jamais imaginaria que clássicas capas de HQs tivessem, anos depois, uma releitura tão inusitada: ao invés do Capitão América, Thor, Homem de Ferro, por exemplo, divindades como Iansã, Ossain, Ogum, Xangô e Oxaguiã. Essa foi a ideia do quadrinista baiano Hugo Canuto (30), que em agosto lançou nas redes uma releitura da clássica revista The Avengers (ao lado), na qual estes Orixás estão representados. A inovação e ousadia gerou tamanha repercussão que Hugo já pensa em uma HQ, de fato, com esta criação, que ele intitula: Orixás.
Apaixonado por mitos e influenciado por Kirby, Canuto começou a desenhar aos dois anos e nunca mais parou. Autodidata, tinha sua inspiração em quadrinhos como Conan, Thor e os trabalhos do artista francês Moebius. “Em Salvador ainda falta uma boa formação nesta área, os artistas produzem de forma muito empírica pois há poucas escolas. Foi só ao final do curso de arquitetura na UFBA que entendi que era possível levar meu trabalho de forma profissional, participando dos cursos na Quanta Academia de Artes”, diz. Há dois anos, saiu de Salvador e foi para São Paulo, abandonando a estabilidade de um cargo público para seguir novos caminhos, se identificando como – segundo o mesmo – “um nômade em constante aprendizado”. Hoje atua em projetos diversos como storyboards, murais na parede, capa de livros, revistas, Dvds e Concept Art.
Hugo Canuto vem conquistando muitos likes, compartilhamentos e emoções nas redes sociais com sua nova criação, a série Orixás, resultado de dois aspectos distintos que fundamentam seus traços: a tradição e a modernidade. “De um lado, a mitologia e a história dos povos, que desde criança me influenciaram. Do outro, a cultura pop, o quadrinho e o cinema, que formaram parte do meu repertório”, explica. Até então foram apenas três artes e já há diversos pedidos para criar as demais entidades das religiões de matriz africana. “Tendo permissão, farei, pois ainda há outros para serem homenageados, sempre respeitando suas características”, afirma.
“Como candomblecista, ao ver seu trabalho, fiquei muito feliz por ser mais um artista a se preocupar em não deixar perder a essência do Orisá. É sublime saber que no amanhã meus filhos terão em mãos um gibi em pintura de Oyá, Ogun, Sango, Osala e todo o xirê” – Rogéria da Matamba Ateliê (RJ)
“A repercussão tem sido intensa, todos os dias recebo mensagens do público sobre representatividade a partir dos símbolos abordados, muitos deles professores, músicos, estudantes, adeptos ou não das religiões de matriz africana, mas que reconheceram nesse trabalho o quanto precisamos de diversidade na mídia”, diz o quadrinista, que não teve qualquer pretensão além de homenagear duas paixões, quadrinhos e mitologia, segundo conta.
Mas ele foi além da homenagem: ultrapassou as mil curtidas em quatro dias com a pinup de um Xangô de armadura vermelha, agitando seu machado (“Oxê”) sobre um fundo de galáxias e sois (ao lado). Para atender aos pedidos, Hugo passou a produzir a série de pôsteres com estas criações e a primeira tiragem, de 100 exemplares, esgotou em duas semanas. Segundo o quadrinista, os valores adquiridos serão revertidos a instituições ligadas à promoção da cultura afro-brasileira em Salvador. A primeira a ser contemplada será o Ilê Aiyê. E não pára por aí.
Hugo Canuto começou a produzir uma série em quadrinhos inspirada na mitologia Yorubá que, segundo ele, será lançada em 2017. Agora ele é só pesquisas. Mas quem já quer saber mais sobre o artista, suas produções e planos, já pode conferir a fanpage oficial deste projeto – “Contos de Òrun Àiyè”. Lá, todas as artes estarão disponíveis, além de outros itens. Para Salvador, sua terra natal, Hugo Canuto já anuncia: junto a outros artistas locais, ele vai realizar oficinas de HQs para jovens de comunidades carentes, de modo incentivá-los a criar suas próprias histórias.
“Durante a minha infância, isso não era tão frequente. Tive dezenas de bonecos de super-heróis, quase todos brancos. Minha infância não foi ruim por isso, mas é lógico que poderia ter sido melhor, me ajudaria a me conhecer melhor e me aceitar desde cedo. Não importa o que digam, é gratificante ser associado a uma coisa boa, isso fortalece a autoestima”. – Gilson Nguni, professor de História (Salvador/BA).
Artes
Pinacoteca do Beiru inicia temporada com programação gratuita a partir de maio

A Pinacoteca do Beiru, espaço de arte e memória localizado no bairro de Tancredo Neves, inicia em maio sua programação de atividades para o ano de 2025. Cursos de canto, teatro, pintura e graffiti estão entre as primeiras ações oferecidas, com inscrições abertas até esta sexta-feira (25).
Com uma proposta gratuita e contínua, a Pinacoteca segue sua missão de aproximar a arte da comunidade periférica soteropolitana, promovendo formação, fruição e encontros culturais. As atividades são voltadas principalmente para adolescentes e jovens a partir de 12 anos, e conduzidas por profissionais com trajetória consolidada em suas áreas.

Foto: Clara Pessoa
Os primeiros cursos do ano são:
Canto e Teoria Musical, com Marcos William
Início: 06 de maio | Terças e quintas, das 9h às 12h | A partir de 12 anosGrafite e Pintura, com Márcio MFR
Início: 10 de maio | Sábados, das 9h às 12h | A partir de 12 anosTeatro “Ará Izô”, com Nando Zâmbia
Início: 16 de maio | Sextas, das 14h às 17h | A partir de 14 anos
Além dos cursos, a programação de 2025 inclui exibições do Cinematografinho no Beiru com sessões mensais de junho a dezembro, rodas de conversa em parceria com o Coletivo de Mulheres do Calafate, saraus e encontros voltados à formação de leitores. O ano será encerrado com um grande evento em um equipamento cultural fora da Pinacoteca.
Outro destaque é a realização do Pinacoteca do Beiru Festival de Artes Visuais – Ano II, que retoma o evento de estreia do espaço com ainda mais artistas, exposições e atividades. A proposta é fortalecer as artes visuais na comunidade e fomentar o protagonismo artístico local.
Criada em 2021 pelo artista visual Anderson AC, em parceria com a produtora cultural Juliana Freire, a Pinacoteca do Beiru também avança em seu processo de estruturação institucional como museu, alinhando-se a práticas museológicas contemporâneas e reforçando seu papel na valorização da memória das periferias de Salvador.
SERVIÇO
O quê: Programação 2025 – Oficinas da Pinacoteca do Beiru
Inscrições até: 25 de abril de 2025
Formulário: Clique aqui para se inscrever
Local: Rua Irmã Dulce, 1E – Beiru/Tancredo Neves, Salvador (Referência: Início da Estrada das Barreiras, quase em frente à Curva da Vida)
Instagram: @pinacotecadobeiru
E-mail: pinacotecadobeiru@gmail.com
Artes
Artista soteropolitana Eva de Souza tem obra imortalizada na Suíça com bordado político “Zamambaia”

A artista Eva de Souza, nascida em Salvador, acaba de conquistar um marco histórico em sua trajetória artística: sua obra têxtil “Zamambaia: a testemunha silenciosa” passa a integrar o arquivo público Cantonale, em Berna, na Suíça. A escolha se deu por meio de um processo de seleção rigoroso que visa preservar obras de relevância para as futuras gerações.
Radicada na Suíça há mais de 30 anos, Eva é suíço-brasileira, mas leva com orgulho suas raízes soteropolitanas, que marcam profundamente sua produção artística. Atriz, ativista e artista plástica, ela utiliza o bordado político como ferramenta de denúncia e elaboração artística, transformando linhas e tecidos em poderosos manifestos visuais.

Foto: Divulgação
A obra “Zamambaia” é um tributo à resistência diante das violências cotidianas, especialmente contra corpos negros e femininos. Com forte inspiração nas dores da humanidade, o bordado denuncia o racismo estrutural e a violência de Estado, ao mesmo tempo em que exalta a natureza como testemunha e força vital.
“Esse é o meu protesto contra as desumanidades, o esquecimento e o abandono. Zamambaia ilustra o racismo estrutural e a violência contra a mulher negra que perdura por gerações. A cada linha, um traço de pensamento e a construção de um desenho de ativismo”, afirma Eva.
Com formação em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Eva também é mestre em Gestão Cultural pela Universidade de Basel, em Berlim, e tem especialização em Mediação e Conflito pela Universidade de Berna. Sua trajetória começou nos palcos e galerias de Salvador, expandindo-se para exposições na Alemanha, Suíça e outros países europeus.

Foto: Divulgação
A artista celebra o reconhecimento internacional como um passo simbólico para as vozes e narrativas vindas da diáspora.
“Me orgulho por representar o Brasil na Europa com trabalhos que contribuem para um cenário artístico plural e diverso. Agora, me consolidei não apenas como uma artista suíço-brasileira, mas como uma artista imortal”, destaca.
Para conhecer mais sobre o trabalho de Eva de Souza, acesse seu portal oficial ou siga o perfil @evadesouzabluewin.ch nas redes sociais.
Artes
Artista cabo-verdiana Daja Do Rosário promove oficina gratuita sobre corpo e memória

Salvador recebe entre os dias 10 e 18 de maio, a artista visual cabo-verdiana Daja Do Rosário para uma série de atividades que unem arte, ancestralidade e ecologia. A oficina principal, com o nome “Corpo – Indumentária / Transe”, será gratuita e tem vagas limitadas, acontecerá nos dias 14 e 15, das 14h às 17h, na Casa do Benin e no Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC_BA).
O projeto propõe uma vivência colaborativa que combina práticas ancestrais com arte contemporânea. Os participantes serão convidados a criar esculturas-indumentárias a partir de fibras vegetais, como a ráfia, explorando o corpo, a memória e os gestos como forma de escuta e reverência à ancestralidade africana.
A experiência é destinada a artistas afrodescendentes que atuam em diferentes linguagens: artes visuais, arte têxtil, dança, performance, literatura, música, práticas de cura, escultura, saberes culturais e educação. As inscrições são feitas exclusivamente online, através do FORMULÁRIO.
Resultado da experiência coletiva
Durante a imersão, 15 participantes em cada instituição desenvolverão peças únicas, simbólicas e pessoais, que ao final serão reunidas em uma grande escultura coletiva — um “corpo-fractal” que preserva as individualidades e promove um campo comum de diálogo e pertencimento. Além da inscrição, os participantes são incentivados a levar fibras e tecidos naturais que possam ser incorporados à criação.
Sobre Daja do Rosário
Daja Do Rosário é uma artista visual cabo-verdiana que utiliza sua obra para afirmar sua identidade como mulher afrodescendente. Crescida no sul da França, distante de suas raízes culturais, ela transforma sua trajetória pessoal em uma narrativa coletiva sobre as diásporas africanas. Através de autorretratos e esculturas com materiais reaproveitados — como ráfia, sacos, búzios e tecidos —, Daja combina tradição e contemporaneidade, criando composições que recontam histórias apagadas da África e reivindicam uma identidade plural, ancestral e politizada.

Foto: Divulgação
SERVIÇO:
O que: Oficina “Corpo – Indumentária / Transe”, com Daja do Rosário
Quando: 14 e 15, das 14h às 17h;
Onde: Casa do Benin e no Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC_BA);
Valor: Gratuito;
Inscrições: através do FORMULÁRIO.