Religião
#SoteroRelato – Laísa Gabriela sobre ser de Candomblé

“Deus é mais!”, “Você está cultuando o demônio?”, “Logo você, que já foi da igreja se envolvendo com essas coisas? Sai disso!”, “Você tem que procurar Deus, porque esse Deus aí que você diz que cultua não é o meu”, “Jesus disse que os feiticeiros não teriam o reino dos céus, vá buscar Jesus, ele é o único que salva”.
Essas foram algumas das coisas que após passar por um resguardo, usando roupas brancas por 21 dias. Ouvi isso de pessoas na rua, familiares e até mesmo de um rapaz no ônibus que nunca vi na vida.
Dói ter que ouvir essas coisas. E o que mais dói é lembrar que um dia fui evangélica e também preconceituosa, então, agora consigo entender o que as pessoas sentiam quando eu agia de forma ignorante e desrespeitando a fé delas.
Acho que na nossa vida tudo serve como aprendizado, aprendi da pior forma, passando pelo mesmo e estando no lugar daqueles que um dia ofendi.
A situação quanto à intolerância religiosa está tão alarmante no país, que só em 2015 o Disque 100 registrou 556 casos. Segundo dados da Secretaria de Direitos Humanos, vinculada ao Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, de 2011 até 2015 o número de denuncias subiu de 15 para 556 (http://bit.ly/1T6EzeX e http://bit.ly/1TKJtg3). Esse aumento pode ter se agravado devido à coragem das pessoas de denunciar.
No Brasil, já tivemos diversos casos conhecidos nacionalmente. Desde casas de candomblé queimadas (http://glo.bo/2buXccK), imagens das divindades queimadas (http://glo.bo/2buZ3y8), casos de intolerância dentro do coletivo (http://bit.ly/2aZYbho) e pasme, até criança sendo apedrejada (http://glo.bo/1Ce1hUV). Diante de tudo isso, me pergunto: onde vamos parar e o que vai ser feito pelo nosso povo? Esses são apenas alguns tristes exemplos, mas por aí a fora tem muito mais!
Fico incomodada quando as pessoas usam o que creem como verdade absoluta, desmerecendo as demais religiões, desrespeitando e sendo intolerante e muitas vezes, sendo racista também, associando a nossa cultura a algo ruim.
Vivemos em um mundo onde existem milhares de culturas, religiões, sendo que todos precisam aprender a conviver no mesmo espaço e respeitando as diferenças de cada um, não é o que acontece.
Meu desejo é que um dia as pessoas entendam que para mim Orixá é amor, respeito, união, é o ar que respiro, é o vento que toca meu rosto, é a coragem que surge em mim para enfrentar as mais diversas situações é o desejo de justiça que tenho quando vejo alguém injustiçado, é a força ao acordar, é vida!
Não cultuo ao diabo, cultuo divindades e exijo respeito, não só para mim, mas para todos os irmãos de Asè! Desejo força para cada um de nós que precisa lidar diariamente com essas situações.
Não nego minha fé, sou candomblecista sim e não tenho vergonha disso. Asè ooo!
Laisa Gabriela de Sousa é SoteroPreta, estudante de Jornalismo, candomblecista e doceira.
O #SoteroRelato é um espaço aberto a todos e todas que queiram relatar uma experiência em algum campo da Cultura Negra vivenciada em Salvador: eventos, projetos, ações formativas, etc. Participe, conte-nos seu relato: portalsoteropreta@gmail.com.
Religião
Terreiro Zoogodò Bogum Malè Rundò recebe roda de conversa sábado (29)

O Zoogodò Bogum Malè Rundò, um dos mais tradicionais terreiros de Candomblé de Salvador, recebe o Projeto Okàn Dúdù para mais uma etapa do ciclo educativo. A roda de conversa será sobre saúde mental no candomblé e acolhimento aos yawò, neste sábado (29), a partir das 10h. Criado por Laísa Gabriela de Sousa, o projeto visa fortalecer os laços entre os membros da comunidade de axé, promovendo um espaço de escuta, troca de experiências e valorização das tradições afro-brasileiras.
“Nossa história é marcada pela resistência e pela força dos nossos ancestrais. O Okàn Dúdù vem para fortalecer essa caminhada, trazendo reflexões e conexões fundamentais para a nossa existência e continuidade”, destaca Laísa.
Fundado no século XIX, o Terreiro Bogum, liderado por Naadoji Índia Mello, é um importante referencial da nação Jeje-Mahi e tem papel fundamental na preservação da cultura e espiritualidade negra. “O Okàn Dúdù tem criado um espaço de diálogo que respeite a hierarquia do Candomblé, mas, também, que abre caminho para discussões sobre temas essenciais para a nossa comunidade, como acolhimento, combate ao racismo religioso, coletividade e pertencimento”, explica Laísa Gabriela, idealizadora do projeto.

Foto: Divulgação
O ciclo educativo, que está em suas últimas rodas de conversa da circulação, abordou sete temáticas que dialogam com as vivências do povo de axé, incentivando a troca de conhecimentos entre gerações. A iniciativa, também, pretende ampliar seu impacto com a produção de um documentário e a realização de palestras em escolas, levando as discussões para diferentes espaços da sociedade.
Serviço
O quê: Roda de conversa do projeto Okàn Dúdú
Quando: 29 de Março de 2025 às 10h
Onde: Zoogodò Bogum Malè Rundò (Engenho Velho da Federação)
Entrada: Gratuita
Audiovisual
Mostra “Entre Axé” exibe curtas inéditos no Museu Afro-Brasileiro

Salvador completa 476 anos e o Instituto Calu Brincante, em parceria com a produtora Menina Bonita, realiza a mostra cinematográfica “Entre Axé” no Museu Afro-Brasileiro (MAFRO). Serão exibidos os curtas “Ecos de Cura” e “Roncó: No Mesmo Passo”, que exploram saberes, rituais e a resistência da cultura afro-brasileira na cidade mais negra fora de África.
O curta “Ecos de Cura”, dirigido por Cassia Valle e Luane Souto, desdobra o espetáculo Memórias Povoadas, mergulhando nos saberes ancestrais das mulheres negras e ressaltando a cura e o cuidado como formas de resistência. Já “Roncó: No Mesmo Passo”, dirigido por Anjos de Castro, mostra a fundação de um terreiro de candomblé nos arredores de Salvador, entrelaçando as histórias de três irmãos em uma jornada de fé e tradição.
Os curtas fazem parte da primeira edição do Cinerê – Circuito de Produção Audiovisual para Novos Cineastas Negros, realizado pela Pé de Erê Produções.
A Mostra “Entre Axé” veio para reafirmar Salvador como um centro de diversidade cultural e criatividade, onde novas histórias, protagonizadas por negros e negras, ganham cada vez mais visibilidade.
“Ao celebrar suas raízes, Salvador se coloca como um farol de resistência e afirmação cultural, onde as narrativas negras não só são preservadas, mas também projetadas para o futuro, construindo um legado de protagonismo e visibilidade para as gerações vindouras”, diz Cassa Valle.
A sessão é gratuita e aberta ao público. Sujeita a lotação.
SERVIÇO
O quê: Exibição dos curtas Ecos de Cura e Ronco no Mesmo Passo – Mostra “Entre Axé”
Onde: MAFRO – Museu Afro-Brasileiro, Pelourinho, Salvador
Quando: 29 de março de 2025, às 15h
Quanto: Gratuito
Fotos: Luane Souto
Religião
Terreiro Axé Omin Ifan recebe roda de conversa sobre legado ancestral

O Terreiro Ilê Axé Omin Ifan, em São Tomé de Paripe, em Salvador, receberá uma roda de conversa sobre acolhimento à população LGBTQIAPN+ e o legado ancestral através das gerações no candomblé, dia 22 de março (sábado), a partir das 10h.
A ação integra o projeto Okàn Dùdù, que articula saberes ancestrais e contemporâneos, conectando o candomblé às questões sociais.

Foto: Divulgação
A primeira edição do projeto conta somente com as pessoas de terreiro para debater importantes temáticas dentro da religião, como seus desafios e aproximações com a nova geração, compreendendo que a tradição depende da continuidade.
“Realizar itinerários formativos que fertilizam e diluem pontes entre os mais velhos e a juventude no candomblé é uma responsabilidade de todos nós, uma vez que a tradição implica em continuidade”, afirma Almerson Cerqueira, Bàbá Egbé do Ilê Axé Omin Ifan.
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