Opinião
“Em Kaiala tem um ator que resolveu falar sobre o extermínio da população negra”
Sabe aquele instante que a gente dá uma sacada no Instagram para dar umas curtidas aleatórias? Tenho me dedicado a isso agora bastante! Foi conselho de minha sobrinha:
– Meu tio, você não curte nada, maior grosseria!
– É?
Amo ver fotografias e charges no Instagram, mas já sei que precisa curtir foto de gente no espelho da academia fazendo um legal com o polegar. Precisa? Uma charge me para: O desenho mostrava um mar revoltado, destroços de embarcações e no meio de tudo isso, uma criança negra tentando sobreviver em cima de uma tábua. Discussão pra um milênio, né? Mas ainda tinha a frase embaixo: “Ninguém é Haiti”.
Vixe, verdade, já fomos até Charlie! Silêncio! Mas já se conta mais de mil mortos pelo furacão Matthew no Haiti. Silêncio. Nem fama Matthew teve! Quem é Matthew? A morte de mulheres, homens, idosos e até crianças do Haiti não nos causa identificação, comoção e interesse a esse ponto, Matthew!
Silêncio nas redes sociais e grande mídia! Não falamos desse assunto nas grandes rodas também, óbvio. Silêncio! E foi esse silêncio que me levou a ver Kaiala, no Teatro da Barroquinha.
Em Kaiala tem um ator, que resolveu falar sobre o extermínio da população negra em nosso país, Sulivã Bispo.
Ele se utiliza das memórias de uma avó, de um adolescente irmão de candomblé e uma evangélica para recontar a vida e morte de uma garota de 10 anos que foi morta durante uma invasão ao seu terreiro. Motivo: intolerância religiosa.
Silêncio! O extermínio da população negra brasileira, nas grandes e pequenas cidades não nos comove, ainda que aconteça aqui ao nosso lado. Silêncio!
É desse ponto que o espetáculo Kaiala parte para sua narrativa metalinguística-poética. O espetáculo aconteceu no Teatro da Barroquinha, na antiga Igreja da Barroquinha, local que remete aos fundamentos das religiões de matriz africana no Brasil. Discussão pra um século e meio se não tiver paradas pro café e banheiro.
Acompanhado por toques de percussão, Sulivã Bispo, vestido predominantemente de branco, entra pelas portas da igreja-teatro iniciando o espetáculo embalado numa paz de Oxalá.
Já tá dito, né? Não. Sulivã diz mais, sem economias e sem excessos, ele percorre fácil pelos três personagens completamente distintos, mas que estão ligados intimamente por questões afetivas e espiritual (a avó e o adolescente) mas também por conflitos pessoais e étnico-religiosas (a evangélica). Assim como o ator, que é negro e praticante de religião de matriz africana, também está muito próximo dessas pessoas.
Sulivã está em casa e empresta e remonta trejeitos, frases, formas de falar e ser bem típicas do povo negro e de terreiro de Salvador.
Tudo é narrado de uma forma muito familiar, simples e envolta nas relações cotidianas, buscando essa identificação do público com essas personagens, com a vida dessa menina assinada de uma maneira tão violenta e estúpida.
É um recado bem dado, uma intervenção necessária, muito necessária. Sabe um diálogo bom? É bacana ver um artista dando seu recado e dando bem dado, principalmente no teatro, que é tão penoso para se produzir. Saí contente da apresentação!
O artista tem essa função, arte é esse veículo! Sulivã tem identidade. E essa identidade está na expressão dele! Obrigado pelo encontro da noite!
Pontos para a direção precisa de Thiago Romero, texto, cenografia, luz, figurino, trilha sonora, executada ao vivo, tudo redondinho!
E no mais, é poético, está dito pelo todo! Pelo local, pelo cenário, pelos corpos, pelos gestos, pelos cheiros, pelas luzes, pelas aguás, pelos espelhos, pelos olhares, pelos trejeitos, pelos risos, pelo amor, pela violência, pelo diálogo, pela narrativa inteligente, pela magia… Rolou mágia! Muita! É um solo-performance curtinho e ótimo de ver! E necessário! “O Haiti não é aqui”, mas… “pense do Haiti”!
Tem mais apresentações: dias 3 a 6 de novembro, às 19 horas,
no Teatro Gregório de Matos agora.
Crítica de Ricardo Gonzaga para o Portal SoteroPreta.
Fotos: Andréa Magnoni
Opinião
#Opinião: O sentido oculto da sexta-feira 13 – Por Januário
Em 13 de outubro de 1307, Filipe IV, rei da França, ordenou que os Cavaleiros Templários fossem presos, sob a acusação de heresia. A maioria dos membros desta ordem foi para a fogueira, entre eles, o grão-mestre Jacques de Molay. Ante a morte, de Molay lançou uma maldição sobre a linhagem de Filipe IV: todos os seus três filhos homens morreriam, o que viria a se concretizar, ao longo de 13 anos seguidos.
Na mitologia nórdica, vemos Loki, o 13º deus adentrar ao banquete em Valhalla, morada dos deuses, sem ser convidado. Ardiloso, ele incita seu irmão Hoder, que era cego, a matar Balder, um deus amado por todos. Igualmente ardiloso foi Judas Iscariotes, que, de acordo com o relato bíblico (Mateus 26), trai Jesus por 30 moedas de prata, valor pago para comprar uma pessoa escravizada, de acordo com a Lei Mosaica (Êxodo 21:32). Judas também era a 13ª pessoa presente na Última Ceia, haja vista, os 11 apóstolos estarem ao lado de Jesus, quando Iscariotes come o pão dado pelas próprias mãos do Mestre.
Tanto os eventos históricos, quanto aqueles narrados pelas tradições religiosas, deixaram uma profunda marca cultural no Ocidente: a sexta-feira 13 é considerado um dia amaldiçoado, em que precisamos estar mais atentos a possíveis ataques espirituais. Contudo, a Numerologia nos oferece outra perspectiva: o número 13 é formado por 1 e 3, que, respectivamente, simbolizam a coragem e a iniciativa, a autoconfiança e a liberdade. A soma desses números resulta em 4, símbolo da estabilidade, em contraposição ao azar. Por sua vez, encontramos A Morte, na Carta 13 do Tarot; longe de ser um símbolo negativo, esse arcano indica o necessário fim de um ciclo e a abertura de outro. Devemos deixar o passado para trás, a fim de iniciar um novo estágio em nossas vidas.
Um dia de passagem abençoado pela Espiritualidade, a sexta-feira 13 nos oferece a oportunidade de recomeço, de vivificação de novos projetos. Para quem busca A Verdade, é uma excelente ocasião de se conectar com O Todo, intrínseco e universal. Desfrutemos desse ponto de virada, com a mensagem do Grande Avatar da Era de Peixes. Ela caminha pelas águas do nosso ser: “Quem nasce de pais humanos é um ser de natureza humana; quem nasce do Espírito é um ser de natureza espiritual” (João 3:6 – Nova Tradução na Linguagem de Hoje).
Armando Januário dos Santos é Trabalhador da Luz, Mestre em Psicologia, Psicólogo (CRP-03/20912) e Palestrante. Contato: (71) 98108-4943 (WhatsApp).
Opinião
#Opinião: O que falta para existir R4cism0 R3vers0: Um breve histórico para o letramento racial – Por Aline Lisbôa
Combater o racismo no Brasil, é diariamente ter que falar o óbvio, e nessa missão, por vezes, desmistificar o conceito de que o racismo neste país, que vendeu, matou e escravizou pessoas negras, é apenas um preconceito contra a raças — seja ela qual for–. O fato, é que o pacto do grupo opressor, conhece o lugar que subverte a opressão de um povo em emancipação, O LUGAR DA LUTA, e por isso, dissemina a não existência de um protagonismo negro nessa luta que é nossa.
Um breve histórico da construção social do racismo estrutural, pode explicar, o que falta, para a suposta existência de um racismo contra br4nc0s no Brasil.
O racismo se estabelece através do conceito de raça, que surge para classificar grupos naturalmente contrastados. Na história da ciência, esse termo serve para a classificação de determinados grupos da zoologia e da botânica, com a finalidade de contrastar categorias maiores subdivididas em categorias menores, em seguida subcategorias e assim por diante, conforme os estudos de Kabengele Munanga (2003).
Munanga ainda afirma, que para toda classificação, é necessário utilizar critérios de diferenças e semelhanças, assim, no século XVIII, a cor da pele foi utilizada como critério de divisão em raças e no século seguinte, outros critérios como forma do nariz, lábios, formato do crânio, foram utilizados para aperfeiçoar essa classificação. Entretanto, sabe-se que essa classificação não se limitou apenas às características físicas e sim a utilização destas como forma de hierarquização, estabelecendo uma relação desvinculadas entre o biológico e as qualidades morais, intelectuais e psicológicas, decretando desta forma a raça branca como superior à raça negra. Isso justificou a colonização e o imperialismo das nações europeias sobre outras sociedades humanas, fenotipicamente, diferentes, sobretudo as pessoas indígenas nas Américas e as negras do continente africano.
Assim, muito além dos traços físicos de determinado grupo, o conceito de raça exprime a ideia de que esse grupo e seus traços culturais, religiosos, linguísticos, etc. são naturalmente inferiores aos “traços brancos”, além disso, a ideia de que características biológicas, são capazes de explicar as diferenças morais, psicológicas e intelectuais entre as raças foi uma teoria que teve muito prestígio no século XIX, chamada racismo científico, difundido no Brasil por figuras como Raimundo Nina Rodrigues e Sílvio Romero.
Ainda que se tenha o contexto histórico vergonhoso da branquitude do Brasil, que pode ser ilustrado nas teorias de Nina Rodrigues, mostrando o nível de brutalidade “incivilizada”, do suposto povo superior e civilizado, esta hierarquia do conceito de raça segue elegendo a esta branquitude, como superior e “normal”, desumanizando a população negra que não se assemelha fisicamente com essa normalidade eurocêntrico, constituindo a base de uma estrutura social.
Desta forma, entendendo o processo estrutural que hierarquiza as raças através dos traços biológicos, entende-se racismo como:
(…) uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento, e que se manifesta por meio de práticas conscientes ou inconscientes que culminam em desvantagens ou privilégios para indivíduos, a depender do grupo racial ao qual pertençam. (ALMEIDA, Silvio, 2019, p.23).
Pode-se então, considerar que o racismo não é um problema negro no Brasil e sim um problema na relação de dominação e supremacia da branquitude para com os negros do Brasil, que mantém os privilégios de um grupo, enquanto nega as mínimas condições de vida a outros.
Raça, Racialização, Racismo científico e racismo estrutural. No Brasil o racismo tem e sempre teve um alvo, corpos negros.
Artigo de Aline Lisbôa
Opinião
#Opinião: A figura paterna – Por Ana Paula Nobre
Todo mundo tem pai. Mesmo quem não o conhece, não convive, não tem a sua presença física. Mesmo quem nunca ouviu falar dele, não se deparou com ele ou não concebe a sua existência. Não existem erros no universo. Tudo é milimetricamente articulado nos planos divinos.
De ausência paterna, eu entendo. Não tenho contato físico com o meu pai biológico há 28 anos. De certa forma, tive a possibilidade de conviver com meu pai até os 12 anos, portanto, conheço o seu rosto. Há quem nunca o tenha visto, mas seus traços revelam. Pra quem não o conhece, olhe para o seu rosto. Ele tá aí.
Há quem tenha pai presente fisicamente e ausente na disponibilidade afetiva e de proteção. Isso configura ausência também. Há quem tenha o pai já em outro plano, mas ele foi tão importante que se torna presente no presente.
O fato é que a figura paterna – principalmente no Brasil, onde na maioria das casas brasileiras existe um vácuo da presença masculina -, muitas vezes é expoente de dor, carências emocionais, afetivas e memórias traumáticas. Falar de pai chega a ser desafiador.
Como olhar para essa relação de um lugar maduro e ressignificado? Não existe outra forma a não ser se olhando. Falar de pai é falar da gente. Eu não existiria se não fosse esse pai, Paulo. Minha mãe não seria mãe se não fosse o meu pai.
O pai biológico tem o seu lugar, e aqui falo como consteladora. Falar do meu pai sem revisitar sofrimentos só é possível graças a muita terapia. Compreender a mulher que sou hoje é herança da força que vem dele e da superação de muitas dessas questões.
A carga genética, o espermatozoide e o óvulo, nesse cruzamento mágico, faz com que sejamos quem somos. Reconhecer nosso pai em nós e dar-lhe um lugar no coração para além dos seus equívocos apazigua a alma.
Nós, assim como o universo, dispomos de energias duais: a masculina e a feminina. Fora de nós, os primeiros referenciais materializados são painho e mainha. Sigo inteira com todas as minhas partes em reintegração. Não é fácil, mas é alcançável.
O Sol representa o masculino, o pai. Deus, o Grande Espírito, o Pai Céu, o Criador de Tudo que É, meu pai divino, contempla a paternidade da minha essência.
Ana Paula Nobre é jornalista, repórter do Portal Soteropreta, terapeuta integrativa, consteladora xamânica, artista e trabalha unindo comunicação, espiritualidade e arte em seus atendimentos.