Opinião
Lima Barreto: um gênio negro e o reconhecimento tardio – Por Davi Nunes

No próximo ano, 2017, Lima Barreto será homenageado na 15ª Festa Literária Internacional de Paraty, que acontecerá entre 26 e 30 de Julho. É uma homenagem tardia ao autor, mas necessária, pois ele só teve a sua obra minimamente reconhecida 30 anos após o seu falecimento e foi totalmente, em vida, destroçado pela crítica, cujo viés teórico fora sempre racista.
Lima Barreto (1881-1922) escritor brasileiro, nascido no Rio de Janeiro, tendo o subúrbio da cidade como cartografia afetiva, escreveu em sua obra póstuma, Diário Íntimo, publicada em 1953, o plano de um romance que dá conta de sua genialidade e afrocentricidade latentes como elemento, signo para criar uma obra prima, segundo o autor.
“Veio-me à idéia, ou antes, registro aqui uma idéia que me está perseguindo. Pretendo fazer um romance em que se descrevam a vida e o trabalho dos negros numa fazenda. Será uma espécie de Germinal negro, com mais psicologia especial e maior sopro de epopeia. Animará um drama sombrio, trágico e misterioso, como os do tempo da escravidão.Como exija pesquisa variada de impressões e eu queira que esse livro seja, se eu puder ter uma, a minha obra-prima, adiá-lo-ei para mais tarde.”
O autor estava com apenas 23 anos quando traçou essas linhas. O jovem Lima tinha a mania de escrever para si no futuro, isto é, mais velho com 30, 40, 50 anos. Sabemos que ele morreu com 41 anos e não conseguiu por em prática a escrita dessa obra idealizada, visto que o racismo estrutural da sociedade brasileira o adoeceu, levou-o á loucura etílica e muitas internações no hospício, o que entravou a sua glória em vida.
No entanto, Lima Barreto conseguiu realizar e publicar outras obras geniais e destaco aqui Recordações do Escrivão Isaías Caminha, pois nesse romance ele faz uma crítica ferrenha, cheio de sarcasmo, sátira e ironia aos jornalistas, críticos literários, à elite intelectual branca, que o escritor via como medíocres e “pomposos” racistas.
Depois desse romance publicado, ele recebeu muitas críticas: desde contestarem a qualidade literária, de chamarem de mau panfleto sua obra, até de tentarem colocá-lo num lugar intelectualmente inferior por ser negro.
Tática usual que os intelectuais brancos utilizam até hoje para desprestigiar, desclassificar e não premiar as obras escritas por escritores e escritoras negrxs no Brasil.
Um gênio que viveu o underground da sua época no Rio de Janeiro. Era visto como boêmio, louco, anarquista que perambulava o centro do Rio de Janeiro, bebendo e ironizando as rodinhas intelectuais da época – homens de óculos e bigodes.
Fico imaginando o que ele diria da crítica atual, das festas literárias e academias semelhantes às do seu tempo, penso que seria: “são os mesmos, mesma tez de bico de tucano, mesmo eurocentrismo desenxovado e atrasado; mesmo racismo, mas que agora não tem mais como impedir o meu gênio”. Depois disso, imagino-o tomando uma boa Paratiana e dizendo: axé.
Texto de Davi Nunes, poeta e escritor (ungareia.wordpress.com).
Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) acontece entre 26 e 30 de julho de 2017.
Opinião
#Opinião: A Última Ceia símbolos e mistérios – Taroterapeuta Janus

O momento era especial. Tendo em volta de si Os Doze, O Mestre abençoa e circula o alimento e a bebida. Nesta cena, descrita em Mateus 26:17-30, Marcos 14:12-26, Lucas 22:7-39 e João 17:26, vemos Jesus doando tanto o seu corpo, quanto o seu sangue, representados, respectivamente, pelo pão e vinho. Contudo, não vemos nela a presença de um cordeiro assado inteiro, tampouco o consumo de ervas amargas, conforme prescrito por Deus a Moisés, em Êxodo 12. Pelo visto, Jesus realizou uma páscoa alternativa. Por que não celebrou a páscoa tradicional? Existe um significado especial em partilhar pão e vinho? Afinal, o que Jesus estava celebrando com os apóstolos?
Recorremos a este evento, celebrado em toda a cultura judaico-cristã, declarando que as informações contidas aqui destinam-se a estimular o pensamento, combater preconceitos e servir de ferramenta para uma visão ampla. Enfatizamos o respeito a todas as crenças e não-crenças. Em paralelo, nos posicionamos longe de dogmas. Possa essa exposição, fundamentada nos pilares da filosofia esotérica, adentrar às mentes e os corações de quem estiver disposto a acolhê-la com o mesmo respeito antecipado, dedicado àqueles que porventura discordarem dela.
A vida de Jesus de Nazaré inicia um novo ciclo astrológico no planeta: a Era de Peixes. Anterior a este período, a Era de Áries tivera em Jeová, a emblemática manifestação do Deus bélico, haja vista Moisés liderar os hebreus à Terra Prometida, após ferir o Egito com as Dez Pragas e estilhaçar um bezerro de ouro – representando o fim da Era de Touro. Sacrificando carneiros – símbolo de Áries – à Divindade manifestada por uma coluna de fogo e guerreando em nome do “Senhor dos Exércitos”, os israelitas retomaram Canaã. Foi o tempo da ascensão dos povos fortalecidos pelo domínio da metalurgia. Ao sabor de espadas, flechas e lanças, persas, gregos e romanos, se sucederam no controle do mundo, configurando a gênese das nações europeias. A porção lunar e feminina de Touro, presente no culto à terra, foi destroçada pelo fogo da devoção às deidades masculinas e patriarcais. Desprovida da Energia Feminina e apegada ao ego reducionista que enxerga apenas o Plano Material, a humanidade elevou reis à condição de deuses, legitimando sua crueldade. Mesmo quem sabia da inerente filiação humana a Deus, reconhecia apenas o Deus-Pai, ignorando o Sagrado Feminino. Nesse ínterim, Os Seres de Luz, responsáveis por avaliar a progressão espiritual do Plano Terrestre, perceberam que embora os Avatāra – termo em sânscrito para a descida de um Ser Divino à Terra, denominado Avatar – tivessem revelado o amor d’A Grande Consciência Cósmica pela humanidade, eles perpetuaram a crença na masculinidade de Deus, haja vista serem todos homens. De fato, O Kristo Hiperbóreo, Krishna, Adi Shankara e Sidarta Gautama são exemplos de seres vestidos pela roupagem carnal de homens. Nessa perspectiva, As Consciências Celestes decidiram enviar dois Avatares para ensinar a humanidade sobre Deus-Pai e Deus-Mãe, aspectos da mesma Energia Criativa. A volta da porção feminina de Deus era fundamental para abrir o chakra cardíaco, despertar o hemisfério direito do cérebro e ativar o chakra coronário: os seres humanos acessariam a intuição e o autoconhecimento, reconhecendo em si A Divindade imanente, O Eu Sou habitante em cada pessoa. A Iluminação seria, então, acessível pelo encontro com o Deus interno, no templo do próprio corpo e não em monumentos construídos por pedras e tijolos.
A Era de Peixes trouxe a purificação pela água. Nela, encontramos a leveza da transcendência e o equilíbrio entre as energias masculina e feminina. Saindo do Grande Silêncio, uma filha e um filho se ofereceram a Deus-Pai-Mãe para descer à Terra e dar testemunho da Matriz Divina, orientando a humanidade rumo à Consciência Crística. Sabemos da existência de ambos pelos nomes Jesus de Nazaré e Maria de Magdala, ou Maria Madalena. No entanto, conhecedores do coração humano, arraigado na doutrina que reconhece apenas Deus-Pai, a tarefa de Maria de Magdala seria desempenhada, a princípio, através de parceria sigilosa. Durante o período no qual o Novo Testamento silencia sobre a vida de Jesus, ele e Madalena estudaram os Antigos Arcanos nas Escolas de Mistérios do Egito, Índia e Tibete. Chegada a hora de cumprir O Divino Propósito, foram devolvidos a Palestina, para consagrar suas forças vitais em água.
Ao ser mergulhado no rio Jordão por João Batista, Jesus de Nazaré teve o chakra cardíaco aberto e o hemisfério direito habitado pelo amor de Deus-Mãe. O Espírito Santo, em forma de pomba, se conectou ao chakra coronário de Jesus, inundando todas as áreas relacionadas À Espiritualidade: córtex pré-frontal medial, lobos temporais, córtex parietal e glândula pineal. Madalena passou pela mesma consagração. Realizada a unção, ambos se levantaram Avatares da Era de Peixes, para, no decurso de três anos e meio, ensinar sobre o caminho do Amor: ao despertar Deus-Pai-Mãe interno e se reconectar À Consciência Divina, desfrutamos da verdadeira liberdade em assumir a responsabilidade de seguir essa vereda.
Através de sinais, Jesus deixou claro que nós poderemos fazer tanto quanto Ele e até mesmo muito mais: “Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim fará as obras que faço e fará até maiores do que elas, porque vou para o Pai” (João 14:12). Apontando para o seu Cristo interior como habitando também em cada um de nós, O Mestre, inclusive, já havia, em passagem bíblica anterior, chamado à atenção para a nossa natureza divina: “[…] Não está escrito em vossa Lei: “Eu disse: Sois deuses?”” (João 10:34). De sua parte, Maria de Magdala escreveu no Evangelho Gnóstico que leva o seu nome: “Não vos lamentais nem sofrais, nem hesiteis, pois, sua graça estará inteiramente convosco e vos protegerá. Antes, louvemos sua grandeza, pois Ele nos preparou e nos fez homens”. Chamas Gêmeas, Jesus e Madalena mostraram a verdadeira estrada do amor, como ponto de ascensão nos degraus da Eternidade.
Próximo de concluir a sua missão, Jesus enviou Pedro e João para preparar a Última Ceia, em um local específico. Lemos em Lucas 22:8-13: “Jesus enviou então Pedro e João, dizendo: “Ide preparar-nos a páscoa para comermos”. Perguntaram-lhe: “Onde queres que a preparemos?” Respondeu-lhes: “Logo que entrardes na cidade, encontrareis um homem levando uma bilha de água. Segui-o até a casa em que ele entrar. Direis aos donos da casa: ‘O Mestre te pergunta: onde está a sala em que comerei a páscoa com os meus discípulos? E ele vos mostrará, no andar superior, uma grande sala, provida de almofadas; preparai ali”. Esta passagem mostra que Jesus designou dois de seus principais alunos a um lugar secreto, desconhecido até mesmo para eles. A identificação desse local seria feita mediante um símbolo – um homem carregando uma bilha de água; ele deveria ser seguido até a casa na qual entraria – e um código – a informação dada por Jesus aos dois apóstolos e transmitida a outro homem, o dono da casa.
O sigilo era necessário, porquanto planos para matar O Bom Pastor e mesmo os seus discípulos estavam em curso. Ao mesmo tempo, os ensinamentos secretos de Jesus não deveriam ser compartilhados fora do seu círculo mais próximo. Caso tais preceitos fossem descobertos, não seriam compreendidos, ou ainda pior, poderiam ser destruídos, junto com seus portadores. Sobre isso, O Mestre, prudente e visionário, avisou: “Não deis aos cães o que é sagrado, nem atireis as vossas pérolas aos porcos, para que não as pisem e, voltando-se contra vós, vos estraçalhem” (Mateus 7:6). Nesses termos, apenas em um grupo privado, desconhecido da maioria, Jesus ministrava tais conhecimentos, a fim de que os seus escolhidos estivessem seguros e pudessem dar continuidade à sua obra (Marcos 4:11-13). E o espaço adequado se encontrava nesta casa, no andar superior, onde, após a crucificação e sepultamento de Jesus, os apóstolos novamente se reuniriam: “Então, do monte chamado das Oliveiras, voltaram a Jerusalém. A distância é pequena: de uma caminhada de sábado. Tendo entrado na cidade, subiram à sala de cima, onde costumavam ficar. Eram Pedro e João, Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, o Zelota; e Judas, filho de Tiago. Todos estes, unânimes, perseveravam em oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus, e com seus irmãos”. (Atos 1:12-13).
Tratava-se, portanto, de um frequente ponto de encontro entre os associados mais íntimos de Jesus. Mais ainda: existiam mulheres integrando essa escola mística. Tal informação contradiz os ensinamentos religiosos hegemônicos, mostrando que O Mestre era inclusivo, ao integrar mulheres como discípulas. Uma leitura atenta dos Evangelhos comprova essa característica em Jesus: para Ele, independente de gênero, qualquer pessoa sincera estava capacitada a levar adiante o seu ministério. Ao contrário dos costumes patriarcais, responsáveis por submeter as mulheres a seres inferiores, relegadas a servir aos homens, Jesus prezava pela sua companhia e foi a uma mulher samaritana, com quem, falando em público, próximo a um poço, revelou pela primeira vez a sua identidade messiânica (João 4:26). Foi Maria de Magdala, a primeira pessoa a ver Jesus renascido (João 20:11-18). E foi Maria, irmã de Marta, sentada aos pés do Salvador, na posição do homem rabínico tradicional, a quem Jesus transmitiu a Boa Nova (Lucas 10), se contrapondo diretamente a desigualdade entre os gêneros, predominante mesmo na atualidade.
Voltando a Última Ceia, encontramos Jesus fazendo todos comerem o mesmo pão e beberem o vinho na mesma taça. Essa ritualística pré-cristã e esotérica, preservada em algumas escolas iniciáticas orientais, representa no pão, a transferência de poder, para os apóstolos. Estes, ao comerem simbolicamente o corpo de Cristo, absorveram as Suas habilidades místicas. Referente ao vinho, a bebida da sabedoria para dionisíacos, iniciados no sufismo e seu equivalente hindu, o soma, Jesus compartilha a própria imortalidade: aqueles que beberam o vinho, após o Plano Físico, estariam com Ele no Plano Espiritual para sempre. Pão e vinho, representam, nessa ordem, o plano material e espiritual: o primeiro é a chave para os apóstolos acessarem o poder de Seu Mestre e prosseguir com a difusão da mensagem de Deus-Pai-Mãe; o segundo é o instrumento para acessar o “Reino dos Céus” (Mateus 10:7), sempre próximo de quem abraça Jesus como referência diária. Os apóstolos estavam, após esse rito, de posse dos mistérios da matéria e do espírito. Essa Suprema Energia Cósmica, posteriormente, foi repartida ao grupo maior de cento e vinte discípulos, no Pentecostes (Atos 2).
Ante o exposto, talvez nos perguntemos: haja vista Jesus ter compartilhado o poder com seus seguidores, por que, na atualidade, não encontramos lideranças religiosas multiplicando pães, trazendo outras de volta à vida e curando doenças? Infelizmente, como ocorre em todos os segmentos religiosos, não é diferente no Cristianismo: quando os interesses políticos e econômicos se tornam o centro das preocupações, soterrando os ensinamentos ocultos, em outras palavras, quando o exoterismo supera o esoterismo, sobra apenas a letra literal para ser seguida com práticas preconceituosas e fundamentalistas. Perde-se a essência, segue-se a aparência. Todavia, distante de ser perdida no tempo, a escola esotérica de Jesus prossegue; é provável, inclusive, que as orientações deixadas por Ele, estejam em arquivos secretos no Vaticano, sendo acessadas e compreendidas por uma minoria, formada pelos poucos iniciados na Chave-Mestra do Conhecimento Crístico. Essa afirmação foi feita por Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891), sistematizadora da Teosofia moderna, ela mesma tendo consultado esses textos, através da clarividência. Em As Doutrinas Secretas de Jesus, Harvey Spencer Lewis (1883-1939), renomado maçom e rosacruz, corrobora o pensamento de Blavatsky.
Afastando-se da páscoa tradicional, Jesus instituiu um novo momento: todas as pessoas inspiradas em Seu exemplo de amor sem fronteiras, atingem a Iluminação.
Opinião
#Opinião: “Entre a neve e o milho branco, chegamos a Kwanzaa” – por Patrícia Bernardes Sousa

E no Brasil desbravador de 2024, educadores e gestores públicos rodam em círculos como num grande Xirê (Siré) onde não existem competências e habilidades, previstas na Constituição Federal de 1988 e na Base Nacional Comum Curricular, para que o conhecimento dance e faça os seres apresentados como humanos na Terra, evoluírem. Sim, é sobre isso. Entre a neve e o milho branco, estabeleceu-se a cultura do ódio religioso para que o culto ecumênico da fé em Papai Noel fosse tão demonizado quanto aqueles que acreditam que seu “bom velhinho” é Papai Oxalá.
Não existem artigos previstos na Constituição de 1988, bem como também não existem competências e habilidades na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que “troque a bença” ou “abençoe com óleo ungido” o culto ao ódio, ao assassinato, à violência psicológica, física e patrimonial vivenciada pelos povos originários e comunidades tradicionais no Brasil.
O menino Jesus, testado e humilhado diversas vezes num deserto com orientações espirituais de seu pai, nosso Senhor Jesus Cristo jamais entenderia o porque que todas as tábuas dos mandamentos escritos por seu leal discípulo Moisés, iriam respaldar as bocas e as escrevivências de “espíritos de engano” que fazem da gestão escolar, da coordenação pedagógica e do planejamento estratégico anual de professores uma “fogueira da inquisição” junto à crucificações diárias para além das paredes das salas de aula.
Viver Nosso Senhor Jesus é amor.
Viver Pai Oxalá é amor.
Viver Tupã é amor.
No culto ao ego adoecido, criamos um outro tipo de Deus: o “Deus do Ódio” que facilmente encontrou e encontra abrigo em corações sujos dentro e fora de Terreiros, Igrejas e Templos das mais diversas religiões onde o dinheiro está num “altar” ainda maior que o conhecimento legítimo da nossa ancestralidade e dos nossos antepassados.
Papai Noel não deseja sangue na neve. Ele conta a história de onde ele veio.
O menino Jesus não quer sangue na Terra. Ele conta a história de onde ele veio.
Papai Oxalá não quer sangue na Terra. Ele conta a história de onde ele veio.
Tupã não quer sangue na Terra. Ele conta a história de onde ele veio.
A BNCC também prevê a habilidade EF03HI03, que consiste em identificar e comparar pontos de vista sobre eventos significativos, condições sociais e grupos culturais, com destaque para as culturas africanas, indígenas e de migrantes. A Lei nº 10.639/03, por sua vez, torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira em especial nas áreas de artes, literatura e história. Na BNCC, quando aparece o termo “Educação das Relações Étnico- Raciais”, é para fazer menção à legislação que trata da obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena nos currículos da Educação Básica.
E quando a Kwanzaa chega? Como entender e valorizar algo tão maior que os princípios do eu, do outro e do nós, dentro das previsões da BNCC que estruturam as competências e habilidades de se poder andar de carro, de metrô, de avião ou a pé da forma que desejarmos nos vestir e cultuar o deus que cremos?!
O que dizer aos educadores adoecidos na arte de lecionar e estão próximos da sua aposentadoria?
O que dizer para lavar com “águas de paz” gestores escolares e coordenadores pedagógicos, também adoecidos por enraizar ainda mais fundo a semente da perseguição do plano de aula diário do educador em sala de aula?
O que dizer à mãe solo que não prevê o Menino Jesus como o Senhor e Salvador, pois a única referência masculina que ela teve repetiu o ciclo tóxico vivenciado pela sua família ao perceber que a sua gravidez não seria acolhida numa manjedoura de amor e sim palavras de escárnio e tapas na cara anunciando as dores para os seus próximos anos de vida, com um filho no braço e muitas coisas pra dar conta sozinha.
A neve não encanta, o milho branco não traz paz e a Kwanzaa não anuncia e nem anunciará nada para estas milhões de “Marias” que não tiveram a base forte de um companheiro como seu “Salvador” e ainda estão aos pés da cruz em busca de milho branco para se alimentar de paz. Não diga a uma mulher indígena que ela foi estuprada por um bem maior que foi colonizar o Brasil. Tupã, o criador do mundo, não se faz presente nisso. Ampliar o foco dos currículos para a diversidade cultural e racial, valorizar a pluralidade étnica, prevenir preconceitos, estereótipos e estigmas e formar cidadãos com compreensão de mundo e relações sociais deveriam ser nossos mandamentos, mas não são.
Kwanzaa se anuncia com amor. Umoja, Kujichagulia, Ujima, Ujamaa, Nia, Kuumba, Imani são princípios que, para além de sermos dizimistas, moldam a nossa fé sem armas com tiros à queima-roupa na nossa dignidade salarial, sanidade mental e expansão de nosso conhecimento.
Quando se refere às aprendizagens essenciais e não inclui uma pauta antirracista entre as prioridades, a BNCC desconsidera a realidade social brasileira, que é racista, preconceituosa e segregadora. No Brasil, o Kwanzaa já é celebrado em estados como São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
O ódio, substantivo masculino, já estava sendo praticado antes mesmo nas disputas entre os homens das cavernas. Em 2024, ele percorre corações adoecidos dentro e fora das salas de aula. O campo de experiência “O eu, o outro e o nós” da Base Nacional Comum Curricular aborda habilidades como conhecer e respeitar regras de convívio social, respeitar a diversidade, desenvolver a identidade e até mesmo facilitar a socialização dos povos originários e as comunidades tradicionais. É como um “dever de casa” que nunca fica pronto.
Vivemos ainda com aqueles avisos colados com durex e escritos em folhas de ofício na horizontal dizendo:
“Não derrube o Menino Jesus da manjedoura”; ” Ser índia não é fetiche sexual”; “Torço/Ojá não é pra esconder drogas e passar em alfândegas de aeroportos”; “Milho branco alimenta e traz paz”; “Mulheres Negras não são souvenir de Carnaval”; “Minha conta de orixá não é da sua conta”.
Derretemos a neve para afogar Papai Noel e fazermos dos adeptos religiosos do Deus Tupã e Pai Oxalá uma piada para racistas recreativos anualmente.
Deus é fiel! Olorum é luz! Tupã é resgate à natureza humana.
2025 está logo ali.
Patrícia Bernardes Sousa é jornalista, redatora e integra projetos de impacto social, letramento, educação e cultura.
Opinião
#Opinião: Dando rum na educação construindo pontes sem dó – Por Patrícia Bernardes Sousa

Sim! Nem só o orixá toma “rum” no barracão da sua vida pessoal e profissional. Desde o início destes festejos do Novembro Negro 2024, a Bahia do poeta Castro Alves permitiu que a sua “concha acústica sonora” desse “rum” aos gestores de cultura, empresas privadas e simpatizantes empresariais da educação, letramento, teatro e arte-educação na capital baiana e no mundo.
Não deu “Dó” e ninguém deu “Ré” na compra de ingressos para vislumbrar o verdadeiro espetáculo vindo da troca de couros sagrados tocados pelos maestros dos mais diversos grupos culturais de Salvador. Com respeito e determinação legítima, ogãs, filhas de santo, ebomis, abiãs e yawos levaram a sua comunidade à visibilidade máxima ao entender que identidade racial e cultura identitária nasce na troca do couro e no lapidar na madeira para que o atabaque ecoe a nossa súplica.
Neste caso, a súplica foi ecoada sobe a batuta das águas de Oxalá e Nosso Senhor do Bonfim, que permitiram que a paz durante os eventos do G20, do cinquentenário do “Mais Belo dos Belos”, o Bloco Afro Ilê Aiyê e da cadência das Orquestras Afrobaianas, chegassem como perfume suave aos nossos ancestrais. Ninguém limpa couro com água salgada e é por isso que a alegria dos erês se fez e se faz presente em cada sorriso de vitória dos maestros Ubiratan Marques e Carlos Prazeres.
Não se tem como ecoar “Mi-mi-mi” diante da grandiosidade na excelência dos ensaios e preparações com a cabaça de conhecimento presente na vida destes maestros. A Orquestra Afrosinfônica da Bahia e a Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA) dão “rum” a quem acredita que somos subnotificação e que não existe qualidade nos ouvidos musicais e musicados de quem não tem dinheiro pra comprar nem um violino, um trombone ou até mesmo um simples cotonete.
A fome cultural e orgânica de pessoas carentes de acolhimento estrutural em Salvador oferta o ilá (grito) que nos alerta da importância de mobilizar, sensibilizar e deliberar políticas públicas de captação de recursos que ofereçam “cabaças” de possibilidades de realização de sonhos educacionais e profissionalizantes ao invés de “cuias” que limitam o abastecimento de água para limpeza do corpo e da hidratação humana diária através destes projetos.
Crianças, jovens e adultos formam um “coro” regido por “couros” devidamente abençoados por pembas de lucidez e o suor salgado das águas que curam e libertam cabeças que não tinham sonhos seja na Liberdade, Itapuã, Candeal, Bairro da Paz, Pelourinho, Subúrbio Ferroviário e muitos outros pela Bahia e pelo Brasil.
Com espetáculos como “Sinfonia Terra Brasilis”, “Ponte Para a Comunidade – Orquestras Afrobaianas” e “ OSBArris”, as políticas sociais de Salvador ensinam aos seus gestores que a educação musical também é pioneira na arte ancestral dos ensinamentos orais que legitima a direção (rum) que são passados de mães solo, em sua maioria, para seus filhos, filhas e filhes.
Para atender ao Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, a Bahia vai precisar sair dos atuais 37% para 43% agora em 2024, chegando a 50% em 2025. A meta é alcançar 80% de sucesso até 2030. Subnotificações que chegam aos nossos ouvidos sem “dó” e quase obrigando gestores culturais como os maestros Ubiratan Marques e Carlos Prazeres a dar “ré” na hora de colocar as suas apresentações com carência profunda como uma concha nas profundezas do mar da Baía de Todos os Santos. 34 mil estudantes, entre 18 e 24 anos são analfabetos na Bahia, segundo dados do IBGE.
Das cordas e dos couros de instrumentos musicais ainda podemos promover notas musicais e notas máximas que ecoem aprovações de crianças e jovens carentes pelo Brasil. Na Bahia, 77 em cada 100 crianças e adolescentes vivem na pobreza em suas múltiplas dimensões, afirma o Unicef. Esse sim é o verdadeiro espetáculo que vislumbramos aplaudir: a erradicação da fome e da pobreza através do “rum” na gestão pública sucateada de nosso país. Uma verdadeira proclamação da República de Direitos Humanos.
Patrícia Bernardes Sousa é jornalista, redatora e integra projetos de impacto social, letramento, educação e cultura.