Literatura
Poetas promovem Batalha Poética com adolescentes da Case Feminina
Ele é um dos idealizadores do Sarau da Onça e do Grupo Recital Ágape, é instrutor de Teatro e Poesia na Fundac – Unidade de Atendimento Sócio Educativo, Case Feminina. Evanilson Alves, poeta, decidiu unir sua paixão, que é a Poesia, ao seu trabalho, realizando na última quarta-feira (16), na Case, o “II Slam Força Feminina”.
A batalha poética que teve as pretas Dayse Sacramento, Negreiros Souza, Gleise Sousa, Débora Santos, Lane Silva e Joyce Melo como juradas, junto à Insurreição RAP, com Rafael Silva e Kozak Souza.
A força pôde ser sentida por quem lá esteve e participou. “Foi uma explosão de sentimentos, sensações, encontros, corações acelerados, arrepios, choros de emoção, abraços apertados, carinho, luta, cuidado, poesia, talento e atenção”, relata Evanilson.
Para Negreiros Souza, que relatou a experiência em sua Rede Social, “as meninas arregaçam com qualquer estrutura psicológica”.
“Chorei de alegria, chorei de satisfação, chorei por elas, por mim, por essa oportunidade.
Ideias poderosas estão brotando da minha mente.” – Negreiros Souza
Gleise Sousa vai na mesma linha. “Não encontro palavras para descrever a grandeza do dia. Aquelas meninas e suas histórias me ensinaram muito e me emocionaram na mesma medida. Só consigo ser grata por vivenciar aquele momento”, diz.
O “Slam Força Feminina” foi o resultado das diversas oficinas de poesia que Evanilson ministra no dia a dia da unidade. As oficinas demandam das adolescentes deixar vir à tona todo talento que há nelas, escrever com a alma, com sentimento. “A palavra que reina é liberdade”, diz o instrutor.
O trabalho não seria possível sem uma grande equipe junto a Evanilson: Patricia Souza, Marcia Almeida, Edvalda Figuereido, Marcia Oliveira Freitas, Luciana Lima, de Alice Lopes, Daniela Ferraz Matos, Luziane Luzia Santos. O prêmio? Um kit contendo: Camisas da loja Afreeka, livros de autores baianos, como Fábio Mandingo, cadernos, produtos de beleza, cds, camisas e o livro “A poesia cria asas”, do Grupo Recital Ágape. Agradecimentos aqui a Rangell Santana, Fábio Mandingo, Zezé Ifatolá Olapetun Olukemi, Indemar Nascimento e Taís Sousa.
Veja uma das poesias…
Texto: Cela fria
A pressão bate
Quando escuto o barulho das grades.
Ao ouvir o cadeado bater
Sinto calafrio
O coração aumenta as batidas
Sem saber a que temer.
Numa cela fria
Sem alegria
Sentindo muita agunia.
Cheguei até pensar em chorar
Mais sabendo eu que já vi
Muitas tentar se enforcar
E até se matar.
Tento ser forte pra não surtar
Pois sei que essa vida do cão
Nunca vai compensar.
Autora: S. S. 16 anos.
“Foi importante ver o sorriso no rosto, o respeito e a satisfação de cada adolescente ao recitar sua poesia e mostrar pra todo mundo o poder que a escrita e as palavras tem. Estou imensamente feliz. E não tenho dúvidas que o caminho para mudança passará pela arte educação.
Nenhum passo atrás”, relata Evanilson.
Com a palavra, uma das juradas, Débora Santos:
“Eu sou Maria, sou Joana, sou Rita, sou Patrícia, sou Josefa, sou Camila, sou Juliana. Sou mulher negra, sou todas as mulheres negras. Eu sou as que adoeceram emocionante por conta dos percalços do racismo. Eu sou as que adoeceram fisicamente, porque o racismo consumiu todo o psicológico e depois correu para os seus membros. Eu sou as que morreram na fila do hospital depois de ter trabalhado anos sendo mão de obra barata pra sustentar o capitalismo que excluí, adoece e mata.
Eu sou as que tem que deixar o filho em casa para ninar o filho da patroa branca. Eu sou as maiores vítimas de feminícidio no Brasil. Eu sou as maiores vítimas de morte no momento do parto, pq os médicos tratam como um ser desumanizado e incapaz de sentir dor. Eu sou as 13 que choram diariamente, quando um jovem negro é assassinado no Brasil. Eu sou as que criam seus filhos sozinhas porque os pais somem.
Eu sou mulher negra, eu sou todas as mulheres negras. E ontem, no momento que entrei na Unidade Socioeducativa CASE Feminina, conheci mais umas partes do meu Eu, passei a ser mais 19. Agora eu também sou as privadas da liberdade. Sou as que ficam presas meses, e às vezes anos, e não recebem visitas. Sou as menores detidas, transtornadas sem entender o porquê do abandono do pai. Sou elas tentando provar pra mãe que vai mudar e tudo será diferente. Eu fui as dezanove que recitaram, as cinco irmãs q compuseram o júri comigo. Agora eu sou mais 24”.
Poesia: Quem é você?
Quem é você?
Que tipo de pai é você?
Que da sua filha esqueceu?
Que deixou sua filha crescer longe de você?
Que tipo de pai é você?
Que preferiu criar as filhas de outra mulher,
menos os seus?
Que nem liga pra saber se sua filha ja comeu, ou ja morreu?
Que tipo de pai é você?
Que se eu não avisasse,
não saberia que hoje estou presa mais uma vez.
Que tipo de pai é você?
Que nunca procurou me entender?
Que nunca me deu uma oportunidade de mostrar,
o quanto eu gostava de você?
E que não estava do meu lado quando eu mais precisei.
Que só serviu pra me julgar, quando eu comecei a me envolver.
E só via meus erros, menos os seus.
E que sempre pensou só em você.
Na verdade quem é você?
Autora:
J. Esmeralda. 16 anos.
Literatura
Bruna Silva lança seu primeiro livro “Èsù Walê – O Caminho de Volta”
A poeta, cantora e mobilizadora cultural Bruna Silva, mulher preta e lésbica lança seu primeiro livro autoral de poesias “Èsù Walê – O Caminho de Volta”, no próximo dia 13 de janeiro, às 19h, na Casa do Benin. A obra terá distribuição gratuita de exemplares e a noite de lançamento contará com uma roda de conversa com Bruna Silva, o poeta e comunicólogo Marcelo Ricardo, a pesquisadora literária Amanda Julieta e o poeta performer Nelson Maca. E ainda, um pocket-show com Samba de Lua.
A publicação, que já está disponível em audiobook e conta com a direção de voz de Reinan Acioly, traz escritos encruzilhados nas ruas da periferia, para falar de afeto, força e da ancestralidade.
Uma de suas poesias, escrita em parceria com o poeta Evanilson Alves, fala: “A palavra é nossa arma / Contra toda opressão / A poesia que não se cala / Dá voz a toda uma geração / (…) / Nosso fazer vai além do artístico / É conhecimento, exemplo e motivação / Que a poesia toque os corações / E na perifa gere transformação”.
“As minhas poesias nascem e se fundamentam nas encruzilhadas, das ocupações do meu corpo, nas batalhas de slam, das pessoas que estão no meu entorno. Por isso, elas ganham às ruas, pois esse é o tempo-espaço delas. As escritas surgem a partir dos caminhos que sou e ocupo. O livro vem para afirmar que a minha arte é possível estar nesses lugares. Èsù Walê representa esse caminho que me diz onde, como e por que devo estar. E, principalmente, de onde não quero sair”, declara a poeta, que completa 10 anos de criação artística.
Ela realça que o livro mostra “aos meus” que é possível falar sobre o que acreditamos. “Que a partir da nossa arte e poesia é possível encontrar e aproximar pessoas. Por isso, lanço este livro, em que através das poesias e poemas descrevo o caminho que refaço para encontrar o sagrado, de dizer a Exu que estou aqui”.
Para a jornalista Vânia Dias, que presenteia o livro com um lindíssimo prefácio, através das poesias “é possível ouvir gritos e sussurros. Medos e coragens de quem se sabe malabarista da arte da sobre(escre)vivência”. E, se preciso for, quebra a rima, escreve poemas e poesias livre de amarras e ou de regras. “Na velocidade do vento, a menina Silva escreve como se, nesse encontro de páginas nuas, vestisse de palavras os cenários das ruas”, descreve Vânia Dias.
“Èsù Walê – O Caminho de Volta é um megafone para falar sobre as várias faces e demandas que nós pretos e de periferia lidamos durante a vida.
Em sua escrita posfácio, a pesquisadora literária Amanda Julieta descreve que Bruna Silva traz em seu livro “Uma poesia dita em pretuguês, como pontua Lélia Gonzalez, essa língua de encruzilhada, marcada pela africanidade; uma poesia feita com caneta e papel, mas também de voz, gestos, gritos, sorrisos, olhares, silêncios; uma poesia para ser compartilhada coletivamente, como um quilombo de palavras onde tudo que se dá se recebe, seguindo o princípio da reciprocidade de Èsù.”
O livro, dividido em quatro capítulos com 26 poemas no total, conta com ilustrações assinadas pelo artista Lee 27. A capa exusíaca foi desenhada por Maria Clara Duarte. O projeto gráfico do livro é de Duda Rievrs e a revisão é do poeta-performer Alex Simões. A direção e coordenação do projeto são de Igor Tiago (seu irmão) e de Herley Nunes, respectivamente.
O livro “Èsù Walê – Caminho de Volta” foi contemplado nos Editais da Paulo Gustavo Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura, Governo Federal. A Paulo Gustavo Bahia (PGBA) foi criada para a efetivação das ações emergenciais de apoio ao setor cultural, visando cumprir a Lei Complementar n° 195, de 8 de julho de 2022.
Serviço
O quê – lançamento do livro de poesias Èsù Walê – O Caminho de Volta, de Bruna Silva
Quando – 13 de janeiro de 2025, 19h
Onde – Casa do Benin
Entrada – Gratuita, com distribuição de exemplares
Mais informações – @brunasilvapoesia
Literatura
Escritora Larissa Reis lança o livro ‘Dayó, Itapuã e os Contos’
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Literatura
Anderson Shon recebe troféu HQMIX, o Oscar dos quadrinhos
“O troféu foi uma noite de celebração, diversidade, ocupação e resistência! Ainda não tenho palavras pra dizer o quanto estou feliz e realizado, mas elas virão”, completou Daniel Cesart.