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Racismo Reverso com Mila Hora: PAREM!

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Luciane Reis MercAfro
nova vocalista timbalada

Foto: Banco de Imagens

Quem me conhece sabe da minha impaciência com solidariedade seletiva. Sim, me incomoda essas solidariedades que dependem de quem está sendo agredido, humilhado ou vítima de algo. Racismo é coisa séria, não pode ser usado como se fala “geladinho” ou  “me despache”.

Uma pessoa que sofre racismo, acaba por carregar para a vida toda marcas psíquicas que a coloca em situações de dificuldade constante, distorcendo seus sentimentos e percepções de si mesmo. Portanto, vamos com calma quando se fala de racismo reverso. Algo que para uma branquidade que nunca é barrada ou questionada, justifica os limites ou repressão dados por alguém ou algo que tenha feito.

Parem de banalizar algo tão sério. Assistimos situações de racismo cotidianamente, contra segmentos vulnerabilizados. Sim, vulnerabilizados e não discordantes. Falo isso, pois diante de tantos defensores do tal “racismo reverso” sofrido pela nova vocalista da Timbalada, é preciso – como diz Tia MÁ – ”tirar o sapatinho e colocar o pé no chão”. PAREM!!!

É isso mesmo. Parem de transformar um descontentamento técnico e de referencial cultural sofrido pela nova vocalista, em racismo reverso. Algo impossível de acontecer a pessoas, que tem o Brasil como principal garantidor de seus privilégios sociais e economicos. É desleal, alguém dizer que sofreu racismo por ser branco. Se oriente…Não existe racismo de negros contra brancos ou, como estão chamando reverso.

nova vocalista timbalada

Foto: Reprodução/Instagram

Antes de falar de racismo reverso,  vá ver os conceitos. Racismo é um sistema de opressão e, para haver racismo, deve haver relações de poder. Negros não possuem poder institucional para serem racistas. Logo a nova vocalista da banda Timbalada, pode até ter recebido a carga de  descontentamento dos  seguidores do bloco, por não se enquadrar no projeto, por situações de abuso e desrespeito que esses julgam que os gestores do bloco vem  promovendo.

Mas racismo, impossível! Se tem uma coisa que Salvador/Bahia tem é  generosidade com a  “branquidade”. Vide Daniela Mercury que, na cidade mais preta, já foi “ a cor desta cidade”, sem o menor remorso. Ou  Cláudia Leitte,  que já se reivindicou “nega lôra”.Ambas muito aplaudidas e reverenciadas, mesmo sem saberem de fato o que é ter “a cor desta cidade” ou “ser uma nega lôra”.

Mile Hora foi vaiada por estar totalmente desconexa das simbologias e linguagens do bloco, por os presentes estarem estressados com os valores abusivos e por uma série de fatores que vem fazendo esses se chatearem. Agora, chamar isso de  racismo? PAREM!!!!

Tanto a Timbalada quanto os blocos afro, fazem parte da construção identitária e referencial de um segmento que tem suas relações de pertença construídas via  familiares ou de amizade. Diferente de Ivete, Cláudia Leitte, Saulo e outros que tem seu público formado por uma atuação midiática e conhecimento técnico de profissionais de comunicação.

nova vocalista timbalada

Banco de Imagens

Blocos como Ilê, Olodum, Filhos de Ghandy e Timbalada tem seu público formado de forma geracional. As pessoas que compõem e se conectam a estes, o fazem por pertencimento emocional e familiar, não comercial como muitos insistem em dizer.

Uma pessoa que vai a um destes ensaios há mais de 10 anos, como é o caso dos Timbaleiros, “Olodúnicos” e associados do Ilê ou Ghandy, não tem somente uma relação comercial ou de consumidores ocasionais.

São indivíduos que tem uma relação de identidade e garantia de valores, zelando, inclusive, pelo que consideram tradição e garantia da perpetuação dos valores encontrados nestes.

Mila Hora foi vaiada por não compreender essas nuances. Ela foi vaiada por – como disse uma Timbaleira – “não resgatar músicas femininas adormecidas e cantar um inglesamento louco e sem nenhuma relação com a banda e público”.

Dizer que a branquidade e a condição de não baiana, foram os fatores que fizeram o público da Timbalada vaiar Mila Hora é distorcer uma série de acontecimentos anteriores, nos quais a cor da pele não foi – e nunca será – o central, afinal Amanda Santiago não era negra.

Perdemos Ninha, Patricia e Xexeu (dores de quem perde um membro da família) e ainda assim, estivemos lá. Timbaleiro não gosta que se cante nada que não seja do repertório da Banda, principalmente no primeiro ensaio. E ela pecou feio ao não pisar miudinho e respeitar quem chegou antes dela. Portanto, vamos parar com esse discurso de branco privilegiado que acha que pode tudo e que quando é chateado ou repreendido por fazer besteira, chama de racismo reverso.

Comparar descontentamento comercial com racismo, é covarde, desleal e, acima de tudo, de profunda ignorância. Como profetizou o cacique Brown ainda nos primórdios da banda “Quem manda na mata é Oxossi, mas na Timbalada é cada Timbaleiro que há mais de 10 anos garante que a Timbalada desfile pelo Axé Music, como beldade central e descendente de Yansã Balé.

Luciane Reis MercAfroLuciane Reis é articulista do PortalSoteroPreta, publicitária, Jornalista, pesquisadora de afro empreendedorismo, etno desenvolvimento e negócios inclusivos e acima de tudo, TIMBALEIRA há MAIS DE 10 ANOS.

 

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#Opinião: Dando rum na educação construindo pontes sem dó – Por Patrícia Bernardes Sousa

Ana Paula Nobre

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Foto: Divulgação

Sim! Nem só o orixá toma “rum” no barracão da sua vida pessoal e profissional. Desde o início destes festejos do Novembro Negro 2024, a Bahia do poeta Castro Alves permitiu que a sua “concha acústica sonora” desse “rum” aos gestores de cultura, empresas privadas e simpatizantes empresariais da educação, letramento, teatro e arte-educação na capital baiana e no mundo.

Não deu “Dó” e ninguém deu “Ré” na compra de ingressos para vislumbrar o verdadeiro espetáculo vindo da troca de couros sagrados tocados pelos maestros dos mais diversos grupos culturais de Salvador. Com respeito e determinação legítima, ogãs, filhas de santo, ebomis, abiãs e yawos levaram a sua comunidade à visibilidade máxima ao entender que identidade racial e cultura identitária nasce na troca do couro e no lapidar na madeira para que o atabaque ecoe a nossa súplica.

Neste caso, a súplica foi ecoada sobe a batuta das águas de Oxalá e Nosso Senhor do Bonfim, que permitiram que a paz durante os eventos do G20, do cinquentenário do “Mais Belo dos Belos”, o Bloco Afro Ilê Aiyê e da cadência das Orquestras Afrobaianas, chegassem como perfume suave aos nossos ancestrais. Ninguém limpa couro com água salgada e é por isso que a alegria dos erês se fez e se faz presente em cada sorriso de vitória dos maestros Ubiratan Marques e Carlos Prazeres.

Não se tem como ecoar “Mi-mi-mi” diante da grandiosidade na excelência dos ensaios e preparações com a cabaça de conhecimento presente na vida destes maestros. A Orquestra Afrosinfônica da Bahia e a Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA) dão “rum” a quem acredita que somos subnotificação e que não existe qualidade nos ouvidos musicais e musicados de quem não tem dinheiro pra comprar nem um violino, um trombone ou até mesmo um simples cotonete.

A fome cultural e orgânica de pessoas carentes de acolhimento estrutural em Salvador oferta o ilá (grito) que nos alerta da importância de mobilizar, sensibilizar e deliberar políticas públicas de captação de recursos que ofereçam “cabaças” de possibilidades de realização de sonhos educacionais e profissionalizantes ao invés de “cuias” que limitam o abastecimento de água para limpeza do corpo e da hidratação humana diária através destes projetos.

Crianças, jovens e adultos formam um “coro” regido por “couros” devidamente abençoados por pembas de lucidez e o suor salgado das águas que curam e libertam cabeças que não tinham sonhos seja na Liberdade, Itapuã, Candeal, Bairro da Paz, Pelourinho, Subúrbio Ferroviário e muitos outros pela Bahia e pelo Brasil.

Com espetáculos como “Sinfonia Terra Brasilis”, “Ponte Para a Comunidade – Orquestras Afrobaianas” e “ OSBArris”, as políticas sociais de Salvador ensinam aos seus gestores que a educação musical também é pioneira na arte ancestral dos ensinamentos orais que legitima a direção (rum) que são passados de mães solo, em sua maioria, para seus filhos, filhas e filhes.

Para atender ao Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, a Bahia vai precisar sair dos atuais 37% para 43% agora em 2024, chegando a 50% em 2025. A meta é alcançar 80% de sucesso até 2030. Subnotificações que chegam aos nossos ouvidos sem “dó” e quase obrigando gestores culturais como os maestros Ubiratan Marques e Carlos Prazeres a dar “ré” na hora de colocar as suas apresentações com carência profunda como uma concha nas profundezas do mar da Baía de Todos os Santos.  34 mil estudantes, entre 18 e 24 anos são analfabetos na Bahia, segundo dados do IBGE.

Das cordas e dos couros de instrumentos musicais ainda podemos promover notas musicais e notas máximas que ecoem aprovações de crianças e jovens carentes  pelo Brasil. Na Bahia, 77 em cada 100 crianças e adolescentes vivem na pobreza em suas múltiplas dimensões, afirma o Unicef. Esse sim é o verdadeiro espetáculo que vislumbramos aplaudir: a erradicação da fome e da pobreza através do “rum” na gestão pública sucateada de nosso país. Uma verdadeira proclamação da República de Direitos Humanos.

Patrícia Bernardes Sousa é jornalista, redatora e integra projetos de impacto social, letramento, educação e cultura.

 

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#Opinião: Novembro Negro e o Mito da Meritocracia: Um Convite à Reflexão – Por Luciane Reis

Ana Paula Nobre

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O Novembro Negro nos convida, anualmente, a revisitar a história, reavaliar estruturas e reafirmar lutas pela igualdade racial. Nesse contexto, a discussão sobre a meritocracia se torna urgente, pois essa ideia, muitas vezes celebrada como símbolo de justiça social, carrega as marcas de um pensamento colonial que perpetua desigualdades.

A meritocracia pressupõe que todos partem do mesmo ponto na corrida pelo sucesso, ignorando as distâncias impostas por séculos de exclusão. É como esperar que dois corredores compitam em igualdade enquanto um carrega o peso da história em suas costas. No Brasil, onde a escravidão moldou as bases econômicas, sociais e culturais, a meritocracia funciona mais como uma cortina que esconde privilégios do que como um mecanismo de equidade.

Esse sistema, aparentemente neutro, ignora que o acesso à educação, saúde e oportunidades profissionais sempre foi condicionado por cor e classe social. Para quem descende de uma trajetória de exploração, a realidade é outra: os degraus da mobilidade social são mais altos e escorregadios. O pensamento colonial que estruturou o Brasil não apenas determinou quem teria acesso à terra, ao poder e ao conhecimento, mas também deixou como legado uma lógica que naturaliza a exclusão.

Novembro Negro é um tempo para questionar essa narrativa. Quando celebramos Zumbi dos Palmares, Dandara e tantos outros ícones da resistência, estamos também desafiando a ideia de que as conquistas são individuais. O sucesso negro no Brasil nunca foi apenas mérito pessoal; é fruto de uma luta coletiva, travada contra um sistema que se reinventa para manter privilégios.

Superar o mito da meritocracia exige ir além de reconhecer desigualdades. Precisamos de políticas que reparem os danos históricos, ações afirmativas que nivelam o campo de oportunidades e, acima de tudo, coragem para repensar nossos valores. A verdadeira justiça não é um pódio onde poucos chegam, mas uma estrada onde todos podem caminhar juntos.

Que este Novembro Negro nos inspire a abandonar os mitos que aprisionam e a construir um país onde o mérito seja medido pela força do coletivo, e não pela manutenção de privilégios disfarçados de igualdade.

Luciane Reis é Comunicóloga, graduada em Publicidade e Propaganda pela UCSAL, especialista em Produção de Conteúdo para Educação e mestra em Desenvolvimento e Gestão pela UFBA e CEO Mercafro

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#Opinião: Desmistificando o Dia de Finados – Por Januário

Ana Paula Nobre

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Januário
Foto: Divulgação

Em Desmistificando o Dia das Bruxas, discutimos o real sentido dessa festa, desde o Antigo Paganismo até a sua cristianização. Abordamos também a mudança do Dia de Todos os Santos, antes celebrado em 13 de maio, para 1º de novembro, como inflexão histórica que aproximou o paganismo da mística cristã, já que o Halloween ocorre em 31 de outubro. Contudo, a 2 de novembro de 998, o Abade Odilo, na abadia beneditina de Cluny, França, instituiu essa data como emblemática para orar pelos mortos.

O gesto de Odilo contribuiu sobremaneira para o estreitamento paganismo-cristianismo, todavia, foi mais além, haja vista resgatar um dos aspectos centrais da visão católica: para chegar ao Paraíso, as almas deveriam cumprir estágio em um Plano de Purificação, o Purgatório. Nessa dimensão, os espíritos acolhem as orações dos vivos e a intercessão dos Santos, de Maria Santíssima e do próprio Mestre Maior, Jesus Cristo. Essa tradição se disseminou rapidamente e dos séculos X ao XV, orar pelos mortos se popularizou pela Europa a ponto de 2 de novembro ser denominado Dia de Todas as Almas. Na verdade, esse período é o legado deixado pelos cristãos primitivos: ante as perseguições do Império Romano, nos séculos II e III, eles fugiam para os subterrâneos de Roma, enterrando e orando por seus entes queridos.

A colonização das Américas popularizou o Dia de Todas as Almas, haja vista a imposição do catolicismo sobre os povos conquistados. No Brasil, encontramos essa data, ainda que secularizada, como um momento no qual muitos visitam os túmulos de parentes e amigos que já realizaram a viagem para o Astral. Flores, velas e orações são utilizados: as flores simbolizam a evolução espiritual, as velas representam o Caminho da Iluminação e as orações, a evocação da benção de Deus para que a pessoa morta alcance o descanso eterno.

Por essas práticas, percebemos a quantidade de paganismo no interior do cristianismo: o Festival de Samhain, marcando o fim da colheita e a chegada do inverno, era, para os celtas, o momento de retorno dos mortos para a Terra e uma ocasião para se comunicar com os espíritos. Se os celtas acendiam fogueiras e ofereciam bebidas e comidas para recepcionar os espíritos, encontramos nos ritos católicos a analogia de quem acredita ser possível rogar a Deus por quem já partiu.

Longe de defenestrar a fé católica, percebemos no Dia de Todos os Mortos, ou Finados, a oportunidade do diálogo universalista entre todas as crenças: na Umbanda são realizados louvores aos mortos, no Babá Egun, outra religião afro-brasileira, vemos os iniciados vestidos com eku, indumentária especial feita de tiras de pano bordadas, cantando em homenagem aos que já se foram. Em países do sudoeste asiático, encontramos pessoas celebrando a memória de seus ancestrais no Qingming, festiva anual em torno de 5 de abril. Nesta tradição, é também costume ir à templos orar pelos falecidos, além de queimar joss, considerado o dinheiro dos mortos.

O Dia das Bruxas ou Halloween, em paralelo com o Dia de Todas as Almas ou Finados, demonstra que religiões de cultos diversos compartilham da mesma crença: a importância de louvar os mortos. Isso comprova a origem única de todas as religiões do mundo, através da Religião-Sabedoria, A Ciência Secreta, ensinada pela Filosofia Hermética. Nesses termos, o racismo religioso encontra-se desamparado de qualquer racionalidade, haja vista todas as crenças terem uma base comum. Portanto, é tarefa da humanidade acolher a si mesma em suas aparentes diferenças, que, na verdade, são caminhos entrelaçados à Perfeição.

Armando Januário dos Santos é Trabalhador da Luz, Mestre em Psicologia, Psicólogo (CRP-03/20912) e Palestrante. WhatsApp: (71) 98108-4943 / Instagram: @januario.psicologo

 

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