Connect with us

Opinião

#OpiniãoPreta – X, deixe de vitimismo!

Avatar

Publicado

on

racismo3

X acordou neste dia e sequer agradeceu. Teve tempo de banhar-se tranquilamente, cantarolar, assistir ao jornal em sua TV de plasma, indignar-se com mais uma notícia favorável ao Bolsa Família e se isentar de emoção com o novo aumento do gás. Afinal, X nunca comprou gás, X não cozinha, outras pessoas fazem isso.

X entrou em seu carro do ano sem se despedir da reduzida família que ficou à farta mesa do café da manhã de todos os dias. Eles não têm pressa, são chefes, apenas controlam o que outras pessoas estão fazendo. Então, podem viajar mais tarde, dar um pulo em outro estado e voltar no mesmo dia. Outras pessoas providenciam isso com rapidez.

X sempre estudou em escolas onde a média era 7, os professores eram “TOP”, “gladiadores da aprovação” e seus colegas de todas as classes sempre foram como X. Mesmo perfil, mesma história, mesma realidade.

Se encontram neste final de semana na mais TOP balada da cidade, seus gastos conjuntos ultrapassam um “mínimo” e a noite está só começando. X flerta, gasta, ri, gasta, dança, gasta…Aliás, X nunca sabe bem quanto já gastou, gasta ou pode gastar. Outras pessoas dão conta disso.

racismo2

Mas quando X volta para casa, sob todos os efeitos da balada top, em companhia dos seus iguais, há uma blitz que para o carro à sua frente conduzido por jovens como X, vindo de outra balada. X passa, mas o outro carro não: jovens como X, só que tinham na pele a cor daquela mesma noite.

Então, conclui: “só podem ter roubado”. X segue com alívio, afinal, teria muito o que explicar antes que tudo fosse rapidamente pago, resolvido. Até porque, outras pessoas que resolveriam isso, não X.

racismoDia de aula. X segue para a faculdade, onde estuda e passou sem cotas. Afinal, X não se enquadra neste perfil e não precisou. Tem pele branca, parece protagonista de todas as telenovelas ou propagandas de que já ouviu falar ou assistiu. Parece com todos que já viu e todo dia vê nas posições de poder.

X tem renda acima de 20 salários mínimos, está na Classe “A”, mora bem e nunca fez a cama onde dorme. Aliás, X não sabe bem como funciona seu lar, pois outras pessoas dão conta disso.

Tema da aula: racismo. X não gosta deste tema, acha uma bobagem sem tamanho esse vitimismo. Opa!? Sim, para X não passa de vitimismo, afinal “quem quer ser alguém na vida basta batalhar para isso, parar de reclamar”.

X acredita que para se educar, basta querer, estudar muito e não faltar aula por “qualquer coisa”. É preciso esforço, vontade e que as oportunidades estão aí para todos, que “à sua semelhança”, querem sucesso na vida .”

racismo4

Naquela aula, X olhou ao redor e viu apenas 2 iguais. A cor da noite estava à frente de novo, aliás, por todos os lados. Falou o que achava e recebeu toda chuva de argumentos contrários, perguntas sobre quais privações já teve em sua vida. Recebeu olhares tensos.

Questionaram quantas abordagens desconfiaram de sua índole. Quantos nãos já recebeu por ter a pele da cor do dia. Quantas vagas disputou para sustentar o ótimo ensino que desfrutara.

Quantas piadas com seu cabelo, nariz, roupas, boca…com sua cor de pele, com sua família ou antepassado, já tinha ouvido na vida? E quantas vezes teve que ser 10 vezes melhor que alguém para conseguir algo só por refletir a cor da noite por todo o corpo? Quantas comparações a animais, escravos, inúteis, imbecis já haviam lhe feito? Quantos…quantas…quantos, X? Quantos?

racismo7

X chorou, não aguentou. Clamou-se vítima de assédio, hostilidade, disse que isso sim era racismo, só que ao contrário. Que ali estava em minoria e que não tinha como melhor se defender. X alegou desigualdade naquele momento.

Não havia oportunidades iguais de defesa, era uma opressão tudo aquilo. Queria morrer ali, acabar com a vergonha e humilhação por ser “diferente”.

Saiu da sala, da faculdade e, desta vez, pediu para alguém ir lhe pegar e levar para casa. Afinal, outras pessoas havia em seu oprimido mundo que pudessem aliviar sua dor.

Moral da história….X, deixe de vitimismo!

racracismo2

Fotos de Lorena Monique, estudante de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB) que, inspirada na campanha organizada por alunos negros e negras em Harvard (EUA), fotografou estudantes no campus segurando cartazes com frases que já ouviram.

jamenezes

Jamile Menezes é Jornalista, Assessora de Comunicação e Imprensa, diretora da Ayo Comunicação e editora chefe do Portal SoteroPreta.

Opinião

#Opinião: O que falta para existir R4cism0 R3vers0: Um breve histórico para o letramento racial – Por Aline Lisbôa

Avatar

Publicado

on

Aline Lisbôa
Foto: Divulgação

Combater o racismo no Brasil, é diariamente ter que falar o óbvio, e nessa missão, por vezes, desmistificar o conceito de que o racismo neste país, que vendeu, matou e escravizou pessoas negras, é apenas um preconceito contra a raças — seja ela qual for–. O fato, é que o pacto do grupo opressor, conhece o lugar que subverte a opressão de um povo em emancipação, O LUGAR DA LUTA, e por isso, dissemina a não existência de um protagonismo negro nessa luta que é nossa.

Um breve histórico da construção social do racismo estrutural, pode explicar, o que falta, para a suposta existência de um racismo contra br4nc0s no Brasil.

O racismo se estabelece através do conceito de raça, que surge para classificar grupos naturalmente contrastados. Na história da ciência, esse termo serve para a classificação de determinados grupos da zoologia e da botânica, com a finalidade de contrastar categorias maiores subdivididas em categorias menores, em seguida subcategorias e assim por diante, conforme os estudos de Kabengele Munanga (2003).

Munanga ainda afirma, que para toda classificação, é necessário utilizar critérios de diferenças e semelhanças, assim, no século XVIII, a cor da pele foi utilizada como critério de divisão em raças e no século seguinte, outros critérios como forma do nariz, lábios, formato do crânio, foram utilizados para aperfeiçoar essa classificação. Entretanto, sabe-se que essa classificação não se limitou apenas às características físicas e sim a utilização destas como forma de hierarquização, estabelecendo uma relação desvinculadas entre o biológico e as qualidades morais, intelectuais e psicológicas, decretando desta forma a raça branca como superior à raça negra. Isso justificou a colonização e o imperialismo das nações europeias sobre outras sociedades humanas, fenotipicamente, diferentes, sobretudo as pessoas indígenas nas Américas e as negras do continente africano.

Assim, muito além dos traços físicos de determinado grupo, o conceito de raça exprime a ideia de que esse grupo e seus traços culturais, religiosos, linguísticos, etc. são naturalmente inferiores aos “traços brancos”, além disso, a ideia de que características biológicas, são capazes de explicar as diferenças morais, psicológicas e intelectuais entre as raças foi uma teoria que teve muito prestígio no século XIX, chamada racismo científico, difundido no Brasil por figuras como Raimundo Nina Rodrigues e Sílvio Romero.

Ainda que se tenha o contexto histórico vergonhoso da branquitude do Brasil, que pode ser ilustrado nas teorias de Nina Rodrigues, mostrando o nível de brutalidade “incivilizada”, do suposto povo superior e civilizado, esta hierarquia do conceito de raça segue elegendo a esta branquitude, como superior e “normal”, desumanizando a população negra que não se assemelha fisicamente com essa normalidade eurocêntrico, constituindo a base de uma estrutura social.

Desta forma, entendendo o processo estrutural que hierarquiza as raças através dos traços biológicos, entende-se racismo como:

(…) uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento, e que se manifesta por meio de práticas conscientes ou inconscientes que culminam em desvantagens ou privilégios para indivíduos, a depender do grupo racial ao qual pertençam. (ALMEIDA, Silvio, 2019, p.23).

Pode-se então, considerar que o racismo não é um problema negro no Brasil e sim um problema na relação de dominação e supremacia da branquitude para com os negros do Brasil, que mantém os privilégios de um grupo, enquanto nega as mínimas condições de vida a outros.

Raça, Racialização, Racismo científico e racismo estrutural. No Brasil o racismo tem e sempre teve um alvo, corpos negros.

Artigo de Aline Lisbôa

Continue Reading

Opinião

#Opinião: A figura paterna – Por Ana Paula Nobre

Ana Paula Nobre

Publicado

on

Ana Paula Nobre
Foto: Bruna Bahia

Todo mundo tem pai. Mesmo quem não o conhece, não convive, não tem a sua presença física. Mesmo quem nunca ouviu falar dele, não se deparou com ele ou não concebe a sua existência. Não existem erros no universo. Tudo é milimetricamente articulado nos planos divinos.

De ausência paterna, eu entendo. Não tenho contato físico com o meu pai biológico há 28 anos. De certa forma, tive a possibilidade de conviver com meu pai até os 12 anos, portanto, conheço o seu rosto. Há quem nunca o tenha visto, mas seus traços revelam. Pra quem não o conhece, olhe para o seu rosto. Ele tá aí.

Há quem tenha pai presente fisicamente e ausente na disponibilidade afetiva e de proteção. Isso configura ausência também. Há quem tenha o pai já em outro plano, mas ele foi tão importante que se torna presente no presente.

O fato é que a figura paterna – principalmente no Brasil, onde na maioria das casas brasileiras existe um vácuo da presença masculina -, muitas vezes é expoente de dor, carências emocionais, afetivas e memórias traumáticas. Falar de pai chega a ser desafiador.

Como olhar para essa relação de um lugar maduro e ressignificado? Não existe outra forma a não ser se olhando. Falar de pai é falar da gente. Eu não existiria se não fosse esse pai, Paulo. Minha mãe não seria mãe se não fosse o meu pai.

O pai biológico tem o seu lugar, e aqui falo como consteladora. Falar do meu pai sem revisitar sofrimentos só é possível graças a muita terapia. Compreender a mulher que sou hoje é herança da força que vem dele e da superação de muitas dessas questões.

A carga genética, o espermatozoide e o óvulo, nesse cruzamento mágico, faz com que sejamos quem somos. Reconhecer nosso pai em nós e dar-lhe um lugar no coração para além dos seus equívocos apazigua a alma.

Nós, assim como o universo, dispomos de energias duais: a masculina e a feminina. Fora de nós, os primeiros referenciais materializados são painho e mainha. Sigo inteira com todas as minhas partes em reintegração. Não é fácil, mas é alcançável.

O Sol representa o masculino, o pai. Deus, o Grande Espírito, o Pai Céu, o Criador de Tudo que É, meu pai divino, contempla a paternidade da minha essência.

Ana Paula Nobre é jornalista, repórter do Portal Soteropreta, terapeuta integrativa, consteladora xamânica, artista e trabalha unindo comunicação, espiritualidade e arte em seus atendimentos.

Continue Reading

Opinião

#Opinião – Você já se percebeu sentindo culpa demais? Por Lugana Olaiá

Avatar

Publicado

on

Lugana Olaiá

Culpa de querer um emprego melhor.

Culpa de ter passado tempo demais numa relação ruim.

Culpa de perdoar “amigos” após a quebra de confiança.

Culpa pelas escolhas que você fez, quando não tinha as informações que tem hoje.

Pode listar suas culpas para si mesmo.

Enumere-as e depois deixe-as para trás.

Me peguei refletindo sobre isso depois de uma sessão de terapia. Durante a conversa, notei que a principal algoz do meu julgamento, sou eu mesma. Sobretudo, porque esses são os únicos pensamentos que eu conheço e escuto de fato. Os pensamentos que fomos colhendo das percepções superficiais das pessoas sobre quem somos, e por repetir tantas vezes, passamos a compartilhar as crenças reforçadas, sejam elas verdadeiras ou não. Muitas vezes, você hoje tem a capacidade de saber que aquela verdade não te representa nem define sua jornada atualmente.

Os outros não nos dizem mais o que eles validam como achismos, e é bem provável que eles não pensem sobre o assunto em nenhum momento. Afinal, cada pessoa precisa cuidar de suas culpas ou realizações. Pensando nisso, trago outra questão: você se responsabiliza pelas conquistas alcançadas ou você credita todas elas ao acaso? E mais, porque é tão fácil seguir se culpando e tão difícil valorizar seus avanços?

Agora chegamos no momento em que queremos mudar o lado do disco na vitrola. Estamos determinadas a nos ocupar somente com planos e projetos para executar no presente, exercitando a minha presença e força de movimentar o agora. O caminho é longo e não se deve caminhar carregando uma mochila com o peso de suas decisões do passado, nem deixar que as distrações tirem o nosso foco.

A trajetória profissional de uma mulher negra, nordestina, bissexual, mãe e de axé, não apresenta alternativas facilitadoras. Todas as trilhas são estreitas, ou íngremes e cheias de obstáculos que parecem saídos de filmes de ficção científica. E vai chover, vai molhar o mapa que te guiava, vai escurecer, e você não vai encontrar as pilhas para sua lanterna. Vai ser realmente exaustivo quando constatar que ainda precisa de fôlego para alcançar o cume.

Na maioria dos casos, não vai ter quem lhe dê impulso. Então, você nota que é o atleta e também treinador. É nesse momento que você aprende a dizer para sua mente palavras de afirmação e coragem. Essa metáfora não fala somente de desafios físicos na escalada até a cachoeira. Aplique os limites que precisa e dê a sua vida o direcionamento essencial para seus objetivos.

Só vamos ser capazes de enxergar o quão valiosas somos, quando retirarmos por completo os séculos de vendas que cobriram nossos olhos. Não estamos mais naquele passado, nem no escuro, e tampouco chegamos ainda ao fim do túnel.

Vamos atravessar!

Lugana Olaiá – 36 anos, mulher negra, mãe, comunicadora, especialista em comunicação corporativa, pessoa que acredita em soltar as culpas do passado.

Continue Reading
Advertisement
Vídeo Sem Som

EM ALTA