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Pelourinho: a invisibilidade negra nas ruas do coração da Bahia

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Kauê Vieira
ruas do pelourinho

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É por uma rua estreita, de apenas uma mão, repleta de lojas e com prédios abandonados que se chega a um dos lugares mais importantes da cidade de Salvador. Formado por ladeiras, com as chamadas pedras-moleque (ou paralelepípedos), com igrejas imponentes e casas coloridas – inspiradas no que ficou conhecido como arquitetura colonial, o Pelourinho é ponto de peregrinação de turistas do Brasil e do mundo inteiro em busca de descobrir os tão falados e cantados “encantados” da Terra Santa da Bahia.

Contudo, será que este é apenas um espaço onde impera a alegria de viver e dos sorrisos negros admirando as batidas dos tambores do Olodum? Germinado com o histórico bairro do Santo Antônio, para muitos o real significado do Pelourinho é desconhecido. Talvez seja reflexo de uma prática conhecida brasileira: a negação. A negação quando se trata de discutir e analisar a contribuição de mulheres e homens negros para a sua formação identitária dessa comunidade.

Pensada e construída para ser uma cidade fortaleza, isso pela sua privilegiada posição geográfica, Salvador teve no Pelourinho seu ponto central, com suas diversas ladeiras, que logo dividiram espaço com casarões e pequenos sobrados, inspirados na arquitetura barroca de Portugal e construído por mãos de negros escravizados vindos de África e indígenas. Desde muito cedo o Pelourinho foi palco de violência e crueldade. Simbolizado como um local de suposto exercício da justiça pelos colonizadores. Os pelourinhos eram colunas de perda ou madeira, com buracos para a cabeça e as mãos, onde as negras e negros escravizados eram punidos com centenas de chibatadas e chutes por supostamente descumprirem ou se rebelarem contra as ordens de seus ‘senhores’.

ruas do pelourinho

Banco de Imagens

Com a abolição dos quase  400 anos de escravidão e o passar dos anos, o Pelourinho foi ganhando outros contornos. Mas, uma coisa parece teimar em não mudar: a invisibilidade dos corpos negros e a negação do passado.

Ao andar pelas vielas e becos do Pelô, como é carinhosamente conhecido, dá pra perceber que a escravidão se modernizou. Os negros são punidos de outras maneiras, a violência não habita no chicote do senhor branco, mas sim no arma do policial militar de pele tão escura quanto o de seu alvo. Irônico. Mas, diferente da escravidão?

Seguindo, a herança escravagista mora também na sexualização e invisibilidade de corpos de meninas e meninos negros da comunidade, ignorados ou que servem de escada e apoio para turistas da Espanha, Inglaterra e Portugal. “Garoto, tire uma foto aqui pra mim”, diz o senhor português.

“No, no. No português”, é a resposta de um grupo de mulheres dos Estados Unidos, aparentemente assustadas. Onde já viu ser assediada por tantos negros assim?  Protejam suas bolsas e deixem a família em paz para passear e admirar esta arquitetura tão única. Ora bolas, Michael Jackson esteve aqui, por isso é importante visitar esse lugar (?).

O Pelourinho é centro de cultura e diversão de baianos e turistas. Contudo, esconder o passado debaixo da terra, transformar o Convento do Carmo em um hotel e comercializar o corpo negro como moeda de troca para o turismo parece ter sido o mais conveniente para os governantes do estado e do município. Porém, nós trazidos de África nos ventres das mães pretas seguiremos pisando, contando e passando nossas memórias e ancestralidades nestes nossos territórios negros. O povo negro tem direito à memória.

curso cultura africanaKauê Vieira é jornalista formado pela Universidade Anhembi Morumbi, colaborador do Portal SoteroPreta, foi produtor de conteúdo do Projeto Afreaka durante quatro anos, criando textos acerca da África contemporânea e também do seu passado.

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Matriarcas da Pedra de Xangô escolhem os 15 novos guardiões

Jamile Menezes

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A secretária de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais da Bahia, Ângela Guimarães, recebeu, nesta quarta-feira (28), o título de Guardiã do Parque Pedra de Xangô. A honraria foi concedida pelas Matriarcas da Pedra de Xangô, grupo de sacerdotisas responsáveis pela salvaguarda e proteção do rochedo considerado sagrado pelos religiosos de matriz africana em Salvador.

“É uma emoção e grande responsabilidade ser agraciada com o título. Assumo o compromisso pessoal e institucional com o enfrentamento do racismo religioso e a manutenção dos nossos territórios sagrados”, destacou a titular da Sepromi.

A entrega da condecoração integrou a programação da Cerimônia da Fogueira de Xangô, ritual que reverencia as divindades do fogo e fortalece a rede em defesa desse patrimônio cultural afro-brasileiro, localizado na Avenida Assis Valente, no bairro de Cajazeiras.

De acordo com as Matriarcas da Pedra de Xangô, os 15 novos guardiões foram escolhidos em função dos “relevantes serviços à cidade, a cultura, à população negra, ao Povo de Axé, às comunidades tradicionais e, em especial, ao processo de implantação, manutenção e gestão do equipamento de apoio do Parque Pedra de Xangô”.

Guardiões e Guardiãs da Pedra de Xangô 
1 – Tânia Scoofield Almeida – Presidenta da Fundação Mário Leal Ferreira – Prefeitura Municipal de Salvador;
2 – Fernando Guerreiro – Presidente da Fundação Gregório de Mattos – Prefeitura Municipal de Salvador;
3 – Bruno Monteiro – Secretário de Cultura do Estado da Bahia;
4 – Luiz Carlos Suíca – Vereador do Município de Salvador;
5 – Jose Raimundo Lima Chaves – Pai Pote – Presidente da Associação Beneficente Bembé do Mercado – Santo Amaro-Bahia;
6 – Rafael Sanzio Araújo dos Anjos – Prof. Titular & Pesquisador Sênior -CIGA\PPGGEA\UNB – Brasília;
7 – Sônia Mendes Reis Nascimento – Ìyá Egbè – Administradora e mestranda em Arquitetura e Urbanismo – PPGAU-UFBA;
8 – Ìyá Márcia D’Ògún – Presidenta do Conselho Municipal de Cultura de Salvador;
9 – Edvaldo Matos – Coordenador do SIOBÁ – Irmandade Beneficente de Ojés, Ogans e Tatas
10 – Leonel Monteiro – Presidente da AFA – Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Ameríndia;
11 – Fábio Macedo Velame – Prof. Permanente do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – PPGAU –UFBA;
12 – Nilza Nascimento Ferreira – Mãe Nilza D’Oxum – Professora, sacerdotisa, sucessora de Mãe Zil – Santo Antônio de Jesus – Bahia;
13 – Evilásio Bouças – Taata Evilásio – Presidenta do Conselho Municipal das Comunidades Negras de Salvador;
14 – Ângela Guimarães – Secretária de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais do Estado da Bahia;
15 Maria Alice Silva – mestra e doutoranda em Arquitetura e Urbanismo – PPGAU-UFB

 

 

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Associação celebra Dia Internacional do Reggae no Pelô

Jamile Menezes

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Kamaphew Tawa

 

A Associação Cultural Aspiral do Reggae vai celebrar o Dia Internacional do Reggae – 1º de julho. A festa será na Casa Cultural Reggae (Rua do Passo) e contará com um time de artistas, djs e banda de reggae pra animar o público. Esta é a 7ª edição dessa celebração e terá shows do veterano Kamaphew Tawa & banda Aspiral do Reggae, Dj Maico Rasta, Fabiana Rasta, Jo Kallado ,Vivi Akwaba, Jadson Mc, Bruno Natty, Ras Matheus e Makonnen Tafari.

O Brasil é o segundo país do mundo que mais consome reggae, uma data definida pela jamaicana Andrea Davis, inspirada no discurso de Winnie Mandela em Kingston, Jamaica, em 1992.

“O Reggae tem sido uma grande influência nas raízes culturais e musicais da Jamaica e do mundo, misturando instrumentos africanos e europeus como violão, bongô e banjo, e criando as bases para o gênero. Ele inspirou milhares a seguirem a filosofia da cultura Rastafari, dando origem a figuras icônicas como Bob Marley, Jimmy Cliff, Peter Tosh, Toots & The Maytals, entre outros”, pontua a dirigente da Associação, Jussara Santana.

O ritmo também foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial pela Unesco, em 2018, por conta do seu papel sociopolítico e cultural. A celebração será neste sábado (01/7), aberta ao público, das 18h às 23h30.

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Vai rolar segunda edição da festa #Ghettos no Bombar

Jamile Menezes

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Drica Bispo

Nesta sexta (30), o Bombar no bairro do Rio Vermelho em Salvador vai receber a segunda edição da festa Ghettos edição Salcity X Guiné- Bissau, idealizada pelo produtor, Uran Rrodrigues.

“Os sons de dois dos principais centros urbanos do mundo se encontrarão na mesma pista em celebração as nossas potencialidades numa mistura musical altamente dançante e identitária” conta Uran.

Diretamente de Mirandá, gueto do Guiné, o músico, cantor e Dj Eco de Gumbé apresentará suas performances no melhor do afrobeat, dialogando com o set do dj, produtor musical e co-criador do Coletivo Trapfunk&Alivio, Allexuz95 do Nordeste de Amaralina. Ele promete beats certeiros com trap,funk e pagodão baiano.

Felupz

Do Pelourinho, Akani retorna à festa trazendo o seu groove e os remixes mais potentes da cena, abrindo as portas para sonzeira de Dricca Bispo com as autorais, como “Saudade” e os covers de Sem Pause e Inevitável.

Dricca Bispo, dançarina de Castelo Branco, já conhecida das pistas, apresentará sua nova versão como cantora. Vai rolar ainda feat especial com Felupz, que se prepara para lançar Razga com beat produzido por Doizá.

Couvert artístico R$ 25.

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