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Opinião

E Se Deus fosse PRETO? – Por Ricardo Gonzaga

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Foto: Guilherme Malaquias

Por coincidência acompanhei, dias atrás, apenas como leitor na moita, uma discussão bastante polêmica na internet que envolvia religião. Religião na internet! Era o seguinte: postaram uma matéria que desconstruía etnicamente a imagem de Jesus Cristo. Segundo ela, cientistas e pesquisadores, cruzando dados históricos e traços étnicos da população do local de nascimento e vida do Jesus Cristo de Nazaré, chegaram numa imagem de um Jesus Cristo muito mais “escuro” do que ícone católico loiro de olhos azuis que nos é apresentado pela igreja.

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Foto: Max Fonseca

Polêmica brabíssima! Comentários nervosos e defesas surpreendentemente carregadas de preconceitos e ideias racistas… Pulei fora. Mas ficaram na cabeça as reflexões levantadas pelos comentários em rede.

E essas reflexões sempre escorriam para serem confrontadas com a violência e intolerância religiosa que sofrem as religiões de matriz africana, a demonização e perseguição raivosa aos ícones religiosos não brancos.

Se deus fosse preto

Foto: Max Fonseca

Acabei encontrando diálogo com o espetáculo solo de Sérgio Laurentino (Bando Teatro Olodum) intitulado “Se Deus Fosse Preto?”. Sergio Laurentino, que já foi Exu no cinema, no filme Besouro, agora é Lhotam Omi Imbó do Dendê (Lhoid), um homem que reivindica para si uma divindade.

Lhotam Omi Imbó do Dendê  é um homem negro que nos relata uma vida de prosperidade, alcançada pela plantação e extração do dendê, sua cultura e identidade. Dentro de suas terras, vivia em grande liberdade, inclusive, na sua fazenda, o uso de roupas não era obrigatório. Então, num determinado dia, ao voltar para casa, encontra esposa e filha com as cabeças decepadas. Lhoid é apontado como praticante do crime bárbaro. Julgado e condenado, ele já cumpre a sentença de reclusão num manicômio judiciário por 17 anos.

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Nós, público, temos acesso a Lhoid num estado bem deplorado no cárcere. É esse homem massacrado que nos conta sua história pessoal com riqueza de detalhes e cheia de reflexões a respeito das divindades, sobre a existência e não existência de Deus. Em determinado instante, Lhoid chega a declarar que Deus não existe, que ele é Deus, que cada um de nós é Deus. E essa é sua sentença. É essa desconstrução da divindade como algo externo e distante de nós que move a ação, ela é causa e consequência do enredo criado por Sérgio, que também assina como dramaturgo.

sergio laurentino se deus fosse pretoO espetáculo é curto, cerca de 50 minutos, e objetivo. Sérgio Laurentino é um ator que captura a plateia, trabalha – brilhantemente – a serviço do texto e encenação, nos traz um espetáculo atual e com uma reflexão muito pertinente.

Destaque para a participação do ator Zé Carlos, que aparece em projeção no telão como diretor do manicômio. A direção precisa e discreta é Jean Pedro.

Em 2017, Sérgio Laurentino estreia mais um filme, Tungstênio, de Heitor Dhalia (Nina; O Cheiro do Ralo), que tem Fabrício Boliveira como protagonista de uma trama policial que se passa em Salvador, nos arredores da Cidade Baixa.

Por mais uma coincidência, Fabrício Boliveira e Psit estavam presentes na plateia. Então teve aquele nosso encontro no bar para “discutir a peça”. É gostoso quando um trabalho artístico permite esses encontros e trocas de ideias. Que assim seja! Evoé! Laroiê! Vamos ao teatro!

Crítica de Ricardo Gonzaga para o Portal SoteroPreta.

Opinião

#Opinião: “Entre a neve e o milho branco, chegamos a Kwanzaa” – por Patrícia Bernardes Sousa

Ana Paula Nobre

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Foto: Divulgação

E no Brasil desbravador de 2024, educadores e gestores públicos rodam em círculos como num grande Xirê (Siré) onde não existem competências e habilidades, previstas na Constituição Federal de 1988 e na Base Nacional Comum Curricular, para que o conhecimento dance e faça os seres apresentados como humanos na Terra, evoluírem. Sim, é sobre isso. Entre a neve e o milho branco, estabeleceu-se a cultura do ódio religioso para que o culto ecumênico da fé em Papai Noel fosse tão demonizado quanto aqueles que acreditam que seu “bom velhinho” é Papai Oxalá.

Não existem artigos previstos na Constituição de 1988, bem como também não existem competências e habilidades na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que “troque a bença” ou “abençoe com óleo ungido” o culto ao ódio, ao assassinato, à violência psicológica, física e patrimonial vivenciada pelos povos originários e comunidades tradicionais no Brasil.

O menino Jesus, testado e humilhado diversas vezes num deserto com orientações espirituais de seu pai, nosso Senhor Jesus Cristo jamais entenderia o porque que  todas as tábuas dos mandamentos escritos por seu leal discípulo Moisés, iriam respaldar as bocas e as escrevivências de “espíritos de engano” que fazem da gestão escolar, da coordenação pedagógica e do planejamento estratégico anual de professores uma “fogueira da inquisição” junto à crucificações diárias para além das paredes das salas de aula.

Viver Nosso Senhor Jesus é amor.

Viver Pai Oxalá é amor.

Viver Tupã é amor.

No culto ao ego adoecido, criamos um outro tipo de Deus: o “Deus do Ódio” que facilmente encontrou e encontra abrigo em corações sujos dentro e fora de Terreiros, Igrejas e Templos das mais diversas religiões onde o dinheiro está num “altar” ainda maior que o conhecimento legítimo da nossa ancestralidade e dos nossos antepassados.

Papai Noel não deseja sangue na neve. Ele conta a história de onde ele veio.

O menino Jesus não quer sangue na Terra. Ele conta a história de onde ele veio.

Papai Oxalá não quer sangue na Terra. Ele conta a história de onde ele veio.

Tupã não quer sangue na Terra. Ele conta a história de onde ele veio.

A BNCC também prevê a habilidade EF03HI03, que consiste em identificar e comparar pontos de vista sobre eventos significativos, condições sociais e grupos culturais, com destaque para as culturas africanas, indígenas e de migrantes. A Lei nº 10.639/03, por sua vez, torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira em especial nas áreas de artes, literatura e história. Na BNCC, quando aparece o termo “Educação das Relações Étnico- Raciais”, é para fazer menção à legislação que trata da obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena nos currículos da Educação Básica.

E quando a Kwanzaa chega? Como entender e valorizar algo tão maior que os princípios do eu, do outro e do nós, dentro das previsões da BNCC que estruturam as competências e habilidades de se poder andar de carro, de metrô, de avião ou a pé da forma que desejarmos nos vestir e cultuar o deus que cremos?!

O que dizer aos educadores adoecidos na arte de lecionar e estão próximos da sua aposentadoria?

O que dizer para lavar com “águas de paz” gestores escolares e coordenadores pedagógicos, também adoecidos por enraizar ainda mais fundo a semente da perseguição do plano de aula diário do educador em sala de aula?

O que dizer à mãe solo que não prevê o Menino Jesus como o Senhor e Salvador, pois a única referência masculina que ela teve repetiu o ciclo tóxico vivenciado pela sua família ao perceber que a sua gravidez não seria acolhida numa manjedoura de amor  e sim palavras de escárnio e tapas na cara anunciando as dores para os seus próximos anos de vida, com um filho no braço e muitas coisas pra dar conta sozinha.

A neve não encanta, o milho branco não traz paz e a Kwanzaa não anuncia e nem anunciará nada para estas milhões de “Marias” que não tiveram a base forte de um companheiro como seu “Salvador” e ainda estão aos pés da cruz em busca de milho branco para se alimentar de paz. Não diga a uma mulher indígena que ela foi estuprada por um bem maior que foi colonizar o Brasil. Tupã, o criador do mundo, não se faz presente nisso. Ampliar o foco dos currículos para a diversidade cultural e racial, valorizar a pluralidade étnica, prevenir preconceitos, estereótipos e estigmas e formar cidadãos com compreensão de mundo e relações sociais deveriam ser nossos mandamentos, mas não são.

Kwanzaa se anuncia com amor. Umoja, Kujichagulia, Ujima, Ujamaa, Nia, Kuumba, Imani são princípios que, para além de sermos dizimistas, moldam a nossa fé sem armas com tiros à queima-roupa na nossa dignidade salarial, sanidade mental e expansão de nosso conhecimento.

Quando se refere às aprendizagens essenciais e não inclui uma pauta antirracista entre as prioridades, a BNCC desconsidera a realidade social brasileira, que é racista, preconceituosa e segregadora. No Brasil, o Kwanzaa já é celebrado em estados como São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

O ódio, substantivo masculino, já estava sendo praticado antes mesmo nas disputas entre os homens das cavernas. Em 2024, ele percorre corações adoecidos dentro e fora das salas de aula. O campo de experiência “O eu, o outro e o nós” da Base Nacional Comum Curricular aborda habilidades como conhecer e respeitar regras de convívio social, respeitar a diversidade, desenvolver a identidade e até mesmo facilitar a socialização dos povos originários e as comunidades tradicionais. É como um “dever de casa” que nunca fica pronto.

Vivemos ainda com aqueles avisos colados com durex e escritos em folhas de ofício na horizontal dizendo:

“Não derrube o Menino Jesus da manjedoura”; ” Ser índia não é fetiche sexual”; “Torço/Ojá não é pra esconder drogas e passar em alfândegas de aeroportos”; “Milho branco alimenta e traz paz”; “Mulheres Negras não são souvenir de Carnaval”; “Minha conta de orixá não é da sua conta”.

Derretemos a neve para afogar Papai Noel e fazermos dos adeptos religiosos do Deus Tupã e Pai Oxalá uma piada para racistas recreativos anualmente.

Deus é fiel! Olorum é luz! Tupã é resgate à natureza humana.

2025 está logo ali.

Patrícia Bernardes Sousa é jornalista, redatora e integra projetos de impacto social, letramento, educação e cultura.

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Opinião

#Opinião: Dando rum na educação construindo pontes sem dó – Por Patrícia Bernardes Sousa

Ana Paula Nobre

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Foto: Divulgação

Sim! Nem só o orixá toma “rum” no barracão da sua vida pessoal e profissional. Desde o início destes festejos do Novembro Negro 2024, a Bahia do poeta Castro Alves permitiu que a sua “concha acústica sonora” desse “rum” aos gestores de cultura, empresas privadas e simpatizantes empresariais da educação, letramento, teatro e arte-educação na capital baiana e no mundo.

Não deu “Dó” e ninguém deu “Ré” na compra de ingressos para vislumbrar o verdadeiro espetáculo vindo da troca de couros sagrados tocados pelos maestros dos mais diversos grupos culturais de Salvador. Com respeito e determinação legítima, ogãs, filhas de santo, ebomis, abiãs e yawos levaram a sua comunidade à visibilidade máxima ao entender que identidade racial e cultura identitária nasce na troca do couro e no lapidar na madeira para que o atabaque ecoe a nossa súplica.

Neste caso, a súplica foi ecoada sobe a batuta das águas de Oxalá e Nosso Senhor do Bonfim, que permitiram que a paz durante os eventos do G20, do cinquentenário do “Mais Belo dos Belos”, o Bloco Afro Ilê Aiyê e da cadência das Orquestras Afrobaianas, chegassem como perfume suave aos nossos ancestrais. Ninguém limpa couro com água salgada e é por isso que a alegria dos erês se fez e se faz presente em cada sorriso de vitória dos maestros Ubiratan Marques e Carlos Prazeres.

Não se tem como ecoar “Mi-mi-mi” diante da grandiosidade na excelência dos ensaios e preparações com a cabaça de conhecimento presente na vida destes maestros. A Orquestra Afrosinfônica da Bahia e a Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA) dão “rum” a quem acredita que somos subnotificação e que não existe qualidade nos ouvidos musicais e musicados de quem não tem dinheiro pra comprar nem um violino, um trombone ou até mesmo um simples cotonete.

A fome cultural e orgânica de pessoas carentes de acolhimento estrutural em Salvador oferta o ilá (grito) que nos alerta da importância de mobilizar, sensibilizar e deliberar políticas públicas de captação de recursos que ofereçam “cabaças” de possibilidades de realização de sonhos educacionais e profissionalizantes ao invés de “cuias” que limitam o abastecimento de água para limpeza do corpo e da hidratação humana diária através destes projetos.

Crianças, jovens e adultos formam um “coro” regido por “couros” devidamente abençoados por pembas de lucidez e o suor salgado das águas que curam e libertam cabeças que não tinham sonhos seja na Liberdade, Itapuã, Candeal, Bairro da Paz, Pelourinho, Subúrbio Ferroviário e muitos outros pela Bahia e pelo Brasil.

Com espetáculos como “Sinfonia Terra Brasilis”, “Ponte Para a Comunidade – Orquestras Afrobaianas” e “ OSBArris”, as políticas sociais de Salvador ensinam aos seus gestores que a educação musical também é pioneira na arte ancestral dos ensinamentos orais que legitima a direção (rum) que são passados de mães solo, em sua maioria, para seus filhos, filhas e filhes.

Para atender ao Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, a Bahia vai precisar sair dos atuais 37% para 43% agora em 2024, chegando a 50% em 2025. A meta é alcançar 80% de sucesso até 2030. Subnotificações que chegam aos nossos ouvidos sem “dó” e quase obrigando gestores culturais como os maestros Ubiratan Marques e Carlos Prazeres a dar “ré” na hora de colocar as suas apresentações com carência profunda como uma concha nas profundezas do mar da Baía de Todos os Santos.  34 mil estudantes, entre 18 e 24 anos são analfabetos na Bahia, segundo dados do IBGE.

Das cordas e dos couros de instrumentos musicais ainda podemos promover notas musicais e notas máximas que ecoem aprovações de crianças e jovens carentes  pelo Brasil. Na Bahia, 77 em cada 100 crianças e adolescentes vivem na pobreza em suas múltiplas dimensões, afirma o Unicef. Esse sim é o verdadeiro espetáculo que vislumbramos aplaudir: a erradicação da fome e da pobreza através do “rum” na gestão pública sucateada de nosso país. Uma verdadeira proclamação da República de Direitos Humanos.

Patrícia Bernardes Sousa é jornalista, redatora e integra projetos de impacto social, letramento, educação e cultura.

 

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Opinião

#Opinião: Novembro Negro e o Mito da Meritocracia: Um Convite à Reflexão – Por Luciane Reis

Ana Paula Nobre

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Foto: Divulgação

O Novembro Negro nos convida, anualmente, a revisitar a história, reavaliar estruturas e reafirmar lutas pela igualdade racial. Nesse contexto, a discussão sobre a meritocracia se torna urgente, pois essa ideia, muitas vezes celebrada como símbolo de justiça social, carrega as marcas de um pensamento colonial que perpetua desigualdades.

A meritocracia pressupõe que todos partem do mesmo ponto na corrida pelo sucesso, ignorando as distâncias impostas por séculos de exclusão. É como esperar que dois corredores compitam em igualdade enquanto um carrega o peso da história em suas costas. No Brasil, onde a escravidão moldou as bases econômicas, sociais e culturais, a meritocracia funciona mais como uma cortina que esconde privilégios do que como um mecanismo de equidade.

Esse sistema, aparentemente neutro, ignora que o acesso à educação, saúde e oportunidades profissionais sempre foi condicionado por cor e classe social. Para quem descende de uma trajetória de exploração, a realidade é outra: os degraus da mobilidade social são mais altos e escorregadios. O pensamento colonial que estruturou o Brasil não apenas determinou quem teria acesso à terra, ao poder e ao conhecimento, mas também deixou como legado uma lógica que naturaliza a exclusão.

Novembro Negro é um tempo para questionar essa narrativa. Quando celebramos Zumbi dos Palmares, Dandara e tantos outros ícones da resistência, estamos também desafiando a ideia de que as conquistas são individuais. O sucesso negro no Brasil nunca foi apenas mérito pessoal; é fruto de uma luta coletiva, travada contra um sistema que se reinventa para manter privilégios.

Superar o mito da meritocracia exige ir além de reconhecer desigualdades. Precisamos de políticas que reparem os danos históricos, ações afirmativas que nivelam o campo de oportunidades e, acima de tudo, coragem para repensar nossos valores. A verdadeira justiça não é um pódio onde poucos chegam, mas uma estrada onde todos podem caminhar juntos.

Que este Novembro Negro nos inspire a abandonar os mitos que aprisionam e a construir um país onde o mérito seja medido pela força do coletivo, e não pela manutenção de privilégios disfarçados de igualdade.

Luciane Reis é Comunicóloga, graduada em Publicidade e Propaganda pela UCSAL, especialista em Produção de Conteúdo para Educação e mestra em Desenvolvimento e Gestão pela UFBA e CEO Mercafro

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