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Opinião

#Ouriçadas – ENTRE MUITAS PAGUS: feminismo, gênero e sexualidade

Jamile Menezes

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cacheadas e crespas ouriçadas

Os estudos feministas, ao incorporarem as categorias de gênero, forneceram um instrumento capaz de questionar em todas as esferas da vida, os padrões que definem o que significa ser mulher.

Desconstruir essas categorias mostra que, tanto homens quanto mulheres, aprendem a ser e viver como tal a partir de um conjunto de informações, normas e regras de comportamento que definem os papéis de gênero.

Desta forma, permitiram visualizar as conexões estabelecidas entre sexo (o dado físico-biológico) e gênero (o dado social) sem, muitas vezes, questionar a relação natural estabelecida entre esses dois e o dado sexual (a sexualidade), mantendo uma suposta orientação lógica do desejo ao “sexo oposto”.

#Ouriçadas – Upload Representatividade

Somos menos mulheres por gostar de outra mulher?!

Somos menos “femininas” de acordo com a orientação sexual?

cacheadas e crespas ouriçadas

 

Essas corelações são sempre estabelecidas como padrão, quando a resposta das perguntas é um preconceituoso “sim”. Nossa sociedade tem uma CLÁSSICA idéia de feminino na cabeça: delicadeza, beleza, maternidade, e isso não pertence somente à mulher, assim como a força e a coragem, associados ao masculino, não pertencem apenas a esse gênero.

Minha força não é bruta

Não sou freira, nem sou puta

Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem…”

Ouriçadas – Quem ou o quê é bonito nessa cidade?

 

cacheadas e crespas ouriçadasAs pessoas assumem diversas posturas diante da vida conforme o seu desejo e necessidade, e não precisam se limitar a tabus.

Lembrando que aquém de todas as cobranças, ainda temos que manter uma aparência e postura estabelecidas como um padrão social: de uma mulher bonita, maquiada, “bem cuidada”, impecável… (Bela, recatada e do lar)

A verdade (a nossa, pelo menos) é que ser mulher é – além de uma transcendência – uma construção. Bastante onerosa, sobretudo quando se avalia todos os muros que precisam vir abaixo e pontes que precisam ser construídas.

 

Entretanto, ser mulher é, antes de tudo, um privilégio. Para quem discorda, uma pergunta: Além do clichê divino da geração da vida, que outro ser carrega consigo (des) equilíbrio, força e doçura, paz e inquietude, amor e sossego, calma e alma?

 

Somos muitas, somos tantas. Somos únicas. 

 

coletivo crespas e cacheadas

 

A Coluna Ouriçadas é assinada pelo Coletivo Cacheadas e Crespas de Salvador

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#Opinião: O que falta para existir R4cism0 R3vers0: Um breve histórico para o letramento racial – Por Aline Lisbôa

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Aline Lisbôa
Foto: Divulgação

Combater o racismo no Brasil, é diariamente ter que falar o óbvio, e nessa missão, por vezes, desmistificar o conceito de que o racismo neste país, que vendeu, matou e escravizou pessoas negras, é apenas um preconceito contra a raças — seja ela qual for–. O fato, é que o pacto do grupo opressor, conhece o lugar que subverte a opressão de um povo em emancipação, O LUGAR DA LUTA, e por isso, dissemina a não existência de um protagonismo negro nessa luta que é nossa.

Um breve histórico da construção social do racismo estrutural, pode explicar, o que falta, para a suposta existência de um racismo contra br4nc0s no Brasil.

O racismo se estabelece através do conceito de raça, que surge para classificar grupos naturalmente contrastados. Na história da ciência, esse termo serve para a classificação de determinados grupos da zoologia e da botânica, com a finalidade de contrastar categorias maiores subdivididas em categorias menores, em seguida subcategorias e assim por diante, conforme os estudos de Kabengele Munanga (2003).

Munanga ainda afirma, que para toda classificação, é necessário utilizar critérios de diferenças e semelhanças, assim, no século XVIII, a cor da pele foi utilizada como critério de divisão em raças e no século seguinte, outros critérios como forma do nariz, lábios, formato do crânio, foram utilizados para aperfeiçoar essa classificação. Entretanto, sabe-se que essa classificação não se limitou apenas às características físicas e sim a utilização destas como forma de hierarquização, estabelecendo uma relação desvinculadas entre o biológico e as qualidades morais, intelectuais e psicológicas, decretando desta forma a raça branca como superior à raça negra. Isso justificou a colonização e o imperialismo das nações europeias sobre outras sociedades humanas, fenotipicamente, diferentes, sobretudo as pessoas indígenas nas Américas e as negras do continente africano.

Assim, muito além dos traços físicos de determinado grupo, o conceito de raça exprime a ideia de que esse grupo e seus traços culturais, religiosos, linguísticos, etc. são naturalmente inferiores aos “traços brancos”, além disso, a ideia de que características biológicas, são capazes de explicar as diferenças morais, psicológicas e intelectuais entre as raças foi uma teoria que teve muito prestígio no século XIX, chamada racismo científico, difundido no Brasil por figuras como Raimundo Nina Rodrigues e Sílvio Romero.

Ainda que se tenha o contexto histórico vergonhoso da branquitude do Brasil, que pode ser ilustrado nas teorias de Nina Rodrigues, mostrando o nível de brutalidade “incivilizada”, do suposto povo superior e civilizado, esta hierarquia do conceito de raça segue elegendo a esta branquitude, como superior e “normal”, desumanizando a população negra que não se assemelha fisicamente com essa normalidade eurocêntrico, constituindo a base de uma estrutura social.

Desta forma, entendendo o processo estrutural que hierarquiza as raças através dos traços biológicos, entende-se racismo como:

(…) uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento, e que se manifesta por meio de práticas conscientes ou inconscientes que culminam em desvantagens ou privilégios para indivíduos, a depender do grupo racial ao qual pertençam. (ALMEIDA, Silvio, 2019, p.23).

Pode-se então, considerar que o racismo não é um problema negro no Brasil e sim um problema na relação de dominação e supremacia da branquitude para com os negros do Brasil, que mantém os privilégios de um grupo, enquanto nega as mínimas condições de vida a outros.

Raça, Racialização, Racismo científico e racismo estrutural. No Brasil o racismo tem e sempre teve um alvo, corpos negros.

Artigo de Aline Lisbôa

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#Opinião: A figura paterna – Por Ana Paula Nobre

Ana Paula Nobre

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Ana Paula Nobre
Foto: Bruna Bahia

Todo mundo tem pai. Mesmo quem não o conhece, não convive, não tem a sua presença física. Mesmo quem nunca ouviu falar dele, não se deparou com ele ou não concebe a sua existência. Não existem erros no universo. Tudo é milimetricamente articulado nos planos divinos.

De ausência paterna, eu entendo. Não tenho contato físico com o meu pai biológico há 28 anos. De certa forma, tive a possibilidade de conviver com meu pai até os 12 anos, portanto, conheço o seu rosto. Há quem nunca o tenha visto, mas seus traços revelam. Pra quem não o conhece, olhe para o seu rosto. Ele tá aí.

Há quem tenha pai presente fisicamente e ausente na disponibilidade afetiva e de proteção. Isso configura ausência também. Há quem tenha o pai já em outro plano, mas ele foi tão importante que se torna presente no presente.

O fato é que a figura paterna – principalmente no Brasil, onde na maioria das casas brasileiras existe um vácuo da presença masculina -, muitas vezes é expoente de dor, carências emocionais, afetivas e memórias traumáticas. Falar de pai chega a ser desafiador.

Como olhar para essa relação de um lugar maduro e ressignificado? Não existe outra forma a não ser se olhando. Falar de pai é falar da gente. Eu não existiria se não fosse esse pai, Paulo. Minha mãe não seria mãe se não fosse o meu pai.

O pai biológico tem o seu lugar, e aqui falo como consteladora. Falar do meu pai sem revisitar sofrimentos só é possível graças a muita terapia. Compreender a mulher que sou hoje é herança da força que vem dele e da superação de muitas dessas questões.

A carga genética, o espermatozoide e o óvulo, nesse cruzamento mágico, faz com que sejamos quem somos. Reconhecer nosso pai em nós e dar-lhe um lugar no coração para além dos seus equívocos apazigua a alma.

Nós, assim como o universo, dispomos de energias duais: a masculina e a feminina. Fora de nós, os primeiros referenciais materializados são painho e mainha. Sigo inteira com todas as minhas partes em reintegração. Não é fácil, mas é alcançável.

O Sol representa o masculino, o pai. Deus, o Grande Espírito, o Pai Céu, o Criador de Tudo que É, meu pai divino, contempla a paternidade da minha essência.

Ana Paula Nobre é jornalista, repórter do Portal Soteropreta, terapeuta integrativa, consteladora xamânica, artista e trabalha unindo comunicação, espiritualidade e arte em seus atendimentos.

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#Opinião – Você já se percebeu sentindo culpa demais? Por Lugana Olaiá

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Lugana Olaiá

Culpa de querer um emprego melhor.

Culpa de ter passado tempo demais numa relação ruim.

Culpa de perdoar “amigos” após a quebra de confiança.

Culpa pelas escolhas que você fez, quando não tinha as informações que tem hoje.

Pode listar suas culpas para si mesmo.

Enumere-as e depois deixe-as para trás.

Me peguei refletindo sobre isso depois de uma sessão de terapia. Durante a conversa, notei que a principal algoz do meu julgamento, sou eu mesma. Sobretudo, porque esses são os únicos pensamentos que eu conheço e escuto de fato. Os pensamentos que fomos colhendo das percepções superficiais das pessoas sobre quem somos, e por repetir tantas vezes, passamos a compartilhar as crenças reforçadas, sejam elas verdadeiras ou não. Muitas vezes, você hoje tem a capacidade de saber que aquela verdade não te representa nem define sua jornada atualmente.

Os outros não nos dizem mais o que eles validam como achismos, e é bem provável que eles não pensem sobre o assunto em nenhum momento. Afinal, cada pessoa precisa cuidar de suas culpas ou realizações. Pensando nisso, trago outra questão: você se responsabiliza pelas conquistas alcançadas ou você credita todas elas ao acaso? E mais, porque é tão fácil seguir se culpando e tão difícil valorizar seus avanços?

Agora chegamos no momento em que queremos mudar o lado do disco na vitrola. Estamos determinadas a nos ocupar somente com planos e projetos para executar no presente, exercitando a minha presença e força de movimentar o agora. O caminho é longo e não se deve caminhar carregando uma mochila com o peso de suas decisões do passado, nem deixar que as distrações tirem o nosso foco.

A trajetória profissional de uma mulher negra, nordestina, bissexual, mãe e de axé, não apresenta alternativas facilitadoras. Todas as trilhas são estreitas, ou íngremes e cheias de obstáculos que parecem saídos de filmes de ficção científica. E vai chover, vai molhar o mapa que te guiava, vai escurecer, e você não vai encontrar as pilhas para sua lanterna. Vai ser realmente exaustivo quando constatar que ainda precisa de fôlego para alcançar o cume.

Na maioria dos casos, não vai ter quem lhe dê impulso. Então, você nota que é o atleta e também treinador. É nesse momento que você aprende a dizer para sua mente palavras de afirmação e coragem. Essa metáfora não fala somente de desafios físicos na escalada até a cachoeira. Aplique os limites que precisa e dê a sua vida o direcionamento essencial para seus objetivos.

Só vamos ser capazes de enxergar o quão valiosas somos, quando retirarmos por completo os séculos de vendas que cobriram nossos olhos. Não estamos mais naquele passado, nem no escuro, e tampouco chegamos ainda ao fim do túnel.

Vamos atravessar!

Lugana Olaiá – 36 anos, mulher negra, mãe, comunicadora, especialista em comunicação corporativa, pessoa que acredita em soltar as culpas do passado.

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