Teatro
Teatro Negro em destaque dentre indicados ao Prêmio Braskem 2016

A 24ª edição do Prêmio Braskem de Teatro será especial para arte negra este ano. Na lista de indicações recém divulgadas pela Caderno 2 Produções – realizadora da premiação – estão nomes como os atores e diretores Thiago Romero e Ridson Reis, as atrizes Claudia Di Moura e Eddy Veríssimo, o ator Sulivã Bispo e o escritor Gildon Oliveira.
A premiação será nesta quarta (19), às 20h, no Teatro Castro Alves.
O Prêmio Braskem é a premiação mais tradicional da dramaturgia na Bahia que – anualmente – reconhece o trabalho de atores, diretores, figurinistas e demais profissionais que atuam na produção teatral no estado.

Foto: Dôra Almeida (Claudia Di Moura em “O Galo”)
“Me considero uma atriz empreendedora, eu construo minhas oportunidades. Do contrário, talvez nem estivesse em cartaz esse ano, como nos outros. Escolho o meu time, sou audaciosa e acredito que a história tá mudando. Nós negros estamos provocando discussões, entrando na roda, aumentando o volume da coragem e do enfrentamento. Esse ano, tivemos um recorde de negros indicados, isso prova que estamos avistando um tempo novo! “- Cláudia Di Moura, indicada Melhor Atriz por “O Galo“.
Além do reconhecimento, a revelação de novos talentos também faz do Prêmio um dos momentos mais esperados. É o caso do ator do Bando de Teatro Olodum Ridson Reis, indicado por sua primeira direção teatral, na peça “O Contentor (O Contêiner)”, que traz a saga de três africanos tentando chegar à Europa clandestinamente.

Foto Shai Andrade
“Passa um pequeno filme de todo o processo, toda dificuldade de realizar um projeto independente, sem nenhum apoio financeiro. É muito bom ser reconhecido pelo trabalho, ainda mais quando se é um jovem negro e periférico fazendo arte de gente rica. Se ser artista na atual sociedade é difícil, imagina pra quem tem que lutar todos os dias pra não ser morto. Por isso fico feliz de ter sido indicado e de estar acompanhado de bons amigos artistas negros. Essa indicação também serve pra lembrar que é preciso falar sobre os quase 4 mil mortos em 2016, tentando sair da África em busca do sonho de uma vida melhor”, afirma Ridson.
E a alegria da primeira indicação pelo primeiro trabalho também fica com a atriz Eddy Veríssimo por sua atuação em “Sobejo”, seu primeiro solo. Na trama, Eddy leva ao palco a dor, o sofrimento e a luta por sobrevivência de uma mulher vítima de violência doméstica. “Sendo indicada em meu primeiro solo é muita felicidade, principalmente com um espetáculo que retrata a violência contra nós mulheres. Pude dar meu corpo, minha voz, meu olhar, minha vida para essa personagem Georgina Serrat, uma dona de casa que durante anos depositou a fé sobre sua felicidade no casamento e, como muitas mulheres do nosso tempo, tem seus sonhos frustados pelas agressões de um marido violento”, diz.

Foto: Andréa Magnoni
A peça é escrita e dirigida pelo ator, dramaturgo, diretor e figurinista, Luiz Buranga. “Foi uma surpresa maravilhosa para nós da equipe essa indicação da atriz Eddy Veríssimo, sabemos como o Teatro em espaço alternativo é visto. Uma companhia de teatro que faz espetáculo num lugar não convencional, sem conforto, num bairro deserto, sem glamour, sem cortina e poltronas de veludo: a quem interessa esse teatro off off off? Valeu a pena todo tempo e trabalho investido, cada noite mal dormida pensando na melhor forma de fazer e ter um bom resultado e que o público saísse da nossa casa pensando que o Teatro acontece em todos os espaços – independente de luxo e grandes estruturas”, enfatiza Luiz Buranga.
“Fazer sobejo foi um presente, e o resultado está aí: o reconhecimento do meu trabalho como atriz junto com toda equipe. Passou um filme na minha cabeça de todo processo que passei pra chegar até aqui! Dei tudo de mim, como faço em todos os meus trabalhos, mas esse foi especial por ser meu primeiro solo”, comenta feliz, Eddy Veríssimo.
Sexualidade na pauta das indicações
Resultado do projeto do Teatro da Queda de revitalização do Beco dos Artistas, tradicional espaço da comunidade gay de Salvador, o espetáculo “REBOLA!” faturou quatro indicações: melhor espetáculo, texto, melhor ator (Sulivã Bispo) e melhor direção de Thiago Romero. Da produção ao elenco, a presença negra é majoritária na peça. Dentre eles, o ator Thiago Almasy fala deste significado.
“É, para mim, um acontecimento em Salvador. Um espetáculo onde estamos nos expondo do começo ao fim, usando salto-alto, muita maquiagem, suando, escorregando, dançando e cantando. Com pautas cada vez mais caras nos teatros e artistas mais preocupados com qualquer coisa que não seja comunicar-se com o público – cada vez mais escasso, diga-se de passagem – esse espetáculo é um grito de resistência”, diz.

Banco de Imagens
Com texto de Daniel Arcades e direção musical de Jarbas Bittencourt, “REBOLA!” problematiza e homenageia a criação e resistência de espaços de articulação para a comunidade LGBTQI.
“A normatividade não quer discutir negritude, muito menos homossexualidade, e o REBOLA! faz os dois, de maneira debochada e, ao mesmo tempo, incisiva. É sobre querer o bom do outro, sobre curar as dores com doses e mais doses de sorriso. É muito bom estar ao lado de pessoas que olham para Salvador e suas questões com outros olhos, e o Teatro da Queda vem buscando esse tipo de linguagem. Fico muito feliz pelas indicações ao Prêmio Braskem, que por si só já é um grande reconhecimento” – Thiago Almasy.
Indicado ao Prêmio pela direção do espetáculo, o ator Thiago Romero – reitera a importância deste debate. “Um projeto que fiz com muito amor e por responsabilidade politica, pois pensamos muito nesta questão do gay na cena. É fruto de um tempo de pesquisa e de um trabalho muito responsável que o Teatro da Queda vem fazendo. A indicação é importante pra um grupo de Teatro que fala desse tema, qualquer reconhecimento é importante pra que consigamos ocupar todos os espaços”, diz.
Sulivã Bispo: três palcos, três indicações
Um dos mais novos talentos negros do Teatro baiano, o ator Sulivã Bispo tem três motivos para celebrar nos palcos: foi indicado por sua atuação nas peças “REBOLA!”, “Romeu e Julieta”, sob direção de Harildo Déda, e “KAIALA“, seu primeiro solo.
“É um misto de valorização, força e incentivo a essa arte que a gente faz com muita garra. É uma honra, enquanto ator negro militante, que busca levar a política de afirmação através da arte. Quando fazemos essa arte politica é muito mais difícil, pois temos que fazer esse discurso ecoar, conquistar outros públicos, pois ela precisa formar, conscientizar. “REBOLA!” foi um divisor de águas em minha vida por ter me ensinado a ser um ator mais consciente e responsável com as questões de gênero e sexualidade; “Romeu e Julieta”, um presente estar sob a direção do mestre Déda, que me ensinou muito. E “KAIALA”, um monólogo contra o racismo, opressão e a intolerância religiosa. A indicação é um reconhecimento desta luta, um incentivo pra que a gente não pare. Precisamos ser novos heróis, a arte que faço é isso e que bom que ela está sendo reconhecida” – Sulivã Bispo.

Foto: Andreia Magnoni (KAIALA)
Na categoria “Texto” teve indicação para o escritor Gildon Oliveira, com o espetáculo infanto juvenil, “Avesso”, uma livre adaptação de “Divertida Mente”, animação vencedora do Oscar em 2015. “Avesso” também concorre como melhor espetáculo nesta categoria.
“A indicação ao Prêmio Braskem de Teatro é uma forma de reconhecimento, por isso sempre importante. Infelizmente só há uma premiação para o teatro em Salvador e acredito que é preciso existir muito mais. Merecemos e precisamos pelos artistas que somos. Como artista e negro, trabalho pelo desejo de inquietar e assim afetar, pois acredito – parafraseando Mário Quintana – que livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas. Assim sendo, quero a sorte grande que minhas palavras mudem pessoas.” – Gildon Oliveira.
A Comissão Julgadora do Prêmio Braskem de Teatro é composta por Bertho Filho, Gordo Neto, Hilda Nascimento, Jackson Costa e Kátia Borges. Dentre as categorias estão Espetáculo Adulto, Espetáculo Infantojuvenil, Direção, Ator, Atriz, Texto, Revelação e Categoria Especial. Foram avaliadas 53 peças em cartaz em Salvador entre abril e dezembro de 2016.
Teatro
Espetáculo “Um Fio para Liberdade” discute violência sexual infantil

“Um Fio para Liberdade” estreia neste domingo (25) no CineTeatro 2 de Julho, com sessões acessíveis e ações educativas dentro da campanha Maio Laranja. O espetáculo, escrito e dirigido por Robson Raycar, da Trupe 7.com, lança luz sobre a violência sexual contra crianças e adolescentes, tema urgente e ainda silenciado em muitos lares brasileiros.
A peça conta a história de Lorena, adolescente vítima de abuso dentro da própria família, que encontra na arte um caminho de resistência e libertação. Embora ficcional, a narrativa se ancora em dados alarmantes. Segundo o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, só na Bahia, entre janeiro e maio de 2024, houve uma média de 11 denúncias diárias de violência sexual infantil.
A atriz Ariele Pétala, que interpreta a protagonista, destaca a responsabilidade do papel.
“É delicado trazer à cena o que tantas crianças vivem a cada 24 horas. O espetáculo é um grito de socorro por aquelas que não conseguiram falar. É também um espaço de cura e denúncia”, afirma.
Além da violência sexual, a obra aborda como o fundamentalismo religioso e o machismo presente nas estruturas familiares podem contribuir para a perpetuação dos abusos. A personagem de Lorena entra em conflito com a própria mãe, que, guiada por valores conservadores, não reconhece a violência vivida pela filha.
“É uma obra sensível, com momentos de humor que ajudam a dar fôlego ao público, mas sem jamais desviar da gravidade do tema”, comenta o diretor Robson Raycar.
Com classificação indicativa a partir dos 12 anos, o espetáculo terá sessão com tradução em Libras, viabilizada pelo projeto Libra Mais. Um Fio para Liberdade tem texto e direção de Robson Raycar, atuação de Ariele Pétala, Renata Bastos, Marcos Lopes, Vinícius Souza, Raquel Bispo, Felipe Oliveira, Mikyleu, Maylla Rocha, Raiane Mendes e Jéssica Mendez, produção de Renata Bastos, assistência de direção de Raquel Bispo, operação técnica de Felipe Oliveira e identidade visual de Mikyleu, com realização da Trupe 7.com.
O espetáculo já havia sido apresentado em 2024 durante a mostra “Novembro das Artes Negras”, e retorna agora com novas cenas e elenco ampliado. A iniciativa faz parte da campanha Maio Laranja, voltada para a conscientização e combate à exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes.
Para denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes, disque 100.
SERVIÇO
Espetáculo: Um Fio para Liberdade
Onde: CineTeatro 2 de Julho (Federação) e Colégio Central da Bahia (Nazaré)
Datas:
25/05 (domingo), às 17h – sessão gratuita e acessível em Libras
25/05 (domingo), às 19h – sessão paga
27/05 (terça-feira) – sessão para alunos do Colégio Central
Ingressos: R$ 20 (inteira) / R$ 10 (meia)
Venda antecipada: (71) 9 8765-0330 (Renata)
Venda presencial: 1h antes do espetáculo
Classificação: 12 anos
Espaço sujeito a lotação
Fotos: Diney Araújo
Teatro
Espetáculo “Meninas Contam a Independência” volta aos palcos

Neste final de semana, Salvador recebe a curta temporada do espetáculo infantojuvenil “Meninas Contam a Independência”, indicado ao Prêmio Bahia Aplaude 2025 na categoria de Melhor Espetáculo. As apresentações acontecem no Teatro SESI Rio Vermelho, neste sábado (17), às 16h, e no domingo (18), às 11h e 16h, com ingressos disponíveis na plataforma Sympla por R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Com dramaturgia de Camila Guilera e Ana Luisa Fidalgo, e direção de Lara Couto, a montagem é um convite lúdico e potente à redescoberta das mulheres que marcaram a luta pela Independência do Brasil na Bahia. No palco, as atrizes Ana Luisa Fidalgo e Márcia Limma conduzem a história a partir de um jogo de tabuleiro, onde enfrentam desafios, enigmas e surpresas comandadas por Urânia Vanério, interpretada pela atriz mirim Marina Fidalgo, de apenas nove anos.
A peça dá vida a personagens históricas como Joana Angélica, Maria Felipa, Maria Quitéria e a própria Urânia Vanério, menina de dez anos que escrevia panfletos pela independência em 1823. Tudo isso com uma linguagem acessível, humor refinado e o objetivo claro de promover o conhecimento e o empoderamento das crianças, especialmente das meninas negras e nordestinas.
“Estamos muito felizes com a indicação ao Prêmio Bahia Aplaude e por reencontrar o público com uma história que emociona e educa. As crianças se reconhecem nas personagens, e isso é transformador”, afirma Ana Luisa Fidalgo, que também atua na peça.
A montagem é uma realização da grupA A Panacéia, formada exclusivamente por mulheres artistas, que desde 2008 desenvolvem espetáculos com foco na presença feminina na História e nas artes cênicas. No repertório, criações como “EU PAGU”, “Filipa” e “200+1 – As Heroínas da Independência” reforçam esse compromisso artístico e político.
A apresentação faz parte da programação da Mostra Prêmio Bahia Aplaude, que ao longo de maio exibe os espetáculos finalistas da 30ª edição da maior premiação do teatro baiano.
SERVIÇO
Espetáculo: Meninas Contam a Independência
Data: Sábado (17), às 16h | Domingo (18), às 11h e 16h
Local: Teatro SESI Rio Vermelho
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)
Venda: Sympla
Realização: A Panacéia
Instagram: @apanaceia
Teatro
“Candomblé da Barroquinha” integra Mostra Bahia Aplaude com curta temporada

Depois do sucesso de público e crítica na temporada de estreia, o espetáculo Candomblé da Barroquinha retorna aos palcos em uma curtíssima temporada dentro da Mostra Prêmio Bahia Aplaude 2025. As apresentações acontecem de 23 a 25 de maio no Espaço Cultural da Barroquinha. Os ingressos já estão à venda na plataforma Sympla, com valores populares: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Dirigida por Thiago Romero e escrita por Daniel Arcades, a montagem presta homenagem ao Candomblé Ketu — a maior nação do Candomblé no Brasil — e propõe uma experiência imersiva no universo religioso e cultural afro-baiano. A trama acompanha Marcelina, uma jovem abian que, ao longo de um dia decisivo, mergulha nas raízes de sua comunidade e descobre seu papel na preservação da herança espiritual que lhe foi transmitida.
No palco, nomes como Nitorê Akadã — Yalorixá do Ilê Axé Egbe Omi N’lá —, Fernanda Silva, Larissa Libório, Shirlei Silva, Antonio Marcelo e Diogo Teixeira dão vida ao cotidiano do fictício Terreiro da Barroquinha. Entre oferendas, cantigas e o cuidado com a ancestralidade, o espetáculo traça paralelos entre o passado e o presente da tradição religiosa afro-brasileira.
A peça estreou em janeiro de 2025 com sessões esgotadas e foi indicada em quatro categorias na 30ª edição do Prêmio Bahia Aplaude: Espetáculo Adulto, Direção, Texto e Categoria Especial.
“Recebemos com muita felicidade as indicações, e integrar a Mostra é uma oportunidade valiosa de dar vida novamente ao espetáculo, num tempo tão difícil para manter nossas criações em temporada”, afirma o diretor Thiago Romero.
A Mostra Prêmio Bahia Aplaude, que acontece ao longo de maio, oferece ao público de Salvador a chance de rever os espetáculos finalistas da principal premiação teatral da Bahia, tanto em apresentações presenciais quanto virtuais.
SERVIÇO
Espetáculo: Candomblé da Barroquinha
Quando: 23 e 24 de maio (sexta e sábado), às 19h | 25 de maio (domingo), às 16h
Onde: Espaço Cultural da Barroquinha – Rua do Couro, s/n, Barroquinha, Salvador
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) – à venda no Sympla
Classificação: 14 anos
Realização: Dan Território (danterritorio.com.br)
Informações: @danterritorio
Foto: Caio Lirio