Opinião
Timba o que houve por aqui? Branquitudes e branquidades!
A história da vocalista da Timbalada Milane Hora, traz de volta um antigo questionamento feito pelas diversas intelectuais negras. Quais são os privilégios que o branco tem com o racismo? Desde os primeiros sinais de insatisfação com sua presença técnica, em uma das bandas mais disputadas de Salvador, é constante a construção de racismo reverso com a mesma.
Com a confirmação de sua saída – por motivos que não sua tonalidade de pele – os veículos que noticiam voltam a colocar na história profissional desta, a ideia de cor. Mas afinal, o que seria esse racismo reverso? O racismo reverso, ou racismo inverso, debate a existência de um racismo contra brancos, ou seja, que negros exerceriam discriminação contra pessoas brancas.
A grande pergunta é: sabendo que o racismo acontece pelo impedimento de uma pessoa a algo, é possível a população negra, em especial em Salvador, cuja maioria é empregada ou subordinada, cometer racismo reverso?
Lia Vainer Schucman, em seu livro – “Entre o Encardido, o Branco e o Branquíssimo: Raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana”, aponta os privilégios simbólicos e materiais dos brancos. Mesmo falando de São Paulo, é uma leitura interessante para quem quer falar de racismo reverso e, principalmente, entender os privilégios brancos com o racismo.
Mas, voltemos à Timbalada.
É nítida a relutância de quem noticia a saída desta, em dizer que o motivo é a falta de adequação ao público em questão. Mas, como estamos acostumados a falar por nós, segue um outro olhar:
Desde a chegada de Milane, é visível sua dificuldade em entender a Timbalada e seu público. Mas, ainda assim, é preciso deixar nítido que a qualidade e a vida da banda está para além de Milane. Estamos falando de uma banda que tem hoje, um problema sério de arrogância, truculência e desrespeito com quem a faz dentro e fora por parte de sua diretoria.
Preços absurdos e seguranças despreparados, para os valores cobrados e estrutura oferecida, refletiu e muito nos ensaios e shows de 2017. O problema nunca foi a vocalista sozinha (mesmo refletindo as posturas da diretoria) – é importante registrar que não dá para colocar todos os momentos negativos da Timbalada nela.
Ainda que tenha tanta gente a sorrir em seus ensaios, há uma diretoria que precisa ser questionado em suas posturas, uma assessoria que precisa ser melhorada no tratar quem faz e paga a Timbalada. Estamos falando de beldades negras que, mesmo tendo fino traço e o retrato de uma deusa ginga com trança na cabeça, foi considerada, por essa e à mídia soteropolitana como “ feia” e “mal educada”. Ainda que os brancos considerados “bonitos” protagonizassem as cenas mais vergonhosas na existência da banda.
Não há de se considerar que a saída de Milane resolve um problema que está para além. O tempo em que ela esteve na banda foi possível conhecer melhor o produto Timbalada, e como ele vê homens e mulheres, que deram sentido à genialidade de seu fundador.
O fracasso à frente da Timbalada se deu pelo modelo histórico de achar que branco pode tudo e jamais será questionado. Se racismo é invisibilidade de determinados segmentos para o benefício de outros, então o que falar da TV baiana 100% branca?
O que falar da indústria cultural soteropolitana que, mesmo usando nossos símbolos, não nos financia ou projeta pra frente e ainda transforma os que burlam as porteiras em algo negativo – a exemplo do pagode? Quem apagou toda a presença negra e vem, evolutivamente, clareando a banda?
E os timbaleiros que reclamaram de uma questão de qualidade é que são racistas? “A estrutura racista brasileira é tão forte a ponto das pessoas acharem que o branco não pode estar naquele lugar, e ajudam. Já para o negro, é natural” as críticas e questionamentos, diz Schucman em seus estudos.
Que Brown é um grande artista, não temos dúvida. Mas já diz um ditado UBUNTU “Eu sou, por que nós somos”, trazendo para a banda, “A timbalada só é, porque os timbaleiros são”. A lição que fica? Temos uma população negra que está começando a se respeitar enquanto consumidor.
A genialidade da Timbalada tem um complemento, e esse complemento são seus timbaleiros de diversas tonalidades. É essa “gente feia “que a banda tentou riscar do mapa, que a mantém como um produto de genialidade florescida.
O fato de não carregar sua cor de pele quando fracassa, faz com que Milane seja vista e blindada pela branquidade, como uma pessoa hostilizada por um segmento primitivo e que não sabe o que é qualidade. Quem é Timbaleiro, nunca a hostilizou. Disseram que, enquanto artista, ela não desempenhava bem aquele papel e provaram isso. A branquidade precisa entender que não é mais tolerável a ideia de que somente sua cor de pele é sinônimo de eficiência. Após o carnaval Milane pode fazer seu trabalho, e mostrou que não era um bom nome para essa ação.
Por isso é importante que saibam que ela sai por incompatibilidade com um público exigente, que conhece muito do produto em si, e é tradicionalista como qualquer outro povo. A história da Timbalada merece que à frente dos seus vocais, tenham pessoas que entendam suas simbologias, e que cante sua historicidade. Se isso ainda não foi entendido pela diretoria, é porque esses não os querem lá. Portanto, é preciso que os que vieram dar, deixar e ser feliz ao fogo dos ancestrais, abale essa fé e repense sua cor como diz diversas das suas músicas.
Fotos: Banco de Imagens
Opinião
#Opinião: O sentido oculto da sexta-feira 13 – Por Januário
Em 13 de outubro de 1307, Filipe IV, rei da França, ordenou que os Cavaleiros Templários fossem presos, sob a acusação de heresia. A maioria dos membros desta ordem foi para a fogueira, entre eles, o grão-mestre Jacques de Molay. Ante a morte, de Molay lançou uma maldição sobre a linhagem de Filipe IV: todos os seus três filhos homens morreriam, o que viria a se concretizar, ao longo de 13 anos seguidos.
Na mitologia nórdica, vemos Loki, o 13º deus adentrar ao banquete em Valhalla, morada dos deuses, sem ser convidado. Ardiloso, ele incita seu irmão Hoder, que era cego, a matar Balder, um deus amado por todos. Igualmente ardiloso foi Judas Iscariotes, que, de acordo com o relato bíblico (Mateus 26), trai Jesus por 30 moedas de prata, valor pago para comprar uma pessoa escravizada, de acordo com a Lei Mosaica (Êxodo 21:32). Judas também era a 13ª pessoa presente na Última Ceia, haja vista, os 11 apóstolos estarem ao lado de Jesus, quando Iscariotes come o pão dado pelas próprias mãos do Mestre.
Tanto os eventos históricos, quanto aqueles narrados pelas tradições religiosas, deixaram uma profunda marca cultural no Ocidente: a sexta-feira 13 é considerado um dia amaldiçoado, em que precisamos estar mais atentos a possíveis ataques espirituais. Contudo, a Numerologia nos oferece outra perspectiva: o número 13 é formado por 1 e 3, que, respectivamente, simbolizam a coragem e a iniciativa, a autoconfiança e a liberdade. A soma desses números resulta em 4, símbolo da estabilidade, em contraposição ao azar. Por sua vez, encontramos A Morte, na Carta 13 do Tarot; longe de ser um símbolo negativo, esse arcano indica o necessário fim de um ciclo e a abertura de outro. Devemos deixar o passado para trás, a fim de iniciar um novo estágio em nossas vidas.
Um dia de passagem abençoado pela Espiritualidade, a sexta-feira 13 nos oferece a oportunidade de recomeço, de vivificação de novos projetos. Para quem busca A Verdade, é uma excelente ocasião de se conectar com O Todo, intrínseco e universal. Desfrutemos desse ponto de virada, com a mensagem do Grande Avatar da Era de Peixes. Ela caminha pelas águas do nosso ser: “Quem nasce de pais humanos é um ser de natureza humana; quem nasce do Espírito é um ser de natureza espiritual” (João 3:6 – Nova Tradução na Linguagem de Hoje).
Armando Januário dos Santos é Trabalhador da Luz, Mestre em Psicologia, Psicólogo (CRP-03/20912) e Palestrante. Contato: (71) 98108-4943 (WhatsApp).
Opinião
#Opinião: O que falta para existir R4cism0 R3vers0: Um breve histórico para o letramento racial – Por Aline Lisbôa
Combater o racismo no Brasil, é diariamente ter que falar o óbvio, e nessa missão, por vezes, desmistificar o conceito de que o racismo neste país, que vendeu, matou e escravizou pessoas negras, é apenas um preconceito contra a raças — seja ela qual for–. O fato, é que o pacto do grupo opressor, conhece o lugar que subverte a opressão de um povo em emancipação, O LUGAR DA LUTA, e por isso, dissemina a não existência de um protagonismo negro nessa luta que é nossa.
Um breve histórico da construção social do racismo estrutural, pode explicar, o que falta, para a suposta existência de um racismo contra br4nc0s no Brasil.
O racismo se estabelece através do conceito de raça, que surge para classificar grupos naturalmente contrastados. Na história da ciência, esse termo serve para a classificação de determinados grupos da zoologia e da botânica, com a finalidade de contrastar categorias maiores subdivididas em categorias menores, em seguida subcategorias e assim por diante, conforme os estudos de Kabengele Munanga (2003).
Munanga ainda afirma, que para toda classificação, é necessário utilizar critérios de diferenças e semelhanças, assim, no século XVIII, a cor da pele foi utilizada como critério de divisão em raças e no século seguinte, outros critérios como forma do nariz, lábios, formato do crânio, foram utilizados para aperfeiçoar essa classificação. Entretanto, sabe-se que essa classificação não se limitou apenas às características físicas e sim a utilização destas como forma de hierarquização, estabelecendo uma relação desvinculadas entre o biológico e as qualidades morais, intelectuais e psicológicas, decretando desta forma a raça branca como superior à raça negra. Isso justificou a colonização e o imperialismo das nações europeias sobre outras sociedades humanas, fenotipicamente, diferentes, sobretudo as pessoas indígenas nas Américas e as negras do continente africano.
Assim, muito além dos traços físicos de determinado grupo, o conceito de raça exprime a ideia de que esse grupo e seus traços culturais, religiosos, linguísticos, etc. são naturalmente inferiores aos “traços brancos”, além disso, a ideia de que características biológicas, são capazes de explicar as diferenças morais, psicológicas e intelectuais entre as raças foi uma teoria que teve muito prestígio no século XIX, chamada racismo científico, difundido no Brasil por figuras como Raimundo Nina Rodrigues e Sílvio Romero.
Ainda que se tenha o contexto histórico vergonhoso da branquitude do Brasil, que pode ser ilustrado nas teorias de Nina Rodrigues, mostrando o nível de brutalidade “incivilizada”, do suposto povo superior e civilizado, esta hierarquia do conceito de raça segue elegendo a esta branquitude, como superior e “normal”, desumanizando a população negra que não se assemelha fisicamente com essa normalidade eurocêntrico, constituindo a base de uma estrutura social.
Desta forma, entendendo o processo estrutural que hierarquiza as raças através dos traços biológicos, entende-se racismo como:
(…) uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento, e que se manifesta por meio de práticas conscientes ou inconscientes que culminam em desvantagens ou privilégios para indivíduos, a depender do grupo racial ao qual pertençam. (ALMEIDA, Silvio, 2019, p.23).
Pode-se então, considerar que o racismo não é um problema negro no Brasil e sim um problema na relação de dominação e supremacia da branquitude para com os negros do Brasil, que mantém os privilégios de um grupo, enquanto nega as mínimas condições de vida a outros.
Raça, Racialização, Racismo científico e racismo estrutural. No Brasil o racismo tem e sempre teve um alvo, corpos negros.
Artigo de Aline Lisbôa
Opinião
#Opinião: A figura paterna – Por Ana Paula Nobre
Todo mundo tem pai. Mesmo quem não o conhece, não convive, não tem a sua presença física. Mesmo quem nunca ouviu falar dele, não se deparou com ele ou não concebe a sua existência. Não existem erros no universo. Tudo é milimetricamente articulado nos planos divinos.
De ausência paterna, eu entendo. Não tenho contato físico com o meu pai biológico há 28 anos. De certa forma, tive a possibilidade de conviver com meu pai até os 12 anos, portanto, conheço o seu rosto. Há quem nunca o tenha visto, mas seus traços revelam. Pra quem não o conhece, olhe para o seu rosto. Ele tá aí.
Há quem tenha pai presente fisicamente e ausente na disponibilidade afetiva e de proteção. Isso configura ausência também. Há quem tenha o pai já em outro plano, mas ele foi tão importante que se torna presente no presente.
O fato é que a figura paterna – principalmente no Brasil, onde na maioria das casas brasileiras existe um vácuo da presença masculina -, muitas vezes é expoente de dor, carências emocionais, afetivas e memórias traumáticas. Falar de pai chega a ser desafiador.
Como olhar para essa relação de um lugar maduro e ressignificado? Não existe outra forma a não ser se olhando. Falar de pai é falar da gente. Eu não existiria se não fosse esse pai, Paulo. Minha mãe não seria mãe se não fosse o meu pai.
O pai biológico tem o seu lugar, e aqui falo como consteladora. Falar do meu pai sem revisitar sofrimentos só é possível graças a muita terapia. Compreender a mulher que sou hoje é herança da força que vem dele e da superação de muitas dessas questões.
A carga genética, o espermatozoide e o óvulo, nesse cruzamento mágico, faz com que sejamos quem somos. Reconhecer nosso pai em nós e dar-lhe um lugar no coração para além dos seus equívocos apazigua a alma.
Nós, assim como o universo, dispomos de energias duais: a masculina e a feminina. Fora de nós, os primeiros referenciais materializados são painho e mainha. Sigo inteira com todas as minhas partes em reintegração. Não é fácil, mas é alcançável.
O Sol representa o masculino, o pai. Deus, o Grande Espírito, o Pai Céu, o Criador de Tudo que É, meu pai divino, contempla a paternidade da minha essência.
Ana Paula Nobre é jornalista, repórter do Portal Soteropreta, terapeuta integrativa, consteladora xamânica, artista e trabalha unindo comunicação, espiritualidade e arte em seus atendimentos.