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#DialogosInsubmissos – Cristian Sales, Regina Anastácia e a rede de mulheres negras
Mulheres negras, suas dores, desejos, medos e suas lutas por sobrevivência. Tudo sob a ótica da escrevivência de Conceição Evaristo, foco do projeto “Diálogos Insubmissos de Mulheres Negras”, que em julho vai reunir intelectuais negras de diferentes áreas de pesquisa e atuação em Salvador. O projeto é de autoria da doutoranda em Literatura e Cultura, Dayse Sacramento.
Uma delas é a a doutoranda em Literatura e Cultura (UFBA), Cristian Sales, que nos antecipa o que vem por aí…
Portal SoteroPreta – Pra você, qual a importância de Conceição Evaristo para mulheres negras hoje?
Cristian Sales – Considero que o trabalho da escritora e intelectual negra Conceição Evaristo tem sido indispensável para refletir e visibilizar uma série de demandas ligadas à vida das mulheres negras na diáspora. Através de sua escrita ficcional, Evaristo reescreve histórias e trajetórias de mulheres negras sob a perspectiva de um olhar feminino negro. Com uma vasta publicação, entre romances, antologias de conto e poesia, a escrita de Evaristo é uma das mais poderosas da literatura afro-diaspórica, pois coloca em cena outros modos de narrar e contar nossas subjetividades. É uma poética da insubmissão, pois, nela, Evaristo rasura imagens, discursos e formas hegemônicas de representação de nossos corpos negros femininos. Em Insubmissas lágrimas de mulheres ela questiona a posição social de subalternidade imposta pela intersecção de gênero e raça, ressalta a importância de uma práxis de empoderamento no que diz respeito às estratégias de enfrentamento contra o racismo e sexismo. Evaristo escreve sobre as nossas dimensões afetivas, amores, desilusões, dores e solidão. Quando leio seus contos, sinto as suas lágrimas se misturarem às minhas…
Além de dividir suas experiências cotidianas, a autora tem reforçado a importância do trabalho intelectual desenvolvido pelas mulheres negras e, ao mesmo tempo, reivindicado espaço para as nossas produções.
Portal SoteroPreta – O que pode ser dito sobre o conto que você mediará, quais links com a nossa realidade você prepara para o público?
Cristian Sales – Farei a mediação do último conto do livro intitulado Regina Anastácia. A narrativa chama atenção por causa de um dos nomes da personagem-protagonista: Anastácia. Escolhi este conto a partir do que observo na escrita de Conceição Evaristo: sim, as mulheres negras têm história para contar! Histórias que precisam ser visibilizadas. Segundo a escritora, precisamos lembrar de nossas “rainhas”, princesas, heroínas, guerreiras. Lembrar de uma rede mulheres negras insubmissas que vieram antes! Precisamos falar de “várias mulheres negras e irmãs do outro lado Atlântico”. E, então, a autora começa citando vários nomes de mulheres negras espalhadas pela diáspora. Um processo de resgate histórico-cultural das mulheres negras dentro e fora do Brasil. Na narrativa, os discursos literário e histórico formam uma teia e constroem uma leitura possível de nossa realidade composta por heranças, estigmas e superações. Não quero antecipar questões, mas a trajetória de Regina Anastácia toma outra direção.
Conceição Evaristo surpreende suas leitoras ao identificar os elementos constitutivos do pensamento das mulheres negras na diáspora quanto às nossas demandas afetivas. Há, sim, possibilidade de finais felizes! Precisamos encontrar personagens negras com experiências afetivas bem sucedidas…Evaristo prepara um terreno de possibilidades.
Portal SoteroPreta – Diálogos Insubmissos, imprescindível debate?
Cristian Sales – Olha… Quando Dayse Sacramento me chamou para formar esta de roda-diálogos, eu entendi que estava atendendo não apenas um chamado de uma irmã, mas a uma convocação poderosa de nossas ancestrais. Dayse nos chamou para formar um Xirê de mulheres negras insubmissas cheias de herança. Penso que os Diálogos Insubmissos também reverenciam as nossas Yabás: sua força, beleza, altivez e rebeldia. São várias as mulheres negras convidadas que, em transe, dançam e escrevem de espadas nas mãos (risos). Será a primeira vez que falarei ao lado de Lindinalva Barbosa, uma mais velha poderosa em todos os sentidos. Assim como nutro um imenso respeito pelas trajetórias de Dayse Sacramento, Denise Carrascosa e Carla Akotirene. Veja a importância de formar uma rede de mulheres negras! Precisamos dialogar sobre as nossas demandas. Precisamos aprender a caminhar juntas! Acho que se coloca um desafio… Formar outras rodas-diálogos! Isso também contribui para o nosso fortalecimento individual e coletivo.
Os Diálogos Insubmissos são imprescindíveis e devem ter vida longa. Eles evidenciam que precisamos pensar em uma política de produção de conhecimento feita por mulheres negras. Vamos colocar em movimento ideias, produzir saberes e modos de ler os contos de Conceição Evaristo. Vamos produzir gestos e afetividades com os nossos corpos negros insubmissos.
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Matriarcas da Pedra de Xangô escolhem os 15 novos guardiões
A secretária de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais da Bahia, Ângela Guimarães, recebeu, nesta quarta-feira (28), o título de Guardiã do Parque Pedra de Xangô. A honraria foi concedida pelas Matriarcas da Pedra de Xangô, grupo de sacerdotisas responsáveis pela salvaguarda e proteção do rochedo considerado sagrado pelos religiosos de matriz africana em Salvador.
“É uma emoção e grande responsabilidade ser agraciada com o título. Assumo o compromisso pessoal e institucional com o enfrentamento do racismo religioso e a manutenção dos nossos territórios sagrados”, destacou a titular da Sepromi.
A entrega da condecoração integrou a programação da Cerimônia da Fogueira de Xangô, ritual que reverencia as divindades do fogo e fortalece a rede em defesa desse patrimônio cultural afro-brasileiro, localizado na Avenida Assis Valente, no bairro de Cajazeiras.
De acordo com as Matriarcas da Pedra de Xangô, os 15 novos guardiões foram escolhidos em função dos “relevantes serviços à cidade, a cultura, à população negra, ao Povo de Axé, às comunidades tradicionais e, em especial, ao processo de implantação, manutenção e gestão do equipamento de apoio do Parque Pedra de Xangô”.
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Associação celebra Dia Internacional do Reggae no Pelô
A Associação Cultural Aspiral do Reggae vai celebrar o Dia Internacional do Reggae – 1º de julho. A festa será na Casa Cultural Reggae (Rua do Passo) e contará com um time de artistas, djs e banda de reggae pra animar o público. Esta é a 7ª edição dessa celebração e terá shows do veterano Kamaphew Tawa & banda Aspiral do Reggae, Dj Maico Rasta, Fabiana Rasta, Jo Kallado ,Vivi Akwaba, Jadson Mc, Bruno Natty, Ras Matheus e Makonnen Tafari.
O Brasil é o segundo país do mundo que mais consome reggae, uma data definida pela jamaicana Andrea Davis, inspirada no discurso de Winnie Mandela em Kingston, Jamaica, em 1992.
“O Reggae tem sido uma grande influência nas raízes culturais e musicais da Jamaica e do mundo, misturando instrumentos africanos e europeus como violão, bongô e banjo, e criando as bases para o gênero. Ele inspirou milhares a seguirem a filosofia da cultura Rastafari, dando origem a figuras icônicas como Bob Marley, Jimmy Cliff, Peter Tosh, Toots & The Maytals, entre outros”, pontua a dirigente da Associação, Jussara Santana.
O ritmo também foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial pela Unesco, em 2018, por conta do seu papel sociopolítico e cultural. A celebração será neste sábado (01/7), aberta ao público, das 18h às 23h30.
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Vai rolar segunda edição da festa #Ghettos no Bombar
Nesta sexta (30), o Bombar no bairro do Rio Vermelho em Salvador vai receber a segunda edição da festa Ghettos edição Salcity X Guiné- Bissau, idealizada pelo produtor, Uran Rrodrigues.
“Os sons de dois dos principais centros urbanos do mundo se encontrarão na mesma pista em celebração as nossas potencialidades numa mistura musical altamente dançante e identitária” conta Uran.
Diretamente de Mirandá, gueto do Guiné, o músico, cantor e Dj Eco de Gumbé apresentará suas performances no melhor do afrobeat, dialogando com o set do dj, produtor musical e co-criador do Coletivo Trapfunk&Alivio, Allexuz95 do Nordeste de Amaralina. Ele promete beats certeiros com trap,funk e pagodão baiano.
Do Pelourinho, Akani retorna à festa trazendo o seu groove e os remixes mais potentes da cena, abrindo as portas para sonzeira de Dricca Bispo com as autorais, como “Saudade” e os covers de Sem Pause e Inevitável.
Dricca Bispo, dançarina de Castelo Branco, já conhecida das pistas, apresentará sua nova versão como cantora. Vai rolar ainda feat especial com Felupz, que se prepara para lançar Razga com beat produzido por Doizá.
Couvert artístico R$ 25.