Formação
Diego Nascimento – Homem trans, preto, pansexual, 16 anos e ativista!


Foto: Andréia Magnoni
Ele tem apenas 16 anos, uma “paixão incondicional” pelo poder transformador do Direito, se encontrou na militância desde os 12 anos de idade, acha que “o mundo está todo muito errado” e tem uma meta: “levar conhecimento, educar, debater e ensinar” no combate aos sistemas de violência. E ele é TRANS.
Diego Nascimento se define assim, desde os 12 anos: homem trans, preto, pansexual, soteropolitano, filho de Eunice do Santos. Mora no bairro periférico de Tancredo Neves, em Salvador, e estuda o 2º ano do Ensino Médio no IFBA. As certezas que Diego traz hoje surpreendem ao lembrarmos que ele nem chegou aos 18 anos. Ele é ativista do coletivo De Transs Pra Frente e da rede de adolescentes LGBTs da Unicef.
Mais ainda quando ele as manifesta publicamente, em eventos como os realizados pelo Coletivo De Transs pra Frente, do qual faz parte. Mas, talvez, não houvesse outro caminho: para ele infância lembra violências, solidão; e adolescência – onde está – significa luta, afirmação e metas.
Entrevistamos Diego, que será mediador do próximo encontro do De Transs pra Frente, nesta quarta-feira (7), a partir das 18h, no Teatro Gregório de Matos. O tema: Tensionando a Cisgeneridade. E de tensão, Diego sabe bem…conheça-o.
Portal Soteropreta – Como cresceu Diego Nascimento, o que você traz e sua infância?
Diego Nascimento – Então, falar da minha infância é falar de violência, pois ela é o principal marcador dessa fase da minha vida. Desde muito cedo, lá pros 6, 7 anos, eu já não me encaixava no estereótipo social do que é ser uma menina: minhas brincadeiras favoritas incluíam futebol, lutas e jogos de cartas, todas essas tradicionalmente associadas à masculinidade. No ambiente escolar, isso fez com que eu sofresse muita violência, tanto por parte de colegas como de professores e demais funcionários, inclusive gestores. Solidão também foi uma constante nessa fase da minha vida, já que eu não era aceito nem entre as meninas (com as quais eu não me encaixava mesmo), nem entre os meninos (que não me viam como igual). Violência psicológica e física fez parte dessa época da minha vida por longos anos, entre os 7 e os 13, em forma de piadas, xingamentos e, não raras, agressões.
“Por conta de todo esse processo, me tornei uma criança extremamente solitária e só no início da adolescência, quando entrei em contato com a militância feminista, que isso veio mudar.”

Reprodução Facebook
Portal Soteropreta – Como você define Diego Nascimento hoje?
Diego Nascimento – O Diego Nascimento de hoje é o resultado de uma infância conturbada e uma adolescência (na qual ainda me encontro) promissora. Hoje, posso dizer que eu sou um garoto feliz, apesar das violências que me cercam cotidianamente. Entrar para a militância deu um sentido a minha vida, um “algo” pra fazer no mundo, e isso é algo que eu sempre busquei. Diego hoje é um jovem militante preocupado com todas as causas sociais, que busca por meio das suas palavras e ações transformar a sociedade e fazer dela um local em que pessoas possam viver suas especificidades sem se tornarem vítimas de violência.
O mundo exterior é, e sempre foi, extremante violento, comigo e com qualquer pessoa trans, e isso me influenciou de diversas formas. A violência que sofri na infância, por exemplo, é o principal marcador de diversos traços da minha personalidade, como a agressividade.

Foto: Andréia Magnoni
Portal Soteropreta – Como você chegou ao De Transs Pra Frente? O que este Coletivo significa pra você?
Diego Nascimento – O Coletivo De Transs pra Frente nasceu no seio de um outro projeto, o “Cores e Flores para Tita”, uma exposição fotográfica da fotoativista Andréa Magnoni. Ela falava de gênero e transgeneridade a partir da história do seu tio, o Tita, um homem trans suicidado por conta da transfobia. Eu fui um dos modelos e também monitor dessa exposição, e logo que ela saiu do Teatro Gregório de Mattos, onde foi lançada, surgiu nesse mesmo espaço o evento “De Transs pra Frente”, principal motivador do surgimento do Coletivo de mesmo nome. O De Transs pra Frente, enquanto Coletivo, só me remete a uma coisa: família. A minha relação com todas as pessoas do coletivo é, para além de tudo, de amizade. É um grupo de pessoas diversas que acreditam em um mesmo objetivo: uma sociedade menos violenta.
Enquanto evento, o “De Transs pra Frente” me é uma possibilidade de trazer à luz discussões sobre diversas temáticas ligadas à transgeneridade, que sempre são negligenciadas ou apagadas. É uma das raras oportunidades de ver pessoas trans falando de si e por si em primeira pessoa, e o mais importante: de ser ouvido.

Foto: Andréia Magnoni
Portal Soteropreta – Quem são suas referências de vida?
Diego Nascimento – Essa é uma pergunta interessante, sempre que paro pra pensar nessa questão eu percebo uma coisa curiosa: todas as minhas referências de vida são mulheres ativistas. Citando as mais importantes: Andrea Magnoni, Line Pereira, Viviane Vergueiro, Daniela Andrade e Maria Clara Araújo.
Portal Soteropreta – O que você gosta de fazer, quais são seus hobbies, paixões?
Diego Nascimento – Desde muito novo eu sou encantado por leitura e por esportes, em especial o basquete, que pratico desde os 8 anos. Mas, pra qualquer um que me conhece, a resposta à pergunta sobre qual é a minha maior paixão, hobbie e passatempo seria “conversar”. Como bom geminiano, troco qualquer coisa por uma boa conversa em um ambiente calmo e com pessoas inteligentes, dispostas a trocar conhecimentos e debater ideias e pontos de vista.
Portal Soteropreta – Falando de afetividade, boas lembranças? Aspirações, desejos?
Diego Nascimento – Huum, questão complicada (risos). Falar de afetividade hoje me remete à pessoa com a qual eu exerço isso mais diariamente, minha namorada, Maria Mariana. Em certos aspectos, o acesso que a militância me dá me traz alguns privilégios, entre eles o de conhecer pessoas maravilhosas, que se tornam minha maior referência de afetividade. Apesar de tê-la conhecido em outro contexto (somos colegas de classe), nossos interesses em comum, inicialmente, giraram em torno – justamente – de questões sociais.
Na vida de uma pessoa trans, relacionamentos afetivos saudáveis são tão raros que os de nós que vivenciam isso se consideram privilegiados, e aqui eu me incluo. Quanto a boas lembranças, as melhores da minha vida também giram em torno do ativismo: ENUDSG (Encontro Nacional em Universidades pela Diversidade Sexual e de Gênero); o Encontro da Rede Nacional de Adolescentes LGBT´s, e por ai vai. À parte isso, só mesmo alguns momentos românticos com namoradas da vida, porque né, eu ainda sou um garoto de 16 anos (risos).

Maria Mariana e Diego
Portal Soteropreta – Carreira, o que você quer para os próximos 20 anos?
Diego Nascimento – Essa é mais fácil: ser Advogado, com certeza. Pretendo terminar o Ensino Médio/Técnico no IFBA e iniciar a graduação em Direito, área pela qual nutro uma paixão incondicional. Não pela área em si, mas pelo potencial transformador que ela detém. Após terminar a graduação, meu objetivo é entrar para a Defensoria Pública e atuar na seção em que tramitam os processos relacionados aos Direitos Humanos.
Portal Soteropreta – O que ainda não está certo no mundo, Diego? E o que você está fazendo para mudar isso?
Diego Nascimento – Olha, sinceramente, eu acho que o mundo está todo muito errado. Nossa dificuldade enquanto seres humanos em aceitar e compreender o outro, a passividade que mantemos diante de tanta violência, a manutenção secular de sistemas opressores (como patriarcado e o capitalismo) – que existem para sobrepor um grupo aos outros, etc. Dentro de tudo isso, faço o que está ao meu alcance, que é o trabalho de formiguinha, de levar conhecimento, de educar, de debater, de ensinar. Eu acredito piamente que são ações assim que podem levar ao empoderamento coletivo das minorias sociais, ao mesmo tempo que faz com que uma parcela, mesmo que pequena, das maiorias sociais, compreenda seu papel na manutenção de sistemas de violência e, a partir dessa compreensão, entrem na luta contra esses sistemas.
Portal Soteropreta – Enfim, ser trans é….
Diego Nascimento – É existir e resistir, é lutar contra a invisibilidade e o preconceito, é estar no mundo como um afrontamento a normas de gênero impostas, é TRANSgredir, é TRANScender e, acima de tudo, é ter o potencial de TRANSformar a sociedade.
Nesta quarta (7), a partir das 18h, Diego será mediador da Mesa “Tensionando a Cisgeneridade”, que pretende aprofundar o assunto, questionando a identidade de gênero de quem não é trans, nem travesti. Saiba mais aqui.

Foto: Andreia Magnoni
Formação
Janahina Cavalcante e Poliana Bicalho realizam oficina no MUNCAB

A oficina “Olhares Sensíveis: A Arte como possibilidade Pedagógica”, que acontece no dia 25 de abril (quinta-feira), das 14h às 17h, no Museu Nacional da Cultura Afro-brasileira (MUNCAB), está com inscrições abertas e gratuitas. A atividade integra a programação do PETIZ – Festival de Arte para Infância e Juventude e é voltada a educadores, agentes culturais e comunitários.
A oficina propõe práticas que unem consciência corporal, sensibilização artística e mediação cultural, destacando a importância da arte como linguagem transversal no ambiente escolar. São oferecidas 30 vagas, com direito a certificado virtual.
Com orientação de Poliana Bicalho e Janahina Cavalcante, pesquisadoras com ampla atuação em arte-educação e cultura, a formação busca promover um olhar mais atento e afetivo sobre os processos pedagógicos mediados pela arte.
As inscrições podem ser feitas gratuitamente pelo Sympla. Mais informações estão disponíveis no site www.festivalpetiz.com.br e no Instagram @festivalpetiz.
SOBRE:
POLIANA BICALHO – Mãe, educadora, pesquisadora e mediadora cultural.
Doutoranda pelo Programa Multidisciplinar Cultura e Sociedade │ UFBA (2021), Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas│ UFBA (2016), com pesquisa voltada para o campo da mediação cultural, Especialização em Política e Gestão Cultural│UFRB (2021), graduada em Licenciatura em Teatro│UFBA (2011) e Comunicação Social – Jornalismo│UESB (2008). É coordenadora artístico -pedagógica do PETIZ – Festival de Arte para Infância e Juventude e Gerencia a CRIARE – Projetos Culturais e Educacionais. É integrante do grupo de pesquisa Coletivo Gestão Cultural (UFBA │ CNPq) e do grupo CRICA: Criar para Crianças: núcleo de estudos das artes e culturas da e para a infância da (UFRB).Professora de teatro da Rede Municipal de Educação de Salvador (BA). Trabalhou como professora no Curso Profissional Técnico Nível Médio em Dança da Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia, de (2012│2016) e como Técnica Cultural, no Teatro SESC-SENAC Pelourinho, com foco nas ações de formação de espectador – Mediação Cultural (2013│2015).
JANAHINA CAVALCANTE – artista da dança, bailarina intérprete, educadora e mãe. As experiências perpassam pelo ensino da dança, produção, gestão e mediação cultural. Mestra em Dança pelo PPGDança-UFBA, com Especialização em Estudos Contemporâneos em Dança, Graduada em Pedagogia e Dança-UFBA. Estudante de psicopedagogia. Atuou no Projeto Dança para Crianças do Núcleo Viladança, na Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia -FUNCEB, foi professora no curso preparatório, nos cursos livres e no curso técnico. Foi coordenadora pedagógica do Curso Técnico em Dança. Esteve como Coordenadora de Dança do estado da Bahia. Atualmente está na assistência da CRIARE Mediações Culturais e Educacionais; professora de Dança na FOCO Usina de Teatro; assistência de coordenação de tutoria online do curso de licenciatura em Dança- EAD/UFBA ; professora da rede municipal de Lauro de Freitas.
SERVIÇO
Oficina “Olhares Sensíveis: A Arte como possibilidade Pedagógica”
25 de abril (quinta-feira)
Das 14h às 17h
MUNCAB – Museu Nacional da Cultura Afro-brasileira (R. das Vassouras, 25 – Centro, Salvador)
Público-alvo: educadores, agentes culturais e comunitários
Gratuito | Com emissão de certificado
Inscrições via Sympla
Vagas limitadas: 30 participantes
Formação
Último dia para inscrições no programa que conecta moda baiana ao mercado francês

Hoje (17/04) é o último dia para se inscrever no Programa Création Brasil de Aceleração de Negócios da Moda, iniciativa que busca impulsionar a internacionalização de empreendedores baianos do setor. A ação é realizada pelo hub de inovação Vale do Dendê, em parceria com a Embaixada da França no Brasil, e tem como embaixadora a estilista baiana Isa Silva, fundadora da marca Isaac Silva.
Com foco em negócios dos segmentos de vestuário, acessórios, têxtil, criação e confecção, o programa oferece mentorias especializadas e premiará a empresa finalista com um curso de francês na Aliança Francesa e uma viagem à França, com passagens, hospedagem e alimentação custeadas.

Isa Silva | Foto: Divulgação
“Ser Embaixadora da Aceleração é uma honra que recebo com muito carinho e alegria. Poder compartilhar meus conhecimentos com empreendedores do meu Estado é uma forma linda de retribuir o amor que tenho por Salvador”, afirmou Isa Silva.
Conhecida pelo lema “Acredite no seu axé”, ela também irá ministrar a masterclass “Da Bahia para o mundo: criatividade e diversidade como negócio”.
Segundo Paulo Rogério Nunes, cofundador da Vale do Dendê, a 18ª edição do programa se diferencia pela proposta de internacionalização.
“Vamos selecionar empresas com potencial de expansão global. Esta parceria com a Embaixada da França vai nos ajudar a abrir portas importantes para o mercado de moda da Bahia alcançar o cenário internacional”, destacou.
Para participar, é necessário ter CNPJ ativo como Pessoa Jurídica ou MEI, com CNAE principal relacionado à moda. A seleção contará com uma curadoria que irá pré-selecionar 20 perfis com base nos documentos e portfólio apresentados. Os escolhidos passarão por uma rodada de pitch de negócios, e 10 empreendedores serão selecionados para as capacitações.
O ciclo formativo inclui treinamentos jurídicos voltados à internacionalização, planejamento financeiro, acesso a linhas de financiamento e programas de apoio, além de mentorias sobre moda sustentável, economia circular, marketing e branding global.
O edital e o formulário de inscrição estão disponíveis no site www.valedodende.org.
Formação
Marcha de Mulheres Negras promove formação sobre racismo e sistema penal

O Comitê Impulsor da Região Nordeste da Marcha de Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver promove no dia 29 de abril, às 19h, o encontro formativo virtual “Desencarceramento, Reparação e Bem Viver”, com o objetivo de ampliar o debate sobre as violações enfrentadas por mulheres negras privadas de liberdade e fortalecer ações de enfrentamento ao racismo e às desigualdades de gênero no sistema penal.
Realizado pela plataforma Google Meet, o evento é voltado para mulheres negras do Nordeste interessadas em contribuir com a construção coletiva da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver. As inscrições são gratuitas e estão abertas até às 12h do dia 28 de abril, por meio de formulário online.
Reparação histórica
A formação proposta pela Marcha de Mulheres Negras parte da premissa de que a reparação histórica é um passo essencial para enfrentar os impactos da escravidão, do racismo estrutural e do patriarcado, por meio de mudanças que garantam direitos, redistribuam recursos e fortaleçam políticas públicas para populações historicamente marginalizadas.

Foto de arquivo pessoal
O encontro contará com a participação de duas referências na luta por justiça social e direitos humanos: Iza Negratcha, articuladora do Desencarcera Sergipe e da Agenda Nacional pelo Desencarceramento, arte-educadora, rapper, escritora e presidenta da Frente Navio de Mulheres no Hip Hop.
Também participa Jéssica Taylor, mulher trans negra, fundadora da Associação de Travestis Unidas na Luta pela Cidadania, sobrevivente do sistema prisional e ativista pelos direitos da população LGBTQIA+ e das pessoas privadas de liberdade.

Foto de arquivo pessoal
A iniciativa reforça a importância do diálogo interseccional sobre gênero, raça e encarceramento, além de fomentar estratégias de mobilização política conduzidas por mulheres negras da região.
SERVIÇO
Evento: Encontro Formativo “Desencarceramento, Reparação e Bem Viver”
Data: 29 de abril de 2025 (terça-feira)
Horário: 19h
Plataforma: Google Meet
Inscrições: até 12h do dia 28/04, por formulário online