Literatura
Projeto “Escritoras negras da Bahia” terá mapeamento, website, oficinas e e-book!


Calila das Mercês
A arte de mulheres negras baianas será o tema do projeto “Escritoras Negras da Bahia”, iniciativa da a escritora Calila das Mercês, mulher negra, baiana, jornalista e pesquisadora em Literatura que vai reunir o trabalho de poetas, contistas, romancistas e artistas literárias em geral, no estado.
Será uma mapeamento e diagnóstico das escritoras negras da Bahia. O projeto contempla três diferentes produtos. O primeiro deles é o website, que será lançado no dia 7 de julho. Entre 7 e 20/7, será feito um ciclo de oficinas voltadas a mulheres de comunidades afro-indígenas; e um e-book bilingue (Português e Inglês), com textos acadêmico-culturais relacionados à negritude e à autoria negra, perfis de escritoras negras e intervenções artísticas na Bahia. Calila conversou com o Portal SoteroPreta, confere:
Portal SoteroPreta – Escritora, negra, brasileira. O que está por trás desta descrição?
Calila das Mercês – Por trás desta descrição existem centenas de mulheres que fizeram e fazem arte literária e que ainda continuam invisibilizadas nas nuances das diversas esferas do sistema literário. Ser mulher negra escritora é ter um repertório plural de vivências individuais e coletivas que vão desde as memórias de nossos ancestrais até os dias de hoje. Ou seja, as tentativas de marginalização das nossas vozes são ainda recorrentes e presentes nos jogos literários. E pensar o porão de um navio negreiro ou as vielas dos livros de Conceição Evaristo nos traz sensações fortes e nem sempre confortáveis, mas são essas tantas feridas e silenciamentos que planam o nosso coração e nossa arte. Não é sossegado estar nesse lugar de escritora negra, nunca foi, nunca estivemos sentadas na Academia Brasileira de Letras. É muito raro vermos mulheres negras em eventos literários que legitimam este lugar de escritora que representa o país, estamos ainda vivendo o “arraiá da branquitude”, como disse a Evaristo.
E ainda alguns acadêmicos tendem a analisar equivocadamente a obra de Carolina Maria de Jesus, sem se darem conta de como uma das escritoras brasileiras mais lida e traduzida no mundo é tratada por aqui. É lamentável, mas seguiremos, resistiremos.

Banco de Imagens
Portal SoteroPreta – Nesse universo literário feminino negro, onde a Bahia está situada?
Calila das Mercês – Tanto no Brasil quanto na Bahia temos lacunas das autoras negras na cadeia produtiva do livro. É muito difícil para os leitores terem acesso a livros de autoria negra brasileira. Não os vemos nas grandes livrarias. É muito raro! Quando pergunto quantas escritoras negras brasileiras foram publicadas por editoras de grande ou médio porte, reina um silêncio. E se pensarmos profundamente o porquê de não estarmos sendo publicadas, é só pensarmos nos setores dessa cadeia, nos perfis que continuam sendo curadores, editores, críticos… Bem, acho que vamos cair novamente nas questões estruturais.
Portal SoteroPreta – Quais nomes você considera imprescindíveis ao se tratar de Literatura Negra de mulheres hoje?
Calila das Mercês – As mineiras Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo são leituras obrigatórias para qualquer pessoa que queria entender e perceber o Brasil plural e cheio de becos e lacunas. É importante lermos Maria Firmina dos Reis, que foi nossa primeira romancista negra ainda no século XIX. No cenário baiano, temos Mãe Stella de Oxossi, Lívia Natália, Rita Santana, Vânia Melo, Mel Adún, Urânia Munzanzu… Outras contemporâneas brasileiras, recomendo Ana Maria Gonçalves, Elisa Lucinda, Miriam Alves, Cidinha da Silva, Meimei Bastos e Cristiane Sobral. Estrangeiras, recomendo leitura das obras da cubana Teresa Cárdenas, das estadunidenses Toni Morrison, Alice Walker, Audre Lorde e da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.
Portal SoteroPreta – Quais outras fundamentaram este caminho, na sua avaliação?
Calila das Mercês – Na minha vivência, primeiro fui marcada pelas narrativas orais das minhas três avós, a minha avó paterna Carlinda, que sempre contou suas histórias e das ancestrais, e as minhas avós maternas Zélia e Miguelina, mãe de criação e biológica da minha mãe, respectivamente. Todas viveram em tempos muitos difíceis, trabalharam muito desde crianças, todas trabalharam no campo, em zonas rurais, em algum momento da vida, e, depois, algumas delas como domésticas, lavando roupas de casas de família, costurando, etc., e ainda cuidando dos filhos e da própria casa. Então, inicialmente, foram as narrativas destas mulheres que chegaram trazendo perspectivas de vidas diferentes das representações de branquitude que sempre tive nas escolas e que sempre questionei.
Portal SoteroPreta – O mapeamento nasce de um contexto de invisibilidade. O que você considera ainda como entraves a esta visibilização?
Calila das Mercês – Não tem como falarmos de invisibilidade da mulher negra sem citarmos problemas sistêmicos e estruturais – como o racismo e o machismo – e pensarmos nos dados alarmantes que vemos nas tantas pesquisas da ONU, do IBGE, do IPEA, sempre mostrando as mulheres negras preteridas na sociedade. Mas, agora, a minha sugestão é que também precisamos pensar em ações que promovam melhorias, sendo a primeira delas compreender epistemologias da mulher negra, agregando saberes ancestrais e compreender o feminismo interseccional. Precisamos falar de privilégios, de apropriação cultural e de como nós, na sociedade, podemos atuar em prol de uma visão mais humanista e sensata em relação a quem sempre esteve preterida e ao mesmo tempo trabalhando para construir boa parte deste país.
E, claro, pensarmos em políticas públicas que viabilizem melhorias para as mulheres negras, inclusive dentro dos campos literários. É lamentável pensar o momento em que o país passa agora, são muitos indicativos de retrocessos em tão pouco tempo. Já dá para sentir… Resistiremos como sempre fizemos. Mesmo sendo por um lado triste, não deixa de ser intenso e fortalecedor. Nunca desistimos, e não será agora que iremos temer.
Programação do projeto:
Palestra “Literatura de autoria negra: resistência e pluralidade da memória”
Quem: Calila das Mercês, doutoranda em Literatura na Universidade de Brasília (UnB)
Dias e locais: dia 07/07, na Universidade do Estado da Bahia em Teixeira de Freitas, às 19h, e 08/07, no Fórum de Cultura de Caravelas, às 18h
Inscrição gratuita no link https://goo.gl/rq9q28
Oficina “Escrevivências: resistência e representações na literatura de escritoras negras”
Quem: Calila das Mercês, doutoranda em Literatura na Universidade de Brasília (UnB)
Dias e locais: 09 e 10/07, em Caravelas; 11 e 12/07, em Alcobaça; e 13 e 14/07, em Prado (Cumuruxatiba)
Horário: 9 às 18h
Inscrição gratuita no link https://goo.gl/rq9q28
Oficina “Literatura e tecnologia — Mídias e mobilizações em rede”
Quem: Raquel Galvão, doutoranda em Teoria e História Literária da Universidade de Campinas (Unicamp)
Dias e locais: 11 e 12/07, em Caravelas, 13 e 14/07, em Alcobaça, e 17 e 18/07, em Prado (Cumuruxatiba)
Horário: 9 às 18h
Inscrição gratuita no link https://goo.gl/rq9q28
Oficina “A magia da mulher negra: poéticas e estéticas das cineastas negras”
Quem: Kênia Freitas,doutora em Comunicação e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Dias e locais: 13 e 14/07, em Caravelas, 17 e 18/07, em Alcobaça, e 19 e 20/07, em Prado (Cumuruxatiba)
Horário: 9 às 18h
Inscrição gratuita no link https://goo.gl/rq9q28
Literatura
Slam das Minas lança minidoc sobre residência em Cabo Verde

No próximo dia 5 de julho, data em que se celebra a Independência de Cabo Verde, o coletivo Slam das Minas Bahia realiza um encontro especial em Salvador, para compartilhar os frutos da sua recente turnê internacional “Vozes em Poesia”. A atividade acontece às 14h, na Sala Cênica da FUNCEB, e contará com exibição de vídeos, performances poéticas, roda de conversa e um momento de celebração com comida típica.
O evento marca o lançamento do mini documentário da residência artística realizada pelo coletivo na cidade da Praia, em Cabo Verde, durante o mês de maio. Por lá, as poetas ministraram oficinas de escrita criativa e performance poética para estudantes da Universidade de Cabo Verde, além de realizarem uma edição especial da batalha de Slam no campus universitário. A turnê também passou por Lisboa, com apresentação no Museu do Aljube, espaço simbólico da resistência e da memória anticolonial em Portugal.
Batizado de “Retorno Atlântico”, o evento busca refletir sobre os afetos, trocas e atravessamentos que marcaram essa experiência internacional. Para a slammaster Má Reputação, esse é um momento de devolver à comunidade baiana tudo o que foi vivido e construído em solo africano.
“Estamos preparando um momento multissensorial, a fim de que essa seja uma experiência marcante como foi pra nós materializar essa travessia”, afirma a artista.
A programação inclui ainda a leitura de textos autorais criados durante a viagem e um bate-papo com o público sobre o impacto da circulação artística entre países da diáspora africana.
SERVIÇO – Retorno Atlântico | Slam das Minas Bahia
Data: 5 de julho (sexta-feira)
Horário: 14h
Local: Sala Cênica da FUNCEB – Salvador (BA)
Atividade: Lançamento do minidoc + performances + bate-papo + vivência cultural
Instagram: @slamdasminasbahia
Literatura
Lílian Almeida lança “Fecundo a terra enquanto choro” no Goethe

A escritora, professora e terapeuta baiana Lílian Almeida lança, na próxima quinta-feira (26), seu mais novo livro de poemas, Fecundo a terra enquanto choro, no Goethe-Institut Salvador, a partir das 19h. Com entrada gratuita, o evento contará com um bate-papo com a autora, mediado pela doutora em Literatura Hildália Fernandez.
Terceira publicação solo de Lílian, a obra marca mais um capítulo na sua produção literária que tem na escrita uma ferramenta de existência, cura e enfrentamento. “Escrever sempre foi meu modo de existir”, afirma a autora. Após o premiado Pulsares (vencedor do Prêmio Caramurê de Literatura 2019), Lílian entrega um novo conjunto de poemas em que o lirismo é atravessado por experiências pessoais, dores coletivas e pulsões de mudança.
Dividido em duas partes, o livro se estrutura a partir de imagens simbólicas: no início, o corpo é arado e o peito, terra ferida — metáforas que evocam a dor individual e as crises sociais e políticas. Na segunda parte, a água ganha protagonismo, surgindo tanto como choro quanto como elemento que purifica, inunda e transforma.
“É uma obra onde a poesia encontra as dores humanas, as crises políticas e sociais, mas sinto que é marcante a força de superação a partir do desejo e abertura para as transformações”, explica Lílian.
A linguagem é sintética e ao mesmo tempo potente. Com versos curtos, a autora mantém sua marca de lirismo agudo, mas também experimenta formatos mais longos e narrativos, ampliando seu campo poético.
“Fecundo a terra enquanto choro carrega consigo uma procissão de seres doídos e determinados a transformarem o choro em seiva que nutre e promove a vida”, resume.
Além da atuação na literatura, Lílian Almeida é professora de Literatura na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e terapeuta integrativa. Desenvolve o projeto de extensão “Biblioterapia: literatura e autocuidado”, que utiliza a leitura como ferramenta de bem-estar emocional e que tem ganhado expansão para além dos muros da universidade.
A escritora também vem ampliando sua atuação no cenário internacional. Em maio, esteve na Argentina com seu primeiro livro traduzido para o espanhol, em uma circulação viabilizada pelo edital “Salvador Circula”, da Fundação Gregório de Mattos. Participou do evento literário “No somos islas”, em Córdoba, e realizou lançamentos no Instituto Guimarães Rosa, em Buenos Aires.
Lílian tem ainda poemas traduzidos para o inglês e o espanhol em publicações bilíngues e já participou de encontros literários na Colômbia, no México e em outras partes da América Latina. Também integrou a curadoria da Coleção Tinta Preta e do I Encontro de Autoras Baianas.
Serviço
O quê: Lançamento do livro Fecundo a terra enquanto choro, de Lílian Almeida
Quando: 26 de junho (quinta-feira), às 19h
Onde: Goethe-Institut Salvador (Av. Sete de Setembro, Corredor da Vitória)
Entrada: Gratuita
Foto: Victória Nack
Literatura
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