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#OcupA – Por que ser midialivrista é tão difícil? – Por Ícaro Jorge

Jamile Menezes

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Ícaro Jorge – Foto: Gabriel Andrade

Este é um relato de um midialivrista jovem e negro numa sociedade  estruturada pelo privilégio branco.

Em época de fim de semestre, Universidade lotada de pessoas preocupadas, complicadas, amarguradas e atrasadas, fui convidado para participar de um trabalho de final que abordava “A mídia livre como uma saída para as opressões”.  Felizmente, é um assunto que eu gosto muito de abordar e tenho um pouco de prática. Diante disso, pensei algumas questões que acho interessante para inserir nessa coluna.

Normalmente, costumo abordar a mídia negra e as possibilidades de inserção das nossas vivências no conteúdo jornalístico, blogs, canais no youtube e em outras ferramentas de comunicação. Mas, percebendo a atual conjuntura que, ao invés de democratizar a Comunicação, nos priva de acessar conteúdos, pensar a mídia negra, somente nas redes é um erro. 

Pensando através do senso comum, “mídia é todo suporte de difusão da informação que constitui um meio intermediário de expressão capaz de transmitir mensagens; o conjunto dos meios de comunicação social de massas”. Diante disso, o rádio, a televisão, a imprensa, seriam exemplos de mídia. Mas será que com as pessoas negras isso se materializa?

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Foto: Ester Souza

Somos bem vindas?

Historicamente, a mídia foi um espaço negado às pessoas negras. Nas novelas se criou uma perspectiva de “Black Face”, inicialmente, colocando pessoas brancas para representar as pessoas negras, nos jornais nem se cogitava e, inclusive, até hoje é tabu quando vemos negros e negras em grandes jornais, no cinema.

Raríssimo era a produção e elenco com pessoas negras.  Ao decorrer do tempo, fomos conquistamos mais espaços e mesmo assim, ainda somos folclorizados, hiperssexualizados, desrespeitados e ignorados.

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Na novela “A Cabana do Pai Tomás”, o ator Sérgio Cardoso viveu o protagonista negro. Na cena, ele ao lado da atriz Ruth de Souza (Foto: reprodução)

As telenovelas ainda não os maiores espaços de representação na sociedade e tem dentro da sua estrutura uma perspectiva de reprodução das opressões. Como traz a professora de antropologia da ECA-USP Solange Martins Couceiro de Lima, no artigo “A personagem negra na telenovela brasileira: alguns momentos” (Revista USP, 2001):

“A telenovela é, pois, a narrativa que veicula reprepresentações da sociedade brasileira, nela são atualizadas crenças e valores que constituem o imaginário dessa sociedade. Ao persistir retratando o negro como subalterno, a telenovela traz, para o mundo da ficção, um aspecto da realidade da situação social da pessoa negra, mas também revela um imaginário, um universo simbólico que não modernizou as relações interétnicas na nossa sociedade”.

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Monalysa Alcântara – Foto: Reprodução / BE Emotion / Facebook)

Recentemente, passamos pela exposição da jornalista Maju Coutinho, da atriz Taís Araújo, da miss Brasil Monalysa Alcântara, todas desrespeitadas por serem negras e estarem ocupando espaço na mídia.

Além disso, cabe relatar sobre as séries que recebem poucos investimentos e/ou são cortadas, por conta de um protagonismo criado e sustentado pelo privilégio branco, como é o caso de “Cara gente branca”, que praticamente foi ignorada pela população e não recebeu o investimento devido por ter personagens negros e falar sobre a realidade do racismo.

Outra série que exemplifica bem o privilégio branco é a série Friends, que se tornou a série que representa o ano 2000 e que nada mais era que uma cópia da série Living Single, estrelada por Queen Latifah, mas que foi ignorada e apagada pelo sucesso da sua cópia. Enfim, diversos momentos históricos que demonstra a não aceitação de negros na mídia.

Quais estratégias para se desestruturar essa construção?

Provavelmente, não sou a melhor pessoa para escrever ou falar sobre esse assunto, por não ter formação, mas cabe avaliar as atuais estratégias que tomamos que vão de encontro a essa estrutura midiática que silencia a população negra.

Primeiro, a Mídia Livre se torna nossa aliada, mesmo sendo necessário ocuparmos espaços na grande mídia, pensar formas alternativas e independentes de se criar possibilidades de compartilhar as nossas vivências é essencial. A partir disso, nasce espaços como o SoteroPreta, Ocupa Preto, Dois Terços, Narrativas negras, Ashismos, Mais íntimo, Mídia Períférica, Desabafo social, Etnomídia, Instituto Mídia Étnica, Maia Vox, todas, ferramentas de comunicação e mídia livre necessárias para construímos uma mídia numa perspectiva decolonial.

Segundo, parcerias são extremamente necessárias. É só pensar que o privilégio branco é mantido historicamente por parcerias. São pessoas, famílias e marcas que fazem trocas e concessões diariamente, a fim de criar possibilidades para que eles garantam o seu poder e defendam seus privilégios. Nessa perspectiva, também precisamos nos articular e conectar, afim de criarmos pautas e possibilidades revolucionárias de ir de encontro à estrutura colonial, capitalista e racista em que vivemos.

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É só pensar que, independente de concorrências, briga de egos e o estresse para que seu projeto tenha visibilidade, você não vai dominar o mundo sozinho e que não existe projeto de mundo feito por apenas dois braços. Então, a Mídia Livre, negra e periférica precisa se organizar e se unir, a fim de criar novas narrativas. E vale lembrar: isso não significa que todo mundo pensará igual, mas que ter pautas e ações unificadas geram possibilidades de criação de um programa maior e mais eficaz para o que queremos.

Terceiro, a grande mídia também precisa de pessoas como nós na sua estrutura, para que da nossa forma, possamos criar possibilidades de mudanças internas que possam criar novas narrativas. Por exemplo, a rede globo de televisão, hoje, assume uma perspectiva mais aberta, onde se debate temas como machismo, racismo, LGBTTfobia.

E foi fruto de um debate interno grande com as pessoas que trabalham na empresa e que perceberam a necessidade de utilizar esse espaço para debater e tentar novas possibilidades de diálogo com a população. Isso não apaga as opressões históricas da empresa, mas demonstra que há possibilidade de se discutir uma nova visão de mundo, para isso, pessoas como nós precisam ocupar esses espaços, também.

Ocupa e convera ícaro jorge

Ocupa e Conversa no Instituto de Mídia Étnica

Novos horizontes para novas narrativas

Pensar a comunicação e a mídia livre é ter o entendimento que estamos indo de encontro a uma plataforma de mídia que se estruturou durante anos para executar os mandos de uma burguesia. Diante disso, é muito difícil criar ferramentas e possibilidades alheias a essa estrutura e por conta disso, temos muitas dificuldades.

Principalmente quando os espaços onde utilizamos para conseguir nos estruturar é interpelado pelo mercado e pela estratégia elitista de compartilhar seus objetivos, como por exemplo, o Facebook, que é bastante utilizado para compartilhar nossos trabalhos e fazer ecoar os nossos gritos, hoje assume uma perspectiva mercadológica privilegiando quem tem dinheiro devido a implementação de patrocínio.

Enfim, é preciso ter consciência das barreiras que são criadas todos os dias para nós que somos comunicadores e midialivristas e procurarmos estratégias de embate a essa estrutura.

pec 55 e negros

A coluna OcupA! é assinada por Ícaro Jorge, 19 anos, fundador e conciliador de histórias do Ocupa Preto, blogueiro, youtuber e mobilizador social.

 

 

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Matriarcas da Pedra de Xangô escolhem os 15 novos guardiões

Jamile Menezes

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A secretária de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais da Bahia, Ângela Guimarães, recebeu, nesta quarta-feira (28), o título de Guardiã do Parque Pedra de Xangô. A honraria foi concedida pelas Matriarcas da Pedra de Xangô, grupo de sacerdotisas responsáveis pela salvaguarda e proteção do rochedo considerado sagrado pelos religiosos de matriz africana em Salvador.

“É uma emoção e grande responsabilidade ser agraciada com o título. Assumo o compromisso pessoal e institucional com o enfrentamento do racismo religioso e a manutenção dos nossos territórios sagrados”, destacou a titular da Sepromi.

A entrega da condecoração integrou a programação da Cerimônia da Fogueira de Xangô, ritual que reverencia as divindades do fogo e fortalece a rede em defesa desse patrimônio cultural afro-brasileiro, localizado na Avenida Assis Valente, no bairro de Cajazeiras.

De acordo com as Matriarcas da Pedra de Xangô, os 15 novos guardiões foram escolhidos em função dos “relevantes serviços à cidade, a cultura, à população negra, ao Povo de Axé, às comunidades tradicionais e, em especial, ao processo de implantação, manutenção e gestão do equipamento de apoio do Parque Pedra de Xangô”.

Guardiões e Guardiãs da Pedra de Xangô 
1 – Tânia Scoofield Almeida – Presidenta da Fundação Mário Leal Ferreira – Prefeitura Municipal de Salvador;
2 – Fernando Guerreiro – Presidente da Fundação Gregório de Mattos – Prefeitura Municipal de Salvador;
3 – Bruno Monteiro – Secretário de Cultura do Estado da Bahia;
4 – Luiz Carlos Suíca – Vereador do Município de Salvador;
5 – Jose Raimundo Lima Chaves – Pai Pote – Presidente da Associação Beneficente Bembé do Mercado – Santo Amaro-Bahia;
6 – Rafael Sanzio Araújo dos Anjos – Prof. Titular & Pesquisador Sênior -CIGA\PPGGEA\UNB – Brasília;
7 – Sônia Mendes Reis Nascimento – Ìyá Egbè – Administradora e mestranda em Arquitetura e Urbanismo – PPGAU-UFBA;
8 – Ìyá Márcia D’Ògún – Presidenta do Conselho Municipal de Cultura de Salvador;
9 – Edvaldo Matos – Coordenador do SIOBÁ – Irmandade Beneficente de Ojés, Ogans e Tatas
10 – Leonel Monteiro – Presidente da AFA – Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Ameríndia;
11 – Fábio Macedo Velame – Prof. Permanente do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – PPGAU –UFBA;
12 – Nilza Nascimento Ferreira – Mãe Nilza D’Oxum – Professora, sacerdotisa, sucessora de Mãe Zil – Santo Antônio de Jesus – Bahia;
13 – Evilásio Bouças – Taata Evilásio – Presidenta do Conselho Municipal das Comunidades Negras de Salvador;
14 – Ângela Guimarães – Secretária de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais do Estado da Bahia;
15 Maria Alice Silva – mestra e doutoranda em Arquitetura e Urbanismo – PPGAU-UFB

 

 

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Associação celebra Dia Internacional do Reggae no Pelô

Jamile Menezes

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Kamaphew Tawa

 

A Associação Cultural Aspiral do Reggae vai celebrar o Dia Internacional do Reggae – 1º de julho. A festa será na Casa Cultural Reggae (Rua do Passo) e contará com um time de artistas, djs e banda de reggae pra animar o público. Esta é a 7ª edição dessa celebração e terá shows do veterano Kamaphew Tawa & banda Aspiral do Reggae, Dj Maico Rasta, Fabiana Rasta, Jo Kallado ,Vivi Akwaba, Jadson Mc, Bruno Natty, Ras Matheus e Makonnen Tafari.

O Brasil é o segundo país do mundo que mais consome reggae, uma data definida pela jamaicana Andrea Davis, inspirada no discurso de Winnie Mandela em Kingston, Jamaica, em 1992.

“O Reggae tem sido uma grande influência nas raízes culturais e musicais da Jamaica e do mundo, misturando instrumentos africanos e europeus como violão, bongô e banjo, e criando as bases para o gênero. Ele inspirou milhares a seguirem a filosofia da cultura Rastafari, dando origem a figuras icônicas como Bob Marley, Jimmy Cliff, Peter Tosh, Toots & The Maytals, entre outros”, pontua a dirigente da Associação, Jussara Santana.

O ritmo também foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial pela Unesco, em 2018, por conta do seu papel sociopolítico e cultural. A celebração será neste sábado (01/7), aberta ao público, das 18h às 23h30.

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Vai rolar segunda edição da festa #Ghettos no Bombar

Jamile Menezes

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Drica Bispo

Nesta sexta (30), o Bombar no bairro do Rio Vermelho em Salvador vai receber a segunda edição da festa Ghettos edição Salcity X Guiné- Bissau, idealizada pelo produtor, Uran Rrodrigues.

“Os sons de dois dos principais centros urbanos do mundo se encontrarão na mesma pista em celebração as nossas potencialidades numa mistura musical altamente dançante e identitária” conta Uran.

Diretamente de Mirandá, gueto do Guiné, o músico, cantor e Dj Eco de Gumbé apresentará suas performances no melhor do afrobeat, dialogando com o set do dj, produtor musical e co-criador do Coletivo Trapfunk&Alivio, Allexuz95 do Nordeste de Amaralina. Ele promete beats certeiros com trap,funk e pagodão baiano.

Felupz

Do Pelourinho, Akani retorna à festa trazendo o seu groove e os remixes mais potentes da cena, abrindo as portas para sonzeira de Dricca Bispo com as autorais, como “Saudade” e os covers de Sem Pause e Inevitável.

Dricca Bispo, dançarina de Castelo Branco, já conhecida das pistas, apresentará sua nova versão como cantora. Vai rolar ainda feat especial com Felupz, que se prepara para lançar Razga com beat produzido por Doizá.

Couvert artístico R$ 25.

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