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Eu, Mulher, Negra e Psicóloga me pergunto todos os dias a serviço de quem estou trabalhando!

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negro estudando

Imagem: Getty Images

A entrada na Universidade é um marco estruturante na vida de muitos jovens e adultos que optam por esse caminho. A partir de então, quando o olhar se volta para trás, vê uma infância que tão logo se acabou cheia de sonhos e, quando o olhar se volta para frente, se enxerga um futuro que tem por obrigação de se construir e fazê-lo dar certo.

O senso comum acredita que o que separa uma estudante universitária de uma jovem indeterminada é que a primeira, além de estudar muito, também pertence àquele universo, e, pertencer a esse lugar significa que ela entende e aceita todos os mecanismos que são impostos, como os prazos curtos, a constante falta de tempo, os egos inflados e o ritmo enlouquecedor da rotina do ensino superior. Perceber-se num ambiente embranquecido não é novidade, e também não é motivo de desistência, afinal, a maioria de nós mulheres negras já estamos acostumadas a dançar conforme a música, uma música que não é familiar, muito menos acolhedora.

Dentro de toda essa realidade, escolher um curso na área de Humanas é quase acreditar que as coisas serão um pouco mais maleáveis, porque talvez, as pessoas que escolhem os caminhos tortuosos das humanidades se sintam confortáveis e pertencentes à área de estudo que escolheram. Talvez, vivam a vida de forma mais humana. É, talvez.

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O curso de Psicologia é majoritariamente feminino, como na maioria das profissões de cuidado. Nos primeiros módulos, a sede de aprendizado é enorme. É necessário saber como funciona a mente humana, o nome de cada parte do cérebro, é preciso ser contida e também falar baixo, afinal é assim que tem que ser.

A história da profissão vai sendo contada, e é perceptível o contexto opressor no qual a Psicologia nasce, como também é muito fácil enxergar a favor de quem e para quem ela se dispõe a trabalhar. Só não vê quem não quer.

As teorias vão ganhando corpo, experimentos e estudos de caso cada vez mais constante, as histórias de grandes nomes vão sendo contadas e, nas entrelinhas, o que fica evidente é quão racistas eram esses pensadores e como até hoje (infelizmente) eles ainda são citados como o “pote de ouro” no fundo do arco-íris.

Aliás, a característica racista da profissão é negada o tempo inteiro e nesses momentos fica evidente que o nosso lugar enquanto povo preto era de aberração e anomalia. As escolhas são poucas: ou nos calamos e aceitamos o saber imposto, ou destrancamos os cadeados da boca e gritamos; Isso Não Me Representa!

Decisões não são fáceis, mas inevitáveis, necessárias. O processo de reconhecimento de negritude é dolorido, mas jamais solitário. O grito, quando sai de dentro, ecoa por muitos cantos. Tiramos um peso das costas e assumimos para nós uma bagagem que é tanto individual quanto coletiva de lutas e batalhas diárias. Observar a estrutura de uma instituição de ensino particular é perceber que o topo da pirâmide é branco, o centro da pirâmide é, em sua maioria, branco e somente na base nos reconhecemos. É inquietante olhar por vieses que contemplavam uma minoria não muito diversa.

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O sentimento de não pertencer nos acompanha até o fim, afinal a gente sabe onde somos bem quistos e onde não, e ali (na Universidade) insistem em dizer que não é o nosso lugar.

Pequenos quilombos começam a se formar, a fala contida dá espaço a gritos de guerra cada vez mais fortes, e quanto mais frequentes se tornam os golpes, maior é a tensão formada no sistema, o silenciamento não é mais aceito.

Pede-se a palavra para falar, pede-se a palavra para as outras falarem, os microfones não pertencem às mesmas pessoas que pertenciam antes. São Negras e Negros ocupando os espaços que foram tomados a força.

A decisão de iniciar o curso não foi fácil, a decisão de se manter no curso também não, mas quando, no último semestre, e – incessantemente depois dele – as decisões que deverão ser tomadas serão as mais decisivas, redundante, mas é preciso se dar ênfase justamente para mostrar o caráter firme que elas precisam ser. A pergunta diária deve ser: A serviço de quem vou trabalhar?

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O processo de tomada de consciência é contínuo e se manter assim exige maturidade para entender que o incômodo não é mais pelo fato de incomodar ou de chamar atenção, mas sim, para tirar as pessoas de seus lugares privilegiados, cobrando tudo aquilo que nos devem. As escolhas agora exigem responsabilidade, pois, quando os nossos olhos se voltam para trás, eles enxergam vários passos que já foram dados por outras para que pudéssemos estar ocupando esse espaço e, por mais solitária que pareça a luta, não estaremos sozinhas. Quando os olhos apreciam o futuro agora, não somente sedentos por ascensão social, mas também e, principalmente, com a garra de construir um espaço melhor para aquelas que ainda estão por vir.

Ser Mulher, Negra e Psicóloga não é uma tarefa fácil, dentre os prazeres e dissabores eu escolhi estar atenta. Atenta às escolhas, às possibilidades, para perceber que se não for cuidadosa, me volto contra os meus. Ser Mulher, Negra e Psicóloga é além de ter uma escuta refinada, ter consciência de que ‘recortes’ não são mais satisfatórios, queremos o todo que nos cabe. Ser Mulher, Negra e Psicóloga é assumir um posicionamento político de querer dar voz e vez às minorias.

rede dandaras psicólogas negrasEu, Mulher, Negra e Psicóloga me pergunto todos os dias a serviço de quem estou trabalhando, com o intuito de não esquecer das minhas diretrizes. A minha escolha tem sido de fazer por mim e por todas aquelas que tentarem e não conseguiram, por todas aquelas que nem puderam tentar. A minha escolha é representar a base, até que a base tome o seu lugar no topo. Avante!

Texto de Tainã Vieira de Palmares – Rede Dandaras

Opinião

#Opinião: O sentido oculto da sexta-feira 13 – Por Januário

Ana Paula Nobre

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Foto: Divulgação

Em 13 de outubro de 1307, Filipe IV, rei da França, ordenou que os Cavaleiros Templários fossem presos, sob a acusação de heresia. A maioria dos membros desta ordem foi para a fogueira, entre eles, o grão-mestre Jacques de Molay. Ante a morte, de Molay lançou uma maldição sobre a linhagem de Filipe IV: todos os seus três filhos homens morreriam, o que viria a se concretizar, ao longo de 13 anos seguidos.

Na mitologia nórdica, vemos Loki, o 13º deus adentrar ao banquete em Valhalla, morada dos deuses, sem ser convidado. Ardiloso, ele incita seu irmão Hoder, que era cego, a matar Balder, um deus amado por todos. Igualmente ardiloso foi Judas Iscariotes, que, de acordo com o relato bíblico (Mateus 26), trai Jesus por 30 moedas de prata, valor pago para comprar uma pessoa escravizada, de acordo com a Lei Mosaica (Êxodo 21:32). Judas também era a 13ª pessoa presente na Última Ceia, haja vista, os 11 apóstolos estarem ao lado de Jesus, quando Iscariotes come o pão dado pelas próprias mãos do Mestre.

Tanto os eventos históricos, quanto aqueles narrados pelas tradições religiosas, deixaram uma profunda marca cultural no Ocidente: a sexta-feira 13 é considerado um dia amaldiçoado, em que precisamos estar mais atentos a possíveis ataques espirituais. Contudo, a Numerologia nos oferece outra perspectiva: o número 13 é formado por 1 e 3, que, respectivamente, simbolizam a coragem e a iniciativa, a autoconfiança e a liberdade. A soma desses números resulta em 4, símbolo da estabilidade, em contraposição ao azar. Por sua vez, encontramos A Morte, na Carta 13 do Tarot; longe de ser um símbolo negativo, esse arcano indica o necessário fim de um ciclo e a abertura de outro. Devemos deixar o passado para trás, a fim de iniciar um novo estágio em nossas vidas.

Um dia de passagem abençoado pela Espiritualidade, a sexta-feira 13 nos oferece a oportunidade de recomeço, de vivificação de novos projetos. Para quem busca A Verdade, é uma excelente ocasião de se conectar com O Todo, intrínseco e universal. Desfrutemos desse ponto de virada, com a mensagem do Grande Avatar da Era de Peixes. Ela caminha pelas águas do nosso ser: “Quem nasce de pais humanos é um ser de natureza humana; quem nasce do Espírito é um ser de natureza espiritual” (João 3:6 – Nova Tradução na Linguagem de Hoje).

Armando Januário dos Santos é Trabalhador da Luz, Mestre em Psicologia, Psicólogo (CRP-03/20912) e Palestrante. Contato: (71) 98108-4943 (WhatsApp).

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#Opinião: O que falta para existir R4cism0 R3vers0: Um breve histórico para o letramento racial – Por Aline Lisbôa

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Aline Lisbôa
Foto: Divulgação

Combater o racismo no Brasil, é diariamente ter que falar o óbvio, e nessa missão, por vezes, desmistificar o conceito de que o racismo neste país, que vendeu, matou e escravizou pessoas negras, é apenas um preconceito contra a raças — seja ela qual for–. O fato, é que o pacto do grupo opressor, conhece o lugar que subverte a opressão de um povo em emancipação, O LUGAR DA LUTA, e por isso, dissemina a não existência de um protagonismo negro nessa luta que é nossa.

Um breve histórico da construção social do racismo estrutural, pode explicar, o que falta, para a suposta existência de um racismo contra br4nc0s no Brasil.

O racismo se estabelece através do conceito de raça, que surge para classificar grupos naturalmente contrastados. Na história da ciência, esse termo serve para a classificação de determinados grupos da zoologia e da botânica, com a finalidade de contrastar categorias maiores subdivididas em categorias menores, em seguida subcategorias e assim por diante, conforme os estudos de Kabengele Munanga (2003).

Munanga ainda afirma, que para toda classificação, é necessário utilizar critérios de diferenças e semelhanças, assim, no século XVIII, a cor da pele foi utilizada como critério de divisão em raças e no século seguinte, outros critérios como forma do nariz, lábios, formato do crânio, foram utilizados para aperfeiçoar essa classificação. Entretanto, sabe-se que essa classificação não se limitou apenas às características físicas e sim a utilização destas como forma de hierarquização, estabelecendo uma relação desvinculadas entre o biológico e as qualidades morais, intelectuais e psicológicas, decretando desta forma a raça branca como superior à raça negra. Isso justificou a colonização e o imperialismo das nações europeias sobre outras sociedades humanas, fenotipicamente, diferentes, sobretudo as pessoas indígenas nas Américas e as negras do continente africano.

Assim, muito além dos traços físicos de determinado grupo, o conceito de raça exprime a ideia de que esse grupo e seus traços culturais, religiosos, linguísticos, etc. são naturalmente inferiores aos “traços brancos”, além disso, a ideia de que características biológicas, são capazes de explicar as diferenças morais, psicológicas e intelectuais entre as raças foi uma teoria que teve muito prestígio no século XIX, chamada racismo científico, difundido no Brasil por figuras como Raimundo Nina Rodrigues e Sílvio Romero.

Ainda que se tenha o contexto histórico vergonhoso da branquitude do Brasil, que pode ser ilustrado nas teorias de Nina Rodrigues, mostrando o nível de brutalidade “incivilizada”, do suposto povo superior e civilizado, esta hierarquia do conceito de raça segue elegendo a esta branquitude, como superior e “normal”, desumanizando a população negra que não se assemelha fisicamente com essa normalidade eurocêntrico, constituindo a base de uma estrutura social.

Desta forma, entendendo o processo estrutural que hierarquiza as raças através dos traços biológicos, entende-se racismo como:

(…) uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento, e que se manifesta por meio de práticas conscientes ou inconscientes que culminam em desvantagens ou privilégios para indivíduos, a depender do grupo racial ao qual pertençam. (ALMEIDA, Silvio, 2019, p.23).

Pode-se então, considerar que o racismo não é um problema negro no Brasil e sim um problema na relação de dominação e supremacia da branquitude para com os negros do Brasil, que mantém os privilégios de um grupo, enquanto nega as mínimas condições de vida a outros.

Raça, Racialização, Racismo científico e racismo estrutural. No Brasil o racismo tem e sempre teve um alvo, corpos negros.

Artigo de Aline Lisbôa

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#Opinião: A figura paterna – Por Ana Paula Nobre

Ana Paula Nobre

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Ana Paula Nobre
Foto: Bruna Bahia

Todo mundo tem pai. Mesmo quem não o conhece, não convive, não tem a sua presença física. Mesmo quem nunca ouviu falar dele, não se deparou com ele ou não concebe a sua existência. Não existem erros no universo. Tudo é milimetricamente articulado nos planos divinos.

De ausência paterna, eu entendo. Não tenho contato físico com o meu pai biológico há 28 anos. De certa forma, tive a possibilidade de conviver com meu pai até os 12 anos, portanto, conheço o seu rosto. Há quem nunca o tenha visto, mas seus traços revelam. Pra quem não o conhece, olhe para o seu rosto. Ele tá aí.

Há quem tenha pai presente fisicamente e ausente na disponibilidade afetiva e de proteção. Isso configura ausência também. Há quem tenha o pai já em outro plano, mas ele foi tão importante que se torna presente no presente.

O fato é que a figura paterna – principalmente no Brasil, onde na maioria das casas brasileiras existe um vácuo da presença masculina -, muitas vezes é expoente de dor, carências emocionais, afetivas e memórias traumáticas. Falar de pai chega a ser desafiador.

Como olhar para essa relação de um lugar maduro e ressignificado? Não existe outra forma a não ser se olhando. Falar de pai é falar da gente. Eu não existiria se não fosse esse pai, Paulo. Minha mãe não seria mãe se não fosse o meu pai.

O pai biológico tem o seu lugar, e aqui falo como consteladora. Falar do meu pai sem revisitar sofrimentos só é possível graças a muita terapia. Compreender a mulher que sou hoje é herança da força que vem dele e da superação de muitas dessas questões.

A carga genética, o espermatozoide e o óvulo, nesse cruzamento mágico, faz com que sejamos quem somos. Reconhecer nosso pai em nós e dar-lhe um lugar no coração para além dos seus equívocos apazigua a alma.

Nós, assim como o universo, dispomos de energias duais: a masculina e a feminina. Fora de nós, os primeiros referenciais materializados são painho e mainha. Sigo inteira com todas as minhas partes em reintegração. Não é fácil, mas é alcançável.

O Sol representa o masculino, o pai. Deus, o Grande Espírito, o Pai Céu, o Criador de Tudo que É, meu pai divino, contempla a paternidade da minha essência.

Ana Paula Nobre é jornalista, repórter do Portal Soteropreta, terapeuta integrativa, consteladora xamânica, artista e trabalha unindo comunicação, espiritualidade e arte em seus atendimentos.

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