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Nós e a cultura do “FAZ SOZINHO”! – Por Luciane Reis
Nos idos de 2004 quando professor Jaime Sodré usou esse termo durante atividade do Pompa na Biko, demos risada. Achamos engraçada a forma como ele definiu a relação do estado com os realizadores negros. Professor Jaime trouxe exemplos de como nossas atividades muitas vezes até reconhecida como importante pelo país /estado, não recebia recursos que de fato fizesse essas acontecerem com tranquilidade.
Durante meu período na Casa Civil, um dos conselhos que recebi do professor Sergio São Bernardo, além do de não me deslumbrar com Brasília e pensar minha vida de maneira centrada, foi “FAÇA TODOS OS CURSOS QUE A PRESIDÊNCIA TE OFERECER”. Conselho que me permitiu entender a máquina pública e, acima de tudo as diversas, formas de repasse financeiro. Um dos meus professores de orçamento público, costumava dizer que “ só não pode aquilo não justificado, sabendo explicar a União, pode tudo”. Quem transita pelas gestões pública e política, sabe como isso é verdade.
Então, por que quando os realizadores são negros, os projetos e editais são engessados, complicados, de baixo valor, e nós ainda continuamos tratando esses como aliados? Atuei em vários editais enquanto servidora federal, exatamente por entender esses entraves. Lembro que uma das nossas tarefas, sob a orientação da secretária Severine Macedo, e do Ministro Gilberto Carvalho, era pensar como esses editais deveriam ser menos burocráticos e atender a realizadores de carne e osso. Ou seja, pessoas que tinham projetos de impactos em áreas vulneráveis, por não dominarem o processo destes editais, acabavam não sendo contempladas.
Confesso que o Plano Juventude Viva foi uma grande escola no refazer o quebra cabeça excludente do país. Com boa vontade, compromisso, dialogo (via Fompi) e ajuda dos articuladores que, oriundos do Enjune, contribuíram e muito para quebrarmos um pouco a cultura do “negro faz muita coisa com pouco dinheiro ou apoio institucional”. Confesso que, diferente de todas as pessoas não negras que chegaram com redes de contato, salários realmente em condição de sobreviver naquela cidade (que amo e sinto falta hoje em dia), eu tive que usar o velho FAZ SOZINHO e os conselhos rápidos de Sergio São Bernardo. Era todo o Networking profissional que tive naquela cidade.
O faz sozinho para a população negra não é um recurso que usamos somente na hora de realizar eventos e atividades afins. Usamos, principalmente, em nosso caminhar enquanto indivíduo. Recentemente, a BBC fez uma matéria falando como a nossa falta de QUEM INDICA nos estagna e adoece.
Temos menos acesso a redes de contato ou a um capital social influente para subir ou ter uma carreira, o que acaba por nos fazer questionar a nossa capacidade profissional. Temos dificuldade de dialogar e trabalhar com a diversidade, ainda que tenhamos militado, escrito e façamos discurso falando da importância de trabalhar com o diferente. Em uma sociedade como a nossa, isso é fundamental. Atuar com diversidade de ideias, universos e conhecimento é importante não somente para indicação a outros postos de comando, como afirma Emerson Rocha, doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB), mas principalmente para que possamos vencer essa concepção de que nossos projetos ou capital profissional é bom, mas 500 reais resolve.
Se em pleno seculo 21 ainda temos o “faz sozinho e o eu apoio se quiser” , de maneira tão latente, é porque não conseguimos avançar para dentro da disputa ideológica, de que as politicas de igualdade feita com seriedade, desenvolve o país. O impacto disso, é o fortalecimento do olhar sobre nós como amadores, incapazes de lidar com recursos financeiros e que qualquer valor em cima da hora resolve. O fato do nosso capita social ser escasso, impede que possamos ser bem-sucedido nas nossas carreiras e capacidade realizadora.
A falta de diálogo sobre dinheiro e seus aspectos de desenvolvimento, acaba por nos deixando sem uma rede social de recursos para acessar, logo distante das boas oportunidades, como por exemplo ocupar um cargo de gerência ainda que tenhamos competência e reconhecimento para isso. Nos condicionaram ao Faz Sozinho e pior, sem nenhum constrangimento de acharem que podem nos colocar para se degladiar por 20, 30 mil reais, quando outros segmentos tem acesso a valores acima da casa dos milhões em simples almoços, jantares ou telefonemas a exemplo dos colarinhos e corpos brancos da Lava Jato ou gestores e seus parentes e amigos dentro dos órgãos públicos.
Luciane Reis – É comunicóloga, idealizadora do Merc’Afro e pesquisadora de afro empreendedorismo, etno desenvolvimento e negócios inclusivos. Confira aqui outros artigos de Luciane Reis.
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Matriarcas da Pedra de Xangô escolhem os 15 novos guardiões
A secretária de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais da Bahia, Ângela Guimarães, recebeu, nesta quarta-feira (28), o título de Guardiã do Parque Pedra de Xangô. A honraria foi concedida pelas Matriarcas da Pedra de Xangô, grupo de sacerdotisas responsáveis pela salvaguarda e proteção do rochedo considerado sagrado pelos religiosos de matriz africana em Salvador.
“É uma emoção e grande responsabilidade ser agraciada com o título. Assumo o compromisso pessoal e institucional com o enfrentamento do racismo religioso e a manutenção dos nossos territórios sagrados”, destacou a titular da Sepromi.
A entrega da condecoração integrou a programação da Cerimônia da Fogueira de Xangô, ritual que reverencia as divindades do fogo e fortalece a rede em defesa desse patrimônio cultural afro-brasileiro, localizado na Avenida Assis Valente, no bairro de Cajazeiras.
De acordo com as Matriarcas da Pedra de Xangô, os 15 novos guardiões foram escolhidos em função dos “relevantes serviços à cidade, a cultura, à população negra, ao Povo de Axé, às comunidades tradicionais e, em especial, ao processo de implantação, manutenção e gestão do equipamento de apoio do Parque Pedra de Xangô”.
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Associação celebra Dia Internacional do Reggae no Pelô
A Associação Cultural Aspiral do Reggae vai celebrar o Dia Internacional do Reggae – 1º de julho. A festa será na Casa Cultural Reggae (Rua do Passo) e contará com um time de artistas, djs e banda de reggae pra animar o público. Esta é a 7ª edição dessa celebração e terá shows do veterano Kamaphew Tawa & banda Aspiral do Reggae, Dj Maico Rasta, Fabiana Rasta, Jo Kallado ,Vivi Akwaba, Jadson Mc, Bruno Natty, Ras Matheus e Makonnen Tafari.
O Brasil é o segundo país do mundo que mais consome reggae, uma data definida pela jamaicana Andrea Davis, inspirada no discurso de Winnie Mandela em Kingston, Jamaica, em 1992.
“O Reggae tem sido uma grande influência nas raízes culturais e musicais da Jamaica e do mundo, misturando instrumentos africanos e europeus como violão, bongô e banjo, e criando as bases para o gênero. Ele inspirou milhares a seguirem a filosofia da cultura Rastafari, dando origem a figuras icônicas como Bob Marley, Jimmy Cliff, Peter Tosh, Toots & The Maytals, entre outros”, pontua a dirigente da Associação, Jussara Santana.
O ritmo também foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial pela Unesco, em 2018, por conta do seu papel sociopolítico e cultural. A celebração será neste sábado (01/7), aberta ao público, das 18h às 23h30.
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Vai rolar segunda edição da festa #Ghettos no Bombar
Nesta sexta (30), o Bombar no bairro do Rio Vermelho em Salvador vai receber a segunda edição da festa Ghettos edição Salcity X Guiné- Bissau, idealizada pelo produtor, Uran Rrodrigues.
“Os sons de dois dos principais centros urbanos do mundo se encontrarão na mesma pista em celebração as nossas potencialidades numa mistura musical altamente dançante e identitária” conta Uran.
Diretamente de Mirandá, gueto do Guiné, o músico, cantor e Dj Eco de Gumbé apresentará suas performances no melhor do afrobeat, dialogando com o set do dj, produtor musical e co-criador do Coletivo Trapfunk&Alivio, Allexuz95 do Nordeste de Amaralina. Ele promete beats certeiros com trap,funk e pagodão baiano.
Do Pelourinho, Akani retorna à festa trazendo o seu groove e os remixes mais potentes da cena, abrindo as portas para sonzeira de Dricca Bispo com as autorais, como “Saudade” e os covers de Sem Pause e Inevitável.
Dricca Bispo, dançarina de Castelo Branco, já conhecida das pistas, apresentará sua nova versão como cantora. Vai rolar ainda feat especial com Felupz, que se prepara para lançar Razga com beat produzido por Doizá.
Couvert artístico R$ 25.