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“Merê”, filme de Urânia Munzanzu, une religiosas da Bahia e Benin em torno da tradição Jeje Mahi!

Tudo que se falava da nação eram as vozes masculinas que bradavam, falando sobre nosso jeito, nosso pensamento – digo nós as mulheres – nossa habilidade com a feitiçaria…e nós – as mulheres – caladas. Silenciadas numa máxima travestida de “tradição” (…). Depois a cisma: me estranhava muito TODAS as casas de Jeje Mahi da Bahia serem rompidas, brigadas há mais de meio século e, na verdade, ninguém sabe direito o motivo da briga…
Assim surgiu o projeto “A Ponte – diálogos entre dois mundos”, idealizado pela jornalista soteropreta, cineasta, poeta e militante do movimento negro desde os anos 80, Urânia Munzanzu. Mestranda em Antropologia na Universidade Federal da Bahia, Urânia é Dabosi no Terreiro do Bogum, de tradição Jeje, localizado no Engenho Velho da Federação, em Salvador. Sua ideia era a de pensar e realizar conexões entre sujeitos na diáspora e o continente africano – especificamente África do oeste.
O projeto surgiu daí e chegou no filme “Merê”, que significa “Mulher”. Na tela, Urânia queria trazer à vida e à mostra, a re-união destes povos, reaproximar as poucas casas existentes na Bahia entre si e reconectá-las com a origem de tudo: na África, no Benin. E foi assim. “A primeira coisa que fiz foi, em 2007, convidar Gayaku Regina para um evento no Bogum. Ela foi e eu quase morri de emoção, embora ninguém soubesse ainda dos meus planos. Depois fui convencer minha Naandojhi a ir a Cachoeira e também dar um passo em direção a esta aproximação. E aí, no lançamento de um livro na UFRB, consegui reunir as três casas de Jeje Mahi pela primeira vez em mais de 50 anos”, conta Urânia.
“…não tinha como não fazer um filme, documentar esse reencontro para que a “casa grande” não venha depois querer nos dizer como foi que NÓS fizemos nossa história….” – Urânia
O começo de tudo…
Neste filme, meu objetivo é ouvir narrativas silenciadas por séculos, me proponho a colocar meu trabalho a disposição dessas mulheres a tantos séculos nesta trincheira de resistência doando suas vidas para que nossa história não morra.
E neste começo, a aproximação se deu naturalmente. Urânia nos conta que durante os preparativos da viagem, o vai e vem entre as casas era inevitável. “Pessoas do Bogum passaram a ir ao Huntologi, o povo do Huntologi a ir ao Bogum. A primeira vez que essas casas se reuniram para questões religiosas, foi na cerimônia da Fogueira de Gbadé em 2012, véspera da viagem para o Benin. O rompimento ficou no passado, desataram-se os nós e ataram-se os laços que na verdade sempre existiram”, diz a cineasta.
A ideia era ousada, grande, enorme. Como as ideias das mulheres pretas são. E, claro, a desconfiança e o descrédito vieram na mesma medida.
“Infelizmente, quando se é uma mulher negra empreendendo, ousando fazer um projeto transatlântico, ninguém lhe dá dinheiro pra fazer, é um jogo muito duro. Você escuta não de todos os lados, até de louca me chamaram…. e pra seguir adiante, os amigos, a sensibilidade de alguns gestores foi indispensável, sem elas eu não teria conseguido”, reconhece Urânia.
“Merê” foi filmado em Cachoeira (BA) e no Benin. Lá, as gravações se deram em Ouidah, Savalú, Boicon, Abomey, Dassá Zoumé e Cotonou. E urânia levou um time ancestral para lá: foram com ela a Naandojhi do Bogum – Mãe Índia, Gayaku Regina Rocha, o avogã Márcio Rocha, o Ogã Ipê – Walter Santana, a Mameto Zulmira e a Ekedjhi Dizorilda Santana. Todxs estiveram em comunidades de Vodun lideradas por mulheres e em cidades que tem relação com a Bahia como Dassá Zoumé onde, em agosto, tem uma peregrinação até a pedreira de Nanã, no mesmo dia da festa da Boa Morte em Cachoeira.
O silêncio é quebrado…
E se o silêncio reinava entre as Casas, as religiosas e seus rituais, “Merê” o quebrou da forma mais enraizada que seria possível. A Ponte Bahia-África que Urânia vislumbrou lá atrás, unindo os Terreiros, as mais velhas e suas memórias, tornou-se a base de um projeto que, recentemente, ganhou mais um impulso para seguir outros destinos. No início deste mês, “Merê” foi agraciado pelo Selo Internacional Zózimo Bulbul. O SELO é uma indicação para a participação dos filmes em Festivais Internacionais. Com ele, a obra é potencializada e os caminhos ganham outras possibilidades.
“Merê” recebeu o Selo junto aos filmes “Tia Ciata – Filme” (Mariana Campos e Raquel Beatriz), “Doces Sonhos” (Macário Silva e Arthur Pereira) e “Lapa 24 Horas” (Paulinho Sacramento), “Deus” (Vinícius Silva). Para Urânia Munzanzu, concorrer já foi uma grande conquista, pela importância de Zózimo pro cinema negro.
“O Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul por si só já é um símbolo de luta muito importante para quem tá neste front nosso de fazer cinema com, de, para gente Preta…e a figura de Zózimo é referência para qualquer cineasta negra no Brasil”, enfatizou.
E é mesmo, o filme passou pelo crivo de diretoras e diretores africanos. E “Merê” veio quebrar muitos silêncios. “Eu não quero falar SOBRE nada, me proponho no filme e na vida a falar ao lado. Neste filme meu objetivo é ouvir narrativas silenciadas por séculos, me proponho a colocar meu trabalho à disposição dessas mulheres que, há tantos séculos nesta trincheira de resistência, doaram e doam suas vidas para que nossa história não morra”, diz Urânia.
Depois do selo, o filme já foi selecionado para três festivais fora do Brasil.
Agradecimentos
Urânia cita Adélia Sampaio – a primeira cineasta negra a dirigir um longa-metragem de ficção no Brasil: “Cinema é a arte do ajuntamento”. Até porque “Merê” juntou muita gente, muita vontade, empenho e qualidade. “Tenho um agradecimento especial a fazer a João Guerra, que colocou todo o staff da Griot Filmes para cuidar deste material, para que o resultado estivesse à altura do tema, das imagens destas senhoras. À produtora Juê Olivia, educadora, pesquisadora e mestra em Infância e Cultura Afrobrasileira”, cita Urânia. Mas esta lista, com certeza é muito maior.
Existe um perigo de que o Jeje Mahi desapareça como aconteceu com o Jeje Mina, o Jeje Daomé, o Savalú…alguns destes tem uma tentativa de resgate por parte de algumas casas, mas é um trabalho bem difícil, porque as mais velhas já se foram…. Essa conexão e distanciamento de África sempre são questões recorrentes para qualquer sujeito que vive na diáspora. Voltar à África sempre foi um grande sonho, mas eu não queria “voltar” sozinha queria levar os meus comigo, fazer a travessia juntos…e assim foi e assim será…
E o apelo é necessário. O filme ainda não está completo e para tanto, é necessário o retorno da equipe à Africa para colher mais depoimentos. “Há uma expectativa de que o governo do estado tenha compromisso com este projeto, que está falando de uma tradição sob risco de extinção. Que nunca foi retratada pelos de dentro, nunca se falou desta tradição Jeje Mahi. As mais velhas estão morrendo e é importante que este longa seja exibido antes delas partirem, pra elas poderem se ver e ver suas narrativas publicizadas”, apela Urânia.
Fotos Léo Azevedo
Então, vamos ver um pouco deste trabalho!? Com vocês, “Merê”, um presente de Urânia Munzanzu para nossa ancestralidade.
Audiovisual
“Filme Marginal” abre inscrições para produções audiovisuais independentes de todo o Brasil

Estão abertas até o dia 18 de maio as inscrições para a 5ª edição da Mostra do Filme Marginal: Cinema de Luta, Arte de Libertação. O evento, que acontece em setembro no Rio de Janeiro, busca valorizar o cinema independente brasileiro com obras que abordem temas sociais, políticos e culturais marginalizados. Podem se inscrever realizadores de curtas, médias e longas-metragens de qualquer parte do país — inclusive Salvador — com filmes finalizados a partir de 2022. A participação é gratuita.
Voltada para a difusão de um cinema autoral, popular e crítico, a Mostra se define como um espaço de reflexão, estímulo e autoformação. A proposta é ampliar a visibilidade de produções que provoquem debates sobre injustiças e desigualdades, com temas como racismo, gênero, sexualidade, direitos das mulheres, meio ambiente, luta por moradia e questões indígenas.
As inscrições devem ser feitas exclusivamente online, por meio do formulário disponível no site do festival: mostradofilmemarginal.com. A curadoria da mostra avaliará os filmes inscritos e a lista de selecionados será divulgada na primeira semana de agosto. A exibição dos filmes ocorrerá entre os dias 12 e 21 de setembro de 2025, no Rio de Janeiro.
Criada em 2017, a Mostra do Filme Marginal é organizada pela Corpo Fechado Produtora e conta, nesta edição, com apoio do Pró-Carioca Audiovisual 2024 – Edital de Apoio à Produção de Mostras e Festivais de Audiovisual, via Lei Paulo Gustavo e Rio Filme. O evento cresceu significativamente nos últimos anos: da primeira edição com 36 filmes inscritos, saltou para mais de 400 em 2024.
“Estamos abertos à multiplicidade de vozes e experiências do cinema independente contemporâneo brasileiro”, afirma o idealizador da mostra, Uilton Oliveira.
SERVIÇO
📽️ 5ª Mostra do Filme Marginal: Cinema de Luta, Arte de Libertação
📅 Inscrições gratuitas: de 1º a 18 de maio de 2025
📍 A mostra acontece em setembro, no Rio de Janeiro
🔗 Formulário de inscrição: clique aqui
🌐 Site: mostradofilmemarginal.com
📱 Instagram: @mostradofilmemarginal
Audiovisual
Documentário sobre autoras negras baianas tem exibição na Sala Walter da Silveira

Com lançamento marcado para o dia 08 de maio, às 19h, na Sala Walter da Silveira, o documentário “Cartografia de Nós” propõe um mergulho na produção literária contemporânea liderada por mulheres autoras negras baianas. A sessão será gratuita e aberta ao público, com direito a bate-papo após a exibição. O filme também estará disponível a partir de 06 de maio no canal YouTube Passos Entre Linhas.
Idealizado pela escritora e educadora Lorena Ribeiro, fundadora do projeto Passos Entre Linhas, o curta de aproximadamente 40 minutos convida o público a refletir sobre os impactos dos territórios geográficos e sociais na construção das narrativas literárias negras. A direção é de Sabrina Andrade, com roteiro, apresentação e produção de Lorena Ribeiro, e trilha sonora assinada por Hosanna Almeida e Marcelo Santana.
O documentário reúne entrevistas com mulheres negras autoras de diferentes regiões da Bahia e faixas etárias: Táina Sena (Itamaraju), Camila Carmo (Amargosa/Ilha de Itaparica), Paula Anias (Sapeaçu), Maria Dolores Rodriguez (Feira de Santana) e a própria Lorena Ribeiro (Salvador/Lauro de Freitas). A cidade de Cachoeira, com sua forte tradição histórico-cultural, também é destacada como espaço de efervescência literária.
“Nosso estado tem muita gente produzindo coisas riquíssimas, mas ainda pouco conhecidas e, por isso, pouco valorizadas. Criar ao lado dessas mulheres é a confirmação de que juntas realizamos coisas gigantes”, afirma Lorena.
Além dos depoimentos, o filme incorpora intervenções artísticas, como o bordado da poeta Tainah Cerqueira, que ampliam o olhar sobre a literatura como expressão sensível de identidade e resistência. O objetivo da obra é também estimular a leitura de autoras negras contemporâneas da Bahia e contribuir para a preservação e valorização dessas vozes.
“Cartografia de Nós” é uma realização do projeto Passos Entre Linhas em parceria com a Aiocá Produções. O projeto foi contemplado pelo edital Paulo Gustavo Bahia, com apoio do Governo do Estado da Bahia, por meio da Secretaria de Cultura, e do Ministério da Cultura, Governo Federal, através da Lei Paulo Gustavo.
SERVIÇO
O quê: Exibição do documentário Cartografia de Nós
Quando: 08 de maio de 2025 (quinta-feira), às 19h
Onde: Sala Walter da Silveira – R. Gen. Labatut, 27 – Barris, Salvador – BA
Quanto: Gratuito
Duração: 40 min
Classificação: Livre
Extras: Bate-papo com realizadoras após a sessão
Acompanhe o projeto:
🌐 Site oficial
📷 Instagram: @passosentrelinhas
📺 YouTube: Passos Entre Linhas
📘 Facebook: Passos Entre Linhas
🐦 Twitter: @passoselinhas
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Animação ‘Jimú e o Universo Ancestral’ estreia na Sala Walter da Silveira

A animação infantil “Jimú e o Universo Ancestral” será lançada oficialmente nos dias 5 e 8 de maio em duas exibições presenciais na Bahia. O curta-metragem, inspirado no livro “Jimú – Memória das Águas”, da escritora e artista visual Aislane Nobre, leva às telas uma jornada poética de espiritualidade e ancestralidade vivida por uma criança na Ilha de Itaparica.
A primeira exibição acontece no dia 5 de maio, às 15h30, na Biblioteca Juracy Magalhães Jr, em Itaparica. A segunda, no dia 8 de maio, será realizada na Sala Walter da Silveira, na Biblioteca dos Barris, em Salvador. Após as sessões presenciais, o filme ficará disponível online por 24 horas no canal do projeto no YouTube (youtube.com/@universojimu).
A obra traz recursos de acessibilidade como libras, audiodescrição e legenda em inglês, reafirmando seu compromisso com a inclusão.
Uma jornada mágica e ancestral
A história acompanha Jimú, uma criança curiosa e gulosa, que ao lado da irmã Nira, embarca em uma jornada mágica ao receber um chamado ancestral ligado ao culto aos Egunguns – divindades que representam os espíritos dos antepassados. A aventura atravessa questões profundas como espiritualidade, vida e morte, e o amadurecimento infantil, tudo ambientado na Ilha de Itaparica.
Com personagens como Giã (pai e líder espiritual), Yaiá (mãe) e Dona Mariinha (uma católica que simboliza o respeito entre religiões), Jimú descobre que sua fome é muito mais do que um desejo físico – é um chamado para a conexão com suas raízes.
“Essa é uma obra que nasce do afeto, da memória e da força de uma herança espiritual viva”, afirma Aislane Nobre, autora do livro que inspira o filme. “A transformação para o audiovisual foi feita com muito cuidado, respeitando as raízes dessa história, mas também se abrindo às novas formas de contá-la.”
Sem narração, o curta aposta em uma narrativa guiada pela musicalidade e sonoridade afro-brasileira. A direção de som é assinada por Herison Pedro, do Ofò Laboratório Sonoro. Toda a trilha foi construída com base nos cânticos ancestrais do culto aos Egunguns.
A criação e direção musical são de Lucas Maciel e Tiago Farias, que também assinam os efeitos sonoros. A proposta é usar os sons como fios condutores de memória, emoção e espiritualidade, estabelecendo uma experiência sensorial profunda com o público.
Criação colaborativa com crianças
A produção do filme foi realizada pelo estúdio Mirabolantes Studios, liderado por Lucas Morassi, André Luis Silva e Andreia Silva. Como parte do processo criativo, o projeto promoveu uma oficina de ilustração com crianças, incorporando desenhos feitos por elas em alguns cenários do filme, como forma de reconhecer o protagonismo infantil e fortalecer o elo entre a obra e seu público.
Além disso, no dia 6 de maio, às 10h30, será realizada uma nova oficina de ilustração na Biblioteca Juracy Magalhães Jr, voltada para crianças e jovens.
Um tributo à ancestralidade
“Jimú e o Universo Ancestral” combina animação tradicional com motion graphics, propondo uma nova estética narrativa que homenageia as raízes africanas e a oralidade. “A sobreposição de técnicas e o cuidado com a composição visual são uma aposta estética e política. Jimú não apenas conta uma história, ela provoca uma escuta com o corpo inteiro”, destaca a equipe da Mirabolantes Studios.
Sobre a autora
Aislane Nobre, nascida em Itaparica, é escritora, artista visual e candomblecista. Doutoranda em Artes Visuais na UFBA, investiga temas como cor da pele, afetividade e ancestralidade na arte contemporânea. O livro “Jimú – Memória das Águas” foi lançado em novembro de 2024 com distribuição gratuita em escolas, terreiros e comunidades negras de Salvador, Itaparica, Paulo Afonso e Cachoeira. A publicação está à venda no site www.universojimu.com.br.

Aislane Nobre | Foto: Daniel Pita
SERVIÇO
O quê: Lançamento do curta-metragem de animação “Jimú e o Universo Ancestral”
Classificação indicativa: Livre
Formato: Animação infantil com acessibilidade (libras, audiodescrição e legenda em inglês)
Exibição em Itaparica
Data: 05 de maio (domingo)
Horário: 15h30
Local: Biblioteca Juracy Magalhães Jr – Itaparica
Oficina de Ilustração (Itaparica)
Data: 06 de maio (segunda-feira)
Horário: 10h30
Local: Biblioteca Juracy Magalhães Jr – Itaparica
Público-alvo: Crianças e jovens
Exibição em Salvador
Data: 08 de maio (quinta-feira)
Local: Sala Walter da Silveira – Biblioteca Pública dos Barris
Exibição online:
Após as exibições presenciais, o filme ficará disponível por 24 horas no YouTube:
youtube.com/@universojimu