Moda
Afro Fashion Day – Beleza negra e moda afro-brasileira no Porto de Salvador!

É comum ouvir, no mundo da moda, que a beleza negra não vende: seja em campanhas de produtos ou capas de revista. No passado, a “falta de poder aquisitivo” do público negro era a justificativa que tentava encobrir, de modo manco, o racismo institucionalizado.
Mas, em 2017, alguma desculpa ainda pode ser sustentada? Com a realização do Afro Fashion Day, certamente, nenhuma. Promovido pelo jornal Correio, o evento acontece neste sábado (18), das 9h às 20h, no Porto Salvador Eventos (Comércio), trazendo os quatro elementos da natureza como mote central.
A iniciativa fortalece a moda do estado, mas vai além de uma ação voltada para o público da própria cena. Shows, bate-papos, palestras, praça de alimentação e uma loja colaborativa com moda e decoração garantem um sábado de imersão em criatividade. Para conferir a programação diversa e agitada, é preciso levar um quilo de alimento não-perecível. É bom ter atenção ao horário de chegada porque a entrada do público está sujeita à lotação do espaço.
O desfile deste ano, marcado para às 18h, tem direção artística assinada pela cantora Nara Couto, produção de moda por Fagner Bispo, e promete 100 looks numa passarela com modelos desfilando 41 marcas baianas, dentre elas, nomes consolidados como Goya Lopes, Carol Barreto, Ismael Soudam, Najara Black, Madá Negrif, Mônicas Anjos, Meninos Rei e Katuka Africanidades. Numa mistura de gerações, a moda baiana se caracteriza pela multiplicidade criativa, mas de qualidade e coerência produtiva. Com as redes sociais, muitos dessem nomes ganham a merecida projeção – inclusive, internacional -, mas ainda de pouco interesse da mídia nacional.
Parte das moças e rapazes que subirão na passarela saíram de seletivas em bairros periféricos da capital baiana: desse modo, o AFD sacode as expectativas de passarelas nacionais, onde a beleza branca e europeia ainda domina o vai e vem de todas as temporadas. Logo no hall de entrada do prédio, estará a exposição fotográfica Asas Urbanas, com editoriais de moda protagonizados por modelos negros, assinados por Paula Magalhães e Leo Amaral. A dupla fotografou em três espaços da capital baiana – Comércio, Rio Vermelho e Campo Grande – em perspectivas que escapem dos tradicionais pontos turísticos. Um viva aos novos modos de se compreender o que é belo.

Foto: Andrea Magnoni
A jornalista Maíra Azevedo, conhecida como a influenciadora Tia Má, será a mestre de cerimônias do evento. Para ela, a força social também é construída pela composição do visual. “Um evento como Afro Fashion Day, que celebra as produções dos criadores e a beleza negra, faz com que as pessoas vejam o corpo negro como aquele que também cria moda e participa dos debates de tendências. O continente africano, por exemplo, sempre foi utilizado como inspiração de marcas estrangeiras, mas nunca erámos nós, a população negra, que ocupava espaço nas grades grifes”, aponta a jornalista.

Goya Lopes Divulgação
Representatividade e moda
Além das imagens, roupas e acessórios, o evento promove ao longo do dia, em horários diversificados, o Papo AFD, no segundo piso do Porto Salvador Eventos.
A estilista Goya Lopes, por exemplo, além de integrar o hall de marcas do desfile, participa, às 13h20, ao lado de Paulo Rogério (Vale Dendê) e Renato Carneiro (Katuka Africanidades), da mesa Moda, Afroempreendedorismo e Economia Criativa. Para ela, o evento comunica a existência de novas possibilidades e aponta o que está acontecendo no mundo da moda afro-brasileira.
“O Afro Fashion Day dá oportunidades de vivência e ajuda a promover, não só os estilistas, mas também toda cadeia produtiva da moda, envolvendo profissionais de áreas afins. Sem dúvidas cumpre o papel de catalisador contemporâneo das questões negra na moda”, aponta a baiana que se inspirou no fogo para trabalhar com as cores laranja, amarelo e tons terrosos em estampas afro-geométricas. Ela leva para a passarela peças femininas (capa em tecido de seda e liocel, short estruturado, além de salopete) e masculinas (calça sarja e camisa).

Madalena Bispo – Negrif
A estilista Mada Negrif também marca presença no desfile e participa, às 10h50, da palestra Fashionismo com Tradição e Identidade. Ela destaca que o AFD está alinhado ao debate social contemporâneo, quebrando o paradigma de eventos como São Paulo Fashion Week, Rio Moda Rio e Dragão Fashion, onde não se veem criadores nem modelos negros com frequência. “Um evento com 100 modelos negros, com alguns deles saídos de seletivas em bairros periféricos de Salvador, está em diálogo com a realidade”. Madá reforça a entrada de outro núcleo produtor da população que não tem acesso a esse tipo de evento.

Expo Asas Urbanas
Nesse sentido, o designer baiano Ismael Soudam acredita que nada menos do que inclusão é a maior relevância. “Durante anos, nós da área de moda, que somos afrodescendentes, sempre vimos uma moda sem cor. De algum modo, o evento é pioneiro sim e nada melhor do que essa realização aqui no estado.
Pouco se vê o negro em destaque, como se não fosse um potencial público consumidor. Essa iniciativa pressiona por mudanças”. No desfile, as peças sempre bem executadas de Soudam serão fluidas, no tom de cinza. Ele aposta na pegada anos 1980, investindo no laminado, prateado e brilhos.
Afro Fashion Day 2017
Quando: 18 de novembro
a partir das 9h – desfile marcado para às 18h
Onde: Porto Salvador Eventos (Comércio)
Quanto: um quilo de alimento não-perecível
Luis Fernando Lisboa é colaborador do Soteropreta, jornalista e pesquisador de moda. Mestre em Cultura e Sociedade (UFBA). Foi repórter de cultura e colunista de moda do jornal A TARDE.
Formação
Último dia para inscrições no programa que conecta moda baiana ao mercado francês

Hoje (17/04) é o último dia para se inscrever no Programa Création Brasil de Aceleração de Negócios da Moda, iniciativa que busca impulsionar a internacionalização de empreendedores baianos do setor. A ação é realizada pelo hub de inovação Vale do Dendê, em parceria com a Embaixada da França no Brasil, e tem como embaixadora a estilista baiana Isa Silva, fundadora da marca Isaac Silva.
Com foco em negócios dos segmentos de vestuário, acessórios, têxtil, criação e confecção, o programa oferece mentorias especializadas e premiará a empresa finalista com um curso de francês na Aliança Francesa e uma viagem à França, com passagens, hospedagem e alimentação custeadas.

Isa Silva | Foto: Divulgação
“Ser Embaixadora da Aceleração é uma honra que recebo com muito carinho e alegria. Poder compartilhar meus conhecimentos com empreendedores do meu Estado é uma forma linda de retribuir o amor que tenho por Salvador”, afirmou Isa Silva.
Conhecida pelo lema “Acredite no seu axé”, ela também irá ministrar a masterclass “Da Bahia para o mundo: criatividade e diversidade como negócio”.
Segundo Paulo Rogério Nunes, cofundador da Vale do Dendê, a 18ª edição do programa se diferencia pela proposta de internacionalização.
“Vamos selecionar empresas com potencial de expansão global. Esta parceria com a Embaixada da França vai nos ajudar a abrir portas importantes para o mercado de moda da Bahia alcançar o cenário internacional”, destacou.
Para participar, é necessário ter CNPJ ativo como Pessoa Jurídica ou MEI, com CNAE principal relacionado à moda. A seleção contará com uma curadoria que irá pré-selecionar 20 perfis com base nos documentos e portfólio apresentados. Os escolhidos passarão por uma rodada de pitch de negócios, e 10 empreendedores serão selecionados para as capacitações.
O ciclo formativo inclui treinamentos jurídicos voltados à internacionalização, planejamento financeiro, acesso a linhas de financiamento e programas de apoio, além de mentorias sobre moda sustentável, economia circular, marketing e branding global.
O edital e o formulário de inscrição estão disponíveis no site www.valedodende.org.
Moda
Escola Àbámodá abre inscrições gratuitas para cursos na área de moda

Pessoas interessadas em aprender ou aprimorar os conhecimentos sobre modelagem, corte e costura, estamparia, manualidades, biojoias e joalheria básica, têm a até o dia 18 de abril para se inscrever gratuitamente nos cursos oferecidos pela Àbámodá, escola livre de moda, arte e cultura da Bahia. São mais de 100 vagas oferecidas para formações gratuitas nas áreas citadas. As inscrições devem ser realizadas através do formulário ou na sede da Àbámodá, na Rua João Vieira Lopes, n° 02, centro de Cachoeira, das 09h às 11:30h.
Podem participar do processo seletivo, pessoas de todos os gêneros, a partir de 16 anos, de qualquer cidade da Bahia. O projeto também contempla mães adolescentes, a partir de 14 anos, desde que estejam matriculadas e possuam participação ativa na escola. As aulas, que serão presenciais, acontecem na sede da Àbámodá e no Quilombo Engenho da Ponte e se inciam no dia 15 de maio. O resultado da seleção será divulgado dia 30 de abril.
“Iniciantes terão a oportunidade de acessar novos conhecimentos e instrumentos. E aqueles que já têm algum contato com as áreas poderão aprimorar os saberes, que vão da concepção à produção final dos produtos, incluindo todas as fases e processos”, destaca Luísa Mahin, fundadora e diretora executiva da Àbámodá.
A Àbámodá é uma escola pautada na ancestralidade, no corpo – território, raízes, identidades, culturas e memórias. Atuando nas áreas de vestuário, joalheria, biojoias, estamparia, crochê, tricô e outras manualidades, alinhando toda essa imersão ao princípio da economia criativa, às demandas de mercado a fim de assegurar renda e impacto social efetivo para o público beneficiário.
Confira o cronograma:
- Modelagem, corte e Costura (básico)- Quinta-feira, 14h às 18h, maio à novembro;
- Modelagem, Corte e Costura (intermediário) – Quarta-feira, 14h às 18h, maio à novembro;
- Modelagem, corte e Costura (avançado)- Terça-feira, 14h às 18h, maio à novembro;
- Estamparia (técnicas de tingimento em tecidos)- Quinta e Sexta-feira, 14h30 às 17h30, maio à agosto;
- Manualidades (crochê, macramê, bordado, upcycling)- Terça e Quarta-feira, 14h30 às 17h30, maio à setembro;
- Biojoias- Quinta e Sexta-feira, 14h30 às 17h30, maio à outubro;
- Joalheria Básica (com metais diversos), Quinta e Sexta-feira, 14h30 às 17h30, maio à novembro.
Moda
Afro Fashion Day 2024 seleciona modelos plus size e LGBTQIA+

O Afro Fashion Day (AFD), projeto pioneiro na moda negra no país, este ano celebra uma década de história. Para isso, a iniciativa vem tradicionalmente realizando seletivas em bairros de Salvador, buscando democratizar o acesso ao mundo da moda a talentos e modelos não profissionais. Nesta edição, duas seleções do tipo foram feitas durante o mês de setembro: uma na Barroquinha e outra em Cajazeiras, um dos maiores conjuntos habitacionais da América Latina.
Mais de 230 pessoas participaram das seletivas do AFD 2024, sendo que 30 foram pré-selecionados para a fase final, realizada nesta terça-feira (24), no Teatro Gregório de Mattos. Dez nomes foram escolhidos, são eles: Ana Paola Simas, 14 anos, da cidade de Lauro de Freitas; Dandara Neri, 17 anos, de Paripe; Genê Góes, 33 anos, de Simões filho; Luan Sales, 22 anos, do Nordeste de Amaralina; Rafael Menezes, 25 anos, da Boca do Rio; Kaline, 13 anos, do Engenho Velho de Brotas; Laura Guimarães, 19 anos, de Fazenda Grande 4; Luane Gonçalves, 23 anos, do município de Itaparica; Maurício Rosário, 31 anos, do IAPI; e Iasmin Lima, 19 anos, do Arraial do Retiro.
Todos os selecionados irão se juntar a outros modelos profissionais para o desfile (previsto para às 19h) que acontecerá em 1º de novembro, na Praça do Campo Grande. O evento gratuito irá abrir o mês em que se celebra a Consciência Negra, com o tema “Música – Resgatando raízes e elevando vozes”. A programação inicia às 11h com a Feira da Sé, oficinas e atrações musicais.
A diversidade dos selecionados
A diversidade deu o tom em mais uma final da seletiva de bairros do AFD. Para participar, a pessoa negra precisava ter idade a partir de 13 anos. Não tinha critério de idade máxima ou algum padrão de beleza durante a seleção. Desde sua primeira edição, o Afro Fashion Day tem sido um importante ponto de partida para grandes talentos baianos que desejam carreira de modelo, mas ainda esbarram nas dificuldades de acesso ao mercado.
O mais votado pelos jurados foi Luan Sales, de 22 anos. O modelo é do bairro de Nordeste de Amaralina e falou sobre a emoção de ser selecionado para desfilar na passarela mais negra do país: “Eu sou uma pessoa preta, LGBTQIA+, não-binária, de periferia. Então, esse resultado me faz acreditar. Eu fico muito feliz, e com isso tudo eu só tenho a agradecer”.
Genê Góes, de 33 anos, saiu de Simões Filho para participar pela terceira vez das seletivas de bairro. No ano passado, ela chegou a passar para a final, porém precisou interromper a busca do sonho de desfilar no AFD por conta do tratamento contra o câncer de mama. “A minha terapia acabou me fazendo um pouquinho mal e eu fiquei internada com dor no coração porque eu tinha ficado lá no hospital. Mas esse ano eu tentei de novo e agora estou aqui muito grata. E com a responsabilidade de representar a minha categoria no plus size e as mulheres que lutam por outro câncer de mama também”, disse.
Maurício Rosário, 31 anos, é do bairro do IAPI. Depois de dois anos tentando se inscrever, ele, que é uma pessoa surda, não conteve a emoção ao ser selecionado para a desfilar na passarela mais negra do país: “Estou muito emocionado. Eu sou um jovem negro, surdo e me sinto capaz de ir para qualquer lugar. Independentemente, qualquer pessoa é capaz de realizar seus objetivos. Me sinto representando a minha comunidade surda”.
O júri foi formado pela DJ, modelo e dançarina Lunna Montty, pelos maquiadores Dino Neto e Roma Aragão, pelos estilistas Fagner Bispo, Najara Black e Filipe Dias e pelo diretor de teatro Fernando Guerreiro, além do diretor artístico do projeto Gil Alves, da editora chefe do CORREIO, Linda Bezerra, e da gerente Comercial e Marketing do CORREIO, Luciana Gomes.
Mais informações no perfil do Instagram @afrofashionday (https://www.instagram.com/