Entrevistas
#FalaPreta – Carla Akotirene fala de seu livro na coleção “Feminismos Plurais”, de Djamila Ribeiro!
Carla Akotirene. Mulher negra, assistente social, pesquisadora da Epistemologia Feminista Negra, Doutoranda em Estudos de Gênero, Mulheres e Feminismo (UFBA) e coordenadora do projeto de Extensão da UFBA Opará Saberes, uma iniciativa que visa auxiliar estudantes negros e negras nos cursos de nível superior em Universidades estaduais e federais. E ela tem mais uma conquista pra acrescentar: autora do livro “O que é Interseccionalidade?”, da Coleção Feminismos Plurais, coordenada pela Mestra em Filosofia Política e feminista negra Djamila Ribeiro. Como foi isso? Carla Akotirene nos conta:
Portal Soteropreta – Carla, como surgiu o convite para a Coleção e o que você sentiu com ele?
Carla Akotirene – Ele veio ano passado, quando Djamila Ribeiro -ao proferir a Conferência de abertura da segunda edição da Opará Saberes – ratificou, publicamente, a necessidade do volume “O que é interseccionalidade”, deixando-me tomada pelo medo de escrever; aumentando o trabalho de si, coordenadora, que precisou lidar, muitas vezes, com as minhas autosabotagens. Sem dúvida, o racismo é o maior inviabilizador da escrita de uma mulher negra, conforme já explicou a mestiza Gloria Anzáldua. Para nós, mulheres negras do terceiro mundo, o medo de escrever pode fazer o “sangue coagular na caneta”.
Fomos condicionadas pela insignificância racial imposta às nossas epistemes africanas e, por mais que irmãs negras estejam ali, dizendo o contrário, temos dificuldade de apostar na Orientação do Sul global. Pra você ter ideia, à época, minhas alunas da UFBA fizeram rituais de incentivo espiritual, deixaram recados nos quadros e registraram depoimentos dizendo: Eu já li “o que é lugar de fala” da Djamila Ribeiro, agora quero ler Akotirene. “Professora, comprei “O que é Encarceramento em Massa”, da Juliana Borges, ela até cita a senhora”. “Professora, a Joice Berth lançou o que é empoderamento, escreva para nós, vamos nos sentir empoderadas coletivamente.”
Portal Soteropreta – Seu tema nesta Coleção é “Interseccionalidade”. O que mais você pauta neste debate, e qual a urgência de tratá-los desta forma?
Carla Akotirene – A interseccionalidade é uma ferramenta metodológica pensada pelas feministas negras da diáspora africana, a fim de manifestar que, politicamente, a luta dos negros não escapa do caráter masculinista e do regime nacional heterossexista, bem como as pautas feministas só são possíveis graças ao racismo. Propriamente dito o conceito de interseccionalidade foi nomeado por Kimberlé Crenshaw, jurista estadunidense, no âmbito das leis antidiscriminação. Ela evidenciou o colonialismo, produtor do acidente estrutural sofrido por humanidades colonizadas, tendo em vista que o racismo, capitalismo e cis-heteropatriarcado se cruzam inseparadamente, repetidas vezes, atingindo frequentemente as mulheres negras posicionadas nas avenidas identitárias.
A interseccionalidade proporciona a articulação entre teoria, metodologia e prática aos acidentados durante esta colisão, amparando-os intelectualmente na própria avenida do acidente, ou seja, na encruzilhada discursiva. Abordagens eurocêntricas por vezes chegam à contramão para darem socorro epistemológico, ignorando o contexto do acidente e causando, por conseqüência, mais fluxos no cruzamento de raça, nação, gênero e classe. É o modismo acadêmico da interseccionalidade. Estabeleço sete críticas ao conceito, dialogando com Angela Davis, Ochy Curiel, Gilza Marques, Jasbir Puar, Sueli Carneiro, Patrícia Hill Collins e Houria Bouteldja.
Portal Soteropreta – Como única preta nordestina nesta Coleção, o que significa pra você esta representatividade e como isso tangência sua temática?
Carla Akotirene – Vou responder usando a própria interseccionalidade. Assim como as negras estadunidenses sofrem o racismo epistêmico das branquitudes do Norte Global mas publicam assertivamente as teorias do ponto de vistas feministas negros acerca de nós, suas irmãs de barcos noutra América, as mulheres negras do nordestes são contempladas pela publicação da intelectualidade negra independentemente da fronteira. No entanto, sabemos que a publicação e autoridade discursiva das regiões sul e sudeste do Brasil marcam a diferenciação epistêmica entre quem pensa e quem faz o trabalho pesado. Então, Djamila Ribeiro, sem dúvidas, é uma brilhante feminista negra ao reconhecer que, mesmo sendo todas nós, independentemente de escolaridade, grandes intelectuais negras, somos atravessadas pelas encruzilhadas regionais de saber-poder.
Portal Soteropreta – Você está à frente do Opará Saberes, uma iniciativa que pauta a presença feminina negra no campo acadêmico. Quais tem sido os frutos deste trabalho?
Carla Akotirene – A Opará Saberes descoloniza a teoria e rompe com a dependência epistemológica ocidental. Elaboramos nossas teses e dissertações, pleiteamos projetos acadêmicos sem as correntes da Europa. Como a academia é uma espaço de manutenção da colonialidade,desde a primeira edição a Opará nunca recebemos um centavo da universidade, também não acessamos quaisquer recursos governamentais formalmente instituídos. Particularmente guardo recursos espirituais para esta finalidade política, aliás, não restrita a mim. As formadoras são inúmeras, cito aqui Zelinda Barros, Denise Carrascosa e Dayse Sacramento que desde a primeira edição tem feito a proposta acontecer como pancada de água no epistemicídio. Este ano 70% das candidaturas aprovadas no mestrado e doutorado, nos estudos feministas da Universidade Federal da Bahia fizeram formação na Opará Saberes. Digo mais: As novas mestrandas e doutorandas foram assistir minhas aulas do Bacharelado em Gênero e Diversidade do início ao fim. Somos Extraordinárias e cheias de segredos para minar a Casa Grande.
Portal Soteropreta – Carla Akotirene e os Feminismos Plurais: que resultado podemos apreender deste encontro?
Carla Akotirene – Odé acertou, através do Orí de Djamila. Não teremos mais fome epistemológica. Estamos publicando, e assim como as yabás conseguem ser lindas e aguerridas, nós conseguimos evitar essencialismos, porque a noção identitária de ser de casa ou da rua, já explicada por Sueli Carneiro e Jurema Werneck, cabe à cosmogonia eurocêntrica, cuja visão é ocidental e apressada em levantar hipóteses fáceis sobre nós. Temos outros sentidos epistêmicos para dar conta. A rainha Osum trabalha fora de casa e manda bem na cozinha sem hierarquias, afinal, ela é ialodê.
A Coleção Feminismos Plurais aborda os feminismos, tendo como pilar principal mulheres negras e indígenas e homens negros como sujeitos políticos. Acesse aqui!
Entrevistas
Série Nossas Pretas Protagonistas estreia em novembro
No cenário em constante evolução que enfrentamos, a necessidade de unir palavras e ações para causar um impacto torna-se cada vez mais urgente. Com frequência, há um descompasso entre o discurso e a prática, onde muitos proclamam valores de igualdade e justiça, mas suas ações não refletem esses ideais.
No entanto, para mudar essa realidade, encontramos inspiração em nossos ancestrais, especialmente nas mulheres negras, que enfrentaram e ainda enfrentam desafios inimagináveis, deixando legados duradouros.
Reconhecendo a importância de contar as histórias dessas mulheres, o projeto “Nossas Pretas – Protagonistas” do Portal Soteropreta emerge neste mês de novembro para dar visibilidade a mulheres baianas que têm feito a diferença em diversas áreas, que vão desde cultura e política até economia, educação e saúde.
Coordenado pela publicitária Luciane Reis e pela administradora paraibana Alexandra Camilo, o projeto se destina a um público que se interessa por temas relacionados à diversidade e igualdade de gênero.
A ação promocional se materializa por meio de uma série de matérias jornalísticas que serão publicadas no Portal, principal veículo de cultura negra em Salvador. Essas matérias se dedicarão a contar a trajetória e o trabalho de mulheres negras baianas que se destacaram ao longo de 2023 em suas respectivas áreas de atuação.
Luciane Reis, coordenadora do projeto, destaca a importância de revisitar a maneira como as construções históricas ocorreram. Muitas vezes, a narrativa histórica moldada a partir de perspectivas eurocêntricas, chegam a nossa realidade frequentemente desprovidas de supervisão negra, resultando em uma história tendenciosa e incompleta.
Revisitar e reescrever nossa história, trazendo para o centro do processo as mulheres negras do nosso dia a dia, é uma justa inclusão de vozes negras na criação e revisão destas narrativas históricas, pois não se conta historias de protagonismo negro sem as matrizes geradoras do mundo.
‘Ao contar histórias que não se restringem a figuras históricas famosas, o projeto valoriza a caminhada e história de pessoas comuns que também são inestimáveis para a realidade negra do pais. A criação de narrativas que celebram a beleza da vida cotidiana, a luta diária e as conquistas modestas feminina é uma maneira poderosa de inspirar e conectar as pessoas”, diz Luciane.
Ao longo do mês de novembro, o público do Portal Soteropreta, juntamente com o público do Mercafro, encontrará nestas histórias lições de empatia, solidariedade e humanidade que moldam um futuro mais justo e igualitário.
Para Alexandra Camilo, também coordenadora do projeto, este é o momento de reunir esforços e causar um impacto positivo. “Ampliar a voz das mulheres negras exige uma harmonização entre o discurso e a prática, e aprender com os ensinamentos de nossos ancestrais. Desta forma, contar as histórias de mulheres negras e de pessoas comuns, é uma maneira de revisitar e reescrever essas narrativas de forma inclusiva e autêntica”, diz.
Para ambas, é preciso ampliar a voz daquelas que muitas vezes são silenciados pelo patriarcado, seja branco ou negro, para construir um novo ponto de vista que elimina limites impostos às nossas narrativas. Com o projeto “Nossas Pretas – Protagonistas” é preciso que essas vozes sejam compartilhadas, só assim estaremos contribuindo para a construção de histórias mais belas e significativas.
Alexandra Camilo é Advogada, Administradora de empresas e atua no mercado de Compliance em todo o Brasil.
Luciane Reis, Publicitária, Design Instrucional e Mestra em Desenvolvimento e Gestão Ciags- UFBA. Pesquisadora da História Econômica Negra
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Lucas de Matos entrevista a jornalista e historiadora Mila Burns sobre livro ‘Dona Ivone Lara: Sorriso Negro’
O comunicador Lucas de Matos entrevista a jornalista e historiadora Mila Burns sobre ‘Dona Ivone Lara: Sorriso Negro’, livro lançado pela Editora Cobogó (2021). Nele, Mila faz uma análise sobre como a obra é referencial para o fortalecimento da luta antirracista no Brasil. O encontro acontece pelo Instagram no dia 13 de abril (quinta), data de nascimento da cantora, às 19h no Brasil e 18h em Nova York, onde a jornalista reside.
Temas como a carreira de Dona Ivone Lara, curiosidades sobre as músicas e o impacto do álbum na MPB serão conversados na live sobre o livro, que integra a série ‘O Livro do Disco’, considerado um divisor de águas pra sambista. Hits como ‘Sonho Meu’, ‘Alguém me Avisou’ e ‘Tendência’ fazem parte desse repertório que versa sobre identidade, amor, ancestralidade e cultura popular.
“É uma maneira de festejar o legado de Dona Ivone Lara, que é eterno”, comenta o idealizador do projeto Lucas de Matos Entrevista, no qual já foram entrevistadas personalidades como a atriz Elisa Lucinda e o cantor Davi Moraes. “Receber Mila Burns, biógrafa de Dona Ivone, e jornalista de grande proeminência, vai deixar o papo ainda mais especial. Esperamos vocês”, finaliza.
O quê: Live – Lucas de Matos entrevista Mila Burns
Quando: 13 de abril (quinta), às 19h
Onde: Instagram @_lucasdematos
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Olodum lança Podcast “Carnaval, Cultura e Negritude”
Uma realização do Olodum, o Podcast “Carnaval, Cultura e Negritude” será lançado em abril nas plataformas do youtube e spotify. A ação visa realizar um passeio por meio dos carnavais do Bloco Afro Olodum, com entrevistas com personalidades, sejam elas figurinistas, diretores, compositores e afins que fizeram e fazem parte dos mais diversos processos de construção desse universo,
Este programa semanal vai explorar o universo da festa momesca sob a perspectiva de um Bloco Afro, demonstrando a importância dos temas de carnaval como elemento de educação popular, de resgate de identidade, de recontação e popularização da história da África e das pessoas negras em diáspora.
Serão pautados: o contexto histórico da realização de cada carnaval e repercussão do tema, as composições, indumentárias e tudo o que permeia esse espaço de criação de subjetividades, nas dimensões palpáveis e simbólicas, realizando um paralelo com a contemporaneidade.
Entre os temas estão: 1987 – Do Egito à Bahia, 2011 – Tambores, Papiros e Twitter e Mãe, Mulher, Maria – Uma História das Mulheres.
Foram convidados nomes como Nelson Mendes, Tonho Matéria, Sandoval Melodia, Marcelo Gentil, Lia Santos, Adriana Rocha e Wanda Chase.