AfroEmpreendedorismo
#SoteroPerfil – Alaíde do Feijão, 70 anos de luta e resistência da mulher que alimenta nossa Cultura!

Foto Mila Cordeiro (A Tarde)
Nascida na Preguiça, bairro do Comércio, no dia 6 de outubro de 1948, Alaíde da Conceição, mais conhecida como Alaíde do Feijão – apelido que herdou de sua mãe, Das Neves do Feijão – é uma mulher conhecida internacionalmente pelo prato que, como ela mesma diz, “era feito pro negro ficar forte pra trabalhar no engenho”.
Alaíde é uma mulher simples, de poucas palavras, mas com um carisma que contagia quem chega perto dela. Com a vida dedicada ao trabalho, conta que desde os “13 ou 14 anos” já ajudava a mãe a fazer e vender o feijão em um tabuleiro na Praça Cayru. Sua mãe, Maria das Neves, ou Das Neves do Feijão, sustentava a família com o tabuleiro, vendendo o prato que se tornou alimentação básica do brasileiro.
Eram quatro irmãos biológicos e mais quatro que D. Das Neves adotou. Segundo Alaíde, “todo mundo trabalhou no tabuleiro. Era como se fosse uma empresa da família, como hoje é aqui [no restaurante do Pelourinho]. Trabalhou os quatro irmãos, os quatro que ela criava, afilhado, sobrinho… E daí foi tomando pulso…”.

Banco de Imagens
As dificuldades e a vida com poucos recursos levaram a menina Alaíde a trabalhar com sua mãe no tabuleiro para ajudar a sustentar a família, mas ela tinha um grande sonho: Estudar e se tornar professora. Ela conta que sua mãe também queria que ela estudasse, mas uma vida atribulada já aos 14 anos, indo para feira, para o mercado comprar ingredientes e cozinhando, a impediu de estudar e ela seguiu os passos da mãe.

Alaíde e Jaqueline – Reprodução Facebook
Nos idos da década de 1980, a matriarca Das Neves adoeceu e teve que se aposentar. Alaíde, então, herdou o tabuleiro da Praça Cayru na casa dos 30, e assumiu o papel de líder da família. Ela saía para trabalhar e deixava os filhos pequenos com a mãe e uma tia. Jaqueline, uma de suas filhas, conta que era uma vida muito sacrificada, pois a mãe perdia noites trabalhando, chegava em casa às 4h da manhã, ou até mesmo às 6h e ainda conseguia tempo para ficar com os filhos, cuidar de seus estudos e dos afazeres domésticos.
Foram mais de 30 anos trabalhando no bairro do Comércio, período em que Alaíde enfrentou alguns desafios, como o de ser mal vista, por ser mulher, negra e estar à noite no tabuleiro. Alguns homens confundiam com prostituição e faziam propostas indelicadas. Situação pela qual passou também Jaqueline, quando, anos mais tarde, assumiu o tabuleiro de sua mãe.
“Comigo mesmo aconteceu, de uns homens encostarem e acharem que poderiam ter uma brecha de qualquer coisa e eu mantinha minha postura. E por causa disso ela recebeu várias queixas aqui no restaurante. (risos) Eles diziam que eu ficava lá e que eu não era aberta, que eu não era carismática, mas não era por eu não ser carismática, era porque eu mantinha a postura, porque eu entendia as segundas intenções deles”, relata Jaqueline.
Mesmo tendo que enfrentar situações complicadas no trabalho, Alaíde também era uma pessoa doce, acolhedora e, até quem não tinha dinheiro para pagar o prato de feijão, não saía com fome. Ela conta que quando chegavam os “pivetes do Comércio”, os “boêmios da noite”, as “pessoas mais carentes”, ela os colocava para lavar panelas, lavar a louça e organizar o tabuleiro em troca do prato de feijão, “mas ninguém saía do meu tabuleiro de estômago
vazio”.
Mas Alaíde, embora vivesse para trabalhar, também era festeira e caía na folia sempre que podia. No carnaval, desfilava no Ilê Aiyê, no Olodum, no Comanches e no Bloco Alvorada. A história desses e de outros blocos afros do carnaval de Salvador está diretamente ligada a Alaíde, pois foi no tabuleiro da Praça Cayru, entre um prato de feijão e outro, que muitos deles nasceram. Muitas das reuniões entre os dirigentes aconteciam no tabuleiro do Comércio e quando ela foi para o Pelourinho eles a seguiram e passaram a se reunir no restaurante.
Entre esses dirigentes de blocos afros estão Vovô do Ilê, João Jorge e Geraldão, todos têm cadeira cativa no restaurante de Alaíde do Feijão e se tornaram amigos dela.

Foto Sepromi
Com a reforma do Pelourinho e com a ajuda dos clientes e amigos dos blocos afros, Alaíde entrega o tabuleiro para sua filha Jaqueline e se muda para o Centro Histórico para iniciar uma nova etapa de sua vida. O espaço destinado a ela era no mesmo prédio onde o restaurante está instalado hoje, mas no andar de baixo. Era uma portinha, mas que agregava a todos, afinal….todos os clientes do tabuleiro a
acompanharam.
Desde a reforma – em meados dos anos 90 – que o restaurante está no Pelourinho, este já é o terceiro endereço. Mas não tem sido fácil manter as portas abertas. A falta de investimento dos governantes em políticas públicas para revitalizar o Centro Histórico e desenvolver o turismo deixa incerto o futuro de um dos mais tradicionais e reconhecidos restaurantes de Salvador.
“O governo não está nem aí pro Pelourinho. Principalmente pra gente preta. Estava pensando nisso ontem. Como é que vai ficar a situação do Pelourinho depois dessas eleições? E o restaurante? Aumento de aluguel, de tudo… Não está tendo de onde tirar… É um legado de família, minha vó, minha mãe e acredito que uma de nós aqui continuará. Eu só espero que a gente continue mesmo, porque interromper uma história tão bonita…”, lamenta Jaqueline.

Banco de Imagens
Ainda assim, Alaíde resiste e diz que não fechará as portas enquanto for viva e faz questão de estar presente no restaurante todos os dias, de acompanhar de perto todas as etapas do cozimento do feijão. Desde ir às compras dos ingredientes até servir nas mesas dos clientes. Ela contraria todos os pedidos de suas filhas para que, devido à idade e a saúde debilitada, diminua o ritmo e as deixe à frente do restaurante.

Fotografias no restaurante
Jaqueline conta às gargalhadas que sua mãe fez uma cirurgia para retirada de pedras nos rins e que todos acharam que, após a cirurgia, ela iria pra casa descansar, mas ela mandou o genro buscá-la no hospital e levá-la para o restaurante.
Assim é Alaíde do Feijão, mulher, negra, guerreira e vencedora, “abençoada pelos seus Orixás”, como ela mesma diz – filha de Obaluaye que é. Uma vida de muito trabalho, de sofrimento, mas também de muitas alegrias e de conquistas. Do tabuleiro, herdado de sua mãe, ela sustentou toda sua família e construiu uma história que se tornou um legado não só para seus filhos e netos, mas também para a cultura da Bahia. Alaíde completa 70 anos de uma vida de exemplo de honestidade e perseverança.
“Não é porque é minha mãe, mas quituteira aqui na Bahia, com essa luta, de tabuleiro, com essa raiz e chegar até aqui… Eu tiro meu chapéu. Me representa mesmo. Eu me sinto muito feliz em ser filha dela, ela é uma mulher guerreira.” Orgulha-se Jaqueline.

Texto de Marcio Lima, estudante de Jornalismo da UNIME.
Edição de Jamile Menezes
AfroEmpreendedorismo
AJE Bahia realiza VI Vozes do Afroempreendedorismo
O Vozes do Afroempreendedorismo, realizado pela AJE Bahia, chega a sua 6ª edição no dia 12 de novembro, propondo diálogo, formação e conexão entre empreendedores negros, lideranças sociais, criadores e agentes de inovação da Bahia e do Brasil. Com o tema “Afroempreender para Transformar: Potências Negras, Futuros Possíveis”, o evento acontece no auditório do Sebrae Bahia, localizado no bairro Costa Azul, em Salvador.
O Vozes 2025 propõe uma reflexão sobre o afroempreendedorismo como força criadora de novas realidades. A proposta é destacar o papel de empreendedores e empreendedoras negras na transformação de mercados, na geração de impacto social e no fortalecimento de uma economia mais inclusiva e representativa.
“O Vozes nasceu como um espaço de visibilidade e fortalecimento do protagonismo negro nos negócios. Em 2025, queremos reafirmar que afroempreender é criar caminhos próprios e coletivos, transformando ideias em impacto real”, destaca Jaqueline Oliveira, presidente da AJE Bahia e fundadora do Vozes.
Entre os palestrantes confirmados está Douglas Vidal, fundador da conferência nacional Future in Black, referência no debate sobre inovação, tecnologia e diversidade.
A programação acontece das 17h às 21h30 e contará com palestra magna, painéis, talks, estandes da Feira Preta e o tradicional Prêmio Mário Nelson de Carvalho, que homenageia quatro personalidades negras — duas mulheres e dois homens — por suas contribuições pela transformação social, cultural e econômica do país.
Também haverá sorteios de brindes, oferecidos por marcas parceiras.
Eixos
Entre os eixos que nortearão os debates estão: inovação e tecnologia afrocentrada, finanças e sustentabilidade econômica, economia criativa e narrativas negras, liderança e impacto social, e políticas públicas e ecossistema de apoio ao afroempreendedorismo.
O evento é gratuito, e as inscrições podem ser realizadas pela plataforma Sympla.
Serviço:
Vozes do Afroempreendedorismo 2025
Data: 12 de novembro de 2025
Horário: 17h às 21h30
Local: Auditório do Sebrae Bahia – Costa Azul, Salvador
Ingressos: Gratuitos (disponíveis pelo Sympla)
Redes oficiais: @ajebahia
AfroEmpreendedorismo
Projeto Banjo Novo promove ‘Dia D do Empreendorismo Negro’
O Banjo Novo abre suas redes sociais nesta quinta (27), até às 17h, transformando-as em um palco virtual para empreendedores negros. A ação intitulada “Empreendedores Ocupem o Banjo” é um convite aberto para que esses profissionais compartilhem seus produtos e serviços, fortalecendo não apenas suas marcas individuais, mas também a teia de conexões dentro da comunidade negra.
Para participar da ação, os empreendedores devem publicar seus produtos nas redes sociais e marcar o perfil do projeto, @banjo_novo. Esta estratégia, além de ampliar o alcance de seus negócios, busca também promover o conceito de Black Money – um movimento que incentiva o consumo dentro da própria comunidade negra, gerando riqueza e oportunidades de maneira autossustentável.
O Projeto Banjo Novo surge não apenas como um evento musical, mas como um impulsionador cultural que reflete na valorização da cultura negra e no empoderamento do empreendedorismo afro-brasileiro. Em uma sociedade onde a representatividade e a inclusão são mais necessárias do que nunca, este projeto destaca-se por sua inovação e impacto social.
AfroEmpreendedorismo
Nell Araújo, gestor cultural do Teatroescola, participa de painel no Rio de Janeiro
A convite da Fundação Roberto Marinho, o gestor cultural Nell Araújo, do Teatroescola, vai participar da 2ª edição do Co.liga Fest, evento que promove reflexões sobre economia criativa, dia 19 de dezembro, no Museu de Arte do Rio (MAR).
Ao lado de Cláudia Leitão, secretária nacional de Economia Criativa do Governo Federal e do também palestrante Junior Perim, Nell integrará a mesa de discussão sobre os desafios e oportunidades no campo da economia criativa. O coordenador de projetos do Teatroescola, Mateus Estrela, também acompanhará o evento.
O Co.liga Fest reúne, nos dias 18 e 19 de dezembro de 2024, 50 entidades da rede co.ligada para oficinas, painéis de discussão e planejamento estratégico de atividades para o próximo ano.
Promovido pela Co.liga, escola livre de Tecnologia, Cultura e Economia Criativa de abrangência nacional, o encontro visa fortalecer o diálogo entre atores do setor e ampliar a inclusão produtiva das juventudes brasileiras.
A iniciativa é da Fundação Roberto Marinho e da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), com apoio do Museu de Arte do Rio e da Gol Linhas Aéreas.
Com uma programação diversa, o evento é uma oportunidade de convergência de ideias e práticas voltadas para o fomento da economia criativa no Brasil.
Durante o painel de discussão, que acontece na manhã do dia 19 de dezembro, os convidados abordarão temas fundamentais para o desenvolvimento do setor, incluindo a valorização de saberes, o papel da juventude e as possibilidades de inclusão social e produtiva através da cultura e da tecnologia.
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