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Gastronomia

#SoteroPerfil – Ana Célia Santos, há 40 anos trazendo sabores da África pra Bahia! – por Marcio Lima

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Ana Célia – (foto: Angeluci Figueiredo)

 

Dona do Zanzibar, um dos restaurantes mais populares de Salvador, Ana Célia Santos – 69 anos – é uma mulher empreendedora, de coragem e atitude. Não se deixou abater pela perda prematura dos pais, encarou a vida e escreveu uma história de grande sucesso.

Filha de Desidério Ricardo dos Santos e de Urânia Batista dos Santos, Ana Célia teve uma infância com alguns privilégios. Morava em uma boa casa no bairro do Garcia, construída por seu pai ao casar com sua mãe. Casamento, aliás, que não era bem visto pela família de Dona Urânia por ela ser filha única e ter uma condição de vida melhor que a de Seu Desidério.

Ana Célia

Este, era peixeiro e tinha um comportamento mais rude. Ana Célia conta que sua avó era quem menos queria o casamento, por achar que ele não era bom para sua filha. Mas, colocando o amor dos dois acima de tudo e contrariando a família da moça, ele construiu a casa e os dois foram morar juntos após o casamento. Dessa união nasceram oito filhos, sendo Ana Célia a terceira, depois de dois meninos. Com uma condição de vida confortável, gostava de brincar na rua com seus irmãos e que a vida no Garcia era muito boa.

”A gente tinha uma qualidade de vida boa, a gente era uma família que o que comia no almoço não comia no jantar. Nós morávamos no Garcia, onde surgiu o Zanzibar, onde nós nascemos, que é uma casa própria, da família.”

 

Mas a vida reservava para Ana Célia e sua família uma grande e triste mudança. Aos 13 anos, no dia 10 de fevereiro, ela perde o pai, vítima de tuberculose. No dia 1º de maio do mesmo ano, ainda de luto aos 14 anos, perde sua mãe por complicações no coração. Com a perda dos pais, os oito irmãos saem da casa do Garcia, “onde cada um tinha sua cama pra dormir, pra ir morar na Liberdade, na casa da minha tia [Gertrudes], que era solteira e não tinha filhos. Daí a vida da gente mudou”.

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Camarão no caju

Cozinheira do Hotel da Bahia, a tia Gertrudes assumiu os oito filhos de seu irmão, alugou a casa do Garcia e os levou para o bairro da Liberdade. Era uma casa simples, pequena e todos tiveram que se “ajeitar” como puderam. Foi aí que as mudanças aconteceram na vida de Ana Célia – por ser a mulher mais velha, ela passa a cuidar dos irmãos e vai ajudar sua tia na cozinha. Lá, ela aprende, entre outros pratos africanos, a fazer o Calulu, angolano à base de quiabo. Ana Célia conta que sua tia também costumava inventar uns pratos diferentes:

“Ela fazia uns pirões assim…. Mas a gente comia… (risos) A gente não gostava na hora, dizia “Deus me livre!”, não tinha uma aparência bonita, não. Mas a gente comia e depois gostava. (gargalhada) Por exemplo, na África, usa muito aquele pirão que é transparente que é a carimã, quando ela fazia aquela carimã pra gente, que ela botava carne em cima, a gente achava… “Ai meu Deus, minha mãe nunca fez isso”. (risos) Mas a gente comia, depois a gente gostava.” Lembra Ana Célia.

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Varanda

O que Ana Célia não imaginava é que o aprendizado na cozinha de Dona Gertrudes a levaria a fazer da culinária africana o seu caminho para o sucesso profissional. Quando adolescente, o sonho era entrar para a faculdade de Direito.

Ela diz que se os pais não tivessem morrido e se não tivesse que ter cuidado dos irmãos, talvez ela tivesse seguido seu sonho. Mas o destino a conduziu por outro caminho e ela se tornou uma das chefs de cozinha mais conhecidas de Salvador por seu cardápio peculiar, baseado na cultura gastronômica do continente africano.

Aos 27 anos, Ana Célia retorna para o Garcia, para a casa que seu pai havia construído. A essa altura, ela já trabalhava na Fundação Gregório de Matos, que foi seu primeiro emprego, e estava engajada no Movimento Negro através de Rosita Salgado Góes, chefa do departamento onde trabalhava. Ela conta que foi muito fácil abraçar a causa, pois sempre se assumiu como mulher negra e que foi uma das primeiras a trançar o cabelo e a usar torço na Bahia.

“Pergunta a Zebrinha como eu era jovem. Ele vai logo ditar. Eu não tinha o mínimo receio de ser quem eu sou. Sempre fui uma mulher preta e sempre assumi minha negritude”, orgulha-se Ana Célia.

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Após o engajamento no Movimento Negro, essa mulher cheia de atitude sente a necessidade de criar um espaço que fosse “só para preto”, uma espécie de “gueto” e, assim, em 1968, nasce o Zanzibar (o nome vem de um conjunto de ilhas ao largo da costa da Tanzânia, no leste africano). A partir da escolha do nome, ficou fácil saber que os pratos africanos aprendidos na cozinha de Tia Gertrudes seriam o diferencial desse novo empreendimento.

O senso de “comunidade”!

Mas as coisas não foram assim. A ideia do restaurante ser um ponto de encontro dos negros e negras não dá certo. “A comunidade negra não abraçou o Zanzibar como um lugar seu, feito por negros para negros”, diz. No entanto, ela não se deixou abalar e passou a trazer seus colegas das aulas de dança (afro) com Clyde Morgan para o restaurante após os ensaios e a coisa foi tomando corpo. Logo o Zanzibar começou a ficar conhecido e passou a ser frequentado por grandes artistas como Caetano, Gil e Waly Salomão. Ela conta que Caetano e Gil “iam muito ao Zanzibar e o bar fechava as portas e a gente ficava lá conversando até amanhecer o dia”

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Após 18 anos na velha casa da família, construída por Seu Desidério para casar com Dona Urânia, o Zanzibar fecha as portas. Ana Célia brinca quando perguntada sobre as razões do fechamento: “Herança, meu filho! A gente brigou pela casa.” (gargalhada) E essa brincadeira resume bem o real motivo, cada um dos seus irmãos tomou caminhos diferentes.

Com as portas do Zanzibar fechadas, mas já reconhecida como Chef, ela é convidada a assumir a cozinha da Casa do Benin, no Pelourinho, e esteve à frente do cardápio por 10 anos. Após a experiência, Ana Célia decide que já é hora de reabrir as portas do seu restaurante, com um novo endereço, na Ladeira da Misericórdia – mas esse não foi o último.

Ana Célia – Foto André Ligeiro

Depois da Misericórdia, ela passa por mais dois endereços até chegar ao atual, no Santo Antônio. “O único bar itinerante da Bahia é o Zanzibar (risos), já é o quinto lugar aqui.”, brinca.  Após vários convites feitos por Sarajane para que ela levasse o Zanzibar para o Santo Antônio, Ana Célia decide ir visitar o espaço para analisar a possibilidade.

“Sarajane sempre foi lá na Fundação Gregório de Matos e sempre me ofereceu: ‘Ah Ana, eu tenho uma varanda gourmet, vá lá’. E eu: ‘Vou. Não vou. Vou. Não vou’. Quando eu me aposentei, liguei pra ela e ela me ofereceu novamente. A gente fez uma negociação de eu fazer o conserto da casa e pagar as dívidas e eu ficaria com o espaço.”

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Foto: Evandro Veiga/CORREIO

E lá está…

Há três anos o Zanzibar está instalado na Rua Direita do Santo Antônio; há três anos Ana Célia voltou a trazer os sabores e temperos da África para os soteropolitanos e turistas que visitam seu restaurante. Uma mulher forte, que não conseguiu realizar o sonho de ser advogada, mas que levou pra vida os ensinamentos de sua tia, abraçando a culinária africana e fortalecendo a cultura negra na Bahia.

“Nós começamos como se fosse um gueto, uma brincadeira de todo mundo chegar… A pretensão, não era chegar onde chegou, mas chegou lindo”, fiinaliza.

ONDE FICA

Endereço: R. Direita de Santo Antônio, 60-B – Santo Antônio Além do Carmo, Salvador – BA, 40301-280

Horário:
Aberto ⋅ Fecha às 23h
Telefone: (71) 98226-3750

Texto de Marcio Lima, estudante de Jornalismo da UNIME.

Edição de Jamile Menezes

Gastronomia

Gal do Beco, Aloísio Menezes e Taian Paim encerram Culinária Musical de 2024

Jamile Menezes

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No dia 15 de dezembro (domingo), o Afrochefe Jorge Washington vai realizar a última edição do Culinária Musical do ano, na Casa do Benin (Pelourinho). A festa será a partir das 12h e terá a sambista Gal do Beco como atração principal. No Menu especial, ele vai preparar sua famosa feijoada com 37 tipos de carne e 25 tipos de temperos.

Sambista da velha guarda, consagrada nas rodas de samba da cidade, Gal fará seu show recheado de clássicos do samba e terá convidados especiais: o neto do saudoso Riachão, cantor, compositor, multi-instrumentista Taian Paim, idealizador do Suco de Bahia, evento que resgata e celebra a cultura da Bahia, já em sua 8ª edição. Além do cantor Aloísio Menezes, que se unirá a esta tarde, que será também de homenagens ao sambista Riachão, que faria aniversário no dia 14 deste mês.

Afrochefe Jorge Washington

Afrochefe Jorge Washington

No Cantinho da Empreendedor, o Afrochefe convida o artista visual, Dão Lobo, que vai levar suas pinturas contemporâneas para o público.

Também terá lançamentos de livros da escritora e doutoranda em Letras, Vânia Melo: “Sobre o breve vôo da borboleta e suas esquinas” (2018), da editora Organismo. E “Aroeira” (2021), editora Segundo Selo.

Comandando a cozinha, o Afrochefe Jorge Washington vai preparar sua muito pedida Feijoada, com 37 tipos de carne e 25 tipos de temperos. Além de Arrumadinho de Fumeiro, e a opção vegana, Feijão com Legumes. O público também terá à disposição, os tira-gostos casquinha de siri e moela com pão.

SERVIÇO:

O que: Culinária Musical com Gal do Beco, Aloísio Menezes e Taian Paim

Quando: 15 de dezembro (domingo), 12h às 17h
Quanto: entrada R$30, pratos R$80 (p/ 2 pessoas)
Onde: Casa do Benin (Pelourinho)

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Gastronomia

Evento “Cada Cabeça, Um Quilombo” anima RestôBar

Ana Paula Nobre

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Foto: Ana Paula Nobre

Há um ano e oito meses, o RestôBar Tato Massas Brasileiras leva ao bairro do Rio Vermelho, em Salvador, uma variedade de massas, sua especialidade, entretanto, o almoço do sábado (23) teve um cardápio especial. É que o espaço, para homenagear o mês dedicado à Consciência Negra, contemplou o paladar do público promovendo uma culinária ancestral por meio da feijoada preta durante o evento “Cada Cabeça, Um Quilombo”.

Desde às 13h, a animação ficou por conta do DJ DMorais na Área Tato, intercalando música e artes visuais por meio das peças em gesso da artesã Marlene Marques, aguçando ‘Os Sentidos Ancestrais’ para abrir a programação. “Criamos esse encontro com o intuito de prestigiar a consciência negra e essa primeira edição ocorreu na última semana de novembro para finalizar o mês com chave de ouro. Um evento preto com uma feijoada preta, que é uma comida africana, roda de conversa com os parceiros e samba. Espero que seja o primeiro de muitos”, declarou a dona e chef da RestôBar Tato Massas Brasileiras, Valesca Santos.

Foto: Ana Paula Nobre

Para Elisa Maria Souto, gerente e responsável pelo marketing e relações públicas da casa, “a ideia era que as pessoas se integrassem, por que aquilombar é isso, ter um lugar onde um monte de gente preta se sinta pertencente, se conecte e se comunique. Esse evento tem o poder de enriquecer a parte cultural e aquilombar espaços hegemônicos de Salvador”, destacou. “Já tenho uma relação com a equipe da Tato há muito tempo. Estou feliz e agradecida por ter a oportunidade de expor meu trabalho aqui”, comemorou a artesã Marlene Marques.

A Roda de Conversa “Pagodão não é só baixaria” recebeu Vittor Adél convidando a cantora Maya, a partir das 15h, na Área Tato, para bater um papo com os presentes sobre pontos de vista acerca do que vem a ser a palavra “baixaria” e de que forma as letras impactam a musicalidade e o pagode baiano. Direto de Brasília, a sanitarista Petrusca Barros participou do diálogo, enfatizando que “a estética do pagodão é algo novo pra mim e sair desse lugar marginalizado é entender todo movimento que tem por trás da construção desse ritmo e dessa cultura. Gostei muito da proposta”.

Foto: Ana Paula Nobre

O samba foi capitaneado pelo Grupo Soberania e Samba Retrô na Área Mov, colocando todo mundo pra dançar. O estilo é celebrado como uma herança musical negra, então nada mais potente do que incluir um dos ritmos mais brasileiros na grade de atracões da festa. Algumas pessoas estavam no local pela primeira vez, a exemplo de Carla Penalva, pedagoga e professora, que considerou ‘’importante resgatar a ancestralidade e valorizar a cultura africana, pra ocupar o espaço que eles merecem”.

Texto: Ana Paula Nobre

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Gastronomia

RestôBar promove evento “Cada Cabeça, Um Quilombo”

Ana Paula Nobre

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RestôBar Tato Massas Brasileiras
Foto: Elisa Maria Souto

O RestôBar Tato Massas Brasileiras será palco do evento “Cada Cabeça, Um Quilombo”, no próximo sábado (23), das 13h às 22h, na Rua Almirante Barroso, 123, no Rio Vermelho, em Salvador. Idealizado pela chef Valesca Santos, o encontro explora o resgate da liberdade gastronômica e artística, a ocupação dos espaços hegemônicos e promove a culinária ancestral.

O espaço une gastronomia, arte e resistência, convidando a todos para participar deste movimento cultural que visa fortalecer e fomentar a cultura preta. Com programação diversificada, terão apresentações musicais, rodas de conversa e a tradicional feijoada preta em um ambiente que celebra a identidade e a força da comunidade afrodescendente na capital baiana. Para animar o ambiente, o DJ DMorais apresenta um repertório vibrante.

Foto: Elisa Maria Souto

Sobre o RestôBar

A Tato Massas Brasileiras é especializada em massas, mas tem o compromisso de promover a culinária ancestral através desses movimentos. A Tato busca ser um ponto de encontro para expressões culturais e artísticas, criar um espaço de resistência e valorização da comunidade.

Programação

Abertura:

Os Sentidos Ancestrais

Chef Valesca Santos, ao lado da artesã Marlene Marques e do DJ DMorais abrem o evento com a feijoada preta, uma homenagem à culinária ancestral.

Horário: 13h

Local: Área Tato

Roda de Conversa:

Vittor Adél convida Maya

“Pagodão não é só baixaria”

Horário: 15h

Local: Área Tato

Show de Abertura:

Grupo Soberania

Horário: 16h

Local: Área Mov

Atração Principal:

Samba Retrô

Horário: 19h30

Local: Área Mov

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