Dança
Balé Folclórico: 30 anos de dança ancestral na Bahia e no mundo!

A trajetória do Balé Folclórico da Bahia (BFB) começou há exatos trinta anos. Mais precisamente no dia 7 de agosto de 1988, quando Ninho Reis e Walson Botelho, conhecido como Vavá, se uniram para dar vida a um grupo de dança que preservasse genuinamente a essência da cultura baiana. Quando ainda eram integrantes do extinto Viva Bahia, grupo folclórico baiano idealizado e dirigido pela etnomusicóloga Emília Biancardi, eles já pensavam na possibilidade de ter um grupo de dança profissional, no qual as pessoas pudessem realmente viver da sua própria arte.
Apesar da qualidade profissional e reconhecimento internacional, por ser um grupo amador o Viva Bahia só reunia seus integrantes quando realizava alguma viagem, quando tinha algum espetáculo para apresentar. “Eu sempre imaginei ter uma companhia de dança, um grupo de dança onde a gente pudesse viver da nossa arte, do nosso próprio trabalho, uma companhia estruturada profissionalmente, onde as pessoas pudessem ter aula de formação técnica, com ensaios diários”, diz Vavá Botelho, que atuou na companhia como diretor assistente, bailarino e músico.
Com o final do Viva Bahia, em 1985, Ninho Reis foi morar no Canadá e Vavá Botelho dedicou-se à sua graduação em Antropologia Cultural pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Ao terminar a faculdade, tentei trabalhar com alguns grupos folclóricos aqui de Salvador, mas não me adaptei, pois visavam muito mais o lado comercial”. Vavá apostava na pesquisa, na manutenção e divulgação dos valores culturais populares da Bahia.
Mas quando Ninho Reis voltou do Canadá e ambos se reencontraram, nasceu o Balé Folclórico da Bahia, que até hoje é a única companhia de dança folclórica profissional do país.
Coreógrafo, diretor geral e co-fundador do Balé Folclórico da Bahia, Vavá Botelho acredita que o Balé vai além do âmbito artístico-cultural, atingindo outras áreas, como social e econômica. Isso porque é uma companhia que gera empregos, e tem as suas portas abertas para as pessoas que querem de alguma maneira mostrar o seu trabalho. “Nós trabalhamos com a pesquisa, com a manutenção dos nossos maiores valores culturais. Aqui na Bahia, os valores culturais afro-brasileiros.
“Nós temos a consciência do nosso papel na sociedade e trabalhamos muito para que os bailarinos, os músicos, os integrantes do BFB como um todo, até mesmo a parte técnica, que eles tenham essa consciência de cidadania, de negritude, do papel deles como formadores de opinião, também como multiplicadores desses objetivos que fazem parte da Fundação Balé Folclórico da Bahia”, diz.
Abertura à comunidade e homenagens
Desde o início, há 30 anos, todas as atividades oferecidas pelo BFB são gratuitas. Um dos objetivos da Fundação é oferecer, principalmente às pessoas que vêm de comunidades de baixa renda. “Eu diria que 99% das pessoas que passaram pelo BFB, que estão aí formadas pela Companhia, vieram exatamente desse tipo de comunidade. Então, a gente procura dar pra essas pessoas um destino na vida, a gente procura dar pra elas a consciência da importância que elas tem na sociedade”.
Muitas das pessoas que foram formadas pelo BFB, não entraram no grupo através de audições, e sim através de cursos gratuitos oferecidos pela companhia. Os ensaios, que são abertos ao público, acontecem todas as segundas-feiras, a partir das 17h30, na própria sede do BFB, no Teatro Miguel Santana, no Pelourinho.
Em 2018, o BFB foi homenageado pelo Bando de Teatro Olodum, com o Festival A Cena Tá Preta, pela Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) e também pela Câmara de Vereadores. “Nós ficamos muito felizes, principalmente com essa homenagem que o Bando de Teatro Olodum nos prestou. Somos colegas, somos amigos, somos irmãos de luta, de batalha, de baianidade, de negritude. São 30 anos de luta em prol da cultura da Bahia e demonstrações como essas só nos mostram o quão válido foi essa luta”, comenta Vavá.
No currículo, mais de duzentas cidades e 24 países, incluindo Estados Unidos, Itália, Inglaterra, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Nova Zelândia, Austrália, Alemanha, França, Holanda, Suíça, México, Chile, Colômbia, Finlândia, Suécia e África do Sul, dentre outros.
Como celebrar na dificuldade?
A história do Balé, seu reconhecimento e legado ainda não foram suficientes para possibilitar a celebração destas três décadas de arte. A programação especial para os 30 anos – que a princípio foi idealizada para o mês de agosto, quando o Balé faz aniversário, devido à falta de patrocínio não foi possível de ser realizada. Transferiu-se para novembro, aproveitando o mês da Consciência Negra, e mais uma vez precisou ser cancelada “porque não fechamos nenhum patrocínio, absolutamente nada. São 30 anos de história, e a gente não pode fazer qualquer coisa apenas porque só conseguiu umas migalhas”, Vavá desabafa, e acrescenta que “não é pelo fato da gente trabalhar com a cultura baiana e por sermos brasileiros que nós não temos importância para o mundo. Temos sim, porque a gente leva cultura para o mundo, e isso é importante pra todas as pessoas em todos os lugares do planeta”.
O projeto de comemoração dos 30 anos envolve a montagem de três coreografias novas, que inclusive já estão prontas. Segundo Vavá, essa interação com o público durante os ensaios favorece os resultados: “a gente vai trocando experiência, as pessoas vão dando opiniões, os bailarinos vão se acostumando com a presença do público assistindo a um trabalho novo, então eles conseguem também desenvolver novas características dentro da sua interpretação, e isso é muito bom, essa troca é muito boa”.

Foto Wendell Wagner
Programação
Será uma apresentação única, no dia 17 de dezembro, às 19h30, na Cidade do Saber, em Camaçari, do espetáculo “Herança Sagrada”, com a participação especial de 30 jovens da comunidade quilombola Cordoaria. Jovens oriundos das oficinas de dança afro e percussão oferecidas gratuitamente pelo Balé. O espetáculo contará ainda com a participação especial do bloco afro Ilê Aiyê, e o evento será aberto ao público.
No dia 22 de dezembro, será a vez de Alagoinhas receber o Balé, às 20h, na Praça J.J.Seabra. Lá a companhia também vai realizar oficinas de dança e percussão gratuitas, e os jovens que participarem das oficinas criarão uma coreografia para ser apresentada antes do espetáculo.

Fto Carlucho Fotografias
Já no dia 18 de dezembro, o Balé realiza um ensaio geral exclusivo para patrocinadores e convidados, no Teatro Miguel Santana, onde serão apresentadas as novas coreografias criadas para os 30 anos. A atriz Gloria Pires, que vai dirigir um vídeo documentário sobre a trajetória da companhia, estará presente no ensaio e no espetáculo em Camaçari. A estreia do espetáculo comemorativo com as novas coreografias está prevista para os dias 12 e 14 de abril de 2019, para o público, e no dia 15 de abril, para as escolas, no TCA.
“Esse trabalho social como contrapartida, eu tenho dito sempre que não é por exigência de patrocinador ou somente pra atender leis de incentivo, é uma contrapartida que nós queremos dar independentemente de qualquer questão burocrática que esteja por trás disso. É um presente que a gente quer dar pra Salvador, principalmente pras comunidades carentes, as comunidades que nos inspiram, porque o nosso trabalho vem do povo, o nosso trabalho está muito vinculado às raízes. Então, a gente tem que dar um retorno pra essas comunidades, pra essas pessoas que nos inspiram sempre”.
Empoderamento Racial
Ainda muito cedo, Gabriel Guimarães precisou enfrentar o preconceito da família, para se tornar um bailarino profissional. Aos nove anos conheceu a dança através de um grupo que ficava próximo a sua casa. Temendo a reação de familiares, o jovem preferiu esconder a vocação artística: “Minha família não sabia que eu estava dançando, meu pai principalmente. Eu falava pra ele que eu jogava vôlei em um time juvenil na escola onde eu estudava. Para ele, eu jogava vôlei, quando na verdade eu saía pra dançar”. Essa foi a rotina de Gabriel, até que não pôde mais esconder a verdade.
Gabriel ingressou no Balé Júnior aos 14 anos e hoje, aos 20, se orgulha da trajetória. “O Balé Folclórico é tudo pra Bahia. Muitos baianos não conhecem a sua história, não conhecem a sua raiz. Chegam crianças e adolescentes que ainda não se reconhecem, nem se afirmaram como negros e o Balé proporciona esse autoconhecimento, traz essa afirmação, traz esse empoderamento racial. É uma pena que algumas pessoas não valorizam e outras nem mesmo sabem da existência da companhia”, lamenta.
Fotos: Andrew Eccles
Texto de Vanessa Diana – Estudante de Jornalismo da UNIME, participa do Programa Soteropreta de Jornalismo, em parceria com a Faculdade.
Edição: Jamile Menezes
Dança
Residência “Dembwa” abre inscrições para artistas negros e LGBTQIAPN+

Estão abertas, até o dia 25 de junho, as inscrições para a residência artística em dança “Dembwa – Mapear o Movimento: tempo, memória e ancestralidade”. A ação é voltada a jovens artistas pretos/as e LGBTQIAPN+ da Bahia e se propõe a ser um espaço de criação, escuta e partilha ancestral a partir do corpo, do gesto e da memória. As inscrições podem ser feitas através do formulário online ou pelo perfil @dembwa_ no Instagram.
A residência surge como desdobramento do espetáculo Dembwa, obra coreográfica de Marcos Ferreira e Ruan Wills, que entrelaça vivências de homens pretos, periféricos, afeminados e filhos de terreiro. A proposta é acolher artistas que reconhecem o corpo como território de memória e resistência — danças de casa, de festa, de esquina, de terreiro —, numa investigação artística sobre movimento, ancestralidade e presença.
Serão selecionades dez participantes, que receberão um cachê de R$ 1.000,00 e participarão de seis encontros presenciais, entre os dias 2 e 14 de julho, no Espaço Xisto Bahia, em Salvador. As atividades acontecerão nos dias 2, 4, 7, 9, 11 e 14, sempre das 8h às 12h. A residência se encerra com uma partilha pública dos processos desenvolvidos. A produção não arcará com custos de transporte, hospedagem ou alimentação para quem reside fora da capital.
“Dembwa” é uma provocação para artistas do corpo que queiram mergulhar em uma pesquisa sensível sobre movimento como expressão ancestral. “É uma construção coletiva que convida à escuta e à partilha, pensando o gesto como espelho de tempos e afetos que nos atravessam”, afirma o artista e coidealizador Marcos Ferreira.
Sobre os artistas
Marcos Ferreira é artista, dançarino, coreógrafo e educador. Integra a Jorge Silva Cia de Dança, dirige o Grupo Jeitus de Dança e o Balé Jovem de Cajazeiras, e é estudante de Licenciatura em Dança pela UFBA.
Ruan Wills é bailarino e coreógrafo com trajetória marcada por influências do axé, das danças populares e da performance negra. Atuou no Bando de Teatro Olodum, em videoclipes, musicais e projetos independentes. Define-se como “corpo em estado de encruzilhada”.
Foto: Alice Rodrigues
Dança
Som Por Elas promove oficinas gratuitas para mulheres no Espaço Xisto

A primeira edição da Imersão Som Por Elas acontece neste sábado, 07 de junho, a partir das 14h, no Espaço Xisto Bahia, em Salvador. A ação presencial e gratuita é voltada exclusivamente para mulheres que atuam no mercado da música e tem como foco o tema Produção. O acesso é livre e não requer inscrição prévia, mas está sujeito à lotação do espaço.
Realizada pela plataforma de educação e selo musical Som Por Elas, braço do projeto Pagode Por Elas, a imersão propõe uma tarde inteira de oficinas práticas com profissionais experientes da cena musical baiana. O evento também inclui um debate sobre a presença feminina nas áreas técnicas da música.
A Som Por Elas é uma frente de educação e selo musical da plataforma Pagode Por Elas, que atua desde 2019 valorizando e profissionalizando mulheres da música baiana, com foco no pagodão. Desde 2022, já realizou três ciclos formativos impactando mais de 50 mulheres e lançou mais de 20 projetos musicais femininos.Segundo Joyce Melo, diretora executiva da Som Por Elas, a proposta surge da urgência em criar espaços de formação voltados especificamente para as mulheres na cena musical baiana:
“As mulheres ainda estão à margem deste mercado, com menores remunerações e raras oportunidades de formação e trabalho. Estamos mais focadas em promover espaços também presenciais para as mulheres da música.”
A Imersão Som Por Elas será composta por três encontros com eixos temáticos distintos: Produção (07/06), Gestão (26/07) e Comunicação (30/08), sempre com oficinas, mesas de debate e momentos de conexão entre as participantes.
“Conhecimento, conexão e oportunidades são os pilares do projeto”, afirma Beatriz Almeida, diretora de projetos da iniciativa.
Sobre a Som Por Elas
A iniciativa foi contemplada pelos Editais da Política Nacional Aldir Blanc Bahia, com apoio do Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria de Cultura e Ministério da Cultura – Governo Federal.
Programação – 07 de junho (sábado)
Espaço Xisto Bahia
A partir das 14h
Acesso gratuito (sujeito à lotação)
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14h – Oficina de Produção de Palco, com Cintia Santos
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14h40 – Oficina de Técnica de Som de Eventos, com Jéssica Meireles (Matapi Records)
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15h20 – Oficina de Produção Técnica, com Ziati Comazi
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16h – Oficina de Produção de Bandas e Eventos, com Edmilia Barros
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16h40 – Debate: “Contratar Mulheres nas Áreas Técnicas – Por que é tão difícil?”, com todos os facilitadores
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17h40 – Coffee break
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18h30 – Encerramento
Foto: Lane Silva
Dança
‘Movimenta Cajazeiras’ traz artistas da dança para o Espaço Cultural Boca de Brasa

O Festival Movimenta Cajazeiras chega à sua segunda edição movimentando a cena cultural. Nesta sexta-feira, 31 de maio, a partir das 19h30, o palco do Espaço Cultural Boca de Brasa, em Cajazeiras, será tomado por coreografias criadas por artistas da própria comunidade e de bairros vizinhos. A programação integra a Mostra Movimenta e tem entrada gratuita.
A iniciativa, realizada pela Criad’ouro Produções, tem como proposta destacar a potência artística da dança em Cajazeiras, reunindo diferentes estilos, corpos e linguagens em uma noite de celebração e resistência. As dez obras coreográficas apresentadas – solos, duos, trios e grupos – foram selecionadas por meio de convocatória pública e refletem a diversidade estética da região.
Do samba ao hip hop, do popular ao contemporâneo, a mostra reúne trabalhos como “O Samba da Minha Terra”, do grupo As Sambadeiras de Cajazeiras; “Tudo que Meu Coração Grita”, da Cia Anonymus; “Cetro da Impiedade”, do Cetro Clóvis Soares; “Ritmos: Todos por uma Arte”, da Cia07E1; “Roxane’s”, de Tyara Studio; “Nas Ruas de Salvador”, da Cia Renato Torres; “O Beat que Contagia”, de Bruno Beirão; “Encontro”, duo de Adam Akuma e Little Liz; e “12 de novembro”, de Wellington Trindade.
O festival teve início com a Mostra MovimentaCena, que apresentou os espetáculos convidados “Nós por nós”, do coletivo suburbano UZARTE; “Sample: é que nem cortar quiabo”, solo do multiartista Brunno de Jesus; e “Malemolência”, do Grupo Jeitus de Dança. A programação foi pensada como um convite à reflexão sobre a relação do corpo com os territórios, em busca de fortalecer a identidade artística periférica.
“O bairro de Cajazeiras é uma cidade dentro de Salvador, com uma cena cultural e artística efervescente. Mas ainda enfrentamos falta de acesso e investimento, especialmente na dança. Foi a partir dessa carência que decidimos criar o festival”, explica Marcos Ferreira, idealizador da Criad’ouro Produções, ao lado dos artistas Leonardo Santos e Tyara Gomes.
O Festival Movimenta Cajazeiras – Ano II foi contemplado pelo edital Territórios Criativos II, com recursos da Fundação Gregório de Mattos, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), Prefeitura de Salvador, além da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), do Ministério da Cultura, Governo Federal.
Serviço
O quê: Festival Movimenta Cajazeiras – Mostra Movimenta
Quando: 31 de maio (sexta-feira), às 19h30
Onde: Espaço Cultural Boca de Brasa de Cajazeiras
Quanto: Gratuito
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