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Políticas

Entrevista: “temos que ter contundência, mas sem achar que estamos fazendo uma ruptura extrema”, afirma Moisés Rocha (PT), pré-candidato a prefeito de Salvador!

Jamile Menezes

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Fto; Jeferson Peixoto

O vereador de Salvador Moisés Rocha (PT) é o terceiro a ser entrevistado pelo portal Mídia 4P nesta série de entrevistas com pré-candidatos negros à Prefeitura de Salvador. Em seu terceiro mandato na Câmara Municipal, ele garante que não tentará a reeleição no Legislativo, a fim de disputar o Palácio Thomé de Souza, e faz reflexões sobre os bastidores da política na capital baiana.

Nesta conversa com o jornalista e editor-chefe do 4P, Yuri Silva, no Restaurante Alaíde do Feijão, Rocha tratou sobre as questões internas do PT, a dificuldade de bancar uma candidatura negra diante da burocracia partidária racista, as divisões criadas pela estrutura para criar intrigas no movimento negro e outros assuntos correlatos.

Ele ainda repercutiu, em suas respostas, as duas primeiras entrevistas publicadas pelo portal, feitas respectivamente com o presidente do bloco afro Ilê Aiyê Antônio Carlos dos Santos, o Vovô, quadro do PDT que teve o nome lançado para a disputa pelo Executivo municipal, e com a socióloga e militante do movimento de mulheres negras Vilma Reis (PT).

Mídia 4P – O senhor foi um dos primeiros políticos negros, se não o primeiro, a colocar pré-candidatura a prefeito, inclusive dizendo que não tentaria reeleição a vereador. Qual a intenção de Moisés Rocha quando faz esse movimento? Que debate o senhor quer provocar?

Moisés Rocha – Quero iniciar parabenizando o portal por essa postura de estimular o debate, a discussão, de ouvir as pré-candidaturas negras até agora postas. Acho isso muito importante para que as pessoas tenham conhecimento não somente das motivações, das propostas e projetos, mas do porquê, da motivação real, e das referências que nós temos em nossa cidade e que podem ocupar de fato esse espaço de poder exercendo maioria. Fiquei muito feliz de você ter sugerido que essa conversa acontecesse aqui no espaço de Alaíde do Feijão, porque esse espaço é de fato um quilombo de resistência. Nós já vimos aqui rotineiramente para conversar sobre assuntos do dia a dia, mas tomamos a iniciativa de formar a Bancada do Feijão, toda terça-feira nesse formato de resenha, como a gente chama, onde a gente começou a debater questões políticas, questões do movimento negro, regado a um pãozinho com com salame e queijo, com a moela de Alaíde. Esses debates acalorados já vão fazer seis anos desde o espaço antigo até esse novo espaço. Daqui saiu a sugestão, de fato, diante de provocações, para que a gente pudesse estar disponibilizando os nomes negros que têm potencial para disputar a Prefeitura de Salvador e estar realizando dentro do partido esse debate. O objetivo de fato é mostrar que nós temos sim pessoas capacitadas, competentes e capazes. Nosso objetivo é, sob hipótese alguma, ter projeto pessoal. O Partido dos Trabalhadores, por exemplo, tem projeto de cidade pronto e entregue desde a primeira candidatura de (Nelson) Pelegrino (a prefeito pelo PT). E não fomos nós que inventamos, foram nossos antepassados, nossos revoltosos lá de trás, que deixaram toda essa bagagem pronta para que a gente pudesse usar agora. Então nós fizemos essa provocação e colocamos o nosso nome. Reforçamos recentemente no Grupo de Trabalho Eleitoral, deixando explícito, como disse Mano Brown, que nós precisamos estar com olhar atento para a nossa fase.

Nosso partido precisa fazer, os partidos progressistas precisam fazer isso, dialogar mais, conversar mais. Existe uma população negra nessa cidade, e também de não negros, que sente a necessidade de que isso aconteça numa cidade majoritariamente negra.

Mídia 4P – Como o senhor avalia os movimentos dos outros pré-candidatos? Talvez a gente nunca tenha tido tantas pré-candidaturas negras como temos esse ano.

Moisés Rocha –  Acho extremamente positivo. Eu gosto de conversar com pessoas ao lado que testemunham o que aconteceu aqui. Alaíde está aqui ao lado e ela sabe que nosso objetivo não era de que houvesse um nome. A gente pode partir para uma convergência até, mas nosso objetivo era que vários nomes pudessem ser postos para poder mostrar que essa cidade tem quadros (negros) capazes e competentes. E existem nomes inclusive que estão fora das citações e que poderiam estar colocados. Poderíamos citar Elias Sampaio, Sérgio São Bernardo, Samuel Vida, Lívia Vaz, Margareth Menezes, como temos Lecy Brandão deputada, como tivemos Netinho de Paula candidato. Temos nomes competentes e é isso que essa cidade precisa entender. As pessoas dizem que acham importante, mas que a eleição não passa pela questão de ser branco ou de ser negro, que acha que tem ser competente. Isso acontece porque primeiro eles tentam nos dividir usando a teoria de Lynch, muito usada no escravismo. Para nos manter dominado, provocam que o negro brigue com o branco, que o negro brigue com a negra, que o jovem brigue com o mais velho, que o mais claro brigue com o mais escuro, que o partido A brigue com o partido B, e aí vai impedindo que a gente ocupe os espaços de poder. Quando eles falam que o importante é a competência, querem negar que sejamos competentes. O que é absurdo e anormal é uma cidade com 84% de população negra não conseguir eleger um prefeito negro. Edvaldo Brito foi prefeito de agosto de 1978 a abril de 1979, por 8 meses, e depois não conseguiu ser candidato, mesmo sendo um nome qualificado. Nós precisamos deixar explícitos que, primeiro, não vão nos dividir.

Precisamos fazer com que a convergência negra aconteça de fato. E segundo de que nós temos capacidade, competência, parar com esse discurso de que a cor não importa. Estranho é essa cidade não conseguir nos colocar para exercer maioria. Em 1937, Getúlio Vargas acabou com a Frente Negra Brasileira porque sabia que ali era um caminho para que a gente pudesse galgar espaços de poder. Sempre tem uma estrutura tentando fazer com que a gente não se reorganize para exercer maioria que somos.

Mídia 4P – Seu partido tem pelo menos três pré-candidatos, citando só os negros. Vilma Reis, Valmir Assunção e o senhor. Como é que vai ser internamente essa discussão? Vocês conseguem unidade para disputar com os brancos que historicamente são candidatos pelo PT?

Moisés Rocha – Eu citaria até outros nomes, como o do vereador Luiz Carlos Suíca, que poderia estar colocando seu nome. Tem a vereadora Marta Rodrigues, uma mulher que está no seu segundo mandato, que já foi presidente do partido e que poderia colocar o nome, e acho até que seria uma renovação na tendência política da qual ela faz parte. Temos quadros importantes. Quem está com o olhar mais atento sobre isso, entendendo que a gente precisa compreender a linguagem das ruas, que precisamos ouvir a base, é nosso grande líder, grande revolucionário José Sérgio Gabrielli, que fez uma carta aberta fantástica, chamando a atenção das instâncias superiores do partido para ter a perspicácia de perceber que é um movimento diferente e que é preciso não surfar nessa onda, mas ajudar essa onda a se tornar realidade. Nós não queremos dizer que temos um nome que é o melhor ou que é o pior. Nós temos um projeto que desde cedo, dentro das instâncias do partido, entregamos ao partido. O governador Rui Costa sabe, por exemplo, que dentro do Programa de Governo dele tem diversas propostas do movimento negro. Se não implementa, é porque não tem interesse, mas tem lá. Foi entregue. Nós vamos tentar, dentro desse processo de eleição direta do PT agora, pautar essa questão da candidatura própria e da candidatura negra para que o PT possa fazer diferente e fazer reparação.

Mídia 4P – O senhor e Valmir Assunção são muito próximos e os dois são pré-candidatos. Como vocês têm conversado sobre isso? Qual a estratégia que vocês estão pensando?

Moisés Rocha – Dentro do PT, somente dois vereadores tiveram três mandatos seguidos. Um é de uma enormidade fantástico, respeitado por todos independente de grupo político, que está fazendo revolução onde ele estiver, que é Zezéu Ribeiro. E eu, mesmo com toda dificuldade, críticas, momentos em que disseram que provavelmente estaria de fora. E eu sou o único que não sou de tendência nenhuma. Não sou ligado a nenhum deputado estadual, nenhum deputado federal, não fui candidato prioritário de nenhum deles na minha trajetória política. Já fui coordenador de campanha Estive em cinco campanhas do ex-deputado federal Luís Alberto, ajudando a construir, ajudando a fazer acontecer, mas nunca fui de tendência, até porque na época o grupamento dizia que não tinha tendência, tinha o Coletivo Dois de Julho. Então me sinto muito à vontade. Tenho respeito muito grande por Valmir. Já comemos de colher lambida em muitas marchas do MST. Ele sabe do meu compromisso, da minha relação com o segmento, minha participação no dia a dia de muito tempo. Por isso tenho carinho muito grande por Lucinha, uma simpatia pessoal, e inclusive ela é candidata no PED (processo de eleição direta do PT). Então, eu converso com Valmir com a mesma tranquilidade que dialogo contigo. Ele esteve recentemente no nosso gabinete conversando e eu falei “Valmir, acho que você é um excelente nome, mas acho que você deve demonstrar mais proximidade com a cidade, mais carinho pela cidade, demonstrar vontade de exercer liderança na cidade, porque você é um quadro fantástico”.

Eu não teria problema, em nome de uma convergência, de uma perspectiva de unidade, de retirar. Não tenho vaidade pessoal. Temos é que parar de falar que queremos fazer uma política diferente e nunca estarmos na cabeça. Na última eleição, ficou evidenciado que nem para vice nós servimos. Tínhamos a pré-candidatura de Gilmar, a pré-candidatura de Valmir, a de de Luís Alberto e depois a chapa foi composta por duas pessoas não negras.

Mídia 4P – Além do PT, tem outros pré-candidatos negros em outros partidos. Qual nome o senhor acha mais aglutinador?

Moisés Rocha – Se não deixarmos nos contaminar pela teoria de Lynch, qualquer um dos nomes poderá aglutinar. Quero lembrar que aqui no nosso país, em Porto Alegre já teve um prefeito negro, Alceu Colares, que depois foi governador negro do Rio Grande do Sul. O Espírito Santos já teve governador negro. Rio de Janeiro elegeu uma senadora negra que foi governadora depois, a Benedita da Silva. É muito, muito estanho Salvador não fazer o mesmo. É estranho o meu partido, o PT, não enxergar a referência nacional do senador negro Paulo Paim. O senador do Estatuto da Igualdade Racial, do Estatuto do Idoso, do Estatuto da Pessoa com Deficiência, o único senador do Sul, do Sudeste e do Centro-Oeste que se reelegeu nessa última batalha que enfrentamos. O único senador que tem campanha nacional. Os aposentados do Brasil se unem para defender a candidatura de Paulo Paim. Ele, para mim, seria o nome para a Presidência da República. Mas teimam em deixá-lo na invisibilidade. Aqui a gente comete o mesmo defeito, às vezes até entre nós mesmos. Washington, Chicago, Nova York e São Francisco elegeram prefeitos negros. Nova York tem uma diferença pequena de maioria negra. São Francisco negros não chegam a 10%. É estranho Salvador não eleger um negro ou uma negra. E aí eu digo com toda convicção, é logico que alguns estão um pouco mais à frente, pois estão em uma trajetória mais longa, galgaram espaços políticos. Então, nesse patamar nós podemos dizer que a deputada Olívia Santana, se for colocar como se fosse uma maratona, ela seria uma atleta de elite. Existem alguns atletas de elite. O importante é não deixar o ciúme, a vaidade e a individualidade tomar conta desse processo.

Precisamos fazer inversão de valores nessa cidade, que é uma cidade pobre. Essa cidade que só investe R$ 15 milhões em reparação, que paga para as mães não colocarem os filhos na creche, em vez de fazer creche. Nós precisamos sair dos nossos gabinetes, precisamos de um prefeito ou prefeita que dialogue de fato com as comunidades.

https://portalsoteropreta.com.br/entrevista-se-for-uma-mulher-negra-e-melhor-ainda-diz-vovo-do-ile-sobre-pre-candidaturas-negras-prefeitura-de-salvador/

Mídia 4P – Qual o impacto, na sua avaliação, com sua experiência de três mandatos, que teria a eleição de uma prefeita ou prefeito negro para Salvador nas políticas públicas?

Moisés Rocha – Certamente iria haver uma pressão muito grande para manter o status quo. Do mesmo jeito que não existe almoço de graça, não existe distribuição de poder. Poder se conquista. Você quando ganha uma prefeitura, não necessariamente você ganha o poder. Primeiro precisa ter muita vontade política. Depois, tem que ter muita habilidade. Em pouco tempo, deu para perceber que, se eles quiserem, eles tiram. Então vai ser importante ter interlocução com todos os segmentos. Vai ter que fazer investimento maior em educação, em saúde. Nós precisamos investir bastante em assistência social, para cuidar do nosso povo, e investir bastante, bastante mesmo, em educação básica, nas creches, na pré-escola, na escola de tempo integral. E aí está o grande problema. Quando aquele que estão controlando, dominando o poder há muito tempo percebem a acensão mesmo que mínima, mesmo que a passos de tartaruga, eles se rebelam e utilizam o poder financeiro para controlar a mídia e os meios políticos.

Mídia 4P – Então, para eleger um prefeito negro a gente teria que fazer alianças amplas, inclusive com esse status quo, ou seria possível vencer a eleição sem essas alianças?

Moisés Rocha – Tem uma coisa que é fundamental: nem todo negro é aliado e nem todo branco é inimigo. Tem uma música do Ilê que diz “o negro dissidente é traidor”. E nós temos muitos negros dissidentes. E temos alguns poucos brancos que entendem a importância de a gente corrigir os rumos dessa cidade. O sistema político brasileiro não passou por uma reforma profunda e, infelizmente, só se constrói governos ditos de coalizão. Não tenho dúvida que, num primeiro momento, nós precisaremos fazer como já foi feito em diversos outros momentos. O Apartheid, apesar de toda luta, toda resistência, todo enfrentamento, foi fundamental para garantir a vitória, mas não garantiu Mandela presidente, numa ruptura drástica. Temos que ter contundência, objetiva, definição do que queremos, mas sem achar que estamos fazendo uma ruptura extrema, uma revolução, porque não estamos fazendo. Gostaríamos até, mas não estamos fazendo. Sem ceder, sem abrir mão de princípios e projetos políticos, vamos precisar dialogar. Esse é o caminho para uma construção que seja ampla e que não corra risco de ser interrompida no meio do caminho. Estive dentro de movimentos com visão de ruptura drástica, mas ainda não temos acumulado força para essa ruptura drástica. Mas não tenho dúvida de que a gente deve caminhar mostrando para a população a importância do exercício de maioria. E a fala de Vovô é interessante nesse sentido.

O novo na política é o negro e a negra no poder. Se for o negro, para a cidade é uma vitória fantástica. Se for uma negra, é uma vitória duas vezes fantástica. Porque estaremos vencendo a barreira do racismo e do machismo. É fundamental, apesar de que essa cidade não deu oportunidade a nenhum dos dois.

Mídia 4P – Até onde vai a disposição de quem colocou seus nomes de ir até o fim no enfrentamento dos seus partidos para que essa candidatura negra exista?

Moisés Rocha – Pode ter certeza que nosso objetivo é ir até o fim nesse debate, nessa discussão. Costumo dizer que quem tem que ter vergonha são eles, de nos negar esse direito. Eu posso tranquilamente abdicar, abrir mão, em favor (de outro). Já falei a Vovô que, se o PDT disser que ele é candidato, eu estou com ele e não abro mão. Eles precisam começar a entender que não dá pra ser partido de esquerda com olhar para os negros igual aos outros. Te digo com muita convicção que precisamos inverter prioridades. Competência nós temos, quem sabe o que é melhor para a nossa dor somos nós. Quem sabe a dor é quem sabe.

https://portalsoteropreta.com.br/entrevista-gente-tem-um-projeto-de-liberdade-e-transformacao-para-nossa-cidade-afirma-vilma-reis-pre-candidata-prefeita-de-salvador/

Mídia 4P – Para finalizar, o que para o senhor é mais difícil para alcançar esse objetivo e o que pode quebrar esse empecilho?

Moisés Rocha – Nós temos algumas falhas, algumas vaidades, algumas dificuldades de entendimento entre nós mesmos que precisamos superar. Mas esse não é nosso maior entrave sem dúvida alguma. Nosso maior entrave certamente é aqueles que dominam o poder em Salvador, na Bahia e no Brasil entenderem a importância de fazer essa transição. E tenho muita convicção que, tal qual fizeram com o Ilê em 1974, irão fazer conosco agora. Vão dizer que queremos uma candidatura negra de forma açodada. Essa cidade, esse tempo todo sem eleger um prefeito ou uma prefeita negra, vão dizer que não é o momento, que a sociedade não está preparada, vão dizer que o importante não é o nome mas o projeto político. É preciso ter vontade política. Porque, quando se tem vontade política, se faz Rui Costa virar governador. Rui Costa hoje anda com as próprias pernas. Ocupou espaço estratégico no governo e isso o potencializou.

 

Por que os candidatos negros não podem servir para ocupar cargos estratégicos que potencializem seus nomes? A pergunta fica para o partido e para o governador. Por que nunca se pensou no nome do deputado federal Luís Alberto para espaço estratégico e para prefeito de Salvador? Então falta vontade política. Esse é o nosso maior desafio: vencer a falta de olhar carinhoso e de vontade política de quem comanda os partidos.

 

Entrevista concedida originalmente ao repórter Yuri Silva para o Portal Mídia 4P, publicado em 02 de ago de 2019. Acesse aqui!

Políticas

Kabengele Munanga fará palestra magna no lançamento da IV CONEPIR

Ana Paula Nobre

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Foto: Divulgação

A IV Conferência Estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (CONEPIR) será lançada nesta sexta-feira (21), Dia Internacional de Luta contra a Discriminação Racial, pela Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (SEPROMI). O evento acontece na Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, a partir de 8h30, e contará com uma palestra magna do professor e especialista em antropologia da população afro-brasileira, Dr. Kabengele Munanga. Ele vai mobilizar reflexões sobre os desafios e perspectivas das políticas de promoção da igualdade racial no Brasil.

Na relevante data instituída pela ONU em 1996, Kabengele Munanga, conhecido por introduzir a questão racial nos temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais de maneira pioneira, fará uma troca importante sobre as construções e expectativas para as políticas públicas de promoção da igualdade racial na Bahia. Com o tema “Igualdade e Democracia: Reparação e Justiça Racial” e realizada entre os dias 20 a 22 de agosto de 2025 , em Salvador, o momento marca o início da mobilização das etapas municipais da Conferência em pelo menos 13 territórios de identidade da Bahia, sucedida da etapa estadual com a participação de 800 delegados(as) e convidados(as).

Coordenada pela SEPROMI, o Conselho de Defesa dos Direitos da Comunidade Negra (CDCN), o Conselho Estadual para a Sustentabilidade dos Povos e Comunidades Tradicionais (CESPCT) e o Conselho Estadual dos Direitos dos Povos Indígenas do Estado da Bahia (COPIBA), o ato pretende reunir cerca de 120 representantes dos Conselhos do segmento, sociedade civil, representantes das universidades estaduais e federais, intelectuais, blocos afros, a Rede de Combate ao Racismo, parlamentares, fórum de Gestores(as) Municipais, além de lideranças religiosas de organismos internacionais e secretarias do Governo do Estado.

Convocada por meio do Decreto nº 12.192 de 20 de setembro de 2024,conforme deliberação da 90ª reunião do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, o principal objetivo da IV CONEPIR é movimentar o cenário da Política Estadual de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais. No momento que destaca com mais detalhes os eixos temáticos, etapas e expectativas para o processo conferencial, o público encontrará análises sobre o racismo e suas consequências na sociedade.

A Secretária Ângela Guimarães avalia que, de um ponto de vista transversal, este é um encontro valiosíssimo para a mobilização da agenda que vai pensar as políticas de promoção da igualdade racial da Bahia para a próxima década.

“Enquanto sociedade organizada, junto a muitas mãos e instituições relevantes para a luta pela superação do racismo, balizaremos os rumos que já tomamos até aqui com vista no futuro, pensando coletivamente as prioridades e os desafios para construirmos políticas públicas ainda necessárias para a formação de uma sociedade cada vez mais justa e equitativa para todos e todas, especialmente para a população negra e as comunidades tradicionais” disse.

O encontro também conta com a apresentação do Observatório da Promoção da Igualdade Étnico-racial – ODS 18, da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável, pela Dra. Maria do Carmo Rebouças dos Santos, coordenadora do Observatório. Ligado a Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB, pelo Grupo de Pesquisa Pensamento Negro Contemporâneo UFSB/CNPq e da Fundação Escola Politécnica da Bahia, o Observatório é um espaço acadêmico de formação, pesquisa, monitoramento e produção de análises do progresso do ODS 18.

Além disto, na oportunidade de celebrar as conquistas alcançadas na luta por uma sociedade mais justa e igualitária e atenta às ainda necessárias demandas por reparação histórica e justiça racial, o encontro conta também com uma programação regada a momentos culturais e com atração musical da Banda Yayá Muxima.

Serviço

O quê: Ato de lançamento da IV CONEPIR e palestra magna com Kabengele Munanga

Quando: 21 de março de 2025 | 08h30 às 12h30

Onde: Auditório Jornalista Jorge Calmon, ALBA – Assembleia Legislativa da Bahia | CAB

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Políticas

Primeira Escola Antirracista será lançada pela OAB Bahia

Ana Paula Nobre

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Foto: Angelino de Jesus

A primeira Escola Antirracista do Sistema OAB no Brasil será lançada nesta quarta-feira (19), pela OAB Bahia. Idealizada pela Escola Superior de Advocacia da Bahia (ESA-BA) com a proposta de “formar para transformar”, a Escola desenvolverá uma série de ações contínuas voltadas a advogados e estudantes de direito com o objetivo de fomentar o desenvolvimento da educação antirracista, contribuindo para a formação de profissionais comprometidos com a igualdade racial e direitos humanos.

“Dados do Conselho Nacional de Justiça revelam que, com 80% da população autodeclarada negra, a Bahia é líder em ocorrências de injúria racial no país, contabilizando um aumento de 647% dos casos entre 2020 e 2023. Isso é absurdo. A nossa perspectiva, então, é usar a conscientização como ferramenta para formar advogadas e advogados comprometidos com a causa antirracista, ajudando a diminuir esses índices alarmantes na Bahia”, destacou a presidenta da OAB-BA, Daniela Borges.

O lançamento da Escola acontecerá no Auditório do Salvador Shopping Business, Torre América, das 9 às 12, com inscrição gratuita no site da ESA-BA. O evento contará com as palestras do juiz Fábio Esteves, auxiliar do ministro Edson Fachin, e da promotora do Ministério Público da Bahia (MPBA), Lívia Vaz. As palestras terão como temas a importância do letramento racial para uma atuação eficiente no sistema de justiça e as regulamentações mais recentes sob a perspectiva antirracista para as pessoas que atuam neste sistema.

Foto: Angelino de Jesus

“Estamos muito ansiosos para o lançamento da primeira Escola Antirracista do Sistema OAB no Brasil, um marco para a advocacia e para a luta por equidade racial. Nosso compromisso é formar profissionais que não apenas compreendam a estrutura do racismo, mas que estejam preparados para combatê-lo na prática jurídica”, destacou a diretora-geral da ESA-BA, Sarah Barros.

Ainda segundo ela, a ESA-BA assume essa responsabilidade com seriedade, trazendo uma formação qualificada e acessível, que contribuirá de forma decisiva para uma advocacia mais justa e comprometida com a transformação social.

Matrículas em breve

Com palestras, seminários, congressos e demais atividades de capacitação, a Escola Antirracista da OAB-BA abrirá matrículas, em breve, no site da ESA. A Escola trabalhará sob as perspectivas teórica e prática, por meio de exposições e disponibilização de materiais didáticos, recomendações bibliográficas e outros materiais didáticos. Todas as aulas e demais atividades serão gratuitas e voltadas à advocacia, bacharéis e estudantes de Direito. Mais informações podem ser obtidas no site da ESA-BA, onde será divulgada a programação da Escola.

Serviço

O quê: Lançamento da primeira Escola Antirracista da OAB
Quando: Dia 19 de março (quarta-feira)
Horário: Das 9h às 12h
Palestrantes: Juiz Fábio Esteves e promotora Lívia Vaz
Inscrições gratuitas no site da ESA-BA

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Políticas

Chamada pública busca pesquisadoras negras para estudo técnico

Ana Paula Nobre

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6ª edição do Março
Foto: Divulgação

A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver 2025, com apoio e co realização da Associação Brasileira de Pesquisadore/as Negro/as (ABPN), a Associação Gênero e Número, o Observatório da Branquitude e a Oxfam Brasil, lançou um chamado para pesquisadoras negras interessadas em desenvolver um estudo técnico sobre os avanços na igualdade de raça e gênero conquistados desde a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver, realizada em 2015, em Brasília (DF).

O objetivo do estudo é analisar os impactos da mobilização das mulheres negras na formulação e implementação de políticas públicas voltadas à população negra nos últimos 10 anos. A pesquisa também oferecerá recomendações para fortalecer a luta por reparação histórica e equidade, temas centrais da Marcha de 2025, que terá alcance internacional.

“Passaram-se dez anos e a gente precisa entender qual foi o movimento feito no Brasil, do ponto de vista de políticas públicas para enfrentar as desigualdades, que colocam as mulheres negras em situações mais vulneráveis do que outras populações”, analisa Terlúcia Silva, que faz parte do Comitê Impulsionador Nacional da Marcha representando a Rede de Mulheres Negras do Nordeste.

Além disso, a ativista destaca que a opção por pessoas negras reivindica o lugar da população negra como produtora de informação e dados — a mesma posição que historicamente tem sido negada pela sociedade. Segundo ela, as produções epistemológicas do movimento negro e do movimento de mulheres negras têm sido fundamentais para evidenciar as desigualdades socioeconômicas no Brasil, por meio de pesquisas.

No entanto, as mulheres negras ainda enfrentam um histórico de apagamento de suas contribuições teóricas e técnicas, sendo suas narrativas frequentemente contadas a partir do olhar de pessoas brancas. Diante desse cenário, a chamada pública busca ampliar esse espaço e incentivar pesquisadoras negras a ocuparem o protagonismo na construção do conhecimento sobre as desigualdades no país.

Oportunidade para pesquisadoras negras

A chamada pública convida pessoas negras (preferencialmente mulheres e LGBTQIAPN+) com experiência comprovada em análises e narrativas sobre desigualdade racial e de gênero a se inscreverem para a consultoria. As candidatas selecionadas irão desenvolver um relatório técnico baseado em dados oficiais e pesquisas recentes, detalhando os avanços, desafios e perspectivas futuras da incidência política dos Movimentos de Mulheres Negras.

O Termo de Referência com mais informações sobre esta chamada pode ser acessado no site da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB). Já as inscrições podem ser realizadas até 21 de março de 2025, através do formulário disponível no link.

Ao final do projeto, deverá ser apresentado um relatório que servirá como instrumento para o fortalecimento das reivindicações da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver 2025, que pretende reunir 1 milhão de mulheres negras do Brasil e diversos outros países do mundo. A expectativa é que o estudo contribua para embasar políticas públicas e ações concretas em prol da reparação e da equidade racial no país.

Mulheres negras em marcha

Mais de 100 mil mulheres negras do Brasil marcharam em 2015 contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver – um processo histórico que impactou e definiu os rumos da organização política das mulheres negras no Brasil e na América Latina.

Quase dez anos depois, os movimentos de mulheres negras fazem uma nova mobilização, desta vez para a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, a 2ª Marcha Nacional (de caráter internacional) das Mulheres Negras, que acontecerá no dia 25 de novembro de 2025, também em Brasília (DF).

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