Artes
Espetáculo “HOLOCAUSTO BRASILEIRO – Prontuário da Razão Degenerada” pauta encarceramento da população negra!
De um livro escrito pela jornalista Daniela Arbex, publicado em 2013 pela Geração Editorial, vem o registro que desdobra os questionamentos que se manifestam no espetáculo baiano “HOLOCAUSTO BRASILEIRO – Prontuário da Razão Degenerada”, com dramaturgia e direção de Diego Araúja, em colaboração com Bárbara Pessoa, que estreia em temporada na Casa Preta (Dois de Julho), neste mês de outubro. Serão 12 apresentações, entre os dias 16 e 31 – de quarta a sábado, às 20h, e domingos, às 19h.
A obra original reporta a história do Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, o maior hospício do Brasil, onde milhares de pacientes foram internados à força, sem diagnóstico de doença mental, causando a morte de 60 mil pessoas entre 1903 e início dos anos 80. Este genocídio, no entanto, não é um caso isolado: o uso da saúde mental como argumento moral para a segregação e o impedimento da vida tem muitos rastros e se mantém cotidiano, abatendo-se principalmente sobre a população negra, que inclusive representava 70% dos internos de Barbacena. É com esta afro-perspectiva que a peça se propõe a analisar o manicômio e centros psiquiátricos, debatendo o adoecimento do sistema social, a loucura, o estigma e a psicofobia sob o viés intransigente do racismo.
O projeto da montagem foi idealizado pela produtora cultural Gabriela Rocha, sócia da Giro Planejamento Cultural, que assina a realização do espetáculo. Interessada pelos debates sobre loucura e lutas antimanicomiais, Gabriela – que também produziu, em 2012, o monólogo carioca “Estamira – Beira do Mundo”, que documentou a vida e a percepção devastadora sobre o mundo da catadora de lixo Estamira Gomes de Sousa (1941-2011), doente mental crônica – adquiriu os direitos para teatro do livro “Holocausto Brasileiro”. Foi então responsável por montar toda a ficha técnica e conduzir a direção geral da produção, partindo de uma viagem a Minas Gerais, na qual os principais envolvidos com a peça conheceram a autora, ex-internos, médicos, jornalistas e fotógrafos relacionados com o Hospital de Barbacena.
A presença no elenco de duas atrizes portadoras de transtornos mentais – Helisleide Bomfim, integrante do grupo Os Insênicos, e Yuri Tripodi, que também faz a assistência de direção – é reforço à desconstrução do estigma da loucura. Qual origem do poder normativo que pode definir o delírio? Afirmando suas loucuras como ética de existência, elas são sujeitas de si e de direito, subvertem profecias de incapacidade e denunciam uma sociedade adoecedora, que faz cerca de um terço da população mundial ser vitimizada por doenças como depressão e ansiedade. Completando o quarteto em cena, estão Felipe Benevides e Marcia Limma.
Como uma peça-ensaio, “HOLOCAUSTO BRASILEIRO – Prontuário da Razão Degenerada” propõe uma espacialidade cênica que mescla variados gêneros: o lúdico, o lírico, o documental, o dramático e o performativo. É uma proposta artístico-científica que busca mostrar que, para além da associação com o nazismo alemão e o terrível holocausto, os genocídios no Brasil têm origem própria: a colonização, a escravidão e o racismo estrutural.
O espetáculo resulta de projeto contemplado pelo Edital Setorial de Teatro, tendo apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda, Fundação Cultural do Estado da Bahia e Secretaria de Cultura da Bahia.
SERVIÇO
HOLOCAUSTO BRASILEIRO – Prontuário da Razão Degenerada
Temporada de estreia
Onde: Casa Preta (Rua Areal de Cima, 40 – Dois de Julho)
Quando: 16 a 31 de outubro, quarta a sábado, 20h; domingos, 19h
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Ingressos antecipados: www.sympla.com.br/giroplanejamento
Classificação indicativa: 14 anos
Artes
Casa do Sol realiza 15ª edição da Feira de Arte e Cultura em Cajazeiras
Organização não governamental que tem como foco a integração e a formação da população do bairro de Cajazeiras V, a Casa do Sol realiza, em setembro, a 15ª edição da Feira de Arte e Cultura. A iniciativa vai trazer experiências e vivências com a comunidade por meio da biblioteca itinerante e apresentação musical, teatral, dança, poesia e pintura.
“Além das apresentações dos resultados das oficinas do projeto adolescente no turno da manhã, também iremos apreciar produções artísticas dos grupos externos da comunidade que vão participar de forma voluntária”, diz Carolina Bastos, coordenadora do Programa Adolescentes em Arte e Ação na Casa do Sol.
Além das apresentações artísticas, estão previstas ainda atividades como pintura corporal infantil, brechó, gastronomia, bingo, desfile, recitais e exposições produzidas pelos artistas da Casa, de Cajazeiras e seu entorno.
Criada em 1997 pelo pároco da comunidade na época, Pe. Luís Lintner, a Casa do Sol conta ainda com programas como a Biblioteca de Ítalo, que conta com mais de 1000 obras literárias em seu acervo e é aberta ao público. O Viver e Aprender, responsável pela creche e educação infantil, também atua pela garantia da segurança alimentar de mais de 200 crianças; o Contra Turno, que apoia mais de 70 alunos da rede pública de ensino, em turno oposto ao escolar; e o Adolescentes em Arte e Educação, que acolhe mais de 60 jovens anualmente ofertando oficinas artísticas de Música percussiva, Violão, Teatro, Dança e mais.
A 15ª Feira de Arte e Cultura da Casa do Sol acontecerá no dia 14 de setembro, um sábado, na Praça de Cajazeiras V, com início às 9h e término previsto para as 16h.
Serviço
O que: 15ª Feira de Arte e Cultura da Casa do Sol
Quando: 14 de setembro (sábado), com início às 9h
Onde: Praça de Cajazeiras V
Quanto: Acesso gratuito; Venda de produtos no local
Artes
Exposição O Corpo Liberto – Uma Mostra de Arte e Loucura até dia 10
A exposição O Corpo Liberto – Uma Mostra de Arte e Loucura segue para visitação até o dia 10 de setembro, no Solar do Ferrão, no Pelourinho, Centro Histórico de Salvador. A mostra é uma realização da Clínica Espaço a – Saúde Integral em parceria com o CAPS Garcia II UFBA, Projeto Iluminarte e o CAPSad Gregório de Matos.
Intitulada O Corpo Liberto pelo multiartista Nilton César – usuário do CAPS Garcia || UFBA e paciente do Espaço a – a exposição teve um número expressivo de visitantes, entre eles, integrantes do grupo musical Racionais, além da presença de estudantes de escolas públicas, universitários, turistas, moradores de Salvador e usuários de Centros de Atenção Psicossociais. Dentro dessa perspectiva, – O Corpo Liberto – ganhou destaque como um símbolo de resistência e autonomia, onde a pessoa em sofrimento psíquico é vista como sujeito de direitos e não como objeto de intervenção.
Para Nilton César, que tem a arte como elemento central em seu cotidiano, ter as suas obras expostas no museu é maravilhoso. Ele relata a importância de produzir e ser reconhecido desta forma. “É maravilhoso mostrar para as pessoas que mesmo com a questão da saúde mental, é possível produzir arte e o meu maior incentivo é servir como exemplo para outras pessoas e também expandir para que meu referencial seja uma diretriz para os demais”
Além das obras do Nilton, a mostra conta também com peças de outros artistas que são usuários dos serviços de saúde mental. Entre eles, peças de Joseneide Ferreira (Neide), poesias de João Rebouças Filho, o Projeto Iluminarte, obras de Márcio Lobo “ML”, Ricardo Paulino de Moura, peças coletivas produzidas na Oficina de Arte e Educação do CAPSad Gregório de Matos, arte em grafite de Lee 27 e Josemar Gomes de Brito “Joe” – CAPSad Gregório de Matos e pinturas e murais da artista Vivian Lessa, poesias de Vitória Maria Matos.
“A ideia da exposição surgiu em uma conversa com o artista Nilton, então nós da clínica Espaço a decidimos nos lançar na empreitada de montar a mostra com suas obras, e em seguida, pensamos em ampliar o alcance, fazendo convite aos dois Centros de Atenção Psicossocial que tínhamos mais proximidade, o CAPS Garcia e o CAPS Gregório de Mattos.”, explica Maísa Jones, uma das sócias do Espaço a.
A Clínica Espaço a – Saúde Integral, é um serviço da rede privada de Saúde Mental de Salvador, que fica localizada na Avenida Anita Garibaldi. As sócias fundadoras da Espaço a (Bila, Andreia, Maisa e Melissa) possuem experiência com a luta antimanicomial e compartilham dos princípios de uma clínica psi não excludente, pautada no respeito aos direitos humanos e atenta às questões sociais e políticas da sociedade.
Serviço
Últimos dias da Exposição O Corpo Liberto – Uma Mostra de Arte e Loucura
Quando: Até 10 de setembro de 2024
Onde: Centro Cultural Solar Ferrão (R. Gregório de Matos, 45 – Pelourinho)
Horário: De terça a domingo, das 10h às 18h
Entrada: Gratuita
Realização: Clínica Espaço a – Saúde Integral
Artes
David Sol leva diálogo entre Arte e Espiritualidade a Moçambique
O artista David Sol escreve uma ladainha de homem grande, onde o caçador e a flecha se fundem em uma única existência, em um registro que celebra a ancestralidade e a espiritualidade do Recôncavo Baiano. Oxóssi atravessa o oceano para saudar os Caboclos do Brasil e beber da Jurema, em um tempo onde o passado, o presente e o futuro ensinam uma verdade comum: para acertar o alvo, é preciso ter o gingado do andarilho. Sob essa perspectiva, o artista propõe o registro da cultura oral e dos saberes ancestrais de sua terra natal, contribuindo para a produção de um conhecimento que respeite a si, sua gente—encarnada e desencarnada—e seu chão.
A Plataforma Flotar, em colaboração do Instituto Guimarães Rosa e o Museu Mafalala se unem para apresentar “Pedrinhas Miudinhas”, uma exposição curada por Juci Reis e Jorge Dias que reúne o trabalho de pesquisa e criação do artista baiano David Sol, explorando a interseção entre fotografia e pintura. A exposição, que ficará em cartaz a partir de 19 de setembro de 2024, no Museu Mafalala, como um marco cultural, sendo a primeira vez que um artista da Bahia ocupa o renomado Museu, conhecido por seu olhar político e social sobre a cidade de Maputo através de suas periferias.
A exposição surge como uma ladainha visual inspirada nas ricas tradições dos Caboclos em terreiros de Santo Amaro, na Bahia. As obras expostas resultam de um diálogo poético entre fotografias capturadas em festividades dedicadas aos Caboclos e pinturas que retratam cobras corais, símbolos de encantamento e poder na cultura afro-índigena. A exposição não se limita à contemplação das imagens; ela convida o público a uma imersão profunda nas histórias e nos rastros das cobras encantadas, que se manifestam tanto nos corpos como nas marcas deixadas no chão. Estas serpentes, desenrolando-se esteticamente entre o sibilar e os riscos, revelam o invisível que habita em nós, oferecendo uma reflexão sobre a espiritualidade e suas manifestações na arte.
“A Bahia e o Recôncavo baiano são as raízes de tudo o que escrevo e produzo, e ver que os sonhos que pintei estão me levando a Maputo é uma experiência verdadeiramente odara. O Museu Mafalala, com sua forte conexão comunitária, é o cenário ideal para esse diálogo intercultural. ‘Pedrinhas Miudinhas’ é mais do que uma exposição; é uma celebração da espiritualidade e da identidade do povo do Recôncavo Baiano, um povo que se constrói e se afirma no coletivo,” afirma David Sol.
O bairro da Mafalala, ícone da periferia de Maputo, abriga cerca de 20 mil pessoas em um emaranhado de casas de madeira e zinco, com ruas de terra batida e vielas delimitadas por chapas metálicas que servem como muros. Este lugar, que foi o lar de grandes nomes da literatura, música, artes plásticas e política de Moçambique, desempenhou um papel crucial nas lutas pela independência e na formação da identidade nacional.
A Mafalala é considerada o reduto das artes e dos intelectuais do país, como afirma o cantor Wazimbo, que recorda antigos moradores ilustres, incluindo os escritores José Craveirinha e Noémia de Sousa, o compositor Fany Mpfumo, o lendário jogador de futebol Eusébio, que brilhou na seleção portuguesa e no Benfica, e líderes da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), como Samora Machel e Joaquim Chissano, os dois primeiros presidentes após a independência.
Além da exposição, o projeto contará com um ciclo de palestras, com a participação de Barbara Lima, Luan Gramacho e Cândido Nobre. Essas palestras têm como objetivo aprofundar a compreensão do processo criativo de “Pedrinhas Miudinhas” e sua relação com as religiões afro-brasileiras e afro-ameríndias, explorando a riqueza epistêmica dessas tradições. “Essa exposição é para toda a ancestralidade de pindorama e do orun, nas obras materializo um pouco da poesia herdada da nossa gente“, concluiu o artista visual Sol.
Contemplado no edital do Programa de Mobilidade Cultural 2024, Pedrinhas Miudinhas é um projeto financiado pelo Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia, e conta com a gestão e coordenação internacional do Flotar Programa e curadoria de Juci Reis (IGR/Maputo).
Sobre David Sol
David Sol nasceu no Recôncavo da Bahia, Brasil, em 2000. Ele é artista visual, curador, bacharel em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Especialista em História e Antropologia, e Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação na mesma universidade. Suas pesquisas exploram a interseção entre fotografia, pintura e escrita, com um foco particular nas experimentações de linguagens que dialogam com as tradições afro-indígenas-brasileiras.