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E nossos homens e meninos pretos? – Por Luciane Reis
![Demétrio Campos](https://portalsoteropreta.com.br/wp-content/uploads/2020/05/destaque_demetrio.jpg)
Demétrio Campos foi um homem trans que não suportou a opressão da construção diária da fragilização da potencialidade social e intelectual masculina negra. Tenho a um tempo conversado com meu amigo Durval Azevedo sobre essa ausência de redes de apoio e empoderamento masculino. Falar sobre masculinidade tóxica, estar para além da relação homem X mulher negra. Afinal, não podemos balizar todos sejam homens ou mulheres pela mesma balança. Achar que todos (as) são positivas e sempre vítimas ou algoz quando se fala de afetividade, é tirar destes sua humanidade. É da natureza do ser humano, como bem diz professor Lúcio André as diversas personalidades e interações emocionais.
Precisamos conversar sobre redes de fortalecimento masculino negro, ou perderemos nossos meninos. Sim, meninos. Sou filha, irmã, amiga e prima de homens negros e acompanho a dura realidade da violência que esses passam no mercado de trabalho, onde só tem acesso a subempregos que matam diariamente seus sonhos e construção de outras realidades. As abordagens sociais e institucionais que cobram destes tudo que não lhes foi dado com um grau extremo de violência, desrespeito, deslegitimação e desqualificação, é o que tem feito muitos homens negros entrar em depressão e em casos extremos cometer o suicídio dentre outros. Costumo dizer que JAMAIS reencarnaria um homem negro, e Demétrio Campos, um homem trans em seu vídeo postado meses antes de tirar a própria vida, relata as dores de estar na pele destes enquanto vinha passando pelo processo de transição de gênero que consolidava a leitura deste enquanto um homem negro pela sociedade.
Assistir o vídeo postado por Tairo Rodrigues sobre as dores que ele vivenciava ao se entender e viver como um homem negro me abriu diversos gatilhos emocionais. Lembrei-me de como meu irmão surtou e passou anos entrando em hospital psiquiátrico, por não consegui dá conta das cobranças de atitudes, posturas e comportamentos sociais da família e estado sem estrutura, rede de apoio ou pessoas que apontassem qual caminho a seguir, de meus alunos homens que me ligam desesperados pedindo ajuda para emprego e relatando as falas dos familiares e violências sofridas por não estarem no patamar que esperam que estejam na idade que tem. De amigos, quase surtando por mesmo que tivesse feito quase tudo que cobravam deles, não ter realizado o ideal de familia ou comportamento e status social.
https://poenaroda.com.br/diversidade/por-cancelamento-transfobia-e-racismo-homem-trans-demetrio-campos-poe-fim-a-propria-vida/
Não estou aqui defendendo o machismo, mas falando de como ser visto e lido enquanto homem negro, independente do espaço que esteja é uma dor solitária, desigual e violenta. Afinal, não é fácil falar de “Fracasso” ou lutar por um futuro sendo julgado e acusado de todos os lados. Estou falando de como o empoderamento das mulheres negras, precisa servir de exemplo e case aos homens na construção de frentes e projetos que rompam com a reafirmação das masculinidades negras, construa uma outra realidade para 11, 8 milhões de analfabetos onde segundo o IBGE, 9,9 são homens negros. Refletir sobre a necessidade de fortalecer os homens negros de forma a permitir uma revisão das posturas machista ao mesmo tempo que constrói um diálogo real com o seu auto desenvolvimento, é permitir a esses a alterar uma realidade, construída em formatos nem sempre saudáveis quando se fala de trabalho bem remunerado.
Aos homens negros, cabe pensar formas de estimular a auto organização, ajuda compartilhada e reflexão sobre o modelo de humanização de seus corpos construídos por uma lógica racista.É caminhando por esse processo de auto organização e redes de apoio que esses podem não somente alterar suas realidade como garantir relações saudáveis, financeiramente confortáveis e compartilhada para eles e para quem o cerca de maneira que não mais permita a outros Demétrios se construírem sozinhos, lutando contra estado e sociedade sem espaços de trocas de afetividade ou parcerias pessoal, profissional e educacional. Sei que posso ser trucidada por esse posicionamento, mas tenho ousado olhar esses sobre outra perspectiva.
Sou fruto do Pompa, um projeto de fortalecimento de lideranças mistas do Instituto Steve Biko. Relembrando aqui meus colegas homens do projeto, até onde eu sei nenhum constituiu familia ou relacionamento com mulheres brancas. O que prova que a depender dos modelos de formação e abordagem, é possível ter homens negros estabilizados e com famílias negras sobre outra perspectiva e ambiente. É importante continuar fortalecendo mulheres negras, mas como bem relata Demétrio, existem diversas masculinidades que nos faz ter que atentar para o cuidado emocional e humanizado de forma a permitir esses construir outros modelos de fortalecimento pessoal e coletivo que permita combater seus algozes.
Demétrio não suportou as dores de ser lido e visto como um homem negro em um estado e sociedade que mata por cor e destruição diária de sua autoestima e humanidade como desabafado em seu vídeo. Ao ser lido socialmente como mulher, ele relata como o assédio masculino o adoecia, as chamadas “brincadeiras” vivenciadas enquanto lesbica o machucava. Mas ser lido e visto como um homem negro por todos os setores, inclusive feminino, fez ele sentir mais de perto a dor desta leitura e olhar como a encarnação do mal em potencial. Neste momento, mas do que seu emocional violentado, seu físico também passa a ser agredido diariamente sobre diversos aspectos e isso fez com que tirasse a própria vida como muitos tem feito no auge da dor e solidão. Sabemos os impactos da homofobia e do machismo, mas reunido a esses dois, o peso de ser um homem negro (a) não é uma tarefa fácil. Alterar essa realidade não pode ser uma caminhada solitária que nenhum de nós deve trilhar, inclusive nossos homens e meninos negros
Meu irmão, aos 21 anos teve um surto psicótico e perdeu parte de sua história e possibilidade de produção intelectual o que mostra como os impactos do Racismo, homofobia e machismo não pode ser tratado como “mimimi”. Estamos falando de uma dura realidade, sutil, perversa e de várias faces que enfrentamos do dia que nascemos ao dia que morremos. Pra nós, homens e mulheres negras, essa é uma dor que nos acompanha em toda nossa existência e que nos mata de maneira constante e desigual. É preciso pensar redes de apoio para o fortalecimento das potencialidades e competências masculinas, no intuito de alterar crenças e modelos de comportamento fruto de uma subjugação no período da escravidão ao ter sua humanidade descartada. Ter a tão sonhada liberdade construiu hábitos e modelos de irresponsabilidade afetiva e paterna, que sabemos ser equivocadas e repassada a gerações por mais que seja um legado negativo sobre a imagem masculina negra. Afetividade e sexualidade sempre será um problema na história de vida negra masculina, mas é preciso ajudar a romper com um processo histórico, que coloca o homem e a mulher negra em um papel inferior por gerações e os faz carregar por toda vida o peso da cor e das mazelas sofridas por seus antepassados.
Que a partida de Demétrio, nos ajude a sermos melhores no olhar para os transexuais e homens negros sob a perspectiva da empatia. Achar que os homens negros podem fazer essa jornada sozinhos, diante de tantos acusadores, não nos torna menos acusadores do que um estado e sociedade que os mata diariamente. Como negros e negras precisamos unir os nossos saberes para mudarmos o curso da nossa história. Em nossa sociedade existem tantos outros Demétrios, mas quantos mais precisaremos perder para acordamos e iniciarmos a nossa corrente de apoio? O sistema é opressor, mas é a nossa tecnologia social e inovativa sobreviver.
![Me_despache](https://portalsoteropreta.com.br/wp-content/uploads/2019/03/Me_despache.jpg)
Luciane Reis é Publicitária, idealizadora do Mercafro, Bolsista do Programa Marielle Franco de lideranças negras e mestranda em Gestão Pública na Universidade Federal da Bahia
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#Opinião: 2025: Conselhos do Tarot Maria Padilha – por Januário
![Januário](https://portalsoteropreta.com.br/wp-content/uploads/2024/06/Armando-januario-e1721599658121.jpeg)
O ano de 2025 é regido pelo resultado do somatório 2 + 0 + 2 + 5 = 9. Temos o número 2 se repetindo e a presença do número 5, além do próprio 9. O que esses arcanos representam? Afinal, como será 2025? Encontramos as respostas nas Lâminas de Maria Padilha.
Em julho de 1997, A Senhora da Magia comunicou a Eliane Arthman, através de projeção astral, as 36 cartas do Seu tarot. Se manifestava, então, o Tarot Maria Padilha, com o verso preto e cores marcantes – vermelho, dourado e branco – para gerar impacto visual e promover a cura interior. Essas foram exigências da própria Dona Padilha: o Seu tarot é terapêutico, preciso e objetivo; cada lâmina orienta para O Caminho da Luz.
Através da Carta 2 – O Lápis – Maria Padilha revela a necessidade de aprimorar a nossa capacidade de expressar ideias. Em paralelo, somos convocados a estudar e planejar a vida, para que novidades interessantes aconteçam. A repetição do número 2 em 2025 traz ênfase para esse chamamento: estruturar ideias, com planos estabelecidos e metas bem traçadas.
Na Carta 5 – As Moedas – temos a Lei da Atração. Aqui, Dona Padilha mostra a importância de vibrar no Positivo, para acessar a riqueza espiritual e material. Amar sempre, praticar a gratidão, evitar fofocas, meditar, perdoar e ouvir músicas de alta vibração, são hábitos a desenvolver durante o ano. Pobreza de espírito e crenças limitantes atraem prejuízos, logo, devemos evitar frequências empobrecidas, porque elas trazem consigo presenças espirituais negativas.
Quem estuda e planeja a própria vida dificilmente terá tempo para se intrometer na vida alheia. Percebemos, nesse ponto, a relação entre as cartas 2 e 5: organizar o cotidiano sempre é favorável, seja por dar forma aos nossos objetivos, seja por estabelecer distância daquilo que pertence aos outros, e, portanto, não nos diz respeito.
Por fim, a Carta 9, se apresenta como mensagem central para 2025: uma poltrona na cor preta, vazia, como se estivesse abandonada, pois parece velha e empoeirada. Aqui, Maria Padilha, Espírito de Luz, incentiva a encerrar ciclos o mais rápido possível. Devemos aceitar o passado como um instante de aprendizagem para o crescimento espiritual: a poltrona talvez tenha sido confortável por algum tempo, porém, chegou o momento de abandoná-la e cultivar nobres valores. Sobretudo, precisamos nos abrir ao novo, deixando aquela poltrona – com velhos hábitos empoeirados – de lado, para seguir firmes, rumo à prosperidade e abundância.
2025 é um ano de encerramentos. Será necessário “morrer” ante determinadas questões, para, daí, renascer e caminhar por novas estradas. Deus, através do Mestre Jesus, na figura de Dona Maria Padilha nos abençoe e proteja para viver esse ano com coragem, verdade e paixão! Laroyê, Pombogira!
Armando Januário dos Santos é Taroterapeuta do Baralho de Maria Padilha, Mestre em Psicologia e Palestrante. Instagram: @tarot.maria.padilha / WhatsApp: (71) 99278-9379
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#Opinião: Quando Ogum abre estrada pra Oxum, Xangô acompanha – por Patrícia Bernardes Sousa
![](https://portalsoteropreta.com.br/wp-content/uploads/2025/01/WhatsApp-Image-2025-01-15-at-16.44.11.png)
Salvador amanheceu na primeira segunda-feira útil de 2025 com um novo ciclo de reparação promovido pelas águas do Terreiro Ilê Axé Iyá Nassô Oká, mais conhecido como Terreiro da Casa Branca. A filha de mamãe Oxum, ekedji de pai Ogum e advogada Isaura Genoveva, tomou posse cercada pela doçura sagaz de sua mãe das águas doces, as boas estradas de seu pai e seu filho Ogum e da justiça estratégica do amalá que já te acompanha desde que se formou em Direito em Salvador.
O que esperar dessa equação espiritual que sucede o pioneirismo pedagógico da secretária e professora negra Ivete Sacramento que ocupou este cargo dignamente por longo 12 anos?! Pai Ogum já definiu. Você não percebeu? A palavra de ordem é percorrer as boas estradas de reparação e justiça racial na Bahia e no mundo.
Em sua primeira ação internacional em Reparação e Justiça Social, a jovem ekedji e advogada já despontou no “grande pássaro de ferro” – o avião – e foi para as terras africanas ao lado do prefeito Bruno Reis, para selar e forjar ainda mais esse acordo tácito de mudança e planejamento estratégico para o nosso povo preto, em sua nova estrada como gestora pública de uma secretaria cercada de altos e baixos quando o assunto é as palpitações e taquicardias das políticas públicas sociais e letramento racial empresarial na capital baiana. Expectativas em excesso geram frustração, sempre dizem, mas a menina preta do imaterial Terreiro Casa Branca já notou que tão quão a sua cadeira de ekedji, a sua cadeira como gestora pública do enfrentamento racial ela pouco irá sentar para descansar.
Como assim, Bernardes? Na agonia e na beleza de organizar o antes, o durante e o depois de um sirè (xirê), a ekedji e advogada também será cobrada pelos seus ancestrais e pelas lideranças do movimento social, membros dos conselhos municipais das mais diversas frentes de trabalho e dos seus próprios colegas de gestão pública do governo municipal de Bruno Reis, a respeito da sua capacidade de “matar a sede” de justiça social dos soteropolitanos negros que também são cristãos, católicos, kardecistas, budistas e até mesmo ateus.
Injúria racial, racismo institucional, letramento racial, intolerância religiosa, racismo ambiental, LGBTfobia, desemprego, assédio moral e racismo religioso são alguns dos ingredientes que já “temperam” a palma das mãos dessa gestora pública, para que o açúcar e o quiabo façam justiça aos pés do machado sagrado de seu pai. Jesus Cristo entre nós, mas Obatalá também. Sem paz no ori (cabeça) não se faz justiça e nem se planeja reparação concreta para “estancar” os corações de Terreiros e Templos Religiosos das mais diversas denominações que clamam com acaçá e óleo ungido por uma escuta ativa, sensível e com estradas de resolução para as inúmeras demandas que já cercam a jovem Isaura Genoveva.
Às vésperas da festa momesca, os trabalhos de Exú e Arcanjo Miguel não param. Pedindo sempre licença e agradecendo os seus ancestrais, a nova Secretária da Reparação de Salvador já entendeu que a ronda de Ogum agora é outra em seu benefício, pois é no asfalto de terras brasileiras e estrangeiras que faz morada os negros, negras e negres esquecidos nos viadutos, no isopor da sua vida diária como ambulante e até mesmo nos barrancos que assombram os seus Terreiros e Templos Religiosos por conta da especulação imobiliária ano após ano.
Os esquecidos serão exaltados? Os já amparados pelas leis federais continuaram sendo abençoados pela atenção da gestora pública que bebe água doce como todas as outras que a antecederam? São diversas as perguntas que são feitas pelas pessoas comuns como eu e você que lê esse artigo e sabe que nem tudo Ifá pode “alafiar” ou Jesus Cristo testificar nesse momento. Como em Eclesiastes e como bem afirma pai Tempo, tudo tem o tempo certo de acontecer entre o céu e a Terra na capital baiana neste novo momento.
Sigamos em cortejo sagrado acompanhando os próximos passos que virão…
Patrícia Bernardes Sousa é yawo de Oxum do Terreiro Ilê Axé Ejigbo (Cajazeiras XI), jornalista, gestora e mobilizadora de projetos de Impacto Social e colunista do Portal Soteropreta.
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#Opinião: Os ensinamentos de Nossa Senhora Aparecida – Por Januário
![januario](https://portalsoteropreta.com.br/wp-content/uploads/2024/09/januario.png)
O dia infrutífero deixava João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia, tristes. Os três pescadores haviam tentado por várias vezes retirar das águas o seu sustento, mas, todo o esforço foi em vão. Contudo, um deles, ainda esperançoso, lançou a rede ao mar e ao retirá-la, identificou uma imagem de madeira negra, sem a cabeça. Lançando novamente a rede, a cabeça foi achada. Era Nossa Senhora da Conceição.
Daí por diante, os peixes encheram as redes dos pescadores. Compreendendo que foram abençoados, um deles levou a imagem para a casa. Entre rezas e graças atendidas, a devoção se espalhou, rápida e fervorosa. Nascia ali o maior culto popular do cristianismo brasileiro: a devoção por Nossa Senhora Aparecida. A fé se tornou tão ardente que em 1929, o Papa Pio XI proclamou Nossa Senhora, Padroeira Oficial e Rainha do Brasil.
Alguns detalhes na imagem encontrada pelos pescadores nas águas do Rio Paraíba do Sul nos convidam a uma reflexão profunda sobre o sentido de Nossa Senhora em nossas vidas. Todavia, antes de trazer esses aspectos, afirmamos o respeito a todas as crenças e não-crenças. O nosso objetivo é abordar a mensagem silenciosa trazida pela aparição: mesmo sem falar, a imagem de Nossa Senhora ensina muito. Feita em terracota, resultado do cozimento da argila no forno, a imagem nos transmite calor e conforto, tal qual a mãe que abriga o filho amado em seus braços. As mãos em prece remetem a humildade de quem sabe estar na presença de Deus.
Encontramos a meia lua sob os pés da Mãe do Mestre Maior: esse símbolo, retratação do Sagrado Feminino de Tempos Ancestrais, brilha para nós, através do Sol. Jesus, o Sol para nosso mundo, na mística cristã, emana a Sua vibração para Maria, a Lua Amorosa, iluminar o caminho daqueles nas trevas da noite dos extremismos, da ignorância, ainda tão escravizados aos pseudos prazeres que dilaceram a própria condição humana.
Negra e descoberta antes da abolição oficial do sistema escravagista, Nossa Senhora Aparecida nos convoca a destronar a branquitude e o machismo dos seus opressivos tronos. Sem dúvida, é obrigação diária contribuir para o surgimento de uma sociedade equitativa e firme no combate à discriminação racial e à desigualdade de gênero. Somos chamados pela Doce e Sagrada Mãe Aparecida, encontrada por pescadores, ao empoderamento de quem respeita as diferenças e se dedica a eliminar com luzes do conhecimento as trevas do ódio.
Armando Januário dos Santos é Trabalhador da Luz, Mestre em Psicologia, Psicólogo (CRP-03/20912) e Palestrante. Contato: (71) 98108-4943 (WhatsApp).