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O impacto da pandemia em comunidades marginalizadas! – Por Luciane Reis
A defesa da pauta antirracista implica em uma agenda de ações que entenda que não se constrói uma outra visão de mundo sem levar em conta o pensamento daqueles sempre ignorados em suas vozes, mas familiarizados com comunidades que sempre arcaram com o maior fardo durante as crises, devido a desigualdades estruturais. Em artigo intitulado “Economistas negros importam?”, Anna Gifty Opoku-Agyeman, ao escrever para o Economic Policy Institute, com tradução de Beatrice F-Weber para o Observatório da Crise do Coronavírus, traz para o centro do debate a ausência das vozes dos economistas negros na cobertura midiática e ações sobre o coronavírus.
Ao discorrer sobre diversos fatores e o impacto de ignorar os olhares e conhecimento de pensadores que contribuem para a discussão daqueles que serão desproporcionalmente impactados pela pandemia, a autora traz dados sobre a importância do setor econômico e de comunicação “acertarem as contas” em relação à raça e gênero, tendo como ponto principal os economistas negros e suas vozes importantes neste momento de definição global. Segundo a autora “Ignorá-los, miná-los ou silenciá-los não ajuda este momento de pandemia no qual a questão de raça, gênero e etnia passa a ser um ponto importante na reformulação social e econômica do mundo”.
Ana Gifty chama atenção ainda para no caso dessas vozes continuarem a ser ignoradas, repetir-se a versão de si mesma, onde a realidade econômica e política que as comunidades negras enfrentam não entram como pauta indicativa do que está por vir para a sociedade como um todo. Olhando suas reflexões, fica nítido que é preciso que o Brasil siga valores globais, sem deixar de olhar para sua realidade local de forma a identificar oportunidades internas, como o restante do mundo vem fazendo. É necessário uma profunda reflexão sobre a sociedade brasileira na perspectiva econômica, de maneira que se reconheça a riqueza de sua diversidade, estabelecendo, dessa forma, uma agenda de inclusão que desperte, motive, engaje e permita que a população marginalizada ocupe com destaque e sem constrangimentos, espaço nos meios empresariais e econômicos.
Reconhecer a importância da diversidade em uma composição de equipe de forma coerente com a representatividade da realidade brasileira quando se fala de iniciativas de diversidade e inclusão, é voltar o olhar para a invisibilidade do pensamento e conhecimento negro na formação do Brasil. Não é difícil perceber como historicamente essas iniciativas vêm cometendo equívocos ao buscar uma fórmula pronta, ou tentar incluir todo mundo de uma só vez.
A inclusão do fator raça nas análises sobre o comportamento financeiros e metodologias de pesquisa e produção de dados contribui para se compreender a dimensão e importância do inclusivo, levando em conta o contexto brasileiro em especial negro. ´´E preciso ter um olhar atencioso sobre a concentração de riqueza, valor social e crédito produzido dentro da indústria do discurso e conhecimento, como ato importante de rompimento com a “falta de canais diretos” e quebra do que Hélio Santos, Doutor em Administração pela USP chama de “círculo vicioso da pobreza “. É entendendo estes fatores que podemos reorganizar as formas de valorização de um saber com capacidade de construir ações racial relevantes em espaços onde lideranças empresariais, políticas e sociais não escutam ou entendem a questão da diversidade como algo a ser debatido para além das salas de suas diretorias.
Ao deixar de ouvir outros especialistas e manter- se enclausurado em um universo que invisibiliza pluralidade como a área financeira, deixamos de romper com uma visão de mundo que não dialoga com a diversidade de olhares retroalimentando assim um comportamento de defesa de causas que não as suas próprias. Pensar modelos de campanhas, trocas técnicas e ações reflexivas sobre a atuação de um mercado empresarial que ainda que paute diversidade, pauta sobre o olhar branco é central para construção de outras reflexões sobre o status quo, maneiras de quebrar de estereótipos dentre outros. É preciso trazer uma luz positiva sobre o papel dos padrões nocivos da nossa sociedade, e para isso produzir transformações efetivas, passa pela erradicação e significativa mitigação das desigualdades socioeconômicas sob o viés racial.
É dando visibilidade a determinados grupos, sua produção acadêmica e empresarial permitindo que estes sejam devidamente levados em conta junto aos tomadores de decisão empresarial e empreendedora, que podemos alterar o olhar de acadêmicos e influenciadores que não se deram conta de pensar estratégias e ações mais eficientes e que de fato dialogue com as diversas realidades sociais e financeiras, principalmente dentro da aplicabilidade de conceitos como privilégio, passibilidades, interseccionalidade, branquitude e tantos outros que acabam ficando fora do mundo corporativo, acadêmico, econômico, político e social.
Luciane Reis é publicitária, idealizadora do Mercafro, Bolsista do Programa Marielle Franco de lideranças negras, mestranda em Gestão Pública – UFBA e Conselheira do Olodum. Instagram @lucianereys
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#Opinião: Os ensinamentos de Nossa Senhora Aparecida – Por Januário
O dia infrutífero deixava João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia, tristes. Os três pescadores haviam tentado por várias vezes retirar das águas o seu sustento, mas, todo o esforço foi em vão. Contudo, um deles, ainda esperançoso, lançou a rede ao mar e ao retirá-la, identificou uma imagem de madeira negra, sem a cabeça. Lançando novamente a rede, a cabeça foi achada. Era Nossa Senhora da Conceição.
Daí por diante, os peixes encheram as redes dos pescadores. Compreendendo que foram abençoados, um deles levou a imagem para a casa. Entre rezas e graças atendidas, a devoção se espalhou, rápida e fervorosa. Nascia ali o maior culto popular do cristianismo brasileiro: a devoção por Nossa Senhora Aparecida. A fé se tornou tão ardente que em 1929, o Papa Pio XI proclamou Nossa Senhora, Padroeira Oficial e Rainha do Brasil.
Alguns detalhes na imagem encontrada pelos pescadores nas águas do Rio Paraíba do Sul nos convidam a uma reflexão profunda sobre o sentido de Nossa Senhora em nossas vidas. Todavia, antes de trazer esses aspectos, afirmamos o respeito a todas as crenças e não-crenças. O nosso objetivo é abordar a mensagem silenciosa trazida pela aparição: mesmo sem falar, a imagem de Nossa Senhora ensina muito. Feita em terracota, resultado do cozimento da argila no forno, a imagem nos transmite calor e conforto, tal qual a mãe que abriga o filho amado em seus braços. As mãos em prece remetem a humildade de quem sabe estar na presença de Deus.
Encontramos a meia lua sob os pés da Mãe do Mestre Maior: esse símbolo, retratação do Sagrado Feminino de Tempos Ancestrais, brilha para nós, através do Sol. Jesus, o Sol para nosso mundo, na mística cristã, emana a Sua vibração para Maria, a Lua Amorosa, iluminar o caminho daqueles nas trevas da noite dos extremismos, da ignorância, ainda tão escravizados aos pseudos prazeres que dilaceram a própria condição humana.
Negra e descoberta antes da abolição oficial do sistema escravagista, Nossa Senhora Aparecida nos convoca a destronar a branquitude e o machismo dos seus opressivos tronos. Sem dúvida, é obrigação diária contribuir para o surgimento de uma sociedade equitativa e firme no combate à discriminação racial e à desigualdade de gênero. Somos chamados pela Doce e Sagrada Mãe Aparecida, encontrada por pescadores, ao empoderamento de quem respeita as diferenças e se dedica a eliminar com luzes do conhecimento as trevas do ódio.
Armando Januário dos Santos é Trabalhador da Luz, Mestre em Psicologia, Psicólogo (CRP-03/20912) e Palestrante. Contato: (71) 98108-4943 (WhatsApp).
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#Opinião – A função esotérica do incenso – Por Januário
Há quase dois milhões de anos, os povos denominados pela arqueologia como primitivos “conheceram” o fogo. Além de preparar alimentos, clarear ambientes e enfrentar predadores, percebeu-se A Tarefa Superior desse elemento: iluminar o caminho até A Grande Consciência Cósmica. O plasma formado por átomos livres, resultantes da combustão, revela a sutileza d’A Sabedoria Universal.
Paralelo a esse conhecimento, os humanos também identificaram como determinados aromas produzem alterações psicológicas, exercendo efeitos nos sete centros energéticos do corpo, os chakras[2] da cultura hindu. Logo, aquecer ervas aromáticas ao fogo tornou-se costume entre nossos ancestrais. Nasciam as primeiras tradições místicas, reconhecendo os efeitos terapêuticos do incenso, um importante amplificador da consciência e purificador de ambientes.
A palavra latina incendere, literalmente, acender ou queimar, remete às escolas herméticas do Antigo Egito, passando pelas tradições da umbanda, candomblé, xintoísmo, budismo, judaísmo e cristianismo, encontramos a utilização do incenso como chave para acessar os Planos Espirituais. Diversas escolas esotéricas, como a maçonaria, o martinismo, o rosacrucianismo, o sufismo e algumas tradições do Yoga guardam consigo os segredos do preparo de incensos específicos para a transmutação do espírito, buscando a perfeição.
São raras as pessoas que conhecem o sentido profundo do incenso. A superstição vulgarizou o uso, distorceu o seu propósito original, substituindo-o por dogmas. Não obstante, encontramos nos livros adotados por várias religiões, referências ao incenso como presente para celebrar o nascimento de alguns avatares: foi assim com O Mestre Jesus[3].
Tecnologia espiritual, útil para queimar miasmas e larvas astrais, o incenso protege, purifica e auxilia a entrar em contato com O Caminho Ancestral Superior. Um meio para REunir-se aos Arcanos do Conhecimento Eterno. A fumaça que se desloca pelo ar da aspiração humana, rumo A União Secreta e Suprema com O Todo.
[1] Armando Januário dos Santos é Trabalhador da Luz, Mestre em Psicologia, Psicólogo (CRP-03/20912) e Palestrante. Contato: (71) 98108-4943 (WhatsApp).
[2] Em artigo posterior, falaremos sobre os sete chakras e a sua importância para equilibrar os nossos sete corpos: físico, mental, emocional, astral, essencial, espiritual e energético.
[3] “Entraram na casa e encontraram o menino com Maria, a sua mãe. Então se ajoelharam diante dele e o adoraram. Depois abriram os seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra” (Mateus 2:11).
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#Opinião – João: um sol místico na Judeia – Por Armando Januário
Entre os santos mais populares do Brasil, São João Batista é uma das figuras mais importantes na tradição judaico-cristã. Reverenciado pela cultura nordestina nas celebrações de junho, o Batizador de Jesus, desde os primórdios da sua existência, cultivou intimidade com os arcanos da Sabedoria Universal.
João foi educado nos preceitos judaicos e logo adentrou ao nazireado, costume típico do judaísmo, no qual algumas famílias destinavam seus filhos para uma vida ascética: os nazireus deixavam crescer a barba e os cabelos, se privavam de bebidas alcoólicas e uvas, e não tocavam em cadáveres. Essa moral era o caminho encontrado para a introdução em conhecimentos profundos sobre A Energia Criativa. O Batista afirmava que batizava em água, contudo, viria Aquele que batizaria em fogo, sendo maior que ele (Mateus 3:11). Essa passagem bíblica dá a entender que João já conhecia a iminente Manifestação Crística em Jesus de Nazaré. Com efeito, ele é o filho de Isabel, que ainda no ventre da sua mãe, pula de júbilo quando ela ouve a saudação de Maria, grávida de Jesus (Lucas 1:41-44). Esse momento indica que João e Jesus se conheciam de outras existências.
Antes de o imperador Justiniano, no Concílio Ecumênico de Constantinopla, em 553, condenar a reencarnação, o cristianismo primitivo encarava a pluralidade das existências como realidade. Por isso, quando Jesus afirmou que João “[..] é Elias, que havia de vir” (Mateus 11:14), o Mestre alude a vida pregressa do Batista, algo que certamente não causou surpresa aos presentes. A própria encarnação de João, anunciada pelo anjo Gabriel confirma a existência pretérita de João como Elias: “[…] e [João] irá adiante dele com o espírito e a virtude de Elias, a fim de reconduzir os corações dos pais para os filhos” (Lucas 1:13).
João Batista é uma figura tão especial que os festejos em sua homenagem uniram certas tradições antigas[1], na qual a data está inserida no solstício de verão, quando o ângulo do sol se distancia ao máximo da Terra. Esse fenômeno ocorre apenas duas vezes por ano: em junho, no Hemisfério Norte e em dezembro, no Hemisfério Sul. Temos, portanto, dois sóis: João, o sol que vem para anunciar a chegada de outro sol, reluzente e soberano: Jesus, o Cristo Planetário.
[1] Os celtas comemoravam o solstício de verão em honra ao deus Sol, para o qual pediam proteção contra maus espíritos e pragas nas colheitas. As festas incluíam fogueiras e fartura, apontando para o desejo de prosperidade espiritual e física.