Artes
Enxurrada Casa Preta III encerra programação com diversidade musical, artística e de gênero
O projeto Enxurrada Casa Preta III finaliza as ações com diversidade musical, artística e de gênero, em um final de semana de shows exibidos nos canais do Youtube e Facebook da Casa Preta Espaço de Cultura. As apresentações acontecem dia 07, 08 e 09 de maio.
No dia 07 de maio, ás 19h, a programação começa com protagonismo negro e feminino, com o Slam das Minas, grupo formado por mulheres nascidas e viventes de bairros periféricos de Salvador. Singa (São Caetano) e NegaFya (Sussuarana) trarão suas poesias para a roda.
“No slam as nossas poesias trazem muito a denúncia. Falamos da solidão da mulher negra, genocídio da juventude negra, da violência contra a mulher e abandono, mas numa perspectiva de mulheres pretas em comunidade”, trouxe Singa.
Em seguida, às 20h, o público tem encontro marcado com Cabokaji, banda formada pelo trio soteropolitano Caboclo de Cobre, ator, compositor fundador do Aldeia Coletivo, ISSA, cantor, compositor e pesquisador, e Ejigbo, músico multi instrumentista e arranjador. Já no sábado, dia 08 de maio, às 20h, o encontro será com DJ Nai Kiese e Cabôco Experiência junto a MC Coscarque.
Quem fecha o festival e sintetiza a formação e resistências do povo brasileiro, dia 09 de maio, às 18h, é a banda Los Pesos, formada por Donna Liu, o multi-instrumentistas Mr. Dko, e Dj Tau Brasil. Às 20h, o Coletivo Liliths e DiCerqueira , finalizam as apresentações.
O projeto é contemplado pelo Prêmio Anselmo Serrat de Linguagens Artísticas, da Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura Municipal de Salvador, por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, com recursos oriundo da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, Governo Federal.
PROGRAMAÇÃO
07 DE MAIO – Sexta – 19h Slam das minas / 20h Cabokaji e Tipo A
08 DE MAIO – Sábado – 20h Dj Nai +Cabôco Experiência e Mc Coscarque
09 DE MAIO – Domingo- 18h – LOS PESOS / 20h – coletivo Lilliths e DICERQUEIRA
Acompanhe: @casapretaespacodecultura
Artes
7º Novembro das Artes Negras acontece em Salvador
O 7º Novembro das Artes Negras, projeto promovido pela Fundação Cultural do Estado/SecultBA (Funceb), celebra o mês da Consciência Negra contemplando a produção artística negra nas diversas linguagens. Na programação, a Funceb promoverá performance poética, shows musicais, apresentações de dança e teatro, além de performance de pintura ao vivo. Com o tema “Travessias Culturais: Artes Negras em movimentos”, todas as ações serão gratuitas nos bairros de Paripe, Itapoan e Alagados, abertas às comunidades e ao público em geral, a partir de 9 de novembro.
Com o Novembro das Artes Negras, a Fundação solidifica o diálogo e aproximação com artistas e produtores culturais negros e negras, promovendo a visibilidade e intercâmbio destas linguagens. As apresentações acontecerão no Cine Teatro Solar Boa Vista (Engenho Velho de Brotas), Centro Cultural de Alagados (Alagados), na Associação de moradores de Plataforma, na Sede do Bloco Afro Malê de Balê (Itapoan) e no Colégio Estadual Barros Barreto (Paripe).
Pelo segundo ano, afim de ampliar a participação de artistas de outras localidades, parte da programação é fruto de seleção pública realizada entre setembro e outubro, e terá a artista de Juazeiro, Alessandra Paes, com a Live Paint “visão negra do sertão/urbano”; a plataforma artística DAN – Território de Criação, com o espetáculo “Santana”; a banda Cativeiro (Salvador), com o show “Pega Visão”.
O cantor Dja Luz (Lauro de Freitas), com o show “Minha Pele Preta”, a cantora Riane Mascarenhas (Cachoeira), com seu show “Reggar”; o poeta Nelson Maca (Salvador), com sua “Performance Thank You Exu”; os grupos soteropolitanos, Opanijé e Fúria Consciente, junto aos rappers Aspri RBF e Mr Dko, com o show de Hip-Hop “Paredão Ancestral”; e Fábio Hainner (Lauro de Freitas), com o espetáculo de dança “Como continuar aqui?!”, e o o Grupo de Arte Popular A Pombagem com “O Museu é a rua”.
O Novembro das Artes Negras tem o propósito de visibilizar, potencializar e reconhecer as produções dos diversos agentes culturais negros do estado. Na programação, estará em destaque a convergência entre as artes, dialogando entre si com atividades transversais. Poesia, apresentações musicais, de dança e circenses, exposições, exibição e lançamentos de filmes, são algumas das ações envolvidas no projeto.
“A 7ª edição do Novembro das Artes Negras foi concebida como demanda de Estado, no sentido de fomentar a cultura afro-baiana e a cadeia produtiva da cultura, promover a democratização do acesso a equipamentos públicos, fomentar a diversidade cultural e atuar em função das políticas reparatórias e compensatórias previstas na constituição do estado da Bahia e no Estatuto da Igualdade Racial. Este ano, buscamos descentralizar as atividades pela cidade, de modo a ampliar o acesso da população às artes negras”, afirma a diretora geral da Funceb, Sara Prado.
Mais atrações, mais artes negras
Para ampliar e diversificar ainda mais a programação desta 7ª edição do Novembro das Artes Negras, fazendo jus ao tema “Artes Negras em movimentos”, a Funceb também levará aos mesmos locais show do rapper Vandal, o espetáculo “Dandara na Terra dos Palmares”, da Arte Sintonia Cia de Teatro, o solo do ator Sulivã Bispo “Koanza Do Senegal ao Curuzu”.
Programação:
Centro Cultural de Alagados (Alagados)
R. Silvino Pereira – Uruguai, Salvador
09/11 – SÁBADO
16h às 17h – Espetáculo de dança “Como continuar aqui?!”com Fábio Hainner
17h30 às 18h30 – Mostra Oficinas de Teatro com Caw Bonfim
10/11 – DOMINGO
15h – Espetáculo “Dandara na Terra dos Palmares”, com Arte Sintonia Cia de Teatro
Associação de Moradores de Plataforma
R. Sá Oliveira, 424-642 – São João do Cabrito, Salvador
13/11 – QUARTA-FEIRA
19h às 20h – Mostra Oficinas de Stand Up Comedy com Alan Miranda
Cine Teatro Solar Boa Vista
40301-110 – Engenho Velho de Brotas, Salvador
16/11 – SÁBADO
20h às 21h30 – Show “VANDAL KONVIDAH Áurea Semiseria, Opanijé e Dnguni”
17/11 – DOMINGO
15h às 15h40 – Mostra Oficinas de Teatro com Robson Raycar
Colégio Estadual Barros Barreto (Paripe)
SN, R. da Austrália – Paripe, Salvador
21/11 – QUINTA-FEIRA
15h às 16h – Performance Thank You Exu, com Nelson Maca
16h30 às 17h30 – Show “Reggar”, com Riane Mascarenhas
22/11 – SEXTA-FEIRA
18h às 18h30 – “O Museu é a rua”, com Grupo de Arte Popular A Pombagem
19h às 20h20 – Solo “Koanza Do Senegal ao Curuzu”, com Sulivã Bispo
Cine Teatro Solar Boa Vista
40301-110 – Engenho Velho de Brotas, Salvador
23/11 – SÁBADO
19h às 20h – Espetáculo “Santana”, com DAN – Território de Criação
Sede do Bloco Afro Malê de Balê (Itapoan)
Alto do Abaeté, s/n – Itapuã, Salvador
30/11 – SÁBADO
17h às 17h40 – Mostra Oficinas de Teatro e Dança com Daniele Souza e Renê Oliveira
18h10 – Live Paint “Visão negra do sertão/urbano”, com Alessandra Paes
18h10 às 19h30 – Show de Hip-Hop “Paredão Ancestral”, com Opanijé, Fúria Consciente, Aspri RBF e Mr Dko
20h às 21h30 – Show “Pega a Visão”, com Banda Cativeiro
01/12 – DOMINGO
18h às 19h – Show “Minha Pele Preta”, com Dja Luz
19h30 às 21h – Show do Bloco Afro Malê de Balê
Artes
‘Dona Fulô e Outras Joias Negras’ será exibida em Salvador
A exposição ‘Dona Fulô e Outras Joias Negras’, promovida pelo CCBB Salvador, será exibida no Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC-BA), a partir do dia 7 de novembro (quinta-feira), data em que também será lançado ‘Florindas’, livro que complementa a exposição. Uma rara coleção de joias brasileiras conhecidas como Joias de Crioula, motivou a realização da mostra, que teve origem no encantamento e na posterior identificação de uma fotografia onde uma mulher negra aparecia plena de joias e ricamente vestida, revelando a prática implementada pelas “escravas de ganho” e mulheres libertas, que por vários caminhos evocavam sua história ancestral africana.
A foto era de Dona Fulô; o encantamento e a busca pela identidade da personagem, do colecionador baiano Itamar Musse. Após adquirir uma importante coleção de Joias de Crioula, recebeu de presente de Emanoel Araújo – artista, curador e museólogo, considerado um dos maiores expoentes da arte afro-brasileira – a foto de uma mulher negra com muitas joias, onde reconheceu imediatamente a pulseira que a mulher usava dentro de sua coleção. Resolveu, então, pesquisar a identidade da personagem e também saber mais sobre outras mulheres que possuíram preciosidades tão originais.
“Porque essas joias simbolizavam a manutenção de sua cultura, a preservação da sua autoestima e a sua resistência a condição de mercadoria”.
Essa é a história que chega ao século XXI, contada nesta exposição e no livro ‘Florindas’ que narra a trajetória dessa descoberta – que vai muito além da apresentação das joias raras. Dividida em três núcleos, a exposição ‘Dona Fulô e Outras Joias Negras’ preenche os espaços expositivos do MAC com as histórias dessas mulheres que compraram sua liberdade com o trabalho nas ruas – e traz à tona fatos mantidos em silêncio por tantos anos, apresentando nomes como o de Florinda Anna do Nascimento e tantas outras mulheres pretas empreendedoras no Brasil.
A mostra refere-se ao valor simbólico da construção cultural que vem com os negros escravizados e se transforma na convivência entre diferentes matrizes no novo continente. Refere-se às mulheres que escreveram e escrevem esta história de Florinda, Quitéria, Rita, Tia Ciata, Mãe Menininha ou Mãe Senhora. Faz referência às joias objeto da coleção e a outras joias: a herança da cultura afrodiaspórica nas obras de artistas negros contemporâneos, além de documentos e imagens do universo que propiciou o surgimento das Joias de Crioula, produzidas na clandestinidade por ourives da Bahia – não registrados “no Senado da Câmara”, muitos deles ”solteiros ou pardos forros” –, sob demanda de mulheres negras alforriadas.
NÚCLEOS DA MOSTRA
Histórias Florindas
Aqui é proposto ao visitante um mergulho no Brasil dos séculos XVIII e XIX, em especial na Bahia dos tempos de Colônia e Império, e na magnífica prática transgressiva implementada pelas escravas alforriadas, que por vários caminhos evocavam sua história ancestral africana. ‘Histórias Florindas’ faz um sobrevoo sobre a Salvador que abriga o surgimento das Joias de Crioulas e os desdobramentos ao longo dos séculos até a atualidade. Em um ambiente imersivo, coloca as diferentes representações das épocas, dos artistas viajantes do século XIX aos primeiros fotógrafos que registram as mulheres, suas vestimentas e suas joias; de Pierre Verger às ganhadeiras de Itapuã. Tempos que convivem em uma mesma experiência.
Artistas
Pierre Verger; Adenor Gondim; Lady Maria Callcott; Vik Muniz; Rosa Bunchaft; Vicente de Mello; Carlos Julião; Jean Baptiste Debret; Joseph Leon Righini; Friedrich Salathé; William Smyth; Jean Leon Palliere; Jean Baptiste Grenier.
Raras Florindas
O segundo núcleo tem como centro a coleção de Joias de Crioula reunida por Itamar Musse. Elas são apresentadas em contato com os tecidos e com as fotos das mulheres paramentadas. O símbolo maior é Florinda Anna do Nascimento, Dona Fulô, cujas joias com que se deixa fotografar estão todas integradas a esta coleção.
Artistas
Pierre Verger; Adenor Gondim e Vicente de Mello.
Armas Florindas
O terceiro eixo, realizado pelas curadoras Eneida Sanches e Marília Panitz, apresenta um recorte da produção contemporânea de artistas brasileiros negros que emulam essa história e propõe novas transgressões poéticas. Através de esculturas, vídeos, pinturas, objetos e outras mídias, os artistas fazem numerosos desdobramentos das joias de Dona Fulô: joias-folhas, joias-marés, joias-rezas, joias-roupas. Os recursos utilizados vão do uso do corpo como cofre para garantir a proteção de seus bens, ao aceno de liderança e autoridade para os desvalidos, e à espiritualidade – fundação sobre e ao redor da qual tudo se agrega e regenera.
Artistas
Bauer Sá (BA), Charlene Bicalho (MG), Cris Tigra (MG), Eustáquio Neves (PB), Gilmar Tavares (BA), Janaina Barros e Wagner Leite (SP), Josafá Neves (DF), Lidia Lisboa (PR), Maré de Matos (SP), Moisés Patrício (SP), Nádia Taquary (BA), Paulo Nazareth (MG), Sidney Amaral (SP), Silvana Mendes (MA), Tiago Santana (BA), Hariel Revignet (GO), Antonio Obá (DF), Dalton Paula (GO) e Sonia Gomes (MG).
SOBRE O LIVRO
Complementa a exposição o lançamento do livro ‘Florindas’ – dividido nos volumes ‘Joias na Bahia’ e ‘Preciosa Florinda’ – que perpetua, em textos e imagens, a história de Florinda Anna do Nascimento e apresenta toda a coleção de joias do acervo de Itamar Musse. Organizado pelo próprio colecionador, Itamar Musse, e pelo editor Charles Cosac, o livro conta com a coordenação do historiador Eduardo Bueno e de Ana Passos. A publicação esclarece fatos capitais sobre as condições em que viviam as mulheres negras na Bahia dos séculos XIX e XX. E revela a impressionante história de Florinda Anna do Nascimento, carinhosamente chamada de Dona Fulô.
FLORES NEGRAS. FLORES LINDAS
Com estes versos Gilberto Gil homenageia Florinda no poema que escreveu especialmente para o livro. A publicação, reúne textos de outros personagens, entre os quais o do artista plástico Vik Muniz, autor da obra que ilustra a capa da edição. Ao longo de mais de 400 páginas, além de Gil e Vik Muniz, Eduardo Bueno, Giovana Xavier, Sheila de Castro Faria, Lilia Moritz Schwarcz, Mary Del Priore, Thaiz Darzé, Carol Barreto e Pedro Corrêa do Lago, entre outros, adornam a memória de Florinda com sentimentos profundos, lembranças e vivências pessoais.
Dona Fulô e Outras Joias Negras é realizada pelo Centro Cultural Banco do Brasil em Salvador. O projeto, patrocinado pelo Banco do Brasil por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, possui apoio do Museu de Arte Contemporânea da Bahia, do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural e da Secretaria Estadual da Cultura. Tem concepção assinada pela 4Art Produções Culturais e conta com o acervo do IPAC – Coleção Itamar Musse.
CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL
O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) é uma rede de espaços culturais gerida e mantida pelo Banco do Brasil, com o objetivo de ampliar a conexão dos brasileiros com a cultura e valorizar a produção cultural nacional. A diversidade, a relevância e o ineditismo da programação do CCBB são os diferenciais que contribuem para democratizar o acesso à cultura.
Presente no Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo e Belo Horizonte, está em avançado processo de instalação de sua nova unidade em Salvador. Na capital baiana, passa a ocupar o Palácio da Aclamação, histórico edifício do início do século passado e que, durante mais de cinquenta anos, foi residência oficial dos governadores da Bahia.
Mesmo antes de iniciar suas atividades no Palácio da Aclamação, o CCBB já realiza intervenções culturais na cidade de Salvador. Nesse contexto, promove sua segunda exposição na Bahia, em projeto que reafirma as origens e ancestralidade, suas narrativas e símbolos, a decolonização, dentre outras questões que oferecem caminhos para compreender a construção contemporânea de identidades e a contribuição da população negra na formação do Brasil.
SERVIÇO
O quê: Dona Fulô e Outras Joias Negras
Onde: Museu de Arte Contemporânea (MAC-BA) – Rua da Graça, 284, Graça, em Salvador
Abertura para o público: dia 7 de novembro (quinta-feira)
Lançamento do livro e conversa com o editor Charles Cosac, às 16h
Bate-papo com as curadoras Carol Barreto, Eneida Sanches e Marilia Panitz , às 19h
Visitação: de 7 de novembro de 2024 a 16 de fevereiro de 2025
Dias/Horários: terça-feira a domingo, das 10h às 20h
Artes
Exposição ‘Ecos Malês’ acontece na Casa das Histórias de Salvador
A exposição ‘Ecos Malês’ vai ocupar a Casa das Histórias de Salvador a partir do dia 1º de novembro, às 11h, com entrada gratuita, marcando o mês da Consciência Negra e das diversas atividades do Salvador Capital Afro. A mostra retrata os ecos de um dos maiores e mais representativos levantes liderados por africanos na história do Brasil, baseada em fundamentos filosóficos, históricos e intelectuais presentes na Revolta dos Malês. A mostra fica em cartaz até maio de 2025.
Com curadoria de João Victor Guimarães e co-curadoria de Mirella Ferreira, a exposição reúne 114 obras de 48 artistas e parceria com o coletivo Arquiteturas da Revolta, para pensar e refletir as influências contemporâneas da luta pela liberdade dos africanos escravizados e libertos em Salvador, durante o século XIX. A insurreição protagonizada por africanos muçulmanos, conhecidos como malês, em sua maioria haussás e nagôs, se destacou como um dos maiores e mais documentados movimentos de resistência escravista no Brasil, por sua intenção de libertar compatriotas escravizados e estabelecer um governo islâmico na Bahia.
Embora o movimento ocorrido entre os dias 24 e 25 de janeiro de 1835 tenha sido violentamente reprimido, o impacto da Revolta dos Malês foi duradouro, e teve importante contribuição para um crescente movimento abolicionista no Brasil, culminando na promulgação da lei Eusébio de Queirós em 1850, que proibiu o tráfico transatlântico de escravizados, além de deixar marcas significativas na história de Salvador e na luta afro-brasileira por liberdade.
“Nós temos um cuidado de pensar como o corpo vai sentir nesse espaço. Salvador contemporânea precisa se ver para além do óbvio”, diz o curador João Victor Guimarães.
“Salvador tem a chance de ver, de acessar uma exposição que fala de uma revolta que aconteceu na cidade, feita por negros africanos escravizados e libertos, que não foi vitoriosa diante dos seus anseios, dos seus planos e propostas, mas foi vitoriosa na medida que permanece com os seus fundamentos na nossa sociedade. O eco não é o som original, Salvador não se tornou a República islâmica que os Malês queriam, mas Salvador também é um Eco do que os Malês ansiavam”, acrescenta.
O secretário municipal de Cultura e Turismo, Pedro Tourinho, ressalta a relevância da chegada desta nova exposição. “Queremos que a Casa das Histórias de Salvador seja, sobretudo, a casa das histórias que outrora foram silenciadas mas que hoje devem ser contadas, registradas, celebradas, e por isso nada é mais potente e simbólico do que ter aqui a exposição Ecos Malês, ecoando os 190 anos desse acontecimento na história da nossa cidade e do nosso povo”.
Ambientes expositivos
A exposição reúne uma ampla variedade de obras, incluindo esculturas, pinturas, fotografias, gravuras, site specific de paredes de adobes, macumbas pictóricas, que é como o artista Cipriano se refere à própria obra, bandeiras, patuás e vídeo performance, divididas em três núcleos: Encontrar, Ruas da Revolta, e Inventar (Liberdade e Defesa).
O primeiro núcleo, Encontrar, reflete o valor do encontro entre os malês para a organização do levante. A exposição destaca a importância do compartilhamento de informações e da construção de redes de apoio entre os participantes da revolta. De acordo com a curadoria, a Revolta dos Malês reuniu diferentes grupos de pessoas negras escravizadas e libertas em prol de um sonho por liberdade. Nesse sentido foi vitoriosa na medida em que conseguiu vencer as tecnologias separatistas do colonialismo que buscou destruir elos entre nações, famílias e semelhantes no processo de escravização. Ideal que pode ser identificado nas obras da artista Helen Salomão, que explora a intersecção entre identidade, afeto e laços familiares, especialmente a partir de sua experiência com o matriarcado na sua família.
O segundo núcleo, Ruas da Revolta, explora os ambientes onde a revolta ocorreu e dentre as obras apresentadas, está um mapa organizado pela equipe de pesquisa a partir do livro Um defeito de cor e atualizado com algumas informações históricas que não estavam presentes no livro. Este núcleo também apresenta artistas que vão pensar cidades, a exemplo de Rose Afefé, artista de Varzedo, no interior da Bahia, que volta a expor na capital baiana após 12 anos; Rose construiu Terra Afefé, uma “micro cidade” de três hectares na cidade de Ibicoara, na Chapada Diamantina, burlando várias burocracias e convenções financeiras, provocando a reflexão sobre arte, acesso, redistribuição de renda, reforma agrária, urbanismo e revolução.
Já o terceiro núcleo, Inventar (Liberdade e Defesa) aborda a busca dos Malês pela liberdade e o papel da resistência espiritual e religiosa. A curadoria entende que a Revolta dos Malês foi também em razão da necessidade de preservar a subjetividade e espiritualidade de uma parcela da população negra. Este núcleo inclui trabalhos de artistas como o estreante Karamujinho, com fotografia de gravuras feitas com Efun (ou a sagrada Pemba) sobre a pele e a artista baiana Jasi Pereira, do Engenho Velho da Federação, que, após expor esculturas em outros países, irá expor pela primeira vez um conjunto de gravuras sobre sua experiência de retorno à Salvador e ida a Luanda, em Angola, no ano passado. Inventar conta também com trabalhos do artista carioca Simba e colagens e vídeo performance da baiana Ventura Profana.
Para a doutora em história e professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Luciana Brito, uma exposição que reflete sobre a forma como a Revolta dos Malês ainda inspira um grupo de artistas, diz muito sobre o passado, mas diz mais ainda sobre a sociedade que ainda somos. “Isso aparece nos nossos anseios por liberdade, na luta contra o racismo e contra o ódio anti-negro e, sobretudo, na denúncia do ódio anti-africano, presente na sociedade contemporânea na forma do extermínio da população negra na Bahia, no Brasil e nas Américas, mas também nos barcos e balsas que partem do continente africano levando imigrantes para a Europa. Este é o cenário que nos diz sobre um mundo que ainda não acertou suas contas com as pessoas negras na diáspora”, reflete.
A professora acrescenta ainda que, por outro lado, essa memória da revolta também demonstra uma incansável insistência, por parte de pessoas negras, para serem reconhecidas como humanas. “A meu ver, pensar a Revolta dos Malês artisticamente e assistir como ela nos emociona e inspira através da arte, é uma maneira importante de expressar no presente um sentimento e um eco de orgulho, esperança e resistência, que ainda continua latente em nós”.
A co-curadora Mirella Ferreira acredita que “a exposição Ecos Malês olha para a cidade de Salvador e deseja ser olhada por ela. O espaço expositivo propõe diálogo e troca com as pessoas visitantes, com o intuito de construir pensamentos e novas perspectivas de futuro a partir dos ecos de liberdade”.
Ecos Malês conta com assistência de curadoria de Ana Clara Nascimento, Breno Silva e David Sol. Coordenação de produção de Leonardo Góis e expografia assinada por Gisele de Paula. A pesquisa histórica é de Gabriela Leandro Gaia com auxílio de David Sol.
Artistas divididos por núcleo
Encontrar
Caio Rosa, Gil Scott-Heron, Helen Salomão, Jamile Cazumbá, Luan Gramacho, Luciano Carcará, Pierre Verger, Rafael Ramos, Rona, Voltaire Fraga, Wilson Tibério e Yan Nicolas.
Ruas da Revolta
Ação Cemitério Desaparecido, Diego Crux, Jacopo, Malê Debalê, Mayara Ferrão, Pedro Marighella, Rose Afefé e Ventura Profana.
Inventar (Liberdade e Defesa)
Antônio Pulquério, AZA, Bertô, Caio Rosa, Cipriano, Coletivo Arquiteturas da Revolta, Daniel Jorge, Édson da Luz, Gustavo Moreno, Hall Wildson, Ismael David, Jasi Pereira, João Nascimento, Junaica Barbosa, Karamujinho, Kauam Pereira, Lila Deva, Lucas Cordeiro, Simba e Ventura Profana.
Sobre a Casa das Histórias de Salvador
A Casa das Histórias de Salvador (CHS), equipamento cultural da Prefeitura de Salvador, é o primeiro centro de interpretação do patrimônio no Brasil, que, através de reproduções, conteúdos digitais e/ou linguagens interativas e tecnológicas, estimula a reflexão sobre os patrimônios materiais e imateriais da cidade. A CHS é gerida pela Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI), por meio de acordo executivo de cooperação internacional.
SERVIÇO
O quê: Abertura da Exposição Ecos Malês
Abertura: 01/11/2024, às 11h. Entrada gratuita no dia da abertura.
Período da exposição: 1° de novembro de 2024 a maio de 2025
Visitação: Terça a Domingo, das 9h às 17h (entrada até às 16h)
Local: Casa das Histórias de Salvador
Endereço: Rua da Bélgica, 2 – Comércio
Ingresso: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) – Venda na bilheteria da Casa das Histórias de Salvador ou na plataforma Sympla / Acesso gratuito às quartas-feiras (convenção municipal)
Ingresso único: Os visitantes também poderão visitar a Galeria Mercado (Subsolo do Mercado Modelo) com o mesmo ingresso.