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#Opinião – Rio Vermelho e o Buraco Doce – Por Mirtes Santa Rosa

Mirtes Santa Rosa

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Amo contar histórias e o Rio Vermelho é esse lugar que me faz ter vontade de sentar em uma mesa com os amigos e contar muitas resenhas. De chorar e de rir. Sou uma verdadeira defensora do conceito de escrevivências que Conceição Evaristo sempre nos apresenta em suas obras.

De dizer que a Mirtes que muitas vezes se posiciona e é política nasceu em uma pequena casa que um dia foi de pau a pique, em uma ruazinha escondida desse bairro. Nunca morei no bairro, sou menina do Imbuí, mas o Rio Vermelho é pertencimento. É meu lugar ancestral.  Uma das histórias que mais amo lembrar que vivi lá é a de quando minha avó me explicou porque a Rua Juazeiro era chamada de Buraco Doce. Ela me explicava e toda a família dava risada.

Existe algo que simplesmente me encanta e me fortalece nesse bairro. Lembro de quando criança, ir aos domingos com meus pais e olhar as plantas que ficavam na frente da casa de minha avó. A frente da casa era cheia de Espada de Ogum e lá de longe, chegando a pé ou de carro, já avistávamos aquela floresta que nos dava boas-vindas na entrada da casa. De sambar criança em uma sala apertada, escutando histórias antigas de como a casa tinha se transformado em um palácio ou que eu gostava de farra igual a minha mãe.

A vitrola tocava Roberto Carlos, Jerry Adriane e Clara Nunes, em alta e nas alturas. Do cheiro de tinta na mesa que ficava no cantinho da cozinha, perto da porta que dava pro fundo da casa. Era nessa mesa que minha avó fazia reforma das imagens cultuadas em qualquer religião. Podia ser uma sereia, um caboclo ou uma Virgem Maria. Não podia tocar. Podia olhar, mas não podia tocar.

Eu amava mexer no copo onde ficavam os pincéis. Hoje sei que ela sabia que eu ia disfarçar e ia encontrar uma forma de futucar a mesa. Minha avó dizia que nenhum de seus filhos quis seguir aquela profissão. Quando ela falava sobre isso eu percebia um sentimento de tristeza. Penso que reformar as imagens era um trabalho melhor do que lavar roupa de ganho. A arte acolhe em qualquer situação. Lavar roupa para as patroas não deve ter sido acolhedor no século XX.

Aquelas imagens bem reformadas era o ganha pão dela e o que por muitas vezes alimentou seus filhos e quem mais aparecesse no domingo. Foi no Rio Vermelho que minha mãe me ensinou de forma muito dura e sem meias palavras que o banheiro que eu não queria tomar banho aos 8 ou 9 anos era um banheiro construído na dor e com muito suor. Chorei de vergonha da minha arrogância. E ainda sinto vergonha quando lembro dos olhos de mainha naquele dia. Tinha dor e uma vontade de educar mostrando que morar no Imbuí não me fazia melhor do que ninguém naquela casa.

Eu, no auge de minha soberba infantil, aprendi que se o banheiro de minha casa tinha azulejo era porque ela andou muitas léguas carregando roupa na cabeça naquele bairro e em tantos outros da cidade. Que ela quando tinha minha idade ia no mato e rezava pra que nenhum amigo visse para não virar resenha. Foi no Rio Vermelho que meus pais se casaram e onde eu fui batizada, assim como meus irmãos.

Foi no Rio Vermelho que eu aprendi que, em uma família, não importa como, todos se ajudam e que é uma delícia ter um lugar pra voltar todo dia 2 de fevereiro e andar pelas ruas que muitos na cidade nem imaginam que tem pessoas que revolucionaram suas vidas acreditando em uma condição melhor para seus filhos.

É do mar do Rio Vermelho que sempre ganho um presente que amo de meu tio: filé de sardinha que chega tratada pra neta mais velha que é a cara do avô. Foi no Rio Vermelho que gravamos o primeiro episódio do Umbu Podcast. Foi no Rio Vermelho que na temporada anterior do Umbu Podcast – Umbu nas Ruas começamos a olhar pra trás e saber que tudo começou muito antes do daquele dia.

 

Mirtes Santa Rosa é publicitária e especialista em Comunicação e Gerenciamento de Marcas e também trabalha com planejamento estratégico comunicacional de projetos culturais, no qual pode mesclar suas duas maiores habilidades profissionais: gestão e comunicação. É umas das idealizadoras e apresentadoras do Umbu Podcast.

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#Opinião: “E eu não sou uma criança?” Uma análise sobre a ausência de crianças negras de favelas na literatura por Aline Lisbôa

Ana Paula Nobre

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Demorei anos para compreender porque que não me encontrava nas literaturas infantis. Para além da ausência de representatividades, onde coelhinhos não ficassem pretos ao entrar em um balde de tinta, também sentia o distanciamento dos ambientes apresentados naquelas literaturas. Eu, que era uma menina negra, de comunidade, filha de pais e avós negros, oriundos dessa mesma comunidade, sabia que aquela infância, branca, colonial e elitizada representada nas literaturas infantis não era a minha.

Durante a infância no ambiente escolar, eu sentia um desinteresse muito grande pelas literaturas, que hoje com bastante transparência, explica-se pelo fato de que como a maior parte das crianças, eu iniciava a escolha e desejo de ler um livro através da linguagem não verbal, mensagens transmitidas pelas ilustrações daquela literatura. Insubmissa desde sempre, ao não me ver como criança, que aprende, que ensina, que convive e que é educada pelo viés psicoeducativo da literatura infanto-juvenil, recusava-me a ler e participar com engajamento, de tais atividades, das quais eu e o meu lugar não pertencia.

A ausência de crianças negras de favelas na literatura infantil tem uma mensagem excludente e muito profunda, sobre lugares. Considerando que a primeira lei da educação proibia pessoas negras de frequentar as escolas, a educação, feita para perpetuar modos de vida, que aqui no Brasil são coloniais, tenta negar os espaços das aprendizagens, academia e intelectualidade às infâncias negras desde sempre.

Assim, a estratégia de não representar essas crianças, bem como a potencialidades que existem nas favelas, é a manutenção do racismo estrutural, assegurando o privilégio de aprender com engajamento a um grupo social e negando aprendizagens sólidas e dialógicas a um outro grupo. Se a alfabetização é a forma de começar a ler o mundo, entende-se a existência de alguns “planetas” nessa cosmovisão literária, que deveria ser diversa, onde muitas histórias não são contadas, mas sim apagadas e controladas  pelo epistemicídio que atravessa as literaturas.

Quando pensou-se em uma única imposição de lugares para as nossas crianças, surgem autores e autoras negras compreendendo o ato político de contar as nossas próprias histórias. Pois agora, ainda que com poucas literaturas, as favelas, marginalizadas e estereotipadas pela sociedade, já fazem parte de uma luta contra o apagamento literário das nossas crianças da comunidade.

Como educar através do imaginário construído nas literaturas, a nós, que também somos crianças, se não estamos ali?

Como educadora e escritora enraizada em uma periferia, digo-lhes, que a poesia do slam, rodas de freestyles, assim como das ladainhas de capoeira e rodas de samba, calçaram a minha escrita, poética ou não, mas sobretudo a representatividade do eu-lírico que proponha-se a contar sua própria história, me fez alçar a escrita com mais propriedade. Há muita potencialidade, assim como fragilidades a serem contadas por nós, para os nossos.

O ouvir e aprender periférico nos distancia da perspectiva de quem somos, através do olhar do colonizador. Crianças negras precisam de representatividades positivas dentro de uma perspectiva construtiva, mas sobretudo, decolonial. As infâncias são diversas, mas todas urgem a descolonização literária das histórias, e falar de favelas nas literaturas, é descolonizar as escritas.

Aline Lisbôa é mulher, negra, nordestina, mãe, educadora antirracista, consultora de diversidade, equidade e inclusão, pedagoga, psicopedagoga e pesquisadora, além de articulista e escritora.

 

 

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#Opinião: Como experimentar relações sexuais positivas? – Por Januário

Ana Paula Nobre

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Foto: Divulgação

Já se sentiu drenado e em confusão mental, após ter relações sexuais? Do ponto de vista espiritual, isso ocorre porque somos seres cósmicos, com espírito, alma e corpo. Vibramos em padrões energéticos diferentes, portanto, todas as nossas interações com outras pessoas são trocas de frequências energéticas. Em outras palavras, nossa energia – sexual, inclusive – se mistura à da outra pessoa. Por isso, é útil tomar determinados cuidados, se queremos trocas sexuais que agregam positividade.

A energia sexual tem origem no Swadhistana, nome hindu para o chakra sexual, localizado abaixo do umbigo, até o sacro, osso triangular da base da coluna vertebral. Durante o ato sexual – casual ou em um relacionamento estável – através dos chakras, entrelaçamos espírito, corpo e alma. Esse fenômeno possibilita a criação de um cordão energético, e, com ele, o estreitamento dos laços entre os corpos espirituais. Esse processo pode nos impregnar com a energia da outra pessoa e vice-versa, levando, no mínimo, seis meses para se desfazer.

Contudo, em situações violentas, como estupro, o cordão energético pode continuar por anos, repercutindo de maneira negativa e dificultando a nossa iluminação espiritual. Por esse raciocínio, percebemos a covardia moral na atrocidade do estupro e compreendemos que as leis humanas refletem, mesmo imperfeitas, o nosso caráter divino, ao penalizar estupradores. Em paralelo aos prejuízos psicológicos, encontramos no estupro um ataque energético, que revela a corrupção moral dos autores dessa barbárie.

Neste respeito, compreender o sentido maior ligado ao conceito de cultura do estupro – na qual os meios de comunicação fomentam e enfatizam violências múltiplas contra as mulheres, objetificando os seus corpos – nos ajuda a compreender que aos prejuízos causados contra os corpos de quem é violentado, opera a violência espiritual de sujar o campo energético das vítimas.

Contudo, para além dos estupros, nossa aura também pode ser intoxicada em intercursos sexuais feitos com irresponsabilidade. Sexo é uma necessidade orgânica, mas, sobretudo, uma afirmação do nosso caráter divino, logo, buscar nessas relações, a reciprocidade do prazer sexual, utilizando nossos corpos para erotizar o outro, promove o bem-estar, a saúde mental e o contentamento. Isso harmoniza os chakras das pessoas envolvidas e gera uma psicosfera que potencializa a intimidade e o gozo. Devemos lembrar que a energia sexual é poderosa e quando utilizada para a satisfação mútua, potencializa o deleite, durante e mesmo após o enlace, contribuindo para que as pessoas se sintam acolhidas.

Longe de estabelecer um modelo ideal para as condutas sexuais, devemos levar em conta as subjetividades da outra pessoa com quem temos tal intimidade. Isso funciona como uma espécie de preservativo energético: utilizar o próprio corpo para colaborar com o orgasmo do outro demonstra respeito e empatia, que, além de aumentar a probabilidade da união cósmica, também previne contra a ação de larvas astrais.

Quando, durante o sexo, levamos carinho e cumplicidade, evitamos o surgimento de criações mentais, causadoras de insônia, cansaço e frustração. Em termos simples, o que pode ser melhor? Ser egoísta ou altruísta? Ir para a cama visando apenas o próprio prazer ou contribuir para que, independente de compromissos pautados por uma moral sexual dita civilizada, haja generosidade e troca?

Talvez na história do Ocidente, nunca tenha se falado tanto sobre sexo. Por outro lado, a frustração com esse tema nunca tenha sido tão alta: a pesquisa Love Life Satisfaction, realizada pelo Instituto Ipsos, em fins de 2022, revelou que a população brasileira tem um nível de satisfação sexual em 60%, 3 pontos percentuais abaixo da média mundial. Pouco ou nenhum diálogo e falta de conhecimento sobre o próprio corpo são os principais motivos listados pelos brasileiros. De fato, sem comunicação, como é possível desfrutar do sexo com plenitude? Como é possível ser positivo sexualmente, sem conhecer o corpo físico, mental e espiritual?

Enquanto a ideia comum sobre o ato sexual se restringir a uma mera descarga de hormônios, o aumento da insatisfação será cada vez mais provável. Por outro lado, quando compreendemos a nossa natureza espiritual, percebemos o aspecto transcendente desse maravilhoso Jardim das Delícias, que nos aproxima do Sagrado.

Armando Januário dos Santos é Taroterapeuta de O Baralho de Maria Padilha, Mestre em Psicologia e Palestrante. WhatsApp: (71) 99278-9379 / Instagram: @tarot.maria.padilha

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#Opinião: 2025: Conselhos do Tarot Maria Padilha – Por Januário

Ana Paula Nobre

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Januário
Foto: Divulgação

O ano de 2025 é regido pelo resultado do somatório 2 + 0 + 2 + 5 = 9. Temos o número 2 se repetindo e a presença do número 5, além do próprio 9. O que esses arcanos representam? Afinal, como será 2025? Encontramos as respostas nas Lâminas de Maria Padilha.

Em julho de 1997, A Senhora da Magia[1] comunicou a Eliane Arthman[2], através de projeção astral, as 36 cartas do Seu tarot. Se manifestava, então, o Tarot Maria Padilha, com o verso preto e cores marcantes – vermelho, dourado e branco – para gerar impacto visual e promover a cura interior. Essas foram exigências da própria Dona Padilha: o Seu tarot é terapêutico, preciso e objetivo; cada lâmina orienta para O Caminho da Luz.[3]

Através da Carta 2 – O Lápis – Maria Padilha revela a necessidade de aprimorar a nossa capacidade de expressar ideias. Em paralelo, somos convocados a estudar e planejar a vida, para que novidades interessantes aconteçam. A repetição do número 2 em 2025 traz ênfase para esse chamamento: estruturar ideias, com planos estabelecidos e metas bem traçadas.

Na Carta 5 – As Moedas – temos a Lei da Atração. Aqui, Dona Padilha mostra a importância de vibrar no Positivo, para acessar a riqueza espiritual e material. Amar sempre, praticar a gratidão, evitar fofocas, meditar, perdoar e ouvir músicas de alta vibração, são hábitos a desenvolver durante o ano. Pobreza de espírito e crenças limitantes atraem prejuízos, logo, devemos evitar frequências empobrecidas, porque elas trazem consigo presenças espirituais negativas.

Quem estuda e planeja a própria vida dificilmente terá tempo para se intrometer na vida alheia. Percebemos, nesse ponto, a relação entre as cartas 2 e 5: organizar o cotidiano sempre é favorável, seja por dar forma aos nossos objetivos, seja por estabelecer distância daquilo que pertence aos outros, e, portanto, não nos diz respeito.

Por fim, a Carta 9, se apresenta como mensagem central para 2025: uma poltrona na cor preta, vazia, como se estivesse abandonada, pois parece velha e empoeirada. Aqui, Maria Padilha, Espírito de Luz, incentiva a encerrar ciclos o mais rápido possível. Devemos aceitar o passado como um instante de aprendizagem para o crescimento espiritual: a poltrona talvez tenha sido confortável por algum tempo, porém, chegou o momento de abandoná-la e cultivar nobres valores. Sobretudo, precisamos nos abrir ao novo, deixando aquela poltrona – com velhos hábitos empoeirados – de lado, para seguir firmes, rumo à prosperidade e abundância.

2025 é um ano de encerramentos. Será necessário “morrer” ante determinadas questões, para, daí, renascer e caminhar por novas estradas. Deus, através do Mestre Jesus, na figura de Dona Maria Padilha nos abençoe e proteja para viver esse ano com coragem, verdade e paixão! Laroyê, Pombogira!

[1] Atributo pelo qual a Pombagira Dona Maria Padilha também é conhecida. Existem outros, a exemplo de Dama da Madrugada e Rainha da Encruzilhada. Mais informações sobre as Pombagiras, ou Pombogiras, são encontradas em dois artigos escritos por mim e publicados no Portal Soteropreta: Quem são as Pombagiras? (https://portalsoteropreta.com.br/2024/05/20/opiniao-quem-sao-as-pombagiras/) e Quem são as Pombagiras? Um mistério revelado (https://portalsoteropreta.com.br/2024/06/04/opiniao-quem-sao-as-pombagiras-um-misterio-revelado-por-armando-januario/)

[2] Cantora e compositora, Eliane Arthman é oraculista há várias encarnações. Ela também recebeu outras comunicações do Plano Espiritual e manifestou os Tarôs de Dona Sete e Seu Zé Pelintra.

[3] As informações neste parágrafo são resultado da minha aprendizagem junto a plataforma de e-learning Ûdemy, na qual realizei a formação O Baralho de Maria Padilha. Aproveito para expressar gratidão à Professora Lua Cigana.

Armando Januário dos Santos é Taroterapeuta do Baralho de Maria Padilha, Mestre em Psicologia e Palestrante. Instagram: @tarot.maria.padilha / WhatsApp: (71) 99278-9379

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