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#Opinião – Um salve às Prós Rô! – Por Mirtes Santa Rosa

Mirtes Santa Rosa

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Na semana passada, meu filho que cursa o 3º ano me fez um pedido: estava chegando o Dia dos Professores e ele queria dar para a professora algo do Esporte Clube Vitória. Achei engraçado e perguntei  o motivo desse presente, que me pareceu inusitado, e ele simplesmente respondeu que precisava alegrar a professora que sofre por torcer pro Vice. Me contou que a maioria de seus amigos na sala são Bahia, como ele, mas a professora sempre diverte ele e os amigos falando do Vitória, das vitórias do Vitória, das futuras vitórias do Vitória e de que todos podem torcer pro time que quiser.Que o importante é respeitar as escolhas que cada torcedor faz.

A primeira vez que João descobriu que alguns amigos dele torciam para o Vitória ele chorou, era mais novo e me disse que não entendia porque fulano torcia pro time que não era campeão brasileiro. Em casa conversamos com ele, mas percebo que o melhor ensinamento ele teve na sala de aula, com uma professora que faz de seu ofício uma devoção para ensinar, através de seus exemplos a importância de pensar, escolher e respeitar o direito de todos. Este ano não tem sido fácil para meu filho: uma pandemia atravessou sua alfabetização, criou feridas que ele muitas vezes tem dificuldades em externar em seu aprendizado, principalmente quando o assunto é a leitura de textos longos.

Eu como uma mãe da vida real e não instagramável nesse assunto, fico feliz de contar com uma professora que tem sempre um sorriso enorme ao receber seus alunos em sua sala, que trata cada um deles como príncipes que são capazes de vencer suas dificuldades e assim semear novas conquistas e aprendizados. João ama a pró Rô. Ama por ela sempre enxergar o melhor dele, por incentivar cada passo, por bater palma por cada sucesso alcançado e por também chamar ele na “chincha” como diz o ditado, quando ele resolve que não vai fazer a prova de História porque não tá a fim de escrever e nem de ler. Ele tirou nota baixa, ficou triste e Pró Rô, através do exemplo dessa prova, ensinou a ele que o que aconteceu foi escolha dele, mas que essa situação não definia ele nem seu sucesso na matéria.

Que bastava ele continuar lendo, compreendendo e perguntando sobre o que aprendeu que a matéria História ia fazer sentido para ele. O diário de João todos os dias tem uma declaração de amor, dela para ele e dele para ela. E essas declarações de amor são de corações desenhados coloridos a desenhos que pergunto o que significam e ele me responde que explicou à pró quando ela olhou o diário na hora de escrever seu comportamento. Tem dias que me cobro tanto por não estar sempre presente que choro ao ver o diário no final do dia. A emoção me toma, pois fico agradecida por esse amor que cresceu e que toma meu filho, ao ponto dele confiar e amar, que o ajuda a se tornar um menino melhor e que me faz lembrar de como minha mãe foi uma pró Rô. Uma pró amada por todos. Dos pais aos alunos.

Até hoje encontro com amigos da escola que me perguntam não por minha mãe e sim por Pró Janete. Que contam causos de como ela incentivava a todos, que dançava na sala, que sabia rir e dizia que todos eram capazes de serem o que quisessem ser. Eu muitas vezes odiava ser filha de professora, eu fui uma boa aluna, mas nunca fui flor que se cheirasse tanto, pois sempre gostei de ser do contraditório, e isso muitas vezes me causava sermões ou mesmo aqueles beliscões escondidos e olhares que diziam “em casa vamos conversar, Mirtes”.

Esses olhares me faziam tremer nos dois anos que fui aluna dela. Mas ela, apesar de ser mãe, tinha esse lado aflorado do ensinar.  Então, tinha o chamar pra realidade e incentivar seus filhos a descobrirem do que gostavam e assim incentivar o seu desenvolvimento. Hoje quando eu digo nas reuniões de domingo que mainha fazia isso comigo, ela sempre argumenta: eu tinha 3 filhos bolsistas e não podia perder esse benefício, já tinha outros problemas e meus filhos ainda me arrumam outros. O pau ou o sermão comia, mainha me ensinava que tudo tinha limites, inclusive, dizia: “Na escola sou sua professora e não sua mãe”.

Claro que eu também tive minha Pró Rô. Lembro de duas professoras com bastante carinho, de Pró Selma e Pró Silvana. A primeira foi minha professora de alfabetização no sistema Casinha Feliz. E a segunda foi minha professora que incentivava as ciências no segundo ano primário. E pró Cássia, que não foi minha professora mas era muito amiga de mainha. As lembranças que tenho dela são ligadas à luta nas greves dos professores que aconteciam nos meados dos anos 80 aqui na Bahia. Ela era um exemplo pra mim, pois muitas vezes, os filhos dos professores participavam das reuniões dessa categoria em busca de melhores salários e condições de trabalho. Ela era uma professora querida e que, quando se reunia com seus pares, sempre defendia que a escola não vivia sem eles.

E essa força que elas transmitiam em seus argumentos fazia meus olhos brilharem. Eu já apresentava tendências para o Português e a Comunicação, então a aula de Ciências era chata e nunca passava. Isso se perpetuou e piorou quando a Química entrou em minha vida, mas isso é tema para outro texto no futuro. Mas, depois de todas essas lembranças, o que desejo dizer apenas é que um professor apaixonado pelo que faz nos ajuda a construir um país melhor. Um país que desde pequeno aprende a importância do respeito, a importância de assumir sua responsabilidade na construção de seu aprendizado, que aprende com os seus pequenos e que os faz ter as melhores futuras lembranças da escola. Que bom que meu filho tem sua Pró Rô, sua Pró Poli, que é a coordenadora que atende as ligações dos pais, quando ficam ansiosos, e que fará com que ele não esqueça de sua potência em todas as matérias e vivências que acontecem hoje e das que estão por vir.

Que todas as Prós Rô, Poli e Janetes tenham um dia especial neste 15 de outubro. Que elas se sintam acolhidas e amadas por todos que entendem  essa profissão que parece clichê, mas é a que ensina todas as outras profissões e que forma cidadãos livres.

Ah, e o presente do Vitória já está garantido.

 

Mirtes Santa Rosa é publicitária e especialista em Comunicação e Gerenciamento de Marcas e também trabalha com planejamento estratégico comunicacional de projetos culturais, no qual pode mesclar suas duas maiores habilidades profissionais: gestão e comunicação. É umas das idealizadoras e apresentadoras do Umbu Podcast.

Confira mais aqui. 

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#Opinião: Dando rum na educação construindo pontes sem dó – Por Patrícia Bernardes Sousa

Ana Paula Nobre

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Sim! Nem só o orixá toma “rum” no barracão da sua vida pessoal e profissional. Desde o início destes festejos do Novembro Negro 2024, a Bahia do poeta Castro Alves permitiu que a sua “concha acústica sonora” desse “rum” aos gestores de cultura, empresas privadas e simpatizantes empresariais da educação, letramento, teatro e arte-educação na capital baiana e no mundo.

Não deu “Dó” e ninguém deu “Ré” na compra de ingressos para vislumbrar o verdadeiro espetáculo vindo da troca de couros sagrados tocados pelos maestros dos mais diversos grupos culturais de Salvador. Com respeito e determinação legítima, ogãs, filhas de santo, ebomis, abiãs e yawos levaram a sua comunidade à visibilidade máxima ao entender que identidade racial e cultura identitária nasce na troca do couro e no lapidar na madeira para que o atabaque ecoe a nossa súplica.

Neste caso, a súplica foi ecoada sobe a batuta das águas de Oxalá e Nosso Senhor do Bonfim, que permitiram que a paz durante os eventos do G20, do cinquentenário do “Mais Belo dos Belos”, o Bloco Afro Ilê Aiyê e da cadência das Orquestras Afrobaianas, chegassem como perfume suave aos nossos ancestrais. Ninguém limpa couro com água salgada e é por isso que a alegria dos erês se fez e se faz presente em cada sorriso de vitória dos maestros Ubiratan Marques e Carlos Prazeres.

Não se tem como ecoar “Mi-mi-mi” diante da grandiosidade na excelência dos ensaios e preparações com a cabaça de conhecimento presente na vida destes maestros. A Orquestra Afrosinfônica da Bahia e a Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA) dão “rum” a quem acredita que somos subnotificação e que não existe qualidade nos ouvidos musicais e musicados de quem não tem dinheiro pra comprar nem um violino, um trombone ou até mesmo um simples cotonete.

A fome cultural e orgânica de pessoas carentes de acolhimento estrutural em Salvador oferta o ilá (grito) que nos alerta da importância de mobilizar, sensibilizar e deliberar políticas públicas de captação de recursos que ofereçam “cabaças” de possibilidades de realização de sonhos educacionais e profissionalizantes ao invés de “cuias” que limitam o abastecimento de água para limpeza do corpo e da hidratação humana diária através destes projetos.

Crianças, jovens e adultos formam um “coro” regido por “couros” devidamente abençoados por pembas de lucidez e o suor salgado das águas que curam e libertam cabeças que não tinham sonhos seja na Liberdade, Itapuã, Candeal, Bairro da Paz, Pelourinho, Subúrbio Ferroviário e muitos outros pela Bahia e pelo Brasil.

Com espetáculos como “Sinfonia Terra Brasilis”, “Ponte Para a Comunidade – Orquestras Afrobaianas” e “ OSBArris”, as políticas sociais de Salvador ensinam aos seus gestores que a educação musical também é pioneira na arte ancestral dos ensinamentos orais que legitima a direção (rum) que são passados de mães solo, em sua maioria, para seus filhos, filhas e filhes.

Para atender ao Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, a Bahia vai precisar sair dos atuais 37% para 43% agora em 2024, chegando a 50% em 2025. A meta é alcançar 80% de sucesso até 2030. Subnotificações que chegam aos nossos ouvidos sem “dó” e quase obrigando gestores culturais como os maestros Ubiratan Marques e Carlos Prazeres a dar “ré” na hora de colocar as suas apresentações com carência profunda como uma concha nas profundezas do mar da Baía de Todos os Santos.  34 mil estudantes, entre 18 e 24 anos são analfabetos na Bahia, segundo dados do IBGE.

Das cordas e dos couros de instrumentos musicais ainda podemos promover notas musicais e notas máximas que ecoem aprovações de crianças e jovens carentes  pelo Brasil. Na Bahia, 77 em cada 100 crianças e adolescentes vivem na pobreza em suas múltiplas dimensões, afirma o Unicef. Esse sim é o verdadeiro espetáculo que vislumbramos aplaudir: a erradicação da fome e da pobreza através do “rum” na gestão pública sucateada de nosso país. Uma verdadeira proclamação da República de Direitos Humanos.

Patrícia Bernardes Sousa é jornalista, redatora e integra projetos de impacto social, letramento, educação e cultura.

 

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#Opinião: Novembro Negro e o Mito da Meritocracia: Um Convite à Reflexão – Por Luciane Reis

Ana Paula Nobre

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O Novembro Negro nos convida, anualmente, a revisitar a história, reavaliar estruturas e reafirmar lutas pela igualdade racial. Nesse contexto, a discussão sobre a meritocracia se torna urgente, pois essa ideia, muitas vezes celebrada como símbolo de justiça social, carrega as marcas de um pensamento colonial que perpetua desigualdades.

A meritocracia pressupõe que todos partem do mesmo ponto na corrida pelo sucesso, ignorando as distâncias impostas por séculos de exclusão. É como esperar que dois corredores compitam em igualdade enquanto um carrega o peso da história em suas costas. No Brasil, onde a escravidão moldou as bases econômicas, sociais e culturais, a meritocracia funciona mais como uma cortina que esconde privilégios do que como um mecanismo de equidade.

Esse sistema, aparentemente neutro, ignora que o acesso à educação, saúde e oportunidades profissionais sempre foi condicionado por cor e classe social. Para quem descende de uma trajetória de exploração, a realidade é outra: os degraus da mobilidade social são mais altos e escorregadios. O pensamento colonial que estruturou o Brasil não apenas determinou quem teria acesso à terra, ao poder e ao conhecimento, mas também deixou como legado uma lógica que naturaliza a exclusão.

Novembro Negro é um tempo para questionar essa narrativa. Quando celebramos Zumbi dos Palmares, Dandara e tantos outros ícones da resistência, estamos também desafiando a ideia de que as conquistas são individuais. O sucesso negro no Brasil nunca foi apenas mérito pessoal; é fruto de uma luta coletiva, travada contra um sistema que se reinventa para manter privilégios.

Superar o mito da meritocracia exige ir além de reconhecer desigualdades. Precisamos de políticas que reparem os danos históricos, ações afirmativas que nivelam o campo de oportunidades e, acima de tudo, coragem para repensar nossos valores. A verdadeira justiça não é um pódio onde poucos chegam, mas uma estrada onde todos podem caminhar juntos.

Que este Novembro Negro nos inspire a abandonar os mitos que aprisionam e a construir um país onde o mérito seja medido pela força do coletivo, e não pela manutenção de privilégios disfarçados de igualdade.

Luciane Reis é Comunicóloga, graduada em Publicidade e Propaganda pela UCSAL, especialista em Produção de Conteúdo para Educação e mestra em Desenvolvimento e Gestão pela UFBA e CEO Mercafro

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#Opinião: Desmistificando o Dia de Finados – Por Januário

Ana Paula Nobre

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Januário
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Em Desmistificando o Dia das Bruxas, discutimos o real sentido dessa festa, desde o Antigo Paganismo até a sua cristianização. Abordamos também a mudança do Dia de Todos os Santos, antes celebrado em 13 de maio, para 1º de novembro, como inflexão histórica que aproximou o paganismo da mística cristã, já que o Halloween ocorre em 31 de outubro. Contudo, a 2 de novembro de 998, o Abade Odilo, na abadia beneditina de Cluny, França, instituiu essa data como emblemática para orar pelos mortos.

O gesto de Odilo contribuiu sobremaneira para o estreitamento paganismo-cristianismo, todavia, foi mais além, haja vista resgatar um dos aspectos centrais da visão católica: para chegar ao Paraíso, as almas deveriam cumprir estágio em um Plano de Purificação, o Purgatório. Nessa dimensão, os espíritos acolhem as orações dos vivos e a intercessão dos Santos, de Maria Santíssima e do próprio Mestre Maior, Jesus Cristo. Essa tradição se disseminou rapidamente e dos séculos X ao XV, orar pelos mortos se popularizou pela Europa a ponto de 2 de novembro ser denominado Dia de Todas as Almas. Na verdade, esse período é o legado deixado pelos cristãos primitivos: ante as perseguições do Império Romano, nos séculos II e III, eles fugiam para os subterrâneos de Roma, enterrando e orando por seus entes queridos.

A colonização das Américas popularizou o Dia de Todas as Almas, haja vista a imposição do catolicismo sobre os povos conquistados. No Brasil, encontramos essa data, ainda que secularizada, como um momento no qual muitos visitam os túmulos de parentes e amigos que já realizaram a viagem para o Astral. Flores, velas e orações são utilizados: as flores simbolizam a evolução espiritual, as velas representam o Caminho da Iluminação e as orações, a evocação da benção de Deus para que a pessoa morta alcance o descanso eterno.

Por essas práticas, percebemos a quantidade de paganismo no interior do cristianismo: o Festival de Samhain, marcando o fim da colheita e a chegada do inverno, era, para os celtas, o momento de retorno dos mortos para a Terra e uma ocasião para se comunicar com os espíritos. Se os celtas acendiam fogueiras e ofereciam bebidas e comidas para recepcionar os espíritos, encontramos nos ritos católicos a analogia de quem acredita ser possível rogar a Deus por quem já partiu.

Longe de defenestrar a fé católica, percebemos no Dia de Todos os Mortos, ou Finados, a oportunidade do diálogo universalista entre todas as crenças: na Umbanda são realizados louvores aos mortos, no Babá Egun, outra religião afro-brasileira, vemos os iniciados vestidos com eku, indumentária especial feita de tiras de pano bordadas, cantando em homenagem aos que já se foram. Em países do sudoeste asiático, encontramos pessoas celebrando a memória de seus ancestrais no Qingming, festiva anual em torno de 5 de abril. Nesta tradição, é também costume ir à templos orar pelos falecidos, além de queimar joss, considerado o dinheiro dos mortos.

O Dia das Bruxas ou Halloween, em paralelo com o Dia de Todas as Almas ou Finados, demonstra que religiões de cultos diversos compartilham da mesma crença: a importância de louvar os mortos. Isso comprova a origem única de todas as religiões do mundo, através da Religião-Sabedoria, A Ciência Secreta, ensinada pela Filosofia Hermética. Nesses termos, o racismo religioso encontra-se desamparado de qualquer racionalidade, haja vista todas as crenças terem uma base comum. Portanto, é tarefa da humanidade acolher a si mesma em suas aparentes diferenças, que, na verdade, são caminhos entrelaçados à Perfeição.

Armando Januário dos Santos é Trabalhador da Luz, Mestre em Psicologia, Psicólogo (CRP-03/20912) e Palestrante. WhatsApp: (71) 98108-4943 / Instagram: @januario.psicologo

 

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