Artigos
#Opinião – Futebol, Copa, Livros e Democracia! – Por Mirtes Santa Rosa
Escrevo esse texto lembrando de meu pai. Cresci gostando de futebol e de Copa do Mundo. Lá em casa, os jogos sempre foram divertidos. Tinha risada, torcida contra e a favor, gritaria e muita fé de que o Brasil ia ganhar. Minha primeira Copa, aquela que comecei a ter entendimento, foi a de 1994. Torci e chorei. Ainda ganhei um feriado no dia do meu aniversário. O Brasil foi tetra campeão em 17 de julho daquele ano, véspera de meu aniversário de 13 anos. Não fui pra escola no dia do meu aniversário. O país viveu a euforia de ganhar após 24 anos e ter novos ídolos futebolísticos.
Naquela época, não sabiamos que 28 anos depois um desses ídolos seria apoiador de fascistas, mas o que esperar de alguém que sempre achou que ganhou a Copa sozinho? Depois da alegria de ser tetra, todas as Copas eram boas e em época de São João, na maioria das vezes, ajuda a aumentar ainda mais o feriado das festas juninas. Só que no meio de tantas copas e jogos, o meu pai nunca torcia pelo Brasil. Uma vez eu perguntei o porquê e ele me respondeu que ele não conseguia torcer por uma nação que não era verdadeira e que queria ver os mais pobres cada vez mais pobres. Que o evento da Copa do Mundo sempre foi potencializado pela Globo para esconder as misérias que vivíamos no país.
Entendi o que ele falou, mas minha paixão pelo futebol me permitia esquecer as mazelas do meu país. Eu estava enganada. Fiquei mais velha e mais madura. Esses últimos quatro anos me fizeram compreender as palavras dele e trouxeram uma verdade amarga. Não consigo torcer por essa seleção. Olho para os jogadores e só vejo o quanto eles desejam não falar sobre um país livre ou sobre a importância da democracia e liberdade para todos. Os seus salários são desrespeitosos com a maioria da população. Seus privilégios são assustadores. Mas a falta de coragem é o que mais me instiga a não gostar deles.
Jogadores de futebol que alcançam o sucesso, na sua maioria infelizmente sofrem de embranquecimento e passam a ser pasteurizados. Dias atrás vi uma reportagem que dizia: “As esposas dos jogadores mostram seus looks para torcer por seus maridos”. O que me chamou atenção era que todas tinham a mesma cara, inclusive o mesmo botox. Todas casadas com homens negros. Tenho certeza que nem preciso descrever a aparência dessas esposas. Sabemos qual é o padrão de mulheres bonitas e aceitas na sociedade futebolística da CBF. Odeio falar de mulheres, mas reportagens como aquelas me afetam no que diz respeito ao ser mulher objeto ou mulher perfeita. Isso não existe, mas a cultura do futebol nos faz acreditar nisso, assim como nos faz acreditar que em dias de jogos estamos unidos.
Assisto o jogo em um bar restaurante, durante a Flip, em Paraty, uma das cidades mais caras que temos no Brasil. Na mesa que me encontro olho o rosto dos meus amigos brasileiros e não me enxergo. Paraty é branca e burguesa. Falei um pouco mais alto que seria legal a Sérvia fazer um gol pra que eu ganhasse o bolão. Na cara de meu vizinho de mesa veio o desprezo e o entortar da boca. Ele está vestido com a camisa da seleção de 1994. Será esse um sinal para lembrar da alegria daquele dia?
Se eu tivesse a capacidade de ler mente como o Galvão Bueno em suas narrações, eu poderia afirmar que ele reconheceu de onde sou natural e pensou: o que esses nordestinos estão fazendo aqui? Eu estou em Paraty porque resolvi realizar um sonho. Conhecer a maior festa literária do país e, assim, conseguir falar por experiência que ela é branca, mas já permite que nossas narrativas possam ser contadas e vendidas. Das alegrias que estou vivendo na Flip, que acontece no meio de uma Copa, foi encontrar a jornalista Milly Lacombe. Quando a reconheci encostei e falei: amo os seus textos sobre o machismo e racismo no futebol. Abracei ela sem vergonha nenhuma e disse: “Vamos perder a Copa”. Ela me olhou, me abraçou mais uma vez, deu uma boa gargalhada e começamos uma boa conversa sobre o país que acreditamos.
Sobre quem são nossos ídolos nesse esporte nacional. Entendo Neymar ser bom jogador, mas ser ídolo não consigo. A conversa é diária com meu filho de oito anos. Hoje sou eu que tento explicar a ele sobre o motivo de não gostar do melhor jogador da seleção. Me sinto na música “Como nossos pais” de Belchior. Milly – estou cheia de intimidade – me disse que, quando conseguíssemos vencer a barreira do futebol, seria real a transformação de nossa nação. Mandei um beijo pra Casagrande e falei que futebol é democracia.
Uni o que ela falou com o que meu pai me ensinou ao não torcer pelo país nas Copas anteriores e senti um orgulho danado de mim. De entender que eu sou a protagonista de minhas escolhas. Que a educação, que a autora homenageada da Flip, Maria Firmina dos Reis, desejava para cada brasileiro e brasileira me libertou para ter a certeza que remar contra a maré da torcida nacional, que deseja nos enganar que somos todos irmãos e vivemos em um democracia racial em dias de jogo do Brasil, honra a luta de meu pai e de tantos que sempre disseram que o futuro é construído entendendo o passado.
No meio da escrita desse texto, tomo um susto, o bar todo grita gol e é de Richarlison. Lembro que Richarlison pediu atenção ao caso de Dom Philipps e Bruno Pereira. Volto ao texto rindo e o bar vai ao delírio com mais um gol. Novamente de Richarlison. Um verdadeiro golaço, daqueles que nos fazem amar o esporte e suas conquistas. Começa a zueira dos memes na internet. Não consigo parar de rir. Cada um melhor que outro. Na imagem que a TV pegou que ele está com a camisa suspensa, sentado no banco de reserva, sendo cuidado por todos, fiz aquela cara de paisagem de quem pensa muitas coisas que não devem ser ditas. Não é certo pensar mal dos coleguinhas de nação.
Sim, eu torci depois dos gols, fiz amizade com o grupo da mesa vizinha que tinha uma bandeira do Brasil escrito “É pra Copa” e vestia a camisa azul da seleção da Bósnia. Peço a bandeira emprestada. Um dos caras ri da gravação de nosso vídeo para os stories onde eu digo que eu torço pelo Brasil que sabe quem é Neymar e seu mau exemplo. A mesa de nossos novos amigos agradecem a votação de nossa Bahia contra o inominável, aquele que não deve ser nomeado. Dizem logo que são de Minas, de Juiz de Fora e que eles também fizeram sua parte. Camilla pede mais uma cerveja. Pego a bandeira que pedi emprestada. Preciso de uma foto pra posteridade, já que é de passado de Copas e de lutas democráticas que nossa Pátria Mãe Gentil resiste e existe.
E na hora da foto ainda encontro a autora Teresa Cárdenas, que pede a bandeira emprestada e que estava na resistência da torcida no mesmo bar. Essa Copa já deu certo. A Flip já deu certo 20 anos depois. Eu estou feliz por torcer por um Brasil melhor. Por torcer e lutar por aquele país que meu pai sempre imaginou. E vocês?
Mirtes Santa Rosa é publicitária e especialista em Comunicação e Gerenciamento de Marcas e também trabalha com planejamento estratégico comunicacional de projetos culturais, no qual pode mesclar suas duas maiores habilidades profissionais: gestão e comunicação. É umas das idealizadoras e apresentadoras do Umbu Podcast.
Confira outros artigos dela AQUI.
Artigos
#Opinião – A função esotérica do incenso – Por Januário
Há quase dois milhões de anos, os povos denominados pela arqueologia como primitivos “conheceram” o fogo. Além de preparar alimentos, clarear ambientes e enfrentar predadores, percebeu-se A Tarefa Superior desse elemento: iluminar o caminho até A Grande Consciência Cósmica. O plasma formado por átomos livres, resultantes da combustão, revela a sutileza d’A Sabedoria Universal.
Paralelo a esse conhecimento, os humanos também identificaram como determinados aromas produzem alterações psicológicas, exercendo efeitos nos sete centros energéticos do corpo, os chakras[2] da cultura hindu. Logo, aquecer ervas aromáticas ao fogo tornou-se costume entre nossos ancestrais. Nasciam as primeiras tradições místicas, reconhecendo os efeitos terapêuticos do incenso, um importante amplificador da consciência e purificador de ambientes.
A palavra latina incendere, literalmente, acender ou queimar, remete às escolas herméticas do Antigo Egito, passando pelas tradições da umbanda, candomblé, xintoísmo, budismo, judaísmo e cristianismo, encontramos a utilização do incenso como chave para acessar os Planos Espirituais. Diversas escolas esotéricas, como a maçonaria, o martinismo, o rosacrucianismo, o sufismo e algumas tradições do Yoga guardam consigo os segredos do preparo de incensos específicos para a transmutação do espírito, buscando a perfeição.
São raras as pessoas que conhecem o sentido profundo do incenso. A superstição vulgarizou o uso, distorceu o seu propósito original, substituindo-o por dogmas. Não obstante, encontramos nos livros adotados por várias religiões, referências ao incenso como presente para celebrar o nascimento de alguns avatares: foi assim com O Mestre Jesus[3].
Tecnologia espiritual, útil para queimar miasmas e larvas astrais, o incenso protege, purifica e auxilia a entrar em contato com O Caminho Ancestral Superior. Um meio para REunir-se aos Arcanos do Conhecimento Eterno. A fumaça que se desloca pelo ar da aspiração humana, rumo A União Secreta e Suprema com O Todo.
[1] Armando Januário dos Santos é Trabalhador da Luz, Mestre em Psicologia, Psicólogo (CRP-03/20912) e Palestrante. Contato: (71) 98108-4943 (WhatsApp).
[2] Em artigo posterior, falaremos sobre os sete chakras e a sua importância para equilibrar os nossos sete corpos: físico, mental, emocional, astral, essencial, espiritual e energético.
[3] “Entraram na casa e encontraram o menino com Maria, a sua mãe. Então se ajoelharam diante dele e o adoraram. Depois abriram os seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra” (Mateus 2:11).
Artigos
#Opinião – João: um sol místico na Judeia – Por Armando Januário
Entre os santos mais populares do Brasil, São João Batista é uma das figuras mais importantes na tradição judaico-cristã. Reverenciado pela cultura nordestina nas celebrações de junho, o Batizador de Jesus, desde os primórdios da sua existência, cultivou intimidade com os arcanos da Sabedoria Universal.
João foi educado nos preceitos judaicos e logo adentrou ao nazireado, costume típico do judaísmo, no qual algumas famílias destinavam seus filhos para uma vida ascética: os nazireus deixavam crescer a barba e os cabelos, se privavam de bebidas alcoólicas e uvas, e não tocavam em cadáveres. Essa moral era o caminho encontrado para a introdução em conhecimentos profundos sobre A Energia Criativa. O Batista afirmava que batizava em água, contudo, viria Aquele que batizaria em fogo, sendo maior que ele (Mateus 3:11). Essa passagem bíblica dá a entender que João já conhecia a iminente Manifestação Crística em Jesus de Nazaré. Com efeito, ele é o filho de Isabel, que ainda no ventre da sua mãe, pula de júbilo quando ela ouve a saudação de Maria, grávida de Jesus (Lucas 1:41-44). Esse momento indica que João e Jesus se conheciam de outras existências.
Antes de o imperador Justiniano, no Concílio Ecumênico de Constantinopla, em 553, condenar a reencarnação, o cristianismo primitivo encarava a pluralidade das existências como realidade. Por isso, quando Jesus afirmou que João “[..] é Elias, que havia de vir” (Mateus 11:14), o Mestre alude a vida pregressa do Batista, algo que certamente não causou surpresa aos presentes. A própria encarnação de João, anunciada pelo anjo Gabriel confirma a existência pretérita de João como Elias: “[…] e [João] irá adiante dele com o espírito e a virtude de Elias, a fim de reconduzir os corações dos pais para os filhos” (Lucas 1:13).
João Batista é uma figura tão especial que os festejos em sua homenagem uniram certas tradições antigas[1], na qual a data está inserida no solstício de verão, quando o ângulo do sol se distancia ao máximo da Terra. Esse fenômeno ocorre apenas duas vezes por ano: em junho, no Hemisfério Norte e em dezembro, no Hemisfério Sul. Temos, portanto, dois sóis: João, o sol que vem para anunciar a chegada de outro sol, reluzente e soberano: Jesus, o Cristo Planetário.
[1] Os celtas comemoravam o solstício de verão em honra ao deus Sol, para o qual pediam proteção contra maus espíritos e pragas nas colheitas. As festas incluíam fogueiras e fartura, apontando para o desejo de prosperidade espiritual e física.
Artigos
#Opinião – O sentido místico do Dia dos Namorados – Por Armando Januário
Por aspectos históricos e econômicos, o Brasil celebra o Dia dos Namorados em 12 de junho. A 1948, o publicitário João Dória, pai do ex-governador de São Paulo, foi contratado por uma loja. Ele percebeu que o Mês das Mães era rentável para o comércio, em oposição a junho, um mês de queda nos lucros. Planejando estender os ganhos comerciais, Dória escolheu a véspera do Dia de Santo Antônio – na tradição católica, O Santo Casamenteiro – para aquecer os corações e o comércio. A estratégia deu certo e temos o Dia dos Namorados em junho, mais de 4 meses após a data tradicional, 14 de fevereiro, Dia de São Valentim. Contudo, essas tradições oficiais envolvem um mistério muito anterior.
No Império Romano, havia a celebração do deus Lupercus, para afastar os maus espíritos e atrair fertilidade. A Lupercália era marcada pelo momento em que os homens retiravam de um jarro o nome das mulheres que seriam suas companheiras nessa festa e nas seguintes. Posteriormente, alguns desses casais se apaixonavam e se casavam, porque teriam o que se considera “sorte no amor”. Essa expressão envolve ser agraciado através do sorteio, que, inicialmente, seria puro acaso. Não obstante, o sentido esotérico de sorte abrange saber o instante adequado para consolidar um plano. Percebemos, então, que o sentido dado a esta palavra se afastou significativamente do seu conceito original. Fica também evidente a inexistência da sorte como percebida nos tempos atuais, mas, sim, que ela obedece às Leis Cósmicas, sobretudo, a Lei de Atração. O oculto no Dia dos Namorados se apresenta.
A celebração dos apaixonados potencializa a vibração e atrai a pessoa amada para o campo magnético do emissor. Não se trata de magia ou acaso. Antes, falamos do Poder Divino[3] manifesto em nós. Por isso, quando pensamos em viver um amor com a firme convicção de sua existência, a materialização dessa realidade ocorre, obedecendo o Mistério denominado Tempo.
Portanto, o Dia dos Namorados, longe de uma data comum, oferece a oportunidade vibracional para ser A Unidade Eterna, Princípio de Todas As Coisas, que utiliza o desejo para cocriar sonhos.
[1]Dedico esse texto a minha noiva, Andrêina.
[2]Armando Januário dos Santos é Trabalhador da Luz, Mestre em Psicologia, Psicólogo (CRP-03/20912) e Palestrante. Contato: (71) 98108-4943 (WhatsApp)
[3]Em João 10:34, Jesus de Nazaré argumenta com seus opositores: “na Lei de vocês está escrito que Deus disse: “Vocês são deuses”” (O Mestre Jesus, em João 10:34). Deixamos com a pessoa do leitor a perspicácia para compreender o ensino secreto do Mestre.