Entrevistas
#Opinião – Crença e mentalidade próspera – Por Luciane Reis
Com o início do ano se renova na sociedade uma atmosfera de novidade e expectativa. Esse é um momento que precisa ser bem aproveitado e contemplado para que ao final essas expectativas não sejam frustradas.
Para a publicitária e nossa colunista, Luciane Reis, não se trata apenas de pensar positivo e acreditar que tudo acontecerá de forma mágica. De acordo com a mesma, a atitude de acreditar significa redirecionar as motivações, assimilando aprendizados que permitam construir diferentes e eficazes experiências.
Neste bate papo, conversamos com nossa colunista Luciane sobre crença e mentalidade próspera. No papo, ela nos sinaliza que existem diversas formas de lidar com as situações da vida – sejam essas corporativas ou pessoais.
Dentro de elementos de representatividade da escassez e de abundância como algo distante faz com que algumas pessoas encarem a vida sob a perspectiva da falta como algo comum. Logo, utilizam pouco o olhar de prosperidade diante de uma cultura de cultivo de pensamentos cujo principal elemento é nunca ter o suficiente para fazer.
Confira um pouco mais sobre essas concepções e mentalidades neste bate papo com nossa colunista.
Portal Soteropreta – Como você observa o diálogo sobre mentalidade e crenças sobre dinheiro na orientação de profissionais e intelectuais negros, sobretudo para mulheres negras empreendedoras?
Luciane Reis – Não podemos iniciar essa reflexão sem entender o que crenças significam. Quando falamos de crenças, estamos falando de pensamentos criados, geralmente, no período da infância e desenvolvidos ao longo da vida. Ou seja… convivemos com informações práticas e emocionais, que escutamos e que acabam se tornando verdades que, com o tempo, desenham nossa personalidade.
Durante minha dissertação de Mestrado, ao falar sobre a presença da intelectualidade negra nos processos formativos, um ponto que muito me chamou atenção ao abordar a forma como o Estado brasileiro e as organizações tem formulado, criado e implementado os instrumentos legais de formação empreendedora, empresarial e de gestão foram as metodologias, grades de formação e dados utilizados para impulsionar modelos de negócios e formar gestores. Poucos deles trabalham os mapas afetivos econômicos, em especial das pessoas negras, seus modelos de representatividade e narrativas ou o entendimento de que uma crença está relacionada a uma ideia que se acredita.
Isso quer dizer que relacionar dinheiro e prosperidade para pessoas negras, é mais que um desafio. É preciso construir modelos de pensamentos, diálogos e autoridades com capacidade de fazer nos processos de formação a confrontação de verdades enraizadas, que não só falam, como também moldam comportamentos e posturas. Ainda que se pense na inclusão, isso os invisibiliza enquanto protagonistas no mundo econômico. Entender que a mentalidade e as nossas crenças não só dizem muito sobre a forma que as nossas relações financeiras se dão. Isso é fundamental diante de modelos de ensinamentos que moldaram o crescimento das pessoas. Somos uma geração formada por pessoas que não colocou a autonomia econômica e de desenvolvimento pessoal como projeto de futuro; e isso fez com que muitos se acostumassem com a escassez.
Trabalhar essas crenças e modelos formativos, conectada com a produção intelectual negra da área de desenvolvimento e gestão, é fundamental levando em conta todo processo de enfraquecimento do auto estima negra.
Portal Soteropreta – Qual é a importância de se afastar de uma mentalidade que fere a relação negra com o dinheiro e a prosperidade, logo no início da carreira profissional?
Luciane Reis – O primeiro ponto é entender que combater crenças passa por mudança de posturas e comportamentos. Quando tratamos do que são crenças limitantes, estamos nos referindo a barreiras mentais construídas durante toda uma jornada de vida. Nesse sentido, deixar de alimentar essas convicções de forma mecânica é o primeiro ponto e isso não acontece sem ajuda, estímulo e contato com outros referenciais de superação que dialoguem com esses perfis de indivíduos.
Quando eu fui estudar sobre intelectualidades negras que refletem sobre dinheiro, o meu primeiro critério foi observar como as pessoas ao meu entorno se comportavam com relação a esse e, principalmente, o funcionamento das coisas que moldava essas perspectivas. Olhar como as pessoas me tratavam e, acima de tudo, quais redes de suporte e pessoas me cercavam, foi fundamental para mudar meus comportamentos e hábitos. A grande questão é que para alguns de nós, o contato com pessoas e ferramentas que nos ajudam a entender como fazer isso, é muito tardio ou acessado na dor e em tentativas de erros e acertos.
Ainda damos pouca importância às nossas relações emocionais e pensamentos de motivação. A busca pelo autoconhecimento não pode ser tratada como algo menor quando se deseja acessar espaços e se é uma pessoa negra. Sou uma mulher iniciada no Candomblé e quando comecei a querer entender quem eu era, buscar a história do orixá que eu carrego, isso me enriqueceu e ganhou importância neste querer saber como eu me sentia. Saber quem era Oxumaré – não do ponto de vista mítico- mas de personalidade e atos, foi fundamental para entender que para chegar onde eu desejava e desejo, o candomblé sozinho, por exemplo, não dá conta; é preciso dialogar com outros modelos de cura e motivação.
Trabalhar essas crenças quando se quer ocupar esses espaços não diz respeito ao outro no primeiro momento. Diz respeito ao que se deseja alcançar levando em conta suas habilidades e competências, mas também concepções emocionais. Revisitar nossa história econômica negra, entendendo que essa história é o que vai nos colocar em contato com nosso caminho de prosperidade e impacto que nos violenta, é central. Dentro do ciclo de prosperidade que se inicia com o SER, FAZER E O TER, deixar de pensar pelo fim (TER, FAZER para somente depois SER) é uma meta fundamental de quem quer construir outras realidades. Minha experiência enquanto observadora e pessoa dentro deste ambiente de conexão e busca de cura, tem mostrado que sem ignorar o papel do racismo nesta caminhada, estamos deixando de construir casas em terrenos de terra para construir apartamentos em areia (ou seja, sem uma base sólida), por ignorar nossas emoções e as necessidade de cura que elas demandam.
Portal Soteropreta – como você analisa a criação de perspectiva de futuro quando a nossa mentalidade está sempre voltada para a escassez?
Luciane Reis – O principal problema, já diz Myrdal em “O Dilema do Negro Americano”, é prático: a construção de um país que, em seus pequenos atos, tem legitimado e empurrado para a pobreza uma parcela significativa da sua população. A grande questão é que, diante desta realidade, precisamos criar ainda mais possibilidades práticas para as pessoas negras ganharem a vida e isso não acontece sem interpretações honestas sobre o negro brasileiro enquanto parte da população chave no desenvolvimento do país.
Estudar sobre essa caminhada econômica, valorizando o autoconhecimento e pensamentos que essas histórias promoveram é o primeiro ponto. Curar dentro para curar fora é o papel do diálogo sobre desenvolvimento pessoal junto aos processos de formação e capacitação como conhecemos. Não falar de algo por que se sente desconfortável é o maior retrato do privilégio que o ecossistema econômico e empresarial brasileiro vem construindo ao longo do tempo. Logo, produzir dados sobre comportamento econômico racial, usando teóricos negros da área de Administração e Econonmia nos processos de formação, é fortalecer a importância econômica do dinheiro negro no PIB do país. Precisamos de empreendedores negros que tem como ato pragmático empregar pessoas negras e dar-lhes dignidade econômica; esse é o ato político que tem que se promover. Prepará-los para serem agentes econômicos investidores de projetos com viés racial, sejam esses projetos candidaturas negras ou apoio a outros empreendedores negros. Isso é central para uma população que tem se formado em cenários não amistosos.
Precisamos ter muito nítido quem são nossos espelhos e estimuladores do diálogo sobre esse tema, no intuito de organizar novas correntes de força que se desenvolvam entre nós de forma pragmática. Logo, o uso político dos números e pensamento econômico racializado não só constrói eficiência econômica via questão racial, como também promove a visibilidade e acesso ao pensamento negro na economia pois traz outros modelos de solução inovadores para uma economia em transformação.
Luciane Reis é publicitária, colunista do Portal Soteropreta, idealizadora do MerC’afro e pesquisadora de Afro empreendedorismo, Etno desenvolvimento e negócios inclusivos.
Entrevistas
Série Nossas Pretas Protagonistas estreia em novembro
No cenário em constante evolução que enfrentamos, a necessidade de unir palavras e ações para causar um impacto torna-se cada vez mais urgente. Com frequência, há um descompasso entre o discurso e a prática, onde muitos proclamam valores de igualdade e justiça, mas suas ações não refletem esses ideais.
No entanto, para mudar essa realidade, encontramos inspiração em nossos ancestrais, especialmente nas mulheres negras, que enfrentaram e ainda enfrentam desafios inimagináveis, deixando legados duradouros.
Reconhecendo a importância de contar as histórias dessas mulheres, o projeto “Nossas Pretas – Protagonistas” do Portal Soteropreta emerge neste mês de novembro para dar visibilidade a mulheres baianas que têm feito a diferença em diversas áreas, que vão desde cultura e política até economia, educação e saúde.
Coordenado pela publicitária Luciane Reis e pela administradora paraibana Alexandra Camilo, o projeto se destina a um público que se interessa por temas relacionados à diversidade e igualdade de gênero.
A ação promocional se materializa por meio de uma série de matérias jornalísticas que serão publicadas no Portal, principal veículo de cultura negra em Salvador. Essas matérias se dedicarão a contar a trajetória e o trabalho de mulheres negras baianas que se destacaram ao longo de 2023 em suas respectivas áreas de atuação.
Luciane Reis, coordenadora do projeto, destaca a importância de revisitar a maneira como as construções históricas ocorreram. Muitas vezes, a narrativa histórica moldada a partir de perspectivas eurocêntricas, chegam a nossa realidade frequentemente desprovidas de supervisão negra, resultando em uma história tendenciosa e incompleta.
Revisitar e reescrever nossa história, trazendo para o centro do processo as mulheres negras do nosso dia a dia, é uma justa inclusão de vozes negras na criação e revisão destas narrativas históricas, pois não se conta historias de protagonismo negro sem as matrizes geradoras do mundo.
‘Ao contar histórias que não se restringem a figuras históricas famosas, o projeto valoriza a caminhada e história de pessoas comuns que também são inestimáveis para a realidade negra do pais. A criação de narrativas que celebram a beleza da vida cotidiana, a luta diária e as conquistas modestas feminina é uma maneira poderosa de inspirar e conectar as pessoas”, diz Luciane.
Ao longo do mês de novembro, o público do Portal Soteropreta, juntamente com o público do Mercafro, encontrará nestas histórias lições de empatia, solidariedade e humanidade que moldam um futuro mais justo e igualitário.
Para Alexandra Camilo, também coordenadora do projeto, este é o momento de reunir esforços e causar um impacto positivo. “Ampliar a voz das mulheres negras exige uma harmonização entre o discurso e a prática, e aprender com os ensinamentos de nossos ancestrais. Desta forma, contar as histórias de mulheres negras e de pessoas comuns, é uma maneira de revisitar e reescrever essas narrativas de forma inclusiva e autêntica”, diz.
Para ambas, é preciso ampliar a voz daquelas que muitas vezes são silenciados pelo patriarcado, seja branco ou negro, para construir um novo ponto de vista que elimina limites impostos às nossas narrativas. Com o projeto “Nossas Pretas – Protagonistas” é preciso que essas vozes sejam compartilhadas, só assim estaremos contribuindo para a construção de histórias mais belas e significativas.
Alexandra Camilo é Advogada, Administradora de empresas e atua no mercado de Compliance em todo o Brasil.
Luciane Reis, Publicitária, Design Instrucional e Mestra em Desenvolvimento e Gestão Ciags- UFBA. Pesquisadora da História Econômica Negra
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Lucas de Matos entrevista a jornalista e historiadora Mila Burns sobre livro ‘Dona Ivone Lara: Sorriso Negro’
O comunicador Lucas de Matos entrevista a jornalista e historiadora Mila Burns sobre ‘Dona Ivone Lara: Sorriso Negro’, livro lançado pela Editora Cobogó (2021). Nele, Mila faz uma análise sobre como a obra é referencial para o fortalecimento da luta antirracista no Brasil. O encontro acontece pelo Instagram no dia 13 de abril (quinta), data de nascimento da cantora, às 19h no Brasil e 18h em Nova York, onde a jornalista reside.
Temas como a carreira de Dona Ivone Lara, curiosidades sobre as músicas e o impacto do álbum na MPB serão conversados na live sobre o livro, que integra a série ‘O Livro do Disco’, considerado um divisor de águas pra sambista. Hits como ‘Sonho Meu’, ‘Alguém me Avisou’ e ‘Tendência’ fazem parte desse repertório que versa sobre identidade, amor, ancestralidade e cultura popular.
“É uma maneira de festejar o legado de Dona Ivone Lara, que é eterno”, comenta o idealizador do projeto Lucas de Matos Entrevista, no qual já foram entrevistadas personalidades como a atriz Elisa Lucinda e o cantor Davi Moraes. “Receber Mila Burns, biógrafa de Dona Ivone, e jornalista de grande proeminência, vai deixar o papo ainda mais especial. Esperamos vocês”, finaliza.
O quê: Live – Lucas de Matos entrevista Mila Burns
Quando: 13 de abril (quinta), às 19h
Onde: Instagram @_lucasdematos
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Olodum lança Podcast “Carnaval, Cultura e Negritude”
Uma realização do Olodum, o Podcast “Carnaval, Cultura e Negritude” será lançado em abril nas plataformas do youtube e spotify. A ação visa realizar um passeio por meio dos carnavais do Bloco Afro Olodum, com entrevistas com personalidades, sejam elas figurinistas, diretores, compositores e afins que fizeram e fazem parte dos mais diversos processos de construção desse universo,
Este programa semanal vai explorar o universo da festa momesca sob a perspectiva de um Bloco Afro, demonstrando a importância dos temas de carnaval como elemento de educação popular, de resgate de identidade, de recontação e popularização da história da África e das pessoas negras em diáspora.
Serão pautados: o contexto histórico da realização de cada carnaval e repercussão do tema, as composições, indumentárias e tudo o que permeia esse espaço de criação de subjetividades, nas dimensões palpáveis e simbólicas, realizando um paralelo com a contemporaneidade.
Entre os temas estão: 1987 – Do Egito à Bahia, 2011 – Tambores, Papiros e Twitter e Mãe, Mulher, Maria – Uma História das Mulheres.
Foram convidados nomes como Nelson Mendes, Tonho Matéria, Sandoval Melodia, Marcelo Gentil, Lia Santos, Adriana Rocha e Wanda Chase.