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#Opinião: Zona de conforto ou uma melhor Comunicação pra nós? – Por Mirtes Santa Rosa

Durante minha infância sempre me imaginei sendo professora. Depois, sendo advogada. Mas uma das brincadeiras que eu mais gostava era de organizar a empresa que eu tinha com minhas amigas de infância. Eu era a secretária. Sentávamos todas no corredor do sétimo andar no prédio em que eu fui criada, no Imbuí, e brincávamos de ser gente grande e que éramos casadas e felizes na nossa profissão. Sim, eu brincava que era uma mulher poderosa e que essa mulher era casada. Percebi nesses dias na terapia que muito do que nos tornamos está em nós desde a segunda infância, que começa a partir dos 8, 9 anos.
E foi bom analisar a publicitária, podcaster, empresária, casada e com dois filhos de hoje sob esse prisma. O que você quer ser quando crescer? Eu sempre tive horror a essa pergunta, pois, de onde venho, sabíamos de uma coisa: os locais de sucesso são fechados para pessoas como eu. Ao entrar na faculdade, por quase três anos, cursei Publicidade e Propaganda na Ucsal e Letras na Ufba ao mesmo tempo. Lembro que me sentia em casa no sonho de ser professora em Letras, mesmo tirando notas bem medianas nas matérias e de, na Ucsal, ser uma aluna interessada, fisgada pela comunicação, mas tinha medo de dizer a mim mesma que esse era o caminho pra eu ser feliz “quando crescer”.
Tudo na Ucsal muitas vezes me fazia me sentir pequena e, algumas vezes, envergonhada. Eu tinha vergonha de não ter grana para ir nos locais da moda nos fins de semana ou de não viajar nas férias, mas sentia um orgulho tão grande quando um semestre terminava e eu tinha tido boas notas. Também me orgulhava do pagamento em dia pra me matricular, mesmo que para isso tivéssemos que penhorar algum anel de ouro de mainha. As greves da Ufba me irritaram e eu como muitos alunos que adentram suas portas para a felicidade a partir de um canudo de uma universidade pública resolvi abandonar o curso, apesar da linguística nunca ter saído de dentro de mim.
Escolhi a comunicação ou foi a comunicação que me escolheu? Meus pais por muito tempo acharam estranho minha escolha. Ao me formar, um dia acabei tendo uma conversa difícil com eles. Eu estava formada, os boletos do Fies chegando, e não trabalhava. Eu tinha escolhido a comunicação mas ela não me escolhia. Ela não me escolher doía muito e eu sentia vergonha de mim. Questionava meu tempo na universidade, tinha raiva do mundo por ele não me escolher. As vagas surgiam e nelas estava escrito alguns pré-requisitos como: ter celular e carro. Como eu poderia ter esses bens de consumo se nem dinheiro para pagar o boleto do Fies em dia eu tinha?
Mas foi vendo esses pré-requisitos que não desisti. Quando lembro do meu primeiro emprego, sinto uma mistura de alegria e de tristeza estranha mas que me fez chegar em quem sou hoje. Lembrei que faz quase 20 anos que me formei, que alcancei o sonho do diploma e que sinto um orgulho danado de ter pago meu financiamento. Enquanto muitos pagam seus estudos em 4 anos, eu paguei em 11 anos. Enquanto muitos tinham carros e celulares, eu dei entrada no meu primeiro carro, após receber a rescisão de uma empresa de comunicação que me sugou até o limite e, quando eu pedi pra sair, após uma situação vexatória me chamaram e disseram que iam até me demitir para que eu pudesse ter meu seguro desemprego.
Claro, sem esquecer de dizer que o cliente não ia sentir falta de minha gestão e atendimento porque quem ia passar a atender era muito mais bonita que eu e com olhos verdes. Sim, escutei isso. Hoje entendo que o assédio moral era grande e principalmente eu não era filha de alguém tido como importante. Mas meu Palitinho sempre foi o mais importante pra mim, sem ele eu nem estaria tendo aquela situação pra viver. Foi ele que no dia da conversa crucial me disse: “Se essa profissão não te quer como você é lute pra mudar algo”. O sindicalista que vive nele achava um absurdo não termos uma entidade de classe dos publicitários. Teve um ano que eu trabalhava em uma agência e foi dito que o sindicato dos publicitários parou o funcionamento de uma grande agência, se não me falha a memória, eu fui uma das poucas que vibrou com aquela parada de algumas horas de trabalho.
Esse poder do trabalhador publicitário aconteceu em uma empresa que eu não trabalhava, mas fiquei na torcida para todos os anúncios não chegarem no horário do fechamento do Jornal A Tarde ou Correio. Gosto de lembrar do panfleto dessa campanha salarial, tinham umas formigas de braços parados e eu achava massa. Tentando realizar uma análise semiótica meia boca e só com minha lembrança, entendo que as formigas éramos nós da comunicação que precisamos trabalhar em coletividade, principalmente na publicidade, mas ainda hoje muitos não compreenderam essa característica maravilhosa desta profissão. Ainda hoje, nós, publicitários ou especialistas em comunicação social, não somos organizados.
Os jornalistas tentam ser organizados, mas em terra onde os principais clientes investidores são os gestores públicos, muitos possuem medo de conversar abertamente sobre o mercado da comunicação. Talvez por medo de retaliações. Até quando estaremos buscando sobreviver na comunicação sem nos unir, sem sermos coletivos? Publicitários amam dizer que sabem das tendências, de ser criativo mas esquecem do poder da liberdade de expressão tão caro nas democracias. Eu senti a força da comunicação quando escolhi ficar com ela pelos anos 2000 e sei que vencer os obstáculos impostos por uma estrutura patriarcal, branca e homofóbica da Bahia não é fácil, mas aqui estou, me expondo e entendendo que é agora ou nunca que precisamos falar de comunicação democrática e inclusiva em nosso país e em especial em nosso estado.
O bolo publicitário e tantos outros investimentos precisam circular nas mãos dos micro e pequenos empresários da comunicação baiana. Se você já sentiu a magia de fazer comunicação, apesar dos pesares, e entende o seu lugar na cadeia produtiva desse estado, vamos juntos e juntas nos aquilombar, sindicalizar ou mesmo simplesmente conversar sobre a comunicação que queremos e precisamos ter para que a BAHIA SEM FOME ou SALVADOR CAPITAL AFRO também entenda que precisamos de uma BAHIA SUSTENTÁVEL na comunicação.
Que o caminho para o combate à fome é o mesmo que precisamos trilhar e debater na cadeia produtiva e transversal da comunicação. Diga não à insegurança da comunicação, pensando sobre soluções para nós mesmos profissionais da área. Não podemos mais achar que serão os grandes empresários da comunicação baiana que vão olhar por nós. Eles continuam sendo os mesmos de quando eu me formei há 20 anos e agora ainda mais potentes. Nem funcionários mais eles precisam ter para serem empresários da comunicação. Mas assim como naquele dia especial de minha memória lembro do levante dos publiças, reza a lenda que os anúncios não foram enviados no prazo para os jornais e que aconteceram muitos risos de canto de boca.
Aquela alegria que o trabalhador não consegue disfarçar do patrão e que eles piram. Reza a lenda também que muitos foram comemorar no Rio Vermelho, no boteco do França. Gosto de imaginar que se eu trabalhasse lá e não estivesse abafada pra pegar meu buzu pra voltar pra casa, até eu ia tomar uma para celebrar essa insurgência dos publiças baianos.
Hoje faz-se urgente lembrar que nós formiguinhas conseguimos viver em quase todos os ambientes, vivendo em colônia. Não tenha medo, não existe ChatGPT que substitua sua experiência e capacidade de sentir e expressar sua visão e leitura sobre as marcas e serviços. Sabemos que a reforma trabalhista nos dificultou a vida ainda mais. Quem souber de algum colega que tenha CLT levante a mão para pedirmos uma grana emprestada em dezembro no seu 13º. Precisamos parar de presumir que os caminhos continuam iguais. Eles hoje são diferentes e que a luta por sobreviver em nosso estado, tendo orgulho do canudo ou caneco construído, precisa deixar de ser por ser amigo de algum oligárquica da comunicação baiana.
Você já conversou hoje com seu amigo de profissão sobre o que ele pensa do mercado publicitário? Se seu broder não conseguir ir além de dizer que o mercado está ruim, sejamos todos sindicalistas e chamemos para conversar tomando uma ou um café no momento da rádio peão. Vale até marcar o encontro no dia presencial de sua ida na agência e diga: “vamos juntos mudar o mundo”. Muitos podem não dizer em voz alta, mas existe dentro de nós um narciso maravilhoso que também tem síndrome de herói que bem utilizado pode favorecer nosso ecossistema de cada startup que nos tornamos nesse novo mundo da comunicação.
Não fiquemos ignorantes e parados esperando a vida nos levar. Em bom baianês: bora se livrar dessa sensação estranha de conforto por estar empregado porque do jeito que está, não tá fácil pra ninguém e falar com os mais novos sobre a história e luta da comunicação baiana não vai te fazer um comunista. Vai apenas te fazer ser visto como um cidadão de bem e que pensa no próximo quando você estiver sentado na mesa do poder, pois é lá que precisamos sentar e usar do mandonismo que vive em todos nós e fazer acontecer a mudança.
Mirtes Santa Rosa é publicitária e especialista em Comunicação e Gerenciamento de Marcas também trabalha com planejamento estratégico comunicacional de projetos culturais, no qual pode mesclar suas duas maiores habilidades profissionais: gestão e comunicação. É umas das idealizadoras e apresentadoras do Umbu Podcast. Confira aqui outros artigos de Mirtes.
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#Opinião: Como experimentar relações sexuais positivas? – Por Januário

Já se sentiu drenado e em confusão mental, após ter relações sexuais? Do ponto de vista espiritual, isso ocorre porque somos seres cósmicos, com espírito, alma e corpo. Vibramos em padrões energéticos diferentes, portanto, todas as nossas interações com outras pessoas são trocas de frequências energéticas. Em outras palavras, nossa energia – sexual, inclusive – se mistura à da outra pessoa. Por isso, é útil tomar determinados cuidados, se queremos trocas sexuais que agregam positividade.
A energia sexual tem origem no Swadhistana, nome hindu para o chakra sexual, localizado abaixo do umbigo, até o sacro, osso triangular da base da coluna vertebral. Durante o ato sexual – casual ou em um relacionamento estável – através dos chakras, entrelaçamos espírito, corpo e alma. Esse fenômeno possibilita a criação de um cordão energético, e, com ele, o estreitamento dos laços entre os corpos espirituais. Esse processo pode nos impregnar com a energia da outra pessoa e vice-versa, levando, no mínimo, seis meses para se desfazer.
Contudo, em situações violentas, como estupro, o cordão energético pode continuar por anos, repercutindo de maneira negativa e dificultando a nossa iluminação espiritual. Por esse raciocínio, percebemos a covardia moral na atrocidade do estupro e compreendemos que as leis humanas refletem, mesmo imperfeitas, o nosso caráter divino, ao penalizar estupradores. Em paralelo aos prejuízos psicológicos, encontramos no estupro um ataque energético, que revela a corrupção moral dos autores dessa barbárie.
Neste respeito, compreender o sentido maior ligado ao conceito de cultura do estupro – na qual os meios de comunicação fomentam e enfatizam violências múltiplas contra as mulheres, objetificando os seus corpos – nos ajuda a compreender que aos prejuízos causados contra os corpos de quem é violentado, opera a violência espiritual de sujar o campo energético das vítimas.
Contudo, para além dos estupros, nossa aura também pode ser intoxicada em intercursos sexuais feitos com irresponsabilidade. Sexo é uma necessidade orgânica, mas, sobretudo, uma afirmação do nosso caráter divino, logo, buscar nessas relações, a reciprocidade do prazer sexual, utilizando nossos corpos para erotizar o outro, promove o bem-estar, a saúde mental e o contentamento. Isso harmoniza os chakras das pessoas envolvidas e gera uma psicosfera que potencializa a intimidade e o gozo. Devemos lembrar que a energia sexual é poderosa e quando utilizada para a satisfação mútua, potencializa o deleite, durante e mesmo após o enlace, contribuindo para que as pessoas se sintam acolhidas.
Longe de estabelecer um modelo ideal para as condutas sexuais, devemos levar em conta as subjetividades da outra pessoa com quem temos tal intimidade. Isso funciona como uma espécie de preservativo energético: utilizar o próprio corpo para colaborar com o orgasmo do outro demonstra respeito e empatia, que, além de aumentar a probabilidade da união cósmica, também previne contra a ação de larvas astrais.
Quando, durante o sexo, levamos carinho e cumplicidade, evitamos o surgimento de criações mentais, causadoras de insônia, cansaço e frustração. Em termos simples, o que pode ser melhor? Ser egoísta ou altruísta? Ir para a cama visando apenas o próprio prazer ou contribuir para que, independente de compromissos pautados por uma moral sexual dita civilizada, haja generosidade e troca?
Talvez na história do Ocidente, nunca tenha se falado tanto sobre sexo. Por outro lado, a frustração com esse tema nunca tenha sido tão alta: a pesquisa Love Life Satisfaction, realizada pelo Instituto Ipsos, em fins de 2022, revelou que a população brasileira tem um nível de satisfação sexual em 60%, 3 pontos percentuais abaixo da média mundial. Pouco ou nenhum diálogo e falta de conhecimento sobre o próprio corpo são os principais motivos listados pelos brasileiros. De fato, sem comunicação, como é possível desfrutar do sexo com plenitude? Como é possível ser positivo sexualmente, sem conhecer o corpo físico, mental e espiritual?
Enquanto a ideia comum sobre o ato sexual se restringir a uma mera descarga de hormônios, o aumento da insatisfação será cada vez mais provável. Por outro lado, quando compreendemos a nossa natureza espiritual, percebemos o aspecto transcendente desse maravilhoso Jardim das Delícias, que nos aproxima do Sagrado.
Armando Januário dos Santos é Taroterapeuta de O Baralho de Maria Padilha, Mestre em Psicologia e Palestrante. WhatsApp: (71) 99278-9379 / Instagram: @tarot.maria.padilha
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#Opinião: 2025: Conselhos do Tarot Maria Padilha – Por Januário

O ano de 2025 é regido pelo resultado do somatório 2 + 0 + 2 + 5 = 9. Temos o número 2 se repetindo e a presença do número 5, além do próprio 9. O que esses arcanos representam? Afinal, como será 2025? Encontramos as respostas nas Lâminas de Maria Padilha.
Em julho de 1997, A Senhora da Magia[1] comunicou a Eliane Arthman[2], através de projeção astral, as 36 cartas do Seu tarot. Se manifestava, então, o Tarot Maria Padilha, com o verso preto e cores marcantes – vermelho, dourado e branco – para gerar impacto visual e promover a cura interior. Essas foram exigências da própria Dona Padilha: o Seu tarot é terapêutico, preciso e objetivo; cada lâmina orienta para O Caminho da Luz.[3]
Através da Carta 2 – O Lápis – Maria Padilha revela a necessidade de aprimorar a nossa capacidade de expressar ideias. Em paralelo, somos convocados a estudar e planejar a vida, para que novidades interessantes aconteçam. A repetição do número 2 em 2025 traz ênfase para esse chamamento: estruturar ideias, com planos estabelecidos e metas bem traçadas.
Na Carta 5 – As Moedas – temos a Lei da Atração. Aqui, Dona Padilha mostra a importância de vibrar no Positivo, para acessar a riqueza espiritual e material. Amar sempre, praticar a gratidão, evitar fofocas, meditar, perdoar e ouvir músicas de alta vibração, são hábitos a desenvolver durante o ano. Pobreza de espírito e crenças limitantes atraem prejuízos, logo, devemos evitar frequências empobrecidas, porque elas trazem consigo presenças espirituais negativas.
Quem estuda e planeja a própria vida dificilmente terá tempo para se intrometer na vida alheia. Percebemos, nesse ponto, a relação entre as cartas 2 e 5: organizar o cotidiano sempre é favorável, seja por dar forma aos nossos objetivos, seja por estabelecer distância daquilo que pertence aos outros, e, portanto, não nos diz respeito.
Por fim, a Carta 9, se apresenta como mensagem central para 2025: uma poltrona na cor preta, vazia, como se estivesse abandonada, pois parece velha e empoeirada. Aqui, Maria Padilha, Espírito de Luz, incentiva a encerrar ciclos o mais rápido possível. Devemos aceitar o passado como um instante de aprendizagem para o crescimento espiritual: a poltrona talvez tenha sido confortável por algum tempo, porém, chegou o momento de abandoná-la e cultivar nobres valores. Sobretudo, precisamos nos abrir ao novo, deixando aquela poltrona – com velhos hábitos empoeirados – de lado, para seguir firmes, rumo à prosperidade e abundância.
2025 é um ano de encerramentos. Será necessário “morrer” ante determinadas questões, para, daí, renascer e caminhar por novas estradas. Deus, através do Mestre Jesus, na figura de Dona Maria Padilha nos abençoe e proteja para viver esse ano com coragem, verdade e paixão! Laroyê, Pombogira!
[1] Atributo pelo qual a Pombagira Dona Maria Padilha também é conhecida. Existem outros, a exemplo de Dama da Madrugada e Rainha da Encruzilhada. Mais informações sobre as Pombagiras, ou Pombogiras, são encontradas em dois artigos escritos por mim e publicados no Portal Soteropreta: Quem são as Pombagiras? (https://portalsoteropreta.com.br/2024/05/20/opiniao-quem-sao-as-pombagiras/) e Quem são as Pombagiras? Um mistério revelado (https://portalsoteropreta.com.br/2024/06/04/opiniao-quem-sao-as-pombagiras-um-misterio-revelado-por-armando-januario/)
[2] Cantora e compositora, Eliane Arthman é oraculista há várias encarnações. Ela também recebeu outras comunicações do Plano Espiritual e manifestou os Tarôs de Dona Sete e Seu Zé Pelintra.
[3] As informações neste parágrafo são resultado da minha aprendizagem junto a plataforma de e-learning Ûdemy, na qual realizei a formação O Baralho de Maria Padilha. Aproveito para expressar gratidão à Professora Lua Cigana.
Armando Januário dos Santos é Taroterapeuta do Baralho de Maria Padilha, Mestre em Psicologia e Palestrante. Instagram: @tarot.maria.padilha / WhatsApp: (71) 99278-9379
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#Opinião: Quando Ogum abre estrada pra Oxum, Xangô acompanha – por Patrícia Bernardes Sousa

Salvador amanheceu na primeira segunda-feira útil de 2025 com um novo ciclo de reparação promovido pelas águas do Terreiro Ilê Axé Iyá Nassô Oká, mais conhecido como Terreiro da Casa Branca. A filha de mamãe Oxum, ekedji de pai Ogum e advogada Isaura Genoveva, tomou posse cercada pela doçura sagaz de sua mãe das águas doces, as boas estradas de seu pai e seu filho Ogum e da justiça estratégica do amalá que já te acompanha desde que se formou em Direito em Salvador.
O que esperar dessa equação espiritual que sucede o pioneirismo pedagógico da secretária e professora negra Ivete Sacramento que ocupou este cargo dignamente por longo 12 anos?! Pai Ogum já definiu. Você não percebeu? A palavra de ordem é percorrer as boas estradas de reparação e justiça racial na Bahia e no mundo.
Em sua primeira ação internacional em Reparação e Justiça Social, a jovem ekedji e advogada já despontou no “grande pássaro de ferro” – o avião – e foi para as terras africanas ao lado do prefeito Bruno Reis, para selar e forjar ainda mais esse acordo tácito de mudança e planejamento estratégico para o nosso povo preto, em sua nova estrada como gestora pública de uma secretaria cercada de altos e baixos quando o assunto é as palpitações e taquicardias das políticas públicas sociais e letramento racial empresarial na capital baiana. Expectativas em excesso geram frustração, sempre dizem, mas a menina preta do imaterial Terreiro Casa Branca já notou que tão quão a sua cadeira de ekedji, a sua cadeira como gestora pública do enfrentamento racial ela pouco irá sentar para descansar.
Como assim, Bernardes? Na agonia e na beleza de organizar o antes, o durante e o depois de um sirè (xirê), a ekedji e advogada também será cobrada pelos seus ancestrais e pelas lideranças do movimento social, membros dos conselhos municipais das mais diversas frentes de trabalho e dos seus próprios colegas de gestão pública do governo municipal de Bruno Reis, a respeito da sua capacidade de “matar a sede” de justiça social dos soteropolitanos negros que também são cristãos, católicos, kardecistas, budistas e até mesmo ateus.
Injúria racial, racismo institucional, letramento racial, intolerância religiosa, racismo ambiental, LGBTfobia, desemprego, assédio moral e racismo religioso são alguns dos ingredientes que já “temperam” a palma das mãos dessa gestora pública, para que o açúcar e o quiabo façam justiça aos pés do machado sagrado de seu pai. Jesus Cristo entre nós, mas Obatalá também. Sem paz no ori (cabeça) não se faz justiça e nem se planeja reparação concreta para “estancar” os corações de Terreiros e Templos Religiosos das mais diversas denominações que clamam com acaçá e óleo ungido por uma escuta ativa, sensível e com estradas de resolução para as inúmeras demandas que já cercam a jovem Isaura Genoveva.
Às vésperas da festa momesca, os trabalhos de Exú e Arcanjo Miguel não param. Pedindo sempre licença e agradecendo os seus ancestrais, a nova Secretária da Reparação de Salvador já entendeu que a ronda de Ogum agora é outra em seu benefício, pois é no asfalto de terras brasileiras e estrangeiras que faz morada os negros, negras e negres esquecidos nos viadutos, no isopor da sua vida diária como ambulante e até mesmo nos barrancos que assombram os seus Terreiros e Templos Religiosos por conta da especulação imobiliária ano após ano.
Os esquecidos serão exaltados? Os já amparados pelas leis federais continuaram sendo abençoados pela atenção da gestora pública que bebe água doce como todas as outras que a antecederam? São diversas as perguntas que são feitas pelas pessoas comuns como eu e você que lê esse artigo e sabe que nem tudo Ifá pode “alafiar” ou Jesus Cristo testificar nesse momento. Como em Eclesiastes e como bem afirma pai Tempo, tudo tem o tempo certo de acontecer entre o céu e a Terra na capital baiana neste novo momento.
Sigamos em cortejo sagrado acompanhando os próximos passos que virão…
Patrícia Bernardes Sousa é yawo de Oxum do Terreiro Ilê Axé Ejigbo (Cajazeiras XI), jornalista, gestora e mobilizadora de projetos de Impacto Social e colunista do Portal Soteropreta.