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Artes

Bahia, terra da liberdade e de heroínas fortes

Jamile Menezes

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foto mostra uma estátua de uma indígena, entre plantas e pequenas bandeirolas

Dois de julho é um marco histórico na luta da independência do Brasil 

Na Bahia, o Dois de julho destaca, além da luta pela independência do Brasil de Portugal, o protagonismo da participação popular em momentos importantes da história. Também se consolida como o momento ao qual a presença de mulheres foi crucial para o desfecho de algumas batalhas. Maria Quitéria, Maria Felipa, Joana Angélica e as Caboclas são algumas das personagens que seguem até os dias de hoje, inspirando e fomentando a referência de heroínas nas meninas e mulheres baianas.

Em pleno 2023, o mundo ainda compartilha sinais clássicos de machismo e de desconfiança sobre a participação feminina em espaços de poder e de disputa. Mas, ainda em 1823, a participação das mulheres foi essencial para o êxito das tropas brasileiras nas batalhas que marcaram as lutas pela independência do Brasil na Bahia.

A marisqueira Maria Felipa, a militar Maria Quitéria, a freira Joana Angélica e a Cabocla representam a força e a coragem feminina. Essas personagens seguem sendo fonte de inspiração para as mulheres baianas até os dias atuais, e o reconhecimento do papel desenvolvido por elas na luta pela independência evidencia a sua importância histórica.

De forma ativa, destaca-se Joana Angélica — símbolos da resistência até hoje. O legado da freira que resistiu sozinha à invasão das tropas portuguesas ao Convento da Lapa, em 1823, até hoje é fruto de inspiração para as mulheres baianas. A religiosa enquanto abadessa — uma espécie de madre superiora — , em fevereiro de 1822, resistiu à invasão de uma tropa armada no Convento da Lapa. Eles alegavam que o espaço oferecia abrigo aos “patriotas”, temendo pela vida de suas irmãs, Joana tentou impedir a entrada dos soldados, esse ato possibilitou que as outras freiras fugissem pelas portas do fundo do Convento.

A coragem de Joana Angélica fez com que seu nome entrasse para história dos livros didáticos. A participação da religiosa na Independência da Bahia, representa a coragem feminina e a empatia com o próximo.

Nesta mesma época, o alistamento das mulheres no Exército era proibido, até mesmo de forma voluntária. No entanto, Maria Quitéria vestiu-se de coragem e participou das lutas da independência. Quitéria se destacou nos combates e foi condecorada com a Ordem do Cruzeiro recebendo, o direito de um salário de alferes em linha.

Dentro da história, existem protagonismos que pouco são evidenciados, principalmente quando se fala em mulheres pretas. Maria Felipa é mais uma das “exemplo” do apagamento cultural enquanto Maria Quitéria e Joana Angélica se tornaram referência nas aclamações da data.

Nas batalhas pela independência da Bahia, Itaparica era uma região estratégica de resistência portuguesa. Localizada no meio da Baía de Todos os Santos e na passagem para o Recôncavo, o local se tornou foco de resistência das tropas brasileiras.

A história conta que Maria Felipa liderou um grupo de cerca de 40 mulheres contra a tropa de soldados portugueses que estavam preparados para invadir Salvador, através do mar. Depois de distrair os soldados e castigá-los com surra de cansanção, a tropa feminina liderada por Maria Felipa, ateou fogo nas embarcações portuguesas e impediram a queda de Salvador. Contribuindo, assim, para a vitória da Bahia nas lutas pela Independência. Na independência da Bahia, Maria Felipa representa a liderança feminina, um reconhecimento das mulheres e da sua importância histórica.

Maria Felipa de Oliveira e sua história, a cada dia encoraja outras meninas e mulheres negras baianas a se unir e lutar contra as opressões e violências na busca de liberdade e cidadania.

Ainda falando dessas personagens que representam a luta dos povos baianos, existe a presença única dos caboclos e caboclas, eram aqueles que tinham descendência miscigenada dos indígenas com os negros. Detentores dos saberes da terra e amplo conhecimento do território baiano, tais personalidades foram líderes nas lutas de guerrilhas contra os portugueses. Anos depois, tornaram-se símbolos da festividade do 2 de julho, representando a vitória obtida nas guerras pela independência e o surgimento da liberdade da nova nação.

Embora este não seja um ponto amplamente comentado, foram atuações isoladas e estratégicas de nomes como Maria Felipa, Maria Quitéria e Joana Angélica que representam historicamente a participação feminina neste acontecimento histórico que é o 2 de julho. A participação feminina na Independência da Bahia rompe com os espaços de submissão destinados às mulheres na sociedade.

Quem também participou ativamente, foram os Encourados de Pedrão, um grupo com 39 vaqueiros, liderados por Frei José Maria do Sacramento Brayner. Os homens, de forma voluntária, lutaram pela Independência da Bahia. Na cidade de Pedrão, região localizada no Nordeste da Bahia, o Frei recrutou os vaqueiros mais habilidosos da região para se aliar às tropas brasileiras na luta pela retomada de Salvador.

Já Tambor Soledade era um homem negro, soldado, era também músico e o responsável por tocar tambor para as tropas brasileiras. Em 25 de junho de 1822, uma embarcação lusa, dentro do Rio Paraguaçu, atacou a cidade de Cachoeira. A história conta que, neste momento, Tambor Soledade foi atingido pelos bombardeios e morreu.

O Bicentenário da Independência do Brasil na Bahia é comemorado em todo o território baiano. Nesta data, vale lembrar também de personagens como Tambor Soledade, um homem negro e músico; os Encourados do Pedrão; João de Botas; Corneteiro Lopes; Caretas do Mingau e Soldado Jacaré.

O legado histórico dessas personagens reverbera até os dias atuais. E o legado para as mulheres existe em cada Marias, Joanas, Quitérias e Catarinas da atualidade lutam por um país democrático e inclusivo todos os dias. Elas ditam os caminhos de coragem e resistência à Bahia que conhecemos.

Neste domingo (2), é dia de celebrar o Bicentenário da Independência na Bahia, uma data importante que reafirma a democracia e a luta por igualdade. Por isso, convidamos todos que sentem a energia e força que emana dessa Terra da Liberdade a comemorarem juntos a coragem desses personagens que representam o povo brasileiro.

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Artes

Elegbapho realiza roda de conversa e samba na Casa Preta

Iasmim Moreira

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Elegbapho

O projeto Elegbapho – Território Afrocênico de Celebração Negra realiza, neste sábado (24), mais um encontro voltado à valorização das artes negras. A partir das 18h, a Casa Preta Espaço de Cultura, no bairro do Dois de Julho, recebe um bate-papo musicado com o ator e idealizador Nando Zâmbia, a atriz Vera Lopes e o músico Osvaldo Bola, seguido por uma roda de samba com o grupo Pagode do Lú. A entrada é gratuita.

O evento integra a construção do espetáculo Elegbapho, dramaturgia inédita desenvolvida por Nando Zâmbia com consultoria da encenadora Onisajé, em homenagem à figura de Exu e à celebração da existência negra. Trechos do texto serão apresentados durante o bate-papo, que também incluirá poemas e músicas ao vivo.

Na roda de conversa, Vera Lopes – fundadora do histórico grupo Caixa-Preta, do Rio Grande do Sul, e homenageada em 2023 pelo Festival de Cinema de Gramado – compartilhará experiências sobre o fazer teatral negro ao lado de Zâmbia. O músico Osvaldo Bola, nascido em Alagoinhas (BA), complementa o encontro com canções autorais ao violão, carregadas de referências do samba-canção e da MPB.

“Criar esse território de trocas artísticas para nutrir a dramaturgia foi muito enriquecedor. Conversamos tanto com pessoas que acreditam que temos o que celebrar, quanto com quem acredita que não, e assim fomos desvendando caminhos para esse espetáculo-festa em homenagem a Exu”, explica Zâmbia.

O projeto vem sendo construído por meio de entrevistas e encontros com personalidades negras de diferentes áreas, como os artistas Sulivã Bispo, Zebrinha, Tânia Bispo, e a educadora Mabel Freitas, além de uma série de podcasts a serem lançados no YouTube. Participam das conversas nomes como Hilton Cobra, Ana Flávia Magalhães, Klement Tsamba, Camila de Moraes, Domingos Okan Lewá, Anthea Xavier, entre outros.

Com apoio do programa Rumos Itaú Cultural 2023–2024, o Elegbapho marca também a celebração dos 25 anos de carreira de Nando Zâmbia, multiartista baiano com forte atuação no teatro de grupo e na pesquisa das estéticas negras em cena.

SERVIÇO
Elegbapho – Território Afrocênico de Celebração Negra
Bate-papo musicado com Nando Zâmbia, Vera Lopes e Osvaldo Bola
Show com Pagode do Lú
Quando: 24 de maio (sábado), às 18h
Onde: Casa Preta Espaço de Cultura – Salvador/BA
Entrada gratuita

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Artes

Documentário destaca a renda gerada por mulheres na coleta de folhas para rituais religiosos

Iasmim Moreira

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Documentário

“Sem folha, não há orixá.” O provérbio de origem africana, basilar nas religiões de matriz afro-brasileira, é o fio condutor do documentário Jornada das Folhas, que lança um olhar inédito sobre a cadeia produtiva em torno da coleta, comercialização e uso das plantas sagradas nos rituais dos povos de santo. Com direção de Ravena Maia e Emerson Kilendo, o filme estreia no dia 31 de maio, às 19h, na Associação dos Moradores do Oiteiro, em Simões Filho. Em Salvador, a obra será exibida gratuitamente no dia 10 de junho, às 18h, na Sala Walter da Silveira, nos Barris.

O documentário, contemplado pelos Editais da Paulo Gustavo Bahia, revela o protagonismo de mulheres que atuam como coletoras dessas folhas, fundamentais para os rituais do candomblé, da umbanda e de outras religiões afro-brasileiras. Muitas delas residem em comunidades periféricas, como a do Oiteiro, onde a estreia acontecerá, e enfrentam uma rotina de trabalho invisibilizada, marcada por baixos rendimentos e riscos ambientais durante as coletas nas matas.

“O filme mostra como esse saber ancestral, passado entre gerações, é também uma atividade econômica potente e subvalorizada. As mulheres vendem as folhas por preços muito baixos em feiras como a de São Joaquim e Sete Portas, apesar de toda a complexidade envolvida”, explica a diretora Ravena Maia.

Diante dessa realidade, a equipe do filme passou a dialogar com as personagens sobre possíveis estratégias de valorização do ofício, como a criação de uma cooperativa.

Além da dimensão econômica, Jornada das Folhas também lança luz sobre as relações entre religiosidade, meio ambiente e ancestralidade. A narrativa se constrói a partir de depoimentos como o do avô de Emerson Kilendo, co-diretor da obra, tata kambondo da nação Angola, que compartilha sua vivência com as folhas e com o sagrado.

“Muito do que sei, aprendi com meu avô. O filme é uma forma de homenagear essas pessoas que guardam e praticam saberes fundamentais para a cultura afro-brasileira”, afirma Kilendo.

Com roteiro e pesquisa de Carla Pita e produção de Tailson Souza, todos integrantes ou descendentes diretos dos povos de terreiro, o documentário integra a série Economia do Sagrado, que propõe mapear as diversas economias geradas pelos elementos essenciais à vivência religiosa afro-brasileira — como roupas litúrgicas, instrumentos, cerâmicas, alimentos e, neste primeiro episódio, as folhas.

A proposta é que as exibições não se limitem às salas de cinema: o filme também será apresentado em escolas públicas de Simões Filho e em terreiros de Salvador e Região Metropolitana, fortalecendo o diálogo com as comunidades e territórios onde esses saberes são cultivados diariamente.

Sobre a equipe:

  • Ravena Maia (Direção e Montagem) – Diretora da Grão Produção Visual, é filha de santo do terreiro São Jorge Filho da Goméia e doutora em Comunicação pela UFBA. Atua com produção audiovisual focada em religiosidade afro-brasileira.

  • Carla Pita (Roteiro e Pesquisa) – Pedagoga e Omo Orixá de Ogum, fundadora da Irê Rebeliões Culturais e Afro-Pedagógicas, é contadora de histórias e mediadora literária com forte atuação na educação étnico-racial.

  • Emerson Kilendo (Direção de Fotografia e Produção Executiva) – Publicitário e integrante do Bloco Afro Bankoma, atua em projetos culturais e audiovisuais ligados ao terreiro São Jorge Filho da Goméia.

  • Tailson de Jesus Souza (Produção) – Jornalista e gestor de projetos, atua em movimentos comunitários e ambientais em Simões Filho, com forte articulação em conselhos de juventude e saúde.

SERVIÇO

Lançamento do documentário Jornada das Folhas

  • 31 de maio (sábado), às 19h
    Associação dos Moradores do Oiteiro (AMO) – Fazenda Santa Rita, s/n – Simões Filho
    Entrada gratuita

  • 10 de junho (sábado), às 18h
    Sala Walter da Silveira – Rua General Labatut, 27, Barris – Salvador
    Entrada gratuita
    Classificação: Livre

Foto: Emerson Kilendo

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Artes

Calu Brincante e Liga do Dendê anunciam 6º Festival Julho das Pretinhas

Iasmim Moreira

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Festival

Com foco na valorização da infância negra e da cultura afro-brasileira, o Instituto Calu Brincante, em parceria com o Coletivo Liga do Dendê, lança uma série de programações que movimentarão Salvador entre os meses de maio, julho e novembro. A jornada começa no próximo dia 26 de maio, com a ação “Maio com Dendê”, na Fundação Pierre Verger (Engenho Velho de Brotas), marcando as comemorações pelo Dia da África (25/05) e o lançamento da 6ª edição do Festival Julho das Pretinhas.

A programação é gratuita e voltada para crianças, adolescentes, educadores e a comunidade, promovendo uma vivência cultural que conecta literatura, ancestralidade africana e protagonismo infantojuvenil. O evento acontece das 14h às 17h, com pocket show do Bonde da Calu, contação de histórias, oficinas de escrita criativa e uma roda de conversa para educadores sobre letramento literário e práticas pedagógicas com literatura preta.

A ação marca o pontapé inicial de um calendário que seguirá até novembro, com a realização do Festival Julho das Pretinhas, entre os dias 25 e 27 de julho, e o encerramento em novembro com a mostra Novembro Pretinho.

“A proposta reforça Salvador como um território que pulsa raízes africanas em sua arte, oralidade, resistência e criação. Também buscamos preencher uma lacuna de programações voltadas à formação e entretenimento para o público infanto-juvenil conectadas com a cultura e história africana”, afirma Taísa Ferreira, do Coletivo Liga do Dendê.

Durante o evento, também será lançado o edital de convocatória para participação no festival, com chamadas para mostras artísticas, premiações para crianças, educadores e iniciativas inspiradoras. Segundo a curadora e escritora Cássia Valle, esta edição também trará uma campanha de arrecadação de bonecas pretas, que serão reunidas em uma instalação no Museu Afro-Brasileiro da UFBA.

Programação “Maio com Dendê”

  • Oficina “Quem Conta Nossa História?”
    Voltada para crianças, une contação de histórias afrorreferenciadas à escrita criativa, estimulando a produção de narrativas próprias a partir da oralidade e vivência ancestral.

  • Juventude, Territórios e Modos de Sentir
    Para adolescentes, oferece bate-papo e oficinas de produção criativa, abordando identidade, autocuidado e laços com o território.

  • Roda de Conversa para Educadores
    Focada em práticas pedagógicas com literatura preta, discute letramento literário e o papel da leitura como ferramenta de afeto e transformação.

Instituto Calu Brincante e Coletivo Liga do Dendê

O Instituto Calu atua na valorização da infância negra por meio de atividades artísticas como teatro, música e literatura. Promove a ancestralidade e o afeto como ferramentas de cuidado, educação e transformação social, com foco no público infantojuvenil. Já o Liga do Dendê, é um coletivo de escritores e pesquisadores dedicados à literatura preta infantil e infantojuvenil. Desenvolve ações educativas, preserva memórias e valoriza saberes africanos e diaspóricos através de livros, oficinas e projetos culturais.

SERVIÇO

O quê: Maio com Dendê – Lançamento do Festival Julho das Pretinhas
Quando: 26 de maio de 2025 (segunda-feira), das 14h às 17h
Onde: Fundação Pierre Verger – Engenho Velho de Brotas, Salvador – BA
Entrada: Gratuita
Mais informações: @calubrincante | @julhodaspretinhas

Foto: Heder Novaes

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