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#Opinião – Estatísticas, encruzilhadas e Humanidades – Por Jonhatan Florentino

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Jhon Florentino veste branco e sorri para a câmera, de cabelos soltos

Estatísticas não nos comovem mais. Escrevo em primeira pessoa para me direcionar de forma incisiva a você que me lê. Quebrando a impessoalidade dos números, onde deixamos de ser corpos humanos idiossincráticos, de personalidades múltiplas para sermos gráficos que podem até chocar, mas são esquecidos e oxidam a respeito da ação do tempo.

Retomo a primeira afirmação porque constantemente, enquanto analista de políticas públicas, sou bombardeado de estatísticas para produção de diagnósticos, trabalhos acadêmicos, análises de planos governamentais, dentre outras produções. E o que vejo é algo cíclico, alguns avanços tímidos, porém, a estrutura se mantém, considerando principalmente o regresso que tivemos em anos de uma gestão necropolítica, negacionista e desalinhada com as prioridades sociais, populações em vulnerabilidade socioeconômica e mudança do status quo.

Eis que agora faz-se necessário para melhor entendimento dessa conversa que eu me apresente. A suposta neutralidade que critica movimentos como estes, em prática tem servido a uma hegemonia epistemológica, branca, hetero, cispatriarcal, neurotípica, dentre outros marcadores que tem por finalidade nos neutralizar, contribuindo com o epistemicídio de corpos dissidentes.

Tenho 25 anos, quase 26, sou negro, panssexual, corpo de terreiro, umbandista com muito orgulho, afinal “se eu fosse só já não estaria mais aqui” ¹. Às vezes questiono minha identidade de gênero, sou afeminado, o corretor teima em mudar pra acetinado, mas tudo bem. As pessoas realmente dizem que eu tenho um brilho especial. Contudo, em algum momento esse brilho se esvaiu, sendo levado pelo tdah, depressão e ansiedade.

Já caminhei tanto nessa vida, li tantas coisas, comecei um Bacharelado pra ajudar outros como a mim, isso mesmo, “outros”! Porque nesse mundo somos o outro do outro, somos os específicos e o que dá pra fazer quando dá, quase nunca a regra nos alcança.

Depois de tanto ler bell hooks achei que tinha aprendido a amar, eu estava relativamente certo, mas não aprendi a reconhecer o amor quando me estava sendo ofertado. Sempre queria resolver tudo sozinha, queria amar tanto que me prendia a mil e uma atividades que me ocupavam a mente para não lidar com as apatias que me exilam do amor.

Queria tanto amar que amava e não me reconhecia mais no espelho porque a minha sombra se estabelecia sobre a minha retina e não conseguia ver o amor que me estava sendo ofertado e o quanto eu estava me ofertando. E  mesmo assim eu não me achava o suficiente.

Ofertei um padê de teorias aos meus, mas por muitas vezes esqueci de comê-lo, depois de tantas andanças, tantas encruzilhadas passadas, tantos atropelos interseccionais, é na encruzilhada que encontro novamente o meu socorro.

Somos jogados a um suposto suicídio que tem muito mais de homicídio, nos empurram e chamam de tropeço. Vivemos sob engrenagens que se irrigam com o nosso sangue e suor.

É na encruzilhada que encontro o meu socorro, dessas encruzilhadas faço mapas e bacias que molham o meu corpo e me conectam às minhas como uma rede que somos que impede o genocídio colonial que assombra os nossos corpos.

As lágrimas que choramos alimentam bacias generosas em socorro dos corpos em Diáspora, que percorrem demasiadas territorialidades chacoalhando as estruturas coloniais em uma afetuosa rede donde o sentido de África e da Améfrica² – relembrando Lelia González – pulsa vibrante em nossos dengosos corações.

Escrevo essa carta em socorro aos demais que assim como eu viram a peste perniciosa açoitar seus corpos com o banzo³ e tiveram de encontrar no colo de Nanã livramento pra morte colonial.

Lembremos da rede milenar de autocuidado quilombola que finca nossas raízes ao chão de forma que frutifiquemos e nossos galhos se entrelacem em proteção comunitária. Nos lembrando que a resistência não está num sentido individual mas coletivo de fincar raízes em meio a reflorestamentos de afetos. Sejamos Ubuntu mesmo quando a Ordem for Capital e continuaremos vivendo de amores⁴.

Eu escrevo para que outros jovens possam ter outros imaginários, que para além das mãos sujas de graxa em subempregos possam se ver com as mãos sujas de caneta ou de lápis ao invés de sangue.

Quero pintar o mundo de aquarela, onde o vermelho sangue só seja lembrado se for para ilustrar o sangue das paixões pela revolta e justiça que estão por vir. Enquanto com machados e motosserra eles derrubam o pulmão do mundo, aguardo pelo Machado de Sangó que corte ao meio todo caminho de injustiça daqueles que ousarem atravessar seu povo. Que Osóssí, com sua única flecha, atravesse o coração da colonização, que Esú em suas encruzilhadas nos guie em caminhos e em comunicação assertiva.

Que Yansã afaste toda perturbação com seus ventos, que Yemonjá, Nanã e Osún nos lavem em suas águas para trazer a calmaria, e que Oxalá meu Pai nos orí-ente quais guerras devemos travar para a plenitude da Paz.

Jonhatan Florentino – Analista de Políticas Públicas e Diversidade, Poeta e Artivista, umbandista, lgbtqiapn+. Como diria Jurema Werneck “nossos passos vem de longe”. @jonhflorentino/jonhatanflorentino@gmail.com

 

NOTAS

¹ Ponto de Umbanda, disponível em https://youtu.be/qP8s443iaQc

² Améfrica: Conceito cunhado por Lelia Gonzaléz, onde a experiência diaspórica  e de África são indispensáveis para a formação étnico história da chamada identidade latino-americana, sendo assim a autora cunhara um novo termo que abarque as experiências vividas neste território. Para mais informações consultar: “As implicações políticas e culturais da categoria de amefricanidade (Amefricanity) são, de fato, democráticas; exatamente porque o próprio termo nos permite ultrapassar as limitações de caráter territorial, linguístico e ideológico, abrindo novas perspectivas para um entendimento mais profundo dessa parte do mundo onde ela se manifesta: A AMÉRICA como um todo (Sul, Central, Norte e Insular). Para além do seu caráter puramente geográfico, a categoria de amefricanidade incorpora todo um processo histórico de intensa dinâmica cultural (adaptação, resistência, reinterpretação e criação de novas formas) que é afrocentrada, isto é, referenciada em modelos como: a Jamaica e o akan, seu modelo dominante; o Brasil e seus modelos iorubá, banto e ewe-fon. Em consequência, ela nos encaminha no sentido da construção de toda uma identidade étnica.” (González, pag 82)

³ Referência ao temo “Banzo” encontrado no Livro Escravidão: “Morria-se, ainda, de banzo, nome dado pelos africanos para o surto de depressão muito frequente entre os cativos. Alguém acometido por banzo parava de comer, perdia o brilho no olhar e assumia uma postura inerte enquanto suas forças vitais se esvaiam no prazo de poucos dias. “O banzo é um ressentimento entranhado por qualquer princípio, como a saudade dos seus ou de sua pátria” […] (Gomes, p 40-41).

⁴ Referência ao livro “Tudo sobre o Amor” da autora bell hooks

 

REFERÊNCIAS

ECHAZÚ BÖSCHEMEIER , A. G. .; INÉS CEJAS, M. . A Categoria Político-Cultural de Amefricanidade: Lélia González. Revista de Estudos e Pesquisas sobre as Américas, [S. l.], v. 15, n. 1, p. 66–89, 2021. DOI: 10.21057/10.21057/repamv15n1.2021.40454. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/repam/article/view/40454. Acesso em: 16 ago. 2023;

GOMES, Laurentino, 1956. Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugal à morte de Zumbi dos Palmares, Volume 1. 1. ed. – Rio de Janeiro : Globo Livros, 2019;

hooks, bell, 1952 .Tudo sobre o amor: novas perspectivas / bell hooks; tradução de Stephanie Borges. São Paulo: Elefante, 2020. 272 p.;

SANTOSANTO. Quantas Batalhas Venci… Salve a Umbanda!!. Youtube, 09 de novembro de 2020. Disponível em <https://youtu.be/qP8s443iaQc> Acesso em 02 de agosto de 2023.

 

 

 

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    Lirane Barretto

    22 de Agosto, 2023 at 11:21 pm

    Que delícia de leitura! Que orgulho de você! Que convite lindo à renovação e permanência na missão de criação de uma nova realidade! Parabéns, Jonh!

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#Opinião: Como experimentar relações sexuais positivas? – Por Januário

Ana Paula Nobre

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Foto: Divulgação

Já se sentiu drenado e em confusão mental, após ter relações sexuais? Do ponto de vista espiritual, isso ocorre porque somos seres cósmicos, com espírito, alma e corpo. Vibramos em padrões energéticos diferentes, portanto, todas as nossas interações com outras pessoas são trocas de frequências energéticas. Em outras palavras, nossa energia – sexual, inclusive – se mistura à da outra pessoa. Por isso, é útil tomar determinados cuidados, se queremos trocas sexuais que agregam positividade.

A energia sexual tem origem no Swadhistana, nome hindu para o chakra sexual, localizado abaixo do umbigo, até o sacro, osso triangular da base da coluna vertebral. Durante o ato sexual – casual ou em um relacionamento estável – através dos chakras, entrelaçamos espírito, corpo e alma. Esse fenômeno possibilita a criação de um cordão energético, e, com ele, o estreitamento dos laços entre os corpos espirituais. Esse processo pode nos impregnar com a energia da outra pessoa e vice-versa, levando, no mínimo, seis meses para se desfazer.

Contudo, em situações violentas, como estupro, o cordão energético pode continuar por anos, repercutindo de maneira negativa e dificultando a nossa iluminação espiritual. Por esse raciocínio, percebemos a covardia moral na atrocidade do estupro e compreendemos que as leis humanas refletem, mesmo imperfeitas, o nosso caráter divino, ao penalizar estupradores. Em paralelo aos prejuízos psicológicos, encontramos no estupro um ataque energético, que revela a corrupção moral dos autores dessa barbárie.

Neste respeito, compreender o sentido maior ligado ao conceito de cultura do estupro – na qual os meios de comunicação fomentam e enfatizam violências múltiplas contra as mulheres, objetificando os seus corpos – nos ajuda a compreender que aos prejuízos causados contra os corpos de quem é violentado, opera a violência espiritual de sujar o campo energético das vítimas.

Contudo, para além dos estupros, nossa aura também pode ser intoxicada em intercursos sexuais feitos com irresponsabilidade. Sexo é uma necessidade orgânica, mas, sobretudo, uma afirmação do nosso caráter divino, logo, buscar nessas relações, a reciprocidade do prazer sexual, utilizando nossos corpos para erotizar o outro, promove o bem-estar, a saúde mental e o contentamento. Isso harmoniza os chakras das pessoas envolvidas e gera uma psicosfera que potencializa a intimidade e o gozo. Devemos lembrar que a energia sexual é poderosa e quando utilizada para a satisfação mútua, potencializa o deleite, durante e mesmo após o enlace, contribuindo para que as pessoas se sintam acolhidas.

Longe de estabelecer um modelo ideal para as condutas sexuais, devemos levar em conta as subjetividades da outra pessoa com quem temos tal intimidade. Isso funciona como uma espécie de preservativo energético: utilizar o próprio corpo para colaborar com o orgasmo do outro demonstra respeito e empatia, que, além de aumentar a probabilidade da união cósmica, também previne contra a ação de larvas astrais.

Quando, durante o sexo, levamos carinho e cumplicidade, evitamos o surgimento de criações mentais, causadoras de insônia, cansaço e frustração. Em termos simples, o que pode ser melhor? Ser egoísta ou altruísta? Ir para a cama visando apenas o próprio prazer ou contribuir para que, independente de compromissos pautados por uma moral sexual dita civilizada, haja generosidade e troca?

Talvez na história do Ocidente, nunca tenha se falado tanto sobre sexo. Por outro lado, a frustração com esse tema nunca tenha sido tão alta: a pesquisa Love Life Satisfaction, realizada pelo Instituto Ipsos, em fins de 2022, revelou que a população brasileira tem um nível de satisfação sexual em 60%, 3 pontos percentuais abaixo da média mundial. Pouco ou nenhum diálogo e falta de conhecimento sobre o próprio corpo são os principais motivos listados pelos brasileiros. De fato, sem comunicação, como é possível desfrutar do sexo com plenitude? Como é possível ser positivo sexualmente, sem conhecer o corpo físico, mental e espiritual?

Enquanto a ideia comum sobre o ato sexual se restringir a uma mera descarga de hormônios, o aumento da insatisfação será cada vez mais provável. Por outro lado, quando compreendemos a nossa natureza espiritual, percebemos o aspecto transcendente desse maravilhoso Jardim das Delícias, que nos aproxima do Sagrado.

Armando Januário dos Santos é Taroterapeuta de O Baralho de Maria Padilha, Mestre em Psicologia e Palestrante. WhatsApp: (71) 99278-9379 / Instagram: @tarot.maria.padilha

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#Opinião: 2025: Conselhos do Tarot Maria Padilha – Por Januário

Ana Paula Nobre

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Januário
Foto: Divulgação

O ano de 2025 é regido pelo resultado do somatório 2 + 0 + 2 + 5 = 9. Temos o número 2 se repetindo e a presença do número 5, além do próprio 9. O que esses arcanos representam? Afinal, como será 2025? Encontramos as respostas nas Lâminas de Maria Padilha.

Em julho de 1997, A Senhora da Magia[1] comunicou a Eliane Arthman[2], através de projeção astral, as 36 cartas do Seu tarot. Se manifestava, então, o Tarot Maria Padilha, com o verso preto e cores marcantes – vermelho, dourado e branco – para gerar impacto visual e promover a cura interior. Essas foram exigências da própria Dona Padilha: o Seu tarot é terapêutico, preciso e objetivo; cada lâmina orienta para O Caminho da Luz.[3]

Através da Carta 2 – O Lápis – Maria Padilha revela a necessidade de aprimorar a nossa capacidade de expressar ideias. Em paralelo, somos convocados a estudar e planejar a vida, para que novidades interessantes aconteçam. A repetição do número 2 em 2025 traz ênfase para esse chamamento: estruturar ideias, com planos estabelecidos e metas bem traçadas.

Na Carta 5 – As Moedas – temos a Lei da Atração. Aqui, Dona Padilha mostra a importância de vibrar no Positivo, para acessar a riqueza espiritual e material. Amar sempre, praticar a gratidão, evitar fofocas, meditar, perdoar e ouvir músicas de alta vibração, são hábitos a desenvolver durante o ano. Pobreza de espírito e crenças limitantes atraem prejuízos, logo, devemos evitar frequências empobrecidas, porque elas trazem consigo presenças espirituais negativas.

Quem estuda e planeja a própria vida dificilmente terá tempo para se intrometer na vida alheia. Percebemos, nesse ponto, a relação entre as cartas 2 e 5: organizar o cotidiano sempre é favorável, seja por dar forma aos nossos objetivos, seja por estabelecer distância daquilo que pertence aos outros, e, portanto, não nos diz respeito.

Por fim, a Carta 9, se apresenta como mensagem central para 2025: uma poltrona na cor preta, vazia, como se estivesse abandonada, pois parece velha e empoeirada. Aqui, Maria Padilha, Espírito de Luz, incentiva a encerrar ciclos o mais rápido possível. Devemos aceitar o passado como um instante de aprendizagem para o crescimento espiritual: a poltrona talvez tenha sido confortável por algum tempo, porém, chegou o momento de abandoná-la e cultivar nobres valores. Sobretudo, precisamos nos abrir ao novo, deixando aquela poltrona – com velhos hábitos empoeirados – de lado, para seguir firmes, rumo à prosperidade e abundância.

2025 é um ano de encerramentos. Será necessário “morrer” ante determinadas questões, para, daí, renascer e caminhar por novas estradas. Deus, através do Mestre Jesus, na figura de Dona Maria Padilha nos abençoe e proteja para viver esse ano com coragem, verdade e paixão! Laroyê, Pombogira!

[1] Atributo pelo qual a Pombagira Dona Maria Padilha também é conhecida. Existem outros, a exemplo de Dama da Madrugada e Rainha da Encruzilhada. Mais informações sobre as Pombagiras, ou Pombogiras, são encontradas em dois artigos escritos por mim e publicados no Portal Soteropreta: Quem são as Pombagiras? (https://portalsoteropreta.com.br/2024/05/20/opiniao-quem-sao-as-pombagiras/) e Quem são as Pombagiras? Um mistério revelado (https://portalsoteropreta.com.br/2024/06/04/opiniao-quem-sao-as-pombagiras-um-misterio-revelado-por-armando-januario/)

[2] Cantora e compositora, Eliane Arthman é oraculista há várias encarnações. Ela também recebeu outras comunicações do Plano Espiritual e manifestou os Tarôs de Dona Sete e Seu Zé Pelintra.

[3] As informações neste parágrafo são resultado da minha aprendizagem junto a plataforma de e-learning Ûdemy, na qual realizei a formação O Baralho de Maria Padilha. Aproveito para expressar gratidão à Professora Lua Cigana.

Armando Januário dos Santos é Taroterapeuta do Baralho de Maria Padilha, Mestre em Psicologia e Palestrante. Instagram: @tarot.maria.padilha / WhatsApp: (71) 99278-9379

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#Opinião: Quando Ogum abre estrada pra Oxum, Xangô acompanha – por Patrícia Bernardes Sousa

Ana Paula Nobre

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Foto: Divulgação

Salvador amanheceu na primeira segunda-feira útil de 2025 com um novo ciclo de reparação promovido pelas águas do Terreiro Ilê Axé Iyá Nassô Oká, mais conhecido como Terreiro da Casa Branca. A filha de mamãe Oxum, ekedji de pai Ogum e advogada Isaura Genoveva, tomou posse cercada pela doçura sagaz de sua mãe das águas doces, as boas estradas de seu pai e seu filho Ogum e da justiça estratégica do amalá que já te acompanha desde que se formou em Direito em Salvador.

O que esperar dessa equação espiritual que sucede o pioneirismo pedagógico da secretária e professora negra Ivete Sacramento que ocupou este cargo dignamente por longo 12 anos?! Pai Ogum já definiu. Você não percebeu? A palavra de ordem é percorrer as boas estradas de reparação e justiça racial na Bahia e no mundo.

Em sua primeira ação internacional em Reparação e Justiça Social, a jovem ekedji e advogada já despontou no “grande pássaro de ferro” – o avião – e foi para as terras africanas ao lado do prefeito Bruno Reis, para selar e forjar ainda mais esse acordo tácito de mudança e planejamento estratégico para o nosso povo preto, em sua nova estrada como gestora pública de uma secretaria cercada de altos e baixos quando o assunto é as palpitações e taquicardias das políticas públicas sociais e  letramento racial empresarial na capital baiana. Expectativas em excesso geram frustração, sempre dizem, mas a menina preta do imaterial Terreiro Casa Branca já notou que tão quão a sua cadeira de ekedji, a sua cadeira como gestora pública do enfrentamento racial ela pouco irá sentar para descansar.

Como assim, Bernardes? Na agonia e na beleza de organizar o antes, o durante e o depois de um sirè (xirê), a ekedji e advogada também será cobrada pelos seus ancestrais e pelas lideranças do movimento social, membros dos conselhos municipais das mais diversas frentes de trabalho e dos seus próprios colegas de gestão pública do governo municipal de Bruno Reis, a respeito da sua capacidade de “matar a sede” de justiça social dos soteropolitanos negros que também são cristãos, católicos, kardecistas, budistas e até mesmo ateus.

Injúria racial, racismo institucional, letramento racial, intolerância religiosa, racismo ambiental, LGBTfobia, desemprego, assédio moral e racismo religioso são alguns dos ingredientes que já “temperam” a palma das mãos dessa gestora pública, para que o açúcar e o quiabo façam justiça aos pés do machado sagrado de seu pai. Jesus Cristo entre nós, mas Obatalá também. Sem paz no ori (cabeça) não se faz justiça e nem se planeja reparação concreta para “estancar” os corações de Terreiros e Templos Religiosos das mais diversas denominações que clamam com acaçá e óleo ungido por uma escuta ativa, sensível e com estradas de resolução para as inúmeras demandas que já cercam a jovem Isaura Genoveva.

Às vésperas da festa momesca, os trabalhos de Exú e Arcanjo Miguel não param. Pedindo sempre licença e agradecendo os seus ancestrais, a nova Secretária da Reparação de Salvador já entendeu que a ronda de Ogum agora é outra em seu benefício, pois é no asfalto de terras brasileiras e estrangeiras que faz morada os negros, negras e negres esquecidos nos viadutos, no isopor da sua vida diária como ambulante e até mesmo nos barrancos que assombram os seus Terreiros e Templos Religiosos por conta da especulação imobiliária ano após ano.

Os esquecidos serão exaltados? Os já amparados pelas leis federais continuaram sendo abençoados pela atenção da gestora pública que bebe água doce como todas as outras que a antecederam? São diversas as perguntas que são feitas pelas pessoas comuns como eu e você que lê esse artigo e sabe que nem tudo Ifá pode “alafiar” ou Jesus Cristo testificar nesse momento. Como em Eclesiastes e como bem afirma pai Tempo, tudo tem o tempo certo de acontecer entre o céu e a Terra na capital baiana neste novo momento.

Sigamos em cortejo sagrado acompanhando os próximos passos que virão…

Patrícia Bernardes Sousa é yawo de Oxum do Terreiro Ilê Axé Ejigbo (Cajazeiras XI), jornalista, gestora e mobilizadora de projetos de Impacto Social e colunista do Portal Soteropreta.

 

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