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#Opinião – Empoderamento Negro e Cultura: reflexões pós Liberatum – Por Luciane Reis

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O Festival Liberatum é um evento que se destacou por trazer reflexões profundas e instigantes sobre o que podemos chamar de “Futuros Negros”. Em uma cidade-estado com um índice de desemprego entre negros que ultrapassa 60%, esse festival abre uma porta para debater futuros prósperos a partir de uma base sólida que é a cultura.

Ele se mostrou como  uma oportunidade para modernizar e sofisticar uma cidade que, apesar de sua rica história cultural, ainda lida com desafios significativos relacionados ao poder político, economia e desigualdade racial, que é tão colonial quanto à chegada do primeiro europeu oferecendo bugigangas em nome do nosso ouro e Pau Brasil.

Uma das experiências mais marcantes do Festival foi ver uma plateia jovem desfilando ousadia, estilo e um profundo orgulho de ser negro. Isso é mais do que um mero espetáculo; é um testemunho da resiliência da comunidade negra e seu compromisso em celebrar suas raízes e identidade diante de uma luta que não se inicia agora.

Além disso, olhar para o palco e ver como destaque pensadores e provocadores negros, abrindo discussões sobre a conexão negra e o papel da cultura na democracia e na capacidade de alterar realidades foi importante, ainda que faltassem pensadores que formaram os nomes que estavam no palco, este momento  demonstrou o poder da representatividade na promoção da diversidade e da igualdade, tão sinalizado pelo movimento social negro brasileiro.

Sim, todos esses elementos dentro de um festival que tem a audaciosa meta de abordar a realidade negra diaspórica em uma cidade como Salvador, na Bahia, reduto onde se encontram mais negros fora da África, sob uma perspectiva de prosperidade, potencial e capacidade econômica para construir outras realidades, é, de fato, pensar no legado negro como um elemento de conexão e ancestralidade.

A questão, caros leitores, é que o Festival Liberatum também nos leva a refletir sobre desafios importantes. O financiamento é um deles. O fato de o evento ter enfrentado dificuldades para captar recursos ressalta uma questão mais ampla: a falta de apoio financeiro para iniciativas culturais, empresariais, acadêmicas e artísticas da comunidade negra.

Quando o secretário de Cultura Pedro Tourinho, um importante aliado, compartilhou em suas redes sociais a dificuldade de obter financiamento para eventos como esse, só lembrei do que sinaliza há anos dirigentes de blocos como Olodum ( a qual sou conselheira), Ilê Aiyê ( instituição que passei parte da minha infância e juventude), os veículos negros ( inclusive o que sou co-fundadora) e tantos  outros que denunciam há anos: quem nos quer na plateia ou como consumidores não nos enxerga como pessoas, organizações e potencias para investir seu dinheiro.

Falo do lugar de quem viu na prática essas ações e dificuldades serem enfrentadas.

O segundo ponto de reflexão é a dinâmica de poder em eventos culturais e artísticos. O ditado “quem paga, manda” é relevante aqui. Embora o Festival Liberatum tenha contado com a presença de pessoas negras em sua equipe, ficou claro que a influência e a tomada de decisões frequentemente recaía nas mãos daqueles que têm os recursos financeiros, ou seja, a branquidade. Que se considera apta a falar e produzir por nós ( leia Cida Bento, se sentir – se tocade).

Isso destaca a importância de garantir que a comunidade negra tenha controle sobre sua narrativa e não seja simplesmente sujeita às vontades daqueles que financiam os eventos. Estamos falando sobre controle e influência sobre os eventos, senhoras e senhores. Afinal, é preciso fazer com que aqueles no comando não se sintam à vontade para demonstrar sua insensibilidade ao se referirem à atração principal como “viola de 12 cordas”, ignorando a presença significativa de jornalistas negros em seu entorno ou fique à vontade pra ser a voz que traduz nossas mulheres e homens negros mesmo sabendo pouco sobre eles.

Isso nos faz refletir sobre a necessidade de nos empoderarmos economicamente e reivindicarmos nosso espaço na narrativa cultural e econômica de Salvador. Viola Davis, em seu livro “Em busca de mim”, aponta a importância da dignidade econômica na construção de outras realidades e, acima de tudo, no respeito pela nossa capacidade produtiva, artística, empresarial, acadêmica ou de qualquer outra categoria como seres humanos. Equilibrar a situação financeira é essencial para melhorar nossa tomada de decisões, afinal isso está diretamente ligado à nossa dignidade e identidade.

E é aí que o Festival Liberatum desempenha um papel crucial.

Entender a cultura como diplomacia significa que precisamos ter o poder de escolha e não achar natural que, enquanto nos expressamos e causamos impacto, a branquidade de Salvador continue lucrando e dominando os debates e eventos negros. Não saber quem “paga” não é empoderamento negro e traz um custo de longo prazo.

O dito empoderamento negro envolve sair de espaços como este com conexões econômicas, orientações para criar futuros prósperos diante de uma realidade violenta que enfrentamos diariamente em termos de emprego, segurança pública, ocupação de espaços e visibilidade positiva. Traz como norte a importância de respeitar o trabalho dos produtores locais e de amplificar vozes negras sem tentar explorar talentos locais a custos baixos; esse é um outro ponto importante.

Quem vem de fora, precisa ser instruído e entender que sua contribuição consiste em ampliar nossa voz de forma conectada.  Precisa seguir o exemplo de figuras como Lewis Hamilton, Beyonce, Ângela Davis, dentre outros que levam talentos locais para o mundo, pareando experiências sem buscar ganhos superficiais ou ser protagonista em nossas narrativas.

Nós sabemos contar nossa história. O que não temos é recursos financeiros para isso, desta forma a ancestralidade como elemento de conexão implica em respeitar o trabalho destes atores e realizadores. Querida Viola, o que realmente precisamos, é encontrar maneiras dentro de nossa comunidade para financiar nossos projetos e criar soluções fundamentais para os problemas que enfrentamos e não de quem venha nos dizer como fazer, já temos gente branca demais fazendo isso.

Salvador é uma cidade inovadora, sabemos disso, logo o Festival Liberatum precisa levar em conta em seus próximos momentos a celebração da vida negra, mas também que esse precisa ser um meio de buscar soluções para nossos problemas reais. Para isso, é essencial que as celebridades e aliados reconheçam a importância de se tornarem verdadeiras pontes de conexão e apoio, em vez de perpetuarem uma perspectiva branca consciente de privilégios.

Um festival à moda Wakandiana é, obviamente, importante, e comecei este texto enfatizando sua beleza, mas quando a festa termina, ainda somos nós que estamos catando latas, sujeitos a diversos tipos de assédio e desrespeito em busca de uma sobrevivência mínima. Não podemos reconstruir memórias perdidas com uma perspectiva negra, se estivermos sob tutela e não tivermos o direito de expressar opiniões sem pedir desculpas.

Nossa celebração deve ser acompanhada por uma busca por autonomia econômica, uma redefinição da narrativa cultural e um compromisso com um projeto político que vá além da estética. Agora, mais do que nunca, é hora de agir e garantir que o Festival Liberatum e eventos similares desempenhem um papel significativo na luta pela igualdade e pelo empoderamento real e econômico da comunidade negra.

O festival foi um momento poderoso, mas a pergunta que permanece é: “E agora, José? E agora, nós?”

Luciane Reis, Publicitária, Design Instrucional e Mestra em Desenvolvimento e Gestão Ciags- UFBA. Pesquisadora da História Econômica Negra

Opinião

Trançar é trabalho: o reconhecimento oficial é vitória, mas a luta continua

Iasmim Moreira

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Trançar

Em junho de 2025, o Brasil deu um passo histórico: a profissão de trancista foi oficialmente reconhecida na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), sob o código 5193-15. Isso significa que o Estado, através do Ministério do Trabalho e Emprego, reconhece, de forma tardia, que trançar cabelos é ofício, é arte, é cuidado, é economia viva. E mais do que tudo isso: é trabalho.

O reconhecimento representa uma conquista fundamental para milhares de mulheres, em sua maioria negras, que sustentam suas casas e comunidades com as mãos, os fios e os saberes ancestrais que atravessam gerações. Trata-se de uma reparação simbólica e política, que marca o início de uma nova etapa para essas profissionais: a da reivindicação por direitos reais.

Mas é preciso deixar claro: esse reconhecimento, apesar de histórico, não resolve os problemas estruturais enfrentados pelas trancistas no cotidiano. A informalidade ainda é massiva. A precariedade também.

Trançar é estar horas seguidas em pé, muitas vezes sem pausas, sem ergonomia adequada, sem alimentação garantida. É adoecer com dores musculares, tendinites, varizes e não ter acesso a atendimento médico regular ou benefícios trabalhistas. É trabalhar em casa, dividindo o espaço com filhos pequenos, improvisando berços ao lado da cadeira de trança. É ser artista, psicóloga, educadora — tudo isso num ambiente que raramente é chamado de “profissional”.

Além do desgaste físico e emocional, existe o estigma. Por muito tempo, a atividade foi vista como “bico”, “coisa de quem não tem estudo”, ou “trabalho informal de periferia”. Esse racismo estrutural que desvaloriza o fazer preto, que silencia os saberes afrocentrados, também se manifesta nas ausências do Estado: não há linhas de financiamento específicas para esses negócios, nem políticas de formação técnica acessíveis, nem políticas de saúde do trabalho voltadas à realidade dessas mulheres.

O reconhecimento na CBO precisa ser mais que um selo burocrático. Ele deve abrir caminhos para políticas públicas efetivas: acesso facilitado à formalização, capacitação profissional gratuita, inclusão previdenciária, incentivos para empreendedoras da beleza negra, cuidados com a saúde física e mental dessas profissionais. Precisa ser prioridade nos planos municipais e estaduais de economia criativa, de cultura e de geração de renda.

Também é hora de rever o que se entende por “profissão”. O saber que vem da oralidade, da prática cotidiana e da vivência comunitária precisa ser valorizado tanto quanto aquele que vem da academia. Os saberes se der trancista são ensinados de mãe pra filha, de amiga pra amiga, nas vielas, nos quintais e nos salões. E isso é educação também. Isso é conhecimento.

Reconhecer as trancistas é reconhecer o valor da cultura afro-brasileira, a potência das periferias e a força das mulheres negras que movem o país com suas mãos. É legitimar que fazer trança é mais que estética — é identidade, resistência e construção de futuro.

Hoje, o nome das trancistas está, enfim, no papel. Mas a dignidade do trabalho vai além da formalidade. Exige investimento, cuidado e respeito. Porque trançar é trabalho. E como todo trabalho, merece ser protegido, valorizado e vivido com dignidade.

 

Por Iasmim Moreira

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CONAPIR 2025: É hora de romper a narrativa que autoriza a morte de pessoas negras – Por Luciane Reis

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CONAPIR

A Conferência Nacional de Igualdade Racial precisa confrontar o discurso oficial de segurança pública que desumaniza e extermina corpos negros no Brasil.

Enquanto o Brasil se prepara para a Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CONAPIR) de 2025, um tema precisa ocupar o centro do debate: como a narrativa oficial sobre segurança pública tem sustentado o genocídio da população negra, especialmente nas periferias urbanas.

Na Bahia, estado com a maior população negra do país, há mais de 30 anos se reforça um discurso de combate ao crime centrado em repressão e militarização. O resultado é conhecido: altíssimos índices de letalidade policial, sobretudo contra jovens negros. Mas o mais alarmante é que essa política vem acompanhada de uma comunicação que normaliza a violência estatal.

A linguagem da “guerra às drogas”, do “confronto” e do “bandido abatido” desumaniza as vítimas e esvazia o debate público. A sociedade é anestesiada por uma narrativa que transforma assassinatos em estatísticas e legitima a violência como forma de controle social.

O silêncio coletivo diante dessas mortes não é natural — ele é construído. É produto de uma comunicação estratégica que define quem deve ser temido, controlado ou eliminado. E os meios de comunicação, ao reproduzirem as versões oficiais sem questionamento, reforçam essa lógica.

A CONAPIR 2025 não pode ignorar esse pacto de silenciamento. Se pretende ser um marco real na promoção da igualdade racial, precisa enfrentar esse modelo de segurança e a forma como ele é comunicado. Isso significa:

  • Exigir uma comunicação pública antirracista, que enfrente os estigmas históricos contra a população negra;
  • Estabelecer protocolos responsáveis para a cobertura midiática de violência, que respeitem os direitos humanos;
  • Apoiar a mídia negra e periférica, que já produz contra-narrativas fundamentais;
  • Revisar as políticas de segurança com foco em cuidado, prevenção e reparação racial, e não em extermínio.

Segurança pública não é sinônimo de controle e morte. É direito à vida com dignidade, especialmente para aqueles que historicamente foram alvos do Estado.

Sem romper com essa narrativa que mata e silencia, não haverá igualdade possível.

A CONAPIR tem a chance de começar esse novo capítulo. Que não seja mais uma conferência de promessas — mas o início de uma reescrita coletiva da história, onde a vida negra não seja exceção, mas regra.

 

Luciane Reis é Comunicóloga, graduada em Publicidade e Propaganda pela UCSAL, especialista em Produção de Conteúdo para Educação e mestra em Desenvolvimento e Gestão pela UFBA e CEO Mercafro

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#Opinião: A Última Ceia símbolos e mistérios – Taroterapeuta Janus

Iasmim Moreira

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Januário

O momento era especial. Tendo em volta de si Os Doze, O Mestre abençoa e circula o alimento e a bebida. Nesta cena, descrita em Mateus 26:17-30, Marcos 14:12-26, Lucas 22:7-39 e João 17:26, vemos Jesus doando tanto o seu corpo, quanto o seu sangue, representados, respectivamente, pelo pão e vinho. Contudo, não vemos nela a presença de um cordeiro assado inteiro, tampouco o consumo de ervas amargas, conforme prescrito por Deus a Moisés, em Êxodo 12. Pelo visto, Jesus realizou uma páscoa alternativa. Por que não celebrou a páscoa tradicional? Existe um significado especial em partilhar pão e vinho? Afinal, o que Jesus estava celebrando com os apóstolos?

Recorremos a este evento, celebrado em toda a cultura judaico-cristã, declarando que as informações contidas aqui destinam-se a estimular o pensamento, combater preconceitos e servir de ferramenta para uma visão ampla. Enfatizamos o respeito a todas as crenças e não-crenças. Em paralelo, nos posicionamos longe de dogmas. Possa essa exposição, fundamentada nos pilares da filosofia esotérica, adentrar às mentes e os corações de quem estiver disposto a acolhê-la com o mesmo respeito antecipado, dedicado àqueles que porventura discordarem dela.

A vida de Jesus de Nazaré inicia um novo ciclo astrológico no planeta: a Era de Peixes. Anterior a este período, a Era de Áries tivera em Jeová, a emblemática manifestação do Deus bélico, haja vista Moisés liderar os hebreus à Terra Prometida, após ferir o Egito com as Dez Pragas e estilhaçar um bezerro de ouro – representando o fim da Era de Touro. Sacrificando carneiros – símbolo de Áries – à Divindade manifestada por uma coluna de fogo e guerreando em nome do “Senhor dos Exércitos”, os israelitas retomaram Canaã. Foi o tempo da ascensão dos povos fortalecidos pelo domínio da metalurgia. Ao sabor de espadas, flechas e lanças, persas, gregos e romanos, se sucederam no controle do mundo, configurando a gênese das nações europeias. A porção lunar e feminina de Touro, presente no culto à terra, foi destroçada pelo fogo da devoção às deidades masculinas e patriarcais. Desprovida da Energia Feminina e apegada ao ego reducionista que enxerga apenas o Plano Material, a humanidade elevou reis à condição de deuses, legitimando sua crueldade. Mesmo quem sabia da inerente filiação humana a Deus, reconhecia apenas o Deus-Pai, ignorando o Sagrado Feminino. Nesse ínterim, Os Seres de Luz, responsáveis por avaliar a progressão espiritual do Plano Terrestre, perceberam que embora os Avatāra – termo em sânscrito para a descida de um Ser Divino à Terra, denominado Avatar – tivessem revelado o amor d’A Grande Consciência Cósmica pela humanidade, eles perpetuaram a crença na masculinidade de Deus, haja vista serem todos homens. De fato, O Kristo Hiperbóreo, Krishna, Adi Shankara e Sidarta Gautama são exemplos de seres vestidos pela roupagem carnal de homens. Nessa perspectiva, As Consciências Celestes decidiram enviar dois Avatares para ensinar a humanidade sobre Deus-Pai e Deus-Mãe, aspectos da mesma Energia Criativa. A volta da porção feminina de Deus era fundamental para abrir o chakra cardíaco, despertar o hemisfério direito do cérebro e ativar o chakra coronário: os seres humanos acessariam a intuição e o autoconhecimento, reconhecendo em si A Divindade imanente, O Eu Sou habitante em cada pessoa. A Iluminação seria, então, acessível pelo encontro com o Deus interno, no templo do próprio corpo e não em monumentos construídos por pedras e tijolos.

A Era de Peixes trouxe a purificação pela água. Nela, encontramos a leveza da transcendência e o equilíbrio entre as energias masculina e feminina. Saindo do Grande Silêncio, uma filha e um filho se ofereceram a Deus-Pai-Mãe para descer à Terra e dar testemunho da Matriz Divina, orientando a humanidade rumo à Consciência Crística. Sabemos da existência de ambos pelos nomes Jesus de Nazaré e Maria de Magdala, ou Maria Madalena. No entanto, conhecedores do coração humano, arraigado na doutrina que reconhece apenas Deus-Pai, a tarefa de Maria de Magdala seria desempenhada, a princípio, através de parceria sigilosa. Durante o período no qual o Novo Testamento silencia sobre a vida de Jesus, ele e Madalena estudaram os Antigos Arcanos nas Escolas de Mistérios do Egito, Índia e Tibete. Chegada a hora de cumprir O Divino Propósito, foram devolvidos a Palestina, para consagrar suas forças vitais em água.

Ao ser mergulhado no rio Jordão por João Batista, Jesus de Nazaré teve o chakra cardíaco aberto e o hemisfério direito habitado pelo amor de Deus-Mãe. O Espírito Santo, em forma de pomba, se conectou ao chakra coronário de Jesus, inundando todas as áreas relacionadas À Espiritualidade: córtex pré-frontal medial, lobos temporais, córtex parietal e glândula pineal. Madalena passou pela mesma consagração. Realizada a unção, ambos se levantaram Avatares da Era de Peixes, para, no decurso de três anos e meio, ensinar sobre o caminho do Amor: ao despertar Deus-Pai-Mãe interno e se reconectar À Consciência Divina, desfrutamos da verdadeira liberdade em assumir a responsabilidade de seguir essa vereda.

Através de sinais, Jesus deixou claro que nós poderemos fazer tanto quanto Ele e até mesmo muito mais: “Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim fará as obras que faço e fará até maiores do que elas, porque vou para o Pai” (João 14:12). Apontando para o seu Cristo interior como habitando também em cada um de nós, O Mestre, inclusive, já havia, em passagem bíblica anterior, chamado à atenção para a nossa natureza divina: “[…] Não está escrito em vossa Lei: “Eu disse: Sois deuses?”” (João 10:34). De sua parte, Maria de Magdala escreveu no Evangelho Gnóstico que leva o seu nome: “Não vos lamentais nem sofrais, nem hesiteis, pois, sua graça estará inteiramente convosco e vos protegerá. Antes, louvemos sua grandeza, pois Ele nos preparou e nos fez homens”. Chamas Gêmeas, Jesus e Madalena mostraram a verdadeira estrada do amor, como ponto de ascensão nos degraus da Eternidade.

Próximo de concluir a sua missão, Jesus enviou Pedro e João para preparar a Última Ceia, em um local específico. Lemos em Lucas 22:8-13: “Jesus enviou então Pedro e João, dizendo: “Ide preparar-nos a páscoa para comermos”. Perguntaram-lhe: “Onde queres que a preparemos?” Respondeu-lhes: “Logo que entrardes na cidade, encontrareis um homem levando uma bilha de água. Segui-o até a casa em que ele entrar. Direis aos donos da casa: ‘O Mestre te pergunta: onde está a sala em que comerei a páscoa com os meus discípulos? E ele vos mostrará, no andar superior, uma grande sala, provida de almofadas; preparai ali”. Esta passagem mostra que Jesus designou dois de seus principais alunos a um lugar secreto, desconhecido até mesmo para eles. A identificação desse local seria feita mediante um símbolo – um homem carregando uma bilha de água; ele deveria ser seguido até a casa na qual entraria – e um código – a informação dada por Jesus aos dois apóstolos e transmitida a outro homem, o dono da casa.

O sigilo era necessário, porquanto planos para matar O Bom Pastor e mesmo os seus discípulos estavam em curso. Ao mesmo tempo, os ensinamentos secretos de Jesus não deveriam ser compartilhados fora do seu círculo mais próximo. Caso tais preceitos fossem descobertos, não seriam compreendidos, ou ainda pior, poderiam ser destruídos, junto com seus portadores. Sobre isso, O Mestre, prudente e visionário, avisou: “Não deis aos cães o que é sagrado, nem atireis as vossas pérolas aos porcos, para que não as pisem e, voltando-se contra vós, vos estraçalhem” (Mateus 7:6). Nesses termos, apenas em um grupo privado, desconhecido da maioria, Jesus ministrava tais conhecimentos, a fim de que os seus escolhidos estivessem seguros e pudessem dar continuidade à sua obra (Marcos 4:11-13). E o espaço adequado se encontrava nesta casa, no andar superior, onde, após a crucificação e sepultamento de Jesus, os apóstolos novamente se reuniriam: “Então, do monte chamado das Oliveiras, voltaram a Jerusalém. A distância é pequena: de uma caminhada de sábado. Tendo entrado na cidade, subiram à sala de cima, onde costumavam ficar. Eram Pedro e João, Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, o Zelota; e Judas, filho de Tiago. Todos estes, unânimes, perseveravam em oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus, e com seus irmãos”. (Atos 1:12-13).

Tratava-se, portanto, de um frequente ponto de encontro entre os associados mais íntimos de Jesus. Mais ainda: existiam mulheres integrando essa escola mística. Tal informação contradiz os ensinamentos religiosos hegemônicos, mostrando que O Mestre era inclusivo, ao integrar mulheres como discípulas. Uma leitura atenta dos Evangelhos comprova essa característica em Jesus: para Ele, independente de gênero, qualquer pessoa sincera estava capacitada a levar adiante o seu ministério. Ao contrário dos costumes patriarcais, responsáveis por submeter as mulheres a seres inferiores, relegadas a servir aos homens, Jesus prezava pela sua companhia e foi a uma mulher samaritana, com quem, falando em público, próximo a um poço, revelou pela primeira vez a sua identidade messiânica (João 4:26). Foi Maria de Magdala, a primeira pessoa a ver Jesus renascido (João 20:11-18). E foi Maria, irmã de Marta, sentada aos pés do Salvador, na posição do homem rabínico tradicional, a quem Jesus transmitiu a Boa Nova (Lucas 10), se contrapondo diretamente a desigualdade entre os gêneros, predominante mesmo na atualidade.

Voltando a Última Ceia, encontramos Jesus fazendo todos comerem o mesmo pão e beberem o vinho na mesma taça. Essa ritualística pré-cristã e esotérica, preservada em algumas escolas iniciáticas orientais, representa no pão, a transferência de poder, para os apóstolos. Estes, ao comerem simbolicamente o corpo de Cristo, absorveram as Suas habilidades místicas. Referente ao vinho, a bebida da sabedoria para dionisíacos, iniciados no sufismo e seu equivalente hindu, o soma, Jesus compartilha a própria imortalidade: aqueles que beberam o vinho, após o Plano Físico, estariam com Ele no Plano Espiritual para sempre. Pão e vinho, representam, nessa ordem, o plano material e espiritual: o primeiro é a chave para os apóstolos acessarem o poder de Seu Mestre e prosseguir com a difusão da mensagem de Deus-Pai-Mãe; o segundo é o instrumento para acessar o “Reino dos Céus” (Mateus 10:7), sempre próximo de quem abraça Jesus como referência diária. Os apóstolos estavam, após esse rito, de posse dos mistérios da matéria e do espírito. Essa Suprema Energia Cósmica, posteriormente, foi repartida ao grupo maior de cento e vinte discípulos, no Pentecostes (Atos 2).

Ante o exposto, talvez nos perguntemos: haja vista Jesus ter compartilhado o poder com seus seguidores, por que, na atualidade, não encontramos lideranças religiosas multiplicando pães, trazendo outras de volta à vida e curando doenças? Infelizmente, como ocorre em todos os segmentos religiosos, não é diferente no Cristianismo: quando os interesses políticos e econômicos se tornam o centro das preocupações, soterrando os ensinamentos ocultos, em outras palavras, quando o exoterismo supera o esoterismo, sobra apenas a letra literal para ser seguida com práticas preconceituosas e fundamentalistas. Perde-se a essência, segue-se a aparência. Todavia, distante de ser perdida no tempo, a escola esotérica de Jesus prossegue; é provável, inclusive, que as orientações deixadas por Ele, estejam em arquivos secretos no Vaticano, sendo acessadas e compreendidas por uma minoria, formada pelos poucos iniciados na Chave-Mestra do Conhecimento Crístico. Essa afirmação foi feita por Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891), sistematizadora da Teosofia moderna, ela mesma tendo consultado esses textos, através da clarividência. Em As Doutrinas Secretas de Jesus, Harvey Spencer Lewis (1883-1939), renomado maçom e rosacruz, corrobora o pensamento de Blavatsky.

Afastando-se da páscoa tradicional, Jesus instituiu um novo momento: todas as pessoas inspiradas em Seu exemplo de amor sem fronteiras, atingem a Iluminação.

Armando Januário dos Santos é Taroterapeuta de O Baralho de Maria Padilha, Mestre em Psicologia e Palestrante. Instagram: @tarot.maria.padilha / WhatsApp: (71) 99278-9379

 

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