Connect with us

Opinião

#Opinião – Quem te oferece afeto quando você não se sexualiza? Por Lidiane Ferreira

Avatar

Publicado

on

Há pouco mais de um ano tornei-me solteira, e nesse tempo, em que caminho de mãos dadas a mim mesma, criei alguns perfis em apps de relacionamento. Confesso que conheci muita gente legal, mas hoje, enquanto deslizava os dedos pelas redes sociais, a procura de nada, deparo-me com o seguinte post:

Fiquei presa nesta postagem por alguns minutos e até printei a tela. Segui passando e passando pelas publicações, mas ainda assim envolvida naquele post. É, minha gente, eu fiquei pensando na minha condição de mulher negra, no quanto o meu corpo é subjugado e posto à marginalização, à hipersexualização. Fui nas minhas conversas e vi a quantidade de homens, que buscam, talvez, uma preta disponível para suprir seus desejos. Chegam sempre muito gentis, até o momento em que se dão conta de que aquilo não é o que esperavam, aí mudam o comportamento, somem, deixando um vazio e uma sensação de que é errado se resguardar. Uma total falta de responsabilidade afetiva, resultado da manutenção de valores coloniais na atualidade, a colonialidade.

O reflexo da colonialidade se torna, nesse contexto, o principal fator de efetivação desses comportamentos, vivenciados por mulheres negras, desde a infância. O preterimento e a exclusão do afeto surgem ainda na infância, quando na escola a menina negra nunca é a escolhida para nenhuma atividade, por exemplo. E seguimos marcadas pela dor, causando, em alguns casos, sérios problemas de cunho psicológico, que chegam a interferir nas relações sociais e afetivas.

Diante disso, ainda dá para acreditar no amor? Sim, felizmente o afeto não está restrito a relações conjugais: temos famílias, amigos, pets… temos, principalmente, algo que precisa ser constantemente nutrido: nosso amor próprio. Sabemos que príncipes não existem, sejam eles negros ou não. Mas não é porque sabemos da inexistência que aceitaremos o pouco que nos dão, porém isso torna-se perceptível quando aprendemos a nos amar. O desejo pela construção e manutenção da família precisa ser pautado, antes de tudo, a partir do nosso bem-estar. Estar bem é algo inegociável, e isso só acontece quando entendemos que o amor é uma coleção de pequenas e grandes demonstrações de afeto.

Estamos aprendendo a caminhar com o afeto, que nos foi negado. O afeto é uma construção individual e coletiva, ao mesmo tempo em que é uma descolonização de pensamentos. Descolonizar é parar de enxergar nós mulheres negras como iguais, pois o racismo estrutural distorce e dificulta a nossa capacidade de amar, de sermos amadas e respeitadas. Sigamos na luta!

 

Lidiane Ferreira é  poeta, Profª de Língua Portuguesa ‍ Especialista em Ed. Gênero e D. Humanos (UFBA) Membra do @enegrescencia. Baiana e mestranda PPGEL/UNEB. | @lidianeferreira._

Opinião

#Opinião – E o teu feminismo, comunidade? É negro mesmo? – por Aline Lisboa

Avatar

Publicado

on

Práticas de feminismos coloniais são estratégias de divisão para a nossa comunidade. A primeira onda do movimento feminista surge na Inglaterra no final do século XIX, buscando direitos que eram negados às mulheres e concedidos continuamente como forma de privilégio a homens.

O movimento se popularizou com a primeira luta que foi o direito ao voto. As sufragetes, como ficaram conhecidas, encheram as ruas de Londres, foram presas várias vezes, fizeram greve de fome e por fim após a morte de Emily Davison, que se atirou na frente do cavalo do rei, na corrida Derby, esse direito foi conquistado.

O feminismo chega ao Brasil e as sufragetes brasileiras dão início ao movimento em 1910. Assim, em 1932 é promulgado um novo código eleitoral brasileiro, por meio do qual se conquista o direito ao voto das mulheres brasileiras, entretanto mantém-se vetado o direito ao voto de mendigos e ANALFABETOS.

Considerando a primeira Lei da Educação, promulgada em 1837, que proibia negros e negras, ainda que livres, de frequentarem a escola, pode-se dizer que a conquista em 1932 não abarcavm a população de mulheres negras, assim como a de homens negros daquela época, que tinham os seus privilégios na organização social do convívio estrutural, mas com intersecções das relações que também são de raça.

Com a continuidade do movimento, vê-se que há muitas outras lutas com perspectivas que não abarcam as relações de raça e gênero. Urgiu-se, então, a necessidade de tratar dos direitos das mulheres negras, compreendendo as relações de domínio e poder, dentro e fora da comunidade de pessoas negras, pensando assim, as  perspectivas de um feminismo negro.

O feminismo, quando negro, dialoga com as espistemes decoloniais, já que a luta de mulheres brancas não conversa com os esmagamentos sofridos por mulheres negras, assim, como o privilégio de homens brancos são em números, de forma transparente, maiores que o de homens negros.

Tendo assim, nas camadas sociais, homens brancos, mulheres brancas, homens negros e mulheres negras, que trazem consigo lugares de fala, lutas e quando privilégios, diferentes.

Considerando os contextos acima, é importante pensar como o racismo pode atravessar a luta feminista negra, transfigurando-a em um contexto colonial, sendo um enorme fator de divisão na nossa comunidade.

Nós, mulheres negras, irmandade a qual sou pertencente, enfrentamos inúmeros esmagamentos silenciados na luta feminista colonial. Em números alarmantes, os baixos salários, a maternidade solo, o adoecimento físico e mental, a violência obstétrica, a violência sexual, o encarceramento, a marginalização, humilhação e silenciamento são absurdos.

É impossível escrever aqui sobre a necessidade de diálogos do nosso povo, sem dizer que o racismo e o sexismo, atuando juntos, são potentemente destrutivos às vidas de mulheres negras.

Contudo, considera-se importante pensar o atravessamento do racismo ao feminismo colonial, quando as lutas e colocações são atravessadas pelas imagens que controlam a figura de homens negros. A sociedade constrói estereótipos que vem matando aos pouquinhos homens negros todos os dias.

Já escrevi em outro artigo que como educadora, ao conviver com meninos negros, diariamente, os vejo sobrevivendo a um massacre com sorrisos desesperadores no rosto. Se a luta não considera os impactos do racismo ela não é negra, e para mim, nem é luta.

Se o movimento é sobre odiar, perseguir, expor, marginalizar e matar aos poucos os homens negros, esse movimento tem outro nome, é o racismo. A branquitude é firme em averiguar profundamente, perdoar e esquecer com facilidade falhas por vezes absurdas de homens brancos, enquanto relembra, ataca e marca em corpos de homens negros, falhas que por vezes não são nem verdadeiras, pois como já dizia o Ilê Ayiê, “Preto sempre é vilão, até meu bem, provar que não”.

A colonização é estratégica em dividir comunidades que juntas, dialogando, são poderosas no combate. Não podemos deixar que uma luta que nunca dialogou com o lugar das mulheres negras nos sirva para auxiliar a destruição do nosso semelhante.

Que o nosso feminismo seja negro. Defendendo o lugar de fala de mulheres negras, aniquilando qualquer perspectiva construída pelo racismo para qualquer um dos nossos semelhantes dentro da comunidade. O futuro, não está na colônia, o futuro é Sankofa!

Continue Reading

Opinião

#Opinião – O amor aos animais: uma reflexão espiritual – Por Armando Januário

Avatar

Publicado

on

“O homem fez da Terra um inferno para os animais”. A frase do filósofo alemão Arthur Schoppenhauer (1788-1860) descreve como a humanidade tem se comportado de maneira predatória frente a outras espécies.

A morte de Joca, na última segunda, 22 de abril de 2024 é mais um capítulo sobre as violações dos direitos animais. O Golden Retriever de 5 anos foi embarcado por uma empresa aérea em São Paulo, com destino a Sinop (MT). Contudo, a etiqueta da companhia aérea indicava que o animal tinha Manaus (AM) como ponto de chegada. O nome e o peso também eram diferentes. Esses erros levaram o cão a ficar 8 horas sem a devida hidratação. Joca não resistiu e morreu.

Esse evento trágico é mais um chamado à sociedade para a compreensão dos animais como vidas e não bagagem. Agora, Joca se encontra no Plano Maior, tendo os devidos cuidados, para se reabilitar e renascer, oferecendo a cada pessoa que estiver em sua nova jornada, a oportunidade de amar. Sem dúvida, o amor aos animais está de acordo às Leis Universais e revela o caráter da criatura humana.

Se realmente amamos os animais, carinho, alimento e água a eles são o mínimo que podemos oferecer. Na verdade, em observância à Espiritualidade Maior, compreendemos que qualquer animal deve ser respeitado desde antes do seu nascimento, por ser, semelhante a nós, uma energia em processo de evolução.

Portanto, é responsabilidade humana o trato com os animais, inclusive com aqueles que ainda são utilizados para alimento: abates dolorosos refletem a imensa ignorância e crueldade que resultam em doenças para o nosso corpo espiritual e físico. As leis humanas estão sendo convocadas a entrar em sintonia com as Leis Espirituais, do contrário, novas pandemias serão a consequência dos excessos causados pela humanidade face aos nossos queridos irmãos, que, em sua evolução, confiam em nós.

Até breve, Joca. Você é mais um Ser de Luz que demonstra a nossa necessidade de evolução espiritual.

 

Armando Januário dos Santos é Trabalhador da Luz, Mestre em Psicologia, Psicólogo (CRP-03/20912) e Palestrante. Contato: (71) 98108-4943 (WhatsApp).
Continue Reading

Opinião

#Opinião – A necessidade de conhecermos nossos quilombos – Por Carlos Henrique Cardoso

Avatar

Publicado

on

A necessidade de conhecermos nossos quilombos
A necessidade de conhecermos nossos quilombos (Foto: Divulgação)

Trabalhando com estudos quilombolas, me dei conta da situação de dificuldade que vive algumas comunidades. Não que estejam em penúria econômica ou alimentar, mas na convivência cotidiana com grandes empreendimentos nas proximidades de seu território, além de lidarem com madeireiros e pessoas ligadas ao crime organizado. Em visitas de campo, pude presenciar in loco algumas situações.

Em Pitanga de Palmares, Simões Filho, há uma colônia penal praticamente no centro da localidade. Muitos convivem com o perigo de uma rebelião ou escapes de prisioneiros, o que acarretaria presença maciça de policiais e agentes em uma perseguição pelas cercanias. Gasodutos estão instalados com placas indicando rotas de fuga caso ocorram acidentes. A Companhia de Água e saneamento do Estado (EMBASA) constantemente realiza obras de manutenção da Barragem do Rio Joanes, lá situada. Recentemente, torres de linhas de transmissão de energia foram instaladas nas proximidades, o que gerou preocupações com a circulação de operários e pessoas estranhas à comunidade.

Em setembro de 2023, a líder local Bernadete Benício foi assassinada em sua residência, uma violência que marcará durante muitos anos esse quilombo. O crime virou notícia nacional e vários movimentos e populares cobraram a resolução. Segundo inquérito policial, os assassinos são todos envolvidos com o tráfico de drogas na região. Conheci essa liderança quando lá estive, em 2022, inclusive me hospedando em sua residência. Na ocasião, ela queixava-se dos interesses de madeireiros naquela região, cercada de densas florestas e terreiros de candomblé.

O quilombo Dandá, há poucos quilômetros dali, às margens da BA-093, convive com o pedágio administrado pela Concessionária Bahia Norte. Seus habitantes se queixam das obras de construção das baias, quando muita terra e entulho era jogado em qualquer lugar, com o perigo de assoreamento do rio local. Atualmente, solicitam gratuidade no pedágio, porém, sem sucesso.

Em Cachoeira, o quilombo Kaonge é um pedaço do paraíso, tranquilo e equidistante do município. No entanto, queixam-se da dificuldade no transporte e lembram dos inúmeros transtornos ambientais ocasionados após o funcionamento da Barragem Pedra do Cavalo, o que fez com que várias espécies que tinham o Rio Paraguaçu como habitat desaparecessem, atrapalhando a vida de pescadores e marisqueiras.

Todas essas comunidades convivem há décadas – ou séculos – com dificuldades de titulações, reconhecimentos, além dessa convivência com o funcionamento de empresas e pequenas indústrias nas suas proximidades. Clóvis Moura considerava os quilombos como “microcosmos das lutas sociais brasileiras”. São locais que almejam fortalecer relações de parentesco, tradições culturais, saberes de seus antepassados, práticas religiosas e culinárias típicas. O trabalho de artesãos é um bom exemplo da manutenção de conhecimentos tradicionais que permanecem vivos com o avançar das gerações.

Quilombos são categorias de lutas e memórias de um povo sofrido pelos horrores da escravidão e pelo desejo de cidadania plena, direitos, e afirmação étnica. Grande parte de nossa sociedade desconhece suas histórias ou, infelizmente, nutre desconhecimentos ou desconfianças sobre eles (alguns até consideram que são locais que constantemente sofrem “influências de ONG’s”). Que o ensino de História da África vigore nos currículos escolares, e possamos ter um estudo eficiente sobre a determinação e dignidade desses povos.

*Carlos Henrique Cardoso é Mestre em Antropologia.

Este artigo é fruto de parceria entre Portal Soteropreta e o Soteroprosa.

Continue Reading
Advertisement
Vídeo Sem Som

EM ALTA