Artes
David Sol leva diálogo entre Arte e Espiritualidade a Moçambique

O artista David Sol escreve uma ladainha de homem grande, onde o caçador e a flecha se fundem em uma única existência, em um registro que celebra a ancestralidade e a espiritualidade do Recôncavo Baiano. Oxóssi atravessa o oceano para saudar os Caboclos do Brasil e beber da Jurema, em um tempo onde o passado, o presente e o futuro ensinam uma verdade comum: para acertar o alvo, é preciso ter o gingado do andarilho. Sob essa perspectiva, o artista propõe o registro da cultura oral e dos saberes ancestrais de sua terra natal, contribuindo para a produção de um conhecimento que respeite a si, sua gente—encarnada e desencarnada—e seu chão.
A Plataforma Flotar, em colaboração do Instituto Guimarães Rosa e o Museu Mafalala se unem para apresentar “Pedrinhas Miudinhas”, uma exposição curada por Juci Reis e Jorge Dias que reúne o trabalho de pesquisa e criação do artista baiano David Sol, explorando a interseção entre fotografia e pintura. A exposição, que ficará em cartaz a partir de 19 de setembro de 2024, no Museu Mafalala, como um marco cultural, sendo a primeira vez que um artista da Bahia ocupa o renomado Museu, conhecido por seu olhar político e social sobre a cidade de Maputo através de suas periferias.
A exposição surge como uma ladainha visual inspirada nas ricas tradições dos Caboclos em terreiros de Santo Amaro, na Bahia. As obras expostas resultam de um diálogo poético entre fotografias capturadas em festividades dedicadas aos Caboclos e pinturas que retratam cobras corais, símbolos de encantamento e poder na cultura afro-índigena. A exposição não se limita à contemplação das imagens; ela convida o público a uma imersão profunda nas histórias e nos rastros das cobras encantadas, que se manifestam tanto nos corpos como nas marcas deixadas no chão. Estas serpentes, desenrolando-se esteticamente entre o sibilar e os riscos, revelam o invisível que habita em nós, oferecendo uma reflexão sobre a espiritualidade e suas manifestações na arte.
“A Bahia e o Recôncavo baiano são as raízes de tudo o que escrevo e produzo, e ver que os sonhos que pintei estão me levando a Maputo é uma experiência verdadeiramente odara. O Museu Mafalala, com sua forte conexão comunitária, é o cenário ideal para esse diálogo intercultural. ‘Pedrinhas Miudinhas’ é mais do que uma exposição; é uma celebração da espiritualidade e da identidade do povo do Recôncavo Baiano, um povo que se constrói e se afirma no coletivo,” afirma David Sol.
O bairro da Mafalala, ícone da periferia de Maputo, abriga cerca de 20 mil pessoas em um emaranhado de casas de madeira e zinco, com ruas de terra batida e vielas delimitadas por chapas metálicas que servem como muros. Este lugar, que foi o lar de grandes nomes da literatura, música, artes plásticas e política de Moçambique, desempenhou um papel crucial nas lutas pela independência e na formação da identidade nacional.
A Mafalala é considerada o reduto das artes e dos intelectuais do país, como afirma o cantor Wazimbo, que recorda antigos moradores ilustres, incluindo os escritores José Craveirinha e Noémia de Sousa, o compositor Fany Mpfumo, o lendário jogador de futebol Eusébio, que brilhou na seleção portuguesa e no Benfica, e líderes da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), como Samora Machel e Joaquim Chissano, os dois primeiros presidentes após a independência.
Além da exposição, o projeto contará com um ciclo de palestras, com a participação de Barbara Lima, Luan Gramacho e Cândido Nobre. Essas palestras têm como objetivo aprofundar a compreensão do processo criativo de “Pedrinhas Miudinhas” e sua relação com as religiões afro-brasileiras e afro-ameríndias, explorando a riqueza epistêmica dessas tradições. “Essa exposição é para toda a ancestralidade de pindorama e do orun, nas obras materializo um pouco da poesia herdada da nossa gente“, concluiu o artista visual Sol.
Contemplado no edital do Programa de Mobilidade Cultural 2024, Pedrinhas Miudinhas é um projeto financiado pelo Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia, e conta com a gestão e coordenação internacional do Flotar Programa e curadoria de Juci Reis (IGR/Maputo).
Sobre David Sol
David Sol nasceu no Recôncavo da Bahia, Brasil, em 2000. Ele é artista visual, curador, bacharel em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Especialista em História e Antropologia, e Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação na mesma universidade. Suas pesquisas exploram a interseção entre fotografia, pintura e escrita, com um foco particular nas experimentações de linguagens que dialogam com as tradições afro-indígenas-brasileiras.
Artes
Casa do Benin expõe “Zumvi: A Bahia em Festa e Resistência”

O Zumvi Arquivo Afro Fotográfico, a convite da Casa do Benin, vai inaugurar a exposição “Zumvi: A Bahia em Festa e Resistência”, nesta sexta-feira (7), às 19h, na Rua Pe. Agostinho Gomes, 17, Pelourinho. A mostra destaca o acervo documental do Zumvi, abordando as Festas Populares, a espiritualidade, o teatro e o cotidiano negro da Bahia. Através das lentes de Lázaro Roberto e Jônatas Conceição e com curadoria de Paulo Azeco, o objetivo é celebrar a riqueza cultural e histórica do povo baiano.

Foto: Acervo Zumvi
Sobre Zumvi Arquivo Afro Fotográfico
O Zumvi registra há cerca de 30 anos as manifestações do movimento negro e o cotidiano dos afrodescendentes em diversas temáticas e contextos populares. São mais de 30 mil fotogramas que registram momentos marcantes da luta negra nas últimas quatro décadas, bem como expressões artísticas e do cotidiano da população mais negra fora do continente africano.
O nome “Zumvi” é uma palavra fotográfica criada a partir do “Zum” da lente e “VI” do olho. É trazer a realidade que está longe, mais para perto. O projeto é coordenado por Lázaro e com produção executiva do historiador José Carlos Ferreira, que também vem desenvolvendo e facilitando pesquisas acadêmicas sob o acervo no campo da memória, da cultura e da raça. Mais informações no site www.zumvi.com.br.

Foto: Acervo Zumvi
Serviço
O quê: Abertura da exposição “Zumvi: A Bahia em Festa e Resistência”
Quando: Dia 07/02 (sexta-feira), às 19h
Onde: Casa do Benin – Rua Pe. Agostinho Gomes, 17, Pelourinho
Visitação: De 07/02 a 15/03, terça a sexta, das 10h às 17h, e sábado, das 9h às 16h
Artes
Teatro Gamboa tem música afropop e espetáculo infantil

O Teatro Gamboa abre a primeira semana de fevereiro com música afropop e espetáculo infantil. Nesta sexta-feira (7), às 19h, e sábado (8), às 17h, “Sátyra Carvalho canta AFROPOP” assume a programação do espaço. No repertório, Sátyra dá destaque à mulher na música baiana, acompanhada por uma banda com seis músicos. Ingressos a R$20/R$40.
O domingo (9) traz o infantil “As Peraltices de Júnior Pequeno”, às 10h. O musical conta a história de Júnior Pequeno (JP), um menino negro que acredita no seu potencial, sonha e faz de tudo para realizar os seus sonhos — e realiza! A narrativa é contada trazendo músicas compostas por Raulino Júnior, que concebeu, atua e dirige o projeto. Em mais um dia de visita à pracinha que costuma ir para brincar, Júnior Pequeno encontra novos amigos e, através de muitas peraltices, conta um pouco de sua história de vida. Ingressos a R$20/R$40.
Os ingressos para cada apresentação estão à venda na bilheteria do teatro a partir das 15h do dia do espetáculo, ou antecipadamente no link. Há ainda a opção de assistir aos shows de forma on-line, com transmissão na plataforma virtual do Gamboa, com venda também pelo site. Antes de cada apresentação no Teatro Gamboa, o público poderá conferir, no CineGamboa, o curta “50 anos do Gamboa”, em que o fundador do teatro, Eduardo Cabus, conta histórias da criação do espaço.
Exposição
A exposição processual “Literato – Entre papéis e palcos” segue até o dia 23 de fevereiro. Idealizada por Lucianna Ávila e produzida por Kívia Kiara, a mostra tem o desejo de apresentar ao público o processo criativo e de desenvolvimento de livros infantis, trazendo como protagonistas as etapas da produção literária, além das obras finalizadas. Os livros expostos são de autoria da escritora e contadora de histórias Lucianna Ávila, com músicas de Marcos Bezerra e ilustrações dos artistas visuais Tamires Lima, Jéssica Silva, Bruno Aziz, Emy Morais e André Gustavo.
Artes
Curto Circuito das Artes oferece programação cultural em Salvador

A programação do Curto Circuito das Artes leva espetáculos gratuitos para diferentes públicos em espaços culturais da cidade, a partir do dia 7 de fevereiro, oferecendo aos turistas e moradores opções culturais que vão além do sol, das praias e das tradicionais festas. Para os adultos, a peça Surf no Caos será encenada no dia 7 de fevereiro, no Sesi Casa Branca, às 19h, prometendo uma experiência teatral provocante e envolvente. O público infantil também terá vez com o espetáculo imersivo Gromelôs e Garatujas, indicado para bebês e toda a família. As apresentações acontecem no Teatro Gregório de Matos, nos dias 8 de fevereiro, às 16h, e 9 de fevereiro, às 11h e 16h.
Outro destaque para as crianças é o projeto Tardes Pretinhas, que promove reflexões sobre ancestralidade e representatividade afro-brasileira. A programação inclui contação de histórias, oficinas e os espetáculos Sarauzinho da Calu e A Casa Encantada, no Sesi Casa Branca, nos dias 8 e 9 de fevereiro, às 16h. Com uma agenda que alia arte, diversidade e inclusão, o Curto Circuito das Artes reforça que Salvador é um destino que vai muito além das suas belezas naturais, proporcionando uma experiência cultural imperdível neste verão.
Realizado pela Fundação Gregório de Mattos (FGM), por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Prefeitura de Salvador), em parceria com a Funarte, do Ministério da Cultura (Governo Federal), o Curto Circuito das Artes dinamiza 10 espaços culturais de Salvador entre novembro de 2024 e fevereiro de 2025, com uma programação vibrante e diversificada. O objetivo é movimentar a cena cultural da cidade com espetáculos, exposições e residências artísticas, promovendo o acesso à cultura. A iniciativa busca envolver e inspirar o público de todas as idades, fortalecendo a conexão com as artes de maneira autêntica.
Magia e alegria
A magia do circo promete levar muitas gargalhadas para as crianças com a peça Clássicas, Uma Montagem Teatral Circense, espetáculo que homenageia os clássicos da dramaturgia dos palhaços. As circenses Luana Serrat, Nina Porto e Nana Porto interpretam os palhaços “Branco” e “Augusto”, personagens tradicionais do teatro e do circo.
Durante o espetáculo, as atrizes se revezam em grandes trapalhadas e exploram mudanças sensíveis nos tipos de palhaços. A peça será apresentada no dia 7, no Espaço Boca de Brasa Subúrbio 360º, às 15h; e no dia 8, no Espaço Boca de Brasa Cajazeiras, às 16h.
Diversão em família
Mais uma vez em cartaz no Curto Circuito das Artes, o espetáculo Gromelôs e Garatujas será apresentado no Teatro Gregório de Matos no dia 8 de fevereiro, às 16h, e no dia 9 de fevereiro, às 11h e 16h. O espetáculo utiliza projeções e música para criar uma experiência interativa, compartilhada por bebês, crianças da primeira infância e seus pais. Ele aborda o desenvolvimento infantil, desde a descoberta de sons inarticulados (gromelôs), passando pelos primeiros esboços gráficos de formas e cores (garatujas), até a fase pré-escolar.
Representatividade
Reflexões sobre representatividade e ancestralidade afro-brasileira são o ponto central do Tardes Pretinhas, que acontece no Sesi Casa Branca nos dias 8 e 9 de fevereiro, às 16h. O projeto é dividido em dois momentos: no primeiro, contação de histórias e oficinas; no segundo, apresentações dos espetáculos Sarauzinho da Calu e A Casa Encantada.
Inspirado no premiado livro Calu, uma Menina Cheia de Histórias, publicado pela Editora Malê com prefácio de Lázaro Ramos, a peça Sarauzinho da Calu é dirigida pela atriz, escritora e dramaturga Cássia Valle. O espetáculo utiliza poesia, música e literatura infantil para abordar temas como representatividade, tradição, memória e identidade, narrando as aventuras de uma menina negra que cria um universo alternativo carregado de símbolos da cultura afro-brasileira.
Já A Casa Encantada presta uma homenagem ao circo e às brincadeiras de infância, mostrando de forma simbólica a importância de cada um se reconhecer nos pequenos detalhes do mundo e na construção de suas identidades. O personagem que conduz a história é um Griot, símbolo tradicional de contadores de histórias responsáveis por apresentar às crianças as contribuições da matriz africana.

Foto: Ana Paula Albuquerque
Surf no caos
Para os adultos, a programação traz a peça Surf no Caos, com a atriz baiana Rita Assemany, que se apresenta no dia 7 de fevereiro (sexta-feira), às 19h, no Sesi Casa Branca. Trata-se de um monólogo que questiona a natureza humana sob a perspectiva de Lucy, o primeiro ser humano primitivo. O espetáculo mistura linguagens artísticas e reflexões sobre existência, liberdade e os caminhos da humanidade.
Serviço
Espetáculo: “Clássicas, Uma Montagem Teatral Circense”
Datas, locais e horários:
7/2 no Espaço Boca de Brasa Subúrbio 360º, às 15h
8/2 no Espaço Boca de Brasa Cajazeiras, às 16h
Classificação: Livre
Espetáculo: “Surf no Caos”
Data e horário: 7/2, às 19h
Local: Sesi Casa Branca
Classificação: 14 anos
Espetáculo: Gromelôs e Garatujas, Espetáculo Imersivo para Bebês e Famílias
Data e horário: 8/2, às 16h e 9/2, às 11h e 16h
Local: Teatro Gregório de Mattos
Atividade formativa:
Oficina:Teatro para os Primeiros Anos – Encenações e Perspectivas, na Sala Nelson Maleiro – FGM, dias 10, 11 e 13/2, das 13h às 16h30, com 10 vagas + 5 ouvintes para artistas, arte-educadores, professores e estudantes de artes
Projeto: Tardes Pretinhas
Espetáculos: “Sarauzinho da Calu” e “A Casa Encantada”
Locais e Datas: Sesi Casa Branca, dias 8 e 9/2, às 16h
Atividade Formativa:
Contação de história + Oficina de escrita criativa, no SESI Casa Branca, dia 9/2, das 13h às 15h, com 20 vagas por oficina para crianças de 5 a 10 anos.