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#Opinião: Desmistificando o Dia das Bruxas – Por Januário

Ana Paula Nobre

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Em determinas épocas do ano, o Sagrado Véu entre os Círculos Espirituais e os Planos da Matéria se torna mais tênue, facilitando a comunicação entre esses mundos. Isso ocorre, sobretudo, quando O Sol se posiciona em Escorpião: podemos celebrar a solitude ou festejar o renascimento. Estamos falando do Halloween – palavra inglesa originada na tradição católica –, popularmente conhecido no Brasil como Dia das Bruxas e que inicia Samhain, o Ano Novo Celta.

Antes do Imperador Constantino (272-337 d.C.) oficializar o cristianismo, os povos europeus cultuavam as Forças da Natureza. Esses grupos se recolhiam diante do frio outono para louvar O Sagrado, meditando sobre o sentido da vida e venerando a ancestralidade. Essa festividade, ou Sabbat, marcava a transição da Luz para a Sombra: adorar o lado sombrio manifestava o respeito pela “morte” do Deus-Sol, envolto pelas Trevas, pelo gelo…

…era preciso se preparar ante a estação lúgubre e povoada de espíritos considerados maléficos. As máscaras da tradição celta serviam a esse propósito. Por sua vez, a sobrevivência para esse trânsito de estações era marcada pelo consumo dos alimentos estocados na colheita: posteriormente, nasceria, desse costume, a expressão “trick or treat”, doce ou travessura.

Após a chegada do cristianismo, no Primeiro Concílio – Ecumênico – de Niceia (325 d.C), os cultos do Antigo Paganismo começam a ser apropriados pelos cristãos. No século VIII, o Papa Gregório III determina a mudança do Dia de Todos os Santos e Mártires, antes celebrado a 13 de maio, para 1º de novembro. Com isso, várias tradições do Samhain são adotadas pela Igreja, e a festa se converte ao cristianismo, contribuindo para o aumento do número de católicos na Europa.

Temos, nesse ínterim, uma inflexão histórica: os que conhecem as Antigas Tradições, sobretudo, as mulheres, historicamente perseguidas pelo fanatismo católico na Idade Média, passam a, secretamente, manter os rituais de Samhain e ao mesmo tempo professar a fé oficial. Esse sincretismo será muito importante para a chegada do paganismo nas Américas.

Com a migração irlandesa para os Estados Unidos (EUA) no século XIX, o Halloween desembarca no Continente Americano. A celebração religiosa passa a ser realizada também pelos países influenciados pelos EUA e localizados no Hemisfério Sul, que celebram a festiva de acordo com a estação do ano: a primavera.

A celebração do Sabbat de Beltane, como é chamada na tradição celta, marca a conexão sexual Sol-Terra: o amor desabrocha e a sensualidade rompe fronteiras, em rituais de fogo. Esse é o momento ideal para se apaixonar, tanto por si, quanto por outra pessoa e mesmo por eventuais áreas da vida deixadas de lado. Pode-se retomar aquele projeto deixado de lado e buscar a harmonia entre racionalidade e paixão.

No Brasil, 31 de outubro é Dia do Saci, elemental cultuado originalmente pelos verdadeiros donos da terra, os povos indígenas. Longe de rivalizar, acreditamos que a pessoa do leitor conhece as liberdades religiosas consagradas na legislação nacional, podendo celebrar – ou não realizar – essa ocasião especial, respeitando todas as diferenças.

Em um período histórico marcado por extremismos, pensar o Dia das Bruxas como uma celebração introspectiva – Samhain – ou luminosa – Beltane – é oportunidade ímpar de se abrir ao diálogo inter-religioso, compreendendo que a maior magia se encontra no amor sobre todas as coisas.

Armando Januário dos Santos é Trabalhador da Luz, Mestre em Psicologia, Psicólogo (CRP-03/20912) e Palestrante. WhatsApp: (71) 98108-4943 / Instagram: @januario.psicologo

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#Opinião: Desmistificando o Dia de Finados – Por Januário

Ana Paula Nobre

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Em Desmistificando o Dia das Bruxas, discutimos o real sentido dessa festa, desde o Antigo Paganismo até a sua cristianização. Abordamos também a mudança do Dia de Todos os Santos, antes celebrado em 13 de maio, para 1º de novembro, como inflexão histórica que aproximou o paganismo da mística cristã, já que o Halloween ocorre em 31 de outubro. Contudo, a 2 de novembro de 998, o Abade Odilo, na abadia beneditina de Cluny, França, instituiu essa data como emblemática para orar pelos mortos.

O gesto de Odilo contribuiu sobremaneira para o estreitamento paganismo-cristianismo, todavia, foi mais além, haja vista resgatar um dos aspectos centrais da visão católica: para chegar ao Paraíso, as almas deveriam cumprir estágio em um Plano de Purificação, o Purgatório. Nessa dimensão, os espíritos acolhem as orações dos vivos e a intercessão dos Santos, de Maria Santíssima e do próprio Mestre Maior, Jesus Cristo. Essa tradição se disseminou rapidamente e dos séculos X ao XV, orar pelos mortos se popularizou pela Europa a ponto de 2 de novembro ser denominado Dia de Todas as Almas. Na verdade, esse período é o legado deixado pelos cristãos primitivos: ante as perseguições do Império Romano, nos séculos II e III, eles fugiam para os subterrâneos de Roma, enterrando e orando por seus entes queridos.

A colonização das Américas popularizou o Dia de Todas as Almas, haja vista a imposição do catolicismo sobre os povos conquistados. No Brasil, encontramos essa data, ainda que secularizada, como um momento no qual muitos visitam os túmulos de parentes e amigos que já realizaram a viagem para o Astral. Flores, velas e orações são utilizados: as flores simbolizam a evolução espiritual, as velas representam o Caminho da Iluminação e as orações, a evocação da benção de Deus para que a pessoa morta alcance o descanso eterno.

Por essas práticas, percebemos a quantidade de paganismo no interior do cristianismo: o Festival de Samhain, marcando o fim da colheita e a chegada do inverno, era, para os celtas, o momento de retorno dos mortos para a Terra e uma ocasião para se comunicar com os espíritos. Se os celtas acendiam fogueiras e ofereciam bebidas e comidas para recepcionar os espíritos, encontramos nos ritos católicos a analogia de quem acredita ser possível rogar a Deus por quem já partiu.

Longe de defenestrar a fé católica, percebemos no Dia de Todos os Mortos, ou Finados, a oportunidade do diálogo universalista entre todas as crenças: na Umbanda são realizados louvores aos mortos, no Babá Egun, outra religião afro-brasileira, vemos os iniciados vestidos com eku, indumentária especial feita de tiras de pano bordadas, cantando em homenagem aos que já se foram. Em países do sudoeste asiático, encontramos pessoas celebrando a memória de seus ancestrais no Qingming, festiva anual em torno de 5 de abril. Nesta tradição, é também costume ir à templos orar pelos falecidos, além de queimar joss, considerado o dinheiro dos mortos.

O Dia das Bruxas ou Halloween, em paralelo com o Dia de Todas as Almas ou Finados, demonstra que religiões de cultos diversos compartilham da mesma crença: a importância de louvar os mortos. Isso comprova a origem única de todas as religiões do mundo, através da Religião-Sabedoria, A Ciência Secreta, ensinada pela Filosofia Hermética. Nesses termos, o racismo religioso encontra-se desamparado de qualquer racionalidade, haja vista todas as crenças terem uma base comum. Portanto, é tarefa da humanidade acolher a si mesma em suas aparentes diferenças, que, na verdade, são caminhos entrelaçados à Perfeição.

Armando Januário dos Santos é Trabalhador da Luz, Mestre em Psicologia, Psicólogo (CRP-03/20912) e Palestrante. WhatsApp: (71) 98108-4943 / Instagram: @januario.psicologo

 

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#Opinião: Ressignificando a Riqueza: Impacto do conhecimento negro no Empreendedorismo Atual – Por Luciane Reis

Ana Paula Nobre

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A economia contemporânea, centrada na acumulação de capital e exploração de recursos, enfrenta críticas por não promover um desenvolvimento sustentável e equitativo. Crises ambientais e desigualdades crescentes refletem um sistema que privilegia o materialismo e ignora valores humanos. Em contraste, as concepções africanas de prosperidade valorizam aspectos comunitários, espirituais e ecológicos, onde a terra é sagrada e a solidariedade e conexão ancestral são essenciais. Ressignificar essas ideias pode redefinir o sucesso econômico e impulsionar um empreendedorismo mais inclusivo.

Durante a colonização, essas visões foram marginalizadas, substituídas por um modelo focado na exploração de recursos e trabalho barato, que perpetuou desigualdades estruturais. Hoje, há uma necessidade urgente de descolonizar o pensamento econômico, reconhecendo que o modelo atual não é universal. As concepções africanas de prosperidade podem fundamentar um novo tipo de empreendedorismo, centrado em justiça social e equilíbrio ambiental, promovendo transformações práticas nos negócios.

Empreendimentos que priorizam a coletividade e a sustentabilidade podem trazer soluções inovadoras para problemas globais, como a crise ambiental. Empresas que adotam práticas agrícolas sustentáveis e modelos de economia circular, centrados no impacto social e na preservação ecológica, já se destacam como exemplos de inovação e resiliência.

Essas iniciativas refletem as teorias de pensadores negros que defendem a descolonização do conhecimento e a valorização das narrativas intelectuais racializadas. As soluções para os desafios africanos devem emergir de suas próprias comunidades, com base em seus valores e tradições. Descolonizar as narrativas econômicas não apenas recupera a dignidade dessas sociedades, mas também oferece ao mundo uma alternativa viável e necessária para um futuro mais justo e sustentável.

Incorporar valores africanos de solidariedade, respeito local e coletividade no processo de formação e conhecimento voltado para o empreendedorismo pode oferecer uma resposta eficaz à demanda por um modelo econômico mais humano. Isso requer que instituições e indivíduos adotem uma postura crítica em relação às práticas econômicas atuais, comprometendo-se com mudanças profundas.

A transformação institucional é essencial. Acemoglu e Robinson, em Por que as Nações Fracassam, afirmam que o desenvolvimento sustentável depende de instituições inclusivas. As estruturas excludentes, herdadas do colonialismo, a exemplo do Brasil, ainda limitam o acesso ao mercado e a participação política de economias racializadas. Para que o empreendedorismo baseado em valores africanos prospere, é necessário superar essas barreiras e implementar políticas públicas que promovam uma economia mais inclusiva.

Essa ressignificação das concepções africanas de riqueza e conhecimento não é um retorno ao passado, mas uma reconciliação com ele. Trata-se de reconhecer que as sociedades africanas têm muito a ensinar sobre prosperidade e bem-estar. Para que isso ocorra, é preciso um esforço coletivo para valorizar esses saberes e integrá-los às economias globais.

Construir uma economia global mais equitativa e sustentável depende da valorização das concepções teóricas e econômica africana de riqueza. Resgatar esses valores, marginalizados pela colonização e pelo capitalismo moderno, oferece uma oportunidade para práticas empresariais que priorizem o bem-estar comunitário e a sustentabilidade. O futuro do empreendedorismo deve incorporar princípios que promovam a justiça social, a preservação ambiental e o respeito à diversidade cultural, guiados pelas concepções africanas de prosperidade para um futuro mais próspero para todos.

Luciane Reis é comunicóloga, graduada em Publicidade e Propaganda pela UCSAL, possui especialização em Produção de Conteúdo para Educação Online e mestrado em Desenvolvimento e Gestão Social pela UFBA. Trabalha em projetos que visam fortalecer o capital intelectual negro na economia do conhecimento, tem experiência em coordenação governamental e iniciativas sociais. Atualmente, desenvolve a plataforma Mercafro, promovendo inclusão e igualdade na economia do conhecimento.

Luciane Reis é Publicitária, Design Instrucional e Mestra em Desenvolvimento e Gestão Ciags – UFBA. Pesquisadora da História Econômica Negra

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#Opinião: Obatalá anuncia a Jitolu festa no Curuzu – Por Patrícia Bernardes Sousa

Ana Paula Nobre

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E quem nunca subiu a Ladeira do Curuzu e escutou que a coisa mais linda de se vê, era à saída do Bloco Afro Ilê Aiyê?! Vale lembrar que o bairro da Liberdade possui atualmente 600 mil moradores que se autodeclaram pretos e pardos em Salvador.

Ao longo de seus 50 anos de histórias bem contadas por quem já se profissionalizou nas oficinas, seminários e cursos deste bloco afro conhecido internacionalmente, poucos deste século entenderiam  o porquê que uma filha de Obaluaê se tornaria pioneira e protagonista de uma das guerras mais sofridas e sangrentas em 1974, defendia com cânticos, ebós e orações o Bloco Afro Ilê Aiyê.

Eu, filha das águas doces, mulher preta, docente, pesquisadora,  e da Comunicação sou  nascida no final da ditadura (1977) e  me peguei a refletir quão grande era a força de uma matriarca de Candomblé que ” batia de frente” com os grandes dirigentes da polícia e da política da época, para proteger o direito de voz e vez de seus filhos de sangue e seus filhos de coração associados a um bloco afro nascido numa ladeira e cheio de perseguições racistas declaradas publicamente.

Arrastando multidões ao longo dos anos, o orixá rei da Terra também trouxe o legado da paz de pai Oxalá para avenida, impondo aos ricos e “bem nascidos” da época a reflexão imposta por algo que já estava  ” fora da nova ordem mundial”, já diria nosso ícone musical Caetano Veloso. Pombas brancas ao longo dos anos são lançadas aos céus bem como um “tapete” de milho branco é lançado no solo sagrado dos becos e vielas da Ladeira do Curuzu , por onde os tambores vibrantes e as cores marcantes das fantasias celebraram o maior ato quilombola a céu aberto com as bençãos ancestrais de pai Omolu e pai Oxalá. Exú, orixá da comunicação e guardião das ruas, declara o seu apoio ao proteger um bloco afro organizado por pretos e pretas e disponibilizados para pretos e pretas além mar.

Identidade racial, letramento, igualdade racial e equidade. Talvez, naquele momento, a matriarca Mãe Hilda  só desejasse livrar seus filhos do “açoite”  do cacetete e da amargura de uma cela suja de delegacia que os marginalizariam em cadastros públicos da época. Talvez ela, pequena notável Jitolu,  não tivesse a noção exata que, a partir dali, milhões de turistas e baianos teriam a alegria de poder ter uma escolha no Carnaval de Salvador, no processo seletivo profissional, nas universidades públicas estaduais e federais, no direito ao voto democrático e ao professar a sua própria religião oriunda de uma África vista de forma pejorativa e desrespeitada naquele momento (e até hoje infelizmente).

Com cursos profissionalizantes que abarcam jovens entre 18 e 29 anos em seu “cortejo de liberdade” acadêmica e profissional, o Bloco Afro Ilê Aiyê celebra em 2024 a requalificação do seu espaço cultural  que, ao invés de perpetuar o caos vivido pelos açoites dos tempos coloniais e até pandêmicos (2020/2023), se reinventa e abre suas portas para sediar eventos de afroempreendedorismo como a FUNAFRO 2024 e acolher as inscrições das suas novas candidatas a Beleza Negra 2025.

De um ilá de liberdade de escolha, para um ilê com sede nomeada em homenagem a milhões de irmãos e irmãs mortos num Pelourinho e em diversos bairros da capital baianos vistos como  guetos ” aquilombados” reunidos apenas pela alegria de dançar, expressar sua opinião com relação aos seus direitos civis : a Senzala do Barro Preto.

Da batida do chicote para o toque do atabaque, o bloco Afro Ilê Aiyê chega ao Novembro Negro 2024 vivenciando re-existência com as bençãos do orixá Oxalá.

Crianças, jovens e adultos sabem que podem contar com a Senzala do Barro Preto, pois é lá que nasceu a esperança de poder dizer que somos um ” Ilê de Luz” e apesar de alguns acreditarem que ” somos ridículos ” e em olhos alheios” somos mau vistos ” , somos poesia, cultura identitária e ancestralidade que toca corações de trabalhadores e trabalhadores para além do Brasil.

O rei da Terra nunca nos deixa sem chão e com sua grandiosidade ainda nos permite plantar o nosso deburu (milho seco frito) e o nosso ebô ( milho branco) em doces águas.

Vida longa ao Bloco Afro Ilê Aiyê.

Mãe Hilda Jitolu, PRESENTE!

Patrícia Bernardes Sousa é jornalista, redatora e integra projetos de impacto social, letramento, educação e cultura.

 

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