Música
Afrobaile reúne Afrocidade, Jau, O Kanalha, Sued Nunes e Yan Cloud

O Afrobaile pede licença para pisar no solo sagrado da Senzala do Barro Preto e aporta pela primeira vez no Curuzu. Em uma edição especial, comemorando nove anos de baile, a Afrocidade, banda anfitriã da festa, convida grandes nomes da música da Bahia para um encontro histórico e potente no dia 8 de novembro (sexta-feira), às 21h. Juntos, Afrocidade, Jau, O Kanalha, Sued Nunes, Yan Cloud, além dos DJs Zamba e Black Daria, farão uma justa homenagem ao dono da casa, o Ilê Aiyê, pelos seus 50 anos de luta e resistência, celebrados em 2024. Os ingressos estão à venda no Sympla e custam R$ 60, no primeiro lote.
O Afrobaile começou como um movimento de valorização da cultura e da música diaspórica encabeçado pela Afrocidade, em 2015, em Camaçari. De lá pra cá, se consolidou, tornando-se o maior evento independente na cena local, atraindo público de toda a região metropolitana. Já foram realizadas 25 edições em Camaçari e também em Salvador para um público estimado de 50 mil pessoas. O palco do Afrobaile já recebeu em edições anteriores artistas como Liniker, Pablo Vittar, Russo Passapusso, Majur, Luedji Luna, Xênia França, Cronista do Morro, entre outros.
“Quando a banda surgiu, percebemos que não havia na cena de camaçariense um espaço que acolhesse a proposta musical que trazíamos. E o Afrobaile surge como um palco para acolher o nosso trabalho e também o trabalho de artistas que bebem dessa mesma fonte, de diáspora, de cultura preta, de afro-baianidade. É uma festa que, desde o começo, se destaca por ser um espaço mais livre de experimentação, aberto para novos artistas, de música, de dança, e que atrai o público pela identificação, pela originalidade e pela atmosfera que se tem ali”, explica Eric Mazzone, vocalista e diretor musical da Afrocidade.

Afrocidade | Foto: Divulgação
Ode ao Ilê
A realização da primeira edição do Afrobaile em 2024 vem quase como um ritual de recomeço para a banda anfitriã, que passou por mudanças este ano. No palco, a Afrocidade recebe pela primeira vez os artistas Jau, O Kanalha, Sued Nunes, Yan Cloud, DJ Zamba e DJ Black Daria para um tributo ao meio século de existência do Ilê Aiyê.
“É muito significativo, simbólico e necessário para nós, principalmente depois de todas essas transformações que a própria banda passou. A gente bebeu diretamente na fonte dessa ideia da divisão de mundo social que os blocos afros têm de conseguir unificar a comunidade. No Afrobaile a gente reverencia a importância do Ilê Aiyê nesses 50 anos de lutas e vitórias. Sempre falamos em nossos discursos como somos gratos aos que vieram primeiro e dessa vez estaremos lá, conectados diretamente com essa energia ancestral que tanto nos influencia. Nossos tambores vão vibrar de alegria”, destaca Mazzone.
Oriki
A edição marcará também o lançamento de “Oriki”, novo single da Afrocidade que chega em novembro nas plataformas digitais. Reverberando influências da “África atual e outras Áfricas possíveis”, a banda constroi seu trabalho sonoro de forma coletiva e tem no encontro ao vivo com o público a sua potência maior. Saudando os tambores de África, a banda reafirma em suas letras a força, importância e influência direta dos valores étnicos baianos e brasileiros. Além de Mazzone, a Afrocidade tem Fernanda Maia (vocal e percussão), Rafael Lima e Douglas Santos (Percussão) , Marley Lima (baixo), Sulivan Nunes (teclado) e Deivite Marcel e Guto Sobral (bailarinos).
SERVIÇO:
Afrobaile – Afrocidade convida Jau, O Kanalha, Sued Nunes, Yan Cloud, DJ Zamba e DJ Black Daria
Data: 8 de novembro (sexta-feira)
Horário: 21h
Local: Senzala do Barro Preto (R. Direta do Curuzu, 228 – Curuzu)
Ingressos: R$ 60 (inteira – primeiro lote) e R$ 40 (meia – segundo lote)
Vendas: Sympla
Música
“Sarau do Poeta”, de Jackson Costa acontece na CAIXA Cultural

O ator e diretor baiano Jackson Costa traz o espetáculo “Sarau do Poeta”, em cartaz de 25 a 27 de abril na CAIXA Cultural, no centro da cidade. A montagem une música e poesia em uma celebração vibrante da cultura popular brasileira, com apresentações gratuitas.
Inspirado nas manifestações festivas do Recôncavo Baiano, o espetáculo mergulha nas sonoridades e nos ritmos do sertão à beira-mar, explorando o cotidiano e a linguagem poética do povo nordestino. A dramaturgia mistura canções e versos de grandes nomes da literatura e da música brasileira — como Elomar, Dorival Caymmi, Gregório de Mattos, Castro Alves, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa e João Cabral de Melo Neto — interpretados por Jackson Costa.
Com 1h30 de duração, a montagem faz também uma homenagem aos poetas Grapiúnas José Delmo e Ramon Vane, mestres na formação artística de Jackson. O espetáculo é conduzido musicalmente por Joaquim Carvalho (violão e voz), Eddie Santana (violão) e Sidney Argolo (percussão), criando uma atmosfera sonora que amplifica a força da palavra falada e cantada.
A temporada em Salvador marca o encerramento do circuito nacional do espetáculo, que passou por Rio de Janeiro, Recife, São Paulo e Brasília, desde a estreia em dezembro de 2024.
SERVIÇO
Espetáculo “Sarau do Poeta”
CAIXA Cultural Salvador – Rua Carlos Gomes, 57, Centro
25 e 26 de abril (sexta e sábado), às 20h | 27 de abril (domingo), às 19h
Gratuito – Retirada de ingressos pelo site da CAIXA Cultural a partir das 12h do dia 22/04
Classificação: Livre
Informações: (71) 3421-4200 | Instagram: @caixaculturalsalvador
Música
Artistas baianos lançam EP “Olhos de Sol” com afrobeats, R&B e pagotrap

Os artistas baianos João Merín, Laiô e Yaan se juntam em um novo projeto musical: o EP “Olhos de Sol”, já disponível nas plataformas de streaming. A obra apresenta um mergulho sonoro que conecta afrobeats, R&B e pagotrap, estilos que têm ganhado força na cena contemporânea da música baiana.
Com quatro faixas, o EP é resultado do encontro criativo entre três artistas com trajetórias distintas, mas que compartilham temas em comum como ancestralidade, resistência, amor, prazer e pertencimento. O trabalho propõe uma escuta sensorial e reflexiva, misturando texturas musicais e poéticas que revelam as identidades de seus criadores.
A construção de um som coletivo
Ao longo das faixas, os artistas costuram elementos da cultura baiana com sonoridades contemporâneas, celebrando a diversidade rítmica do estado e suas influências afro-diaspóricas.
A faixa “Deixar Queimar” abre o EP com sensualidade e intensidade, enquanto “Olhos de Sol”, que dá nome ao projeto, aposta em uma atmosfera intimista e afetiva. “De Quebradinha” traz o swing e a vibração carnavalesca das ruas da Bahia, e “Filhos de África” encerra o álbum com um manifesto sonoro de orgulho e resistência negra.
Quem são os artistas
João Merín, rapper e cantor de Salvador, iniciou carreira solo em 2018 e recentemente ressignificou sua identidade artística. Com forte influência do reggae e das lutas do povo negro, traz à tona letras que unem espiritualidade, cotidiano e política.
Laiô, de Ilhéus, é cantora, compositora e gestora cultural com quase 20 anos de trajetória. Suas canções falam sobre afeto, afrodengo, amor próprio e identidade lésbica negra. Define sua música como afro-baiana.
Yaan, músico e produtor formado em Artes pela UFBA, atuou como baixista e guitarrista em diversas bandas e é fundador do selo Mouseíon Beats. Atua hoje na Mercúrio Studios, em Salvador, conectando produção musical com performance ao vivo.
🎧 Ouça o EP “Olhos de Sol” completo aqui: https://tratore.ffm.to/olhosdesolep
Música
“O samba é feminino”: Roda de Mulheres celebra legado de Dona Ivone Lara e mulheres sambistas na Bahia

Por Lorena Ifé
Quando Vinicius de Moraes compôs Samba da Benção e escreveu “porque o samba nasceu lá na Bahia”, ele com certeza evidenciou o legado da baiana Tia Ciata — natural de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano — uma das precursoras do samba. Ao se mudar para o Rio de Janeiro, ela abriu sua casa para este movimento. Mas há evidências de que, antes disso, o samba de roda já havia surgido pelas ruas da Bahia.
Seguindo esse legado, há quase dois anos, a sambista e empresária Patrícia Ribeiro abre as portas da casa onde morou o sambista Oscar da Penha — o Batatinha — no Largo dos Aflitos, 68, em Salvador, para realizar a Roda de Mulheres do Batatinha Bar. Mais uma edição da roda foi realizada na noite do último sábado (12), em celebração ao Dia Nacional da Mulher Sambista, comemorado em 13 de abril, data oficializada em 2024 por meio de sanção presidencial.
A lei homenageia o nascimento de Dona Ivone Lara, cantora, compositora e instrumentista. Falecida em 2018, ela deixou um legado como um dos maiores nomes do samba no país. Foi exemplo de resistência e luta ao romper barreiras machistas — como ter sido a primeira mulher a compor um samba-enredo, em 1965, para a escola Império Serrano.
“Havia uma real necessidade de ter uma lei e de dar importância à mulher que canta samba, porque o samba veio pelas mãos de uma mulher, que foi Tia Ciata”, relembra Patrícia, gestora do Batatinha Bar e cofundadora da Roda de Mulheres. Ela também destaca o protagonismo e os desafios enfrentados por Dona Ivone Lara: “Ela foi sabotada. Por ser mulher, não podia assinar algumas músicas, e acabava cedendo muitas de suas letras para que homens as cantassem”, relembra.
Uma das convidadas para a roda foi a cantora Josi Climaco, fundadora da banda Terreiro da Preta, que começou interpretando clássicos de Dona Ivone Lara e relembrou sua trajetória no samba: “É uma herança de família. Cresci nesse meio, cantando, aprendendo e organizando o samba. A gente sabe que o samba é feminino, mas o capitalismo apagou nossas histórias. Ainda assim estamos aqui, mostrando que a gente canta, empreende, toca, compõe, bate palma e dança”.
A roda foi conduzida pela banda base formada pelas artistas Ella Beatriz, Geovana Franco, Juliana Almeida, Jake Cruz, além de Patrícia Ribeiro e Clara Elisa, fundadoras da Roda de Mulheres. As cantoras Josi Climaco, Raíssa Araújo e Maíra foram as convidadas. Gal do Beco, conhecida como A Dama do Samba na Bahia, não pôde estar presente, mas teve sua trajetória lembrada. Nascida no Rio de Janeiro, foi na Bahia que, como ela mesma diz, “se tornou sambista”. Na década de 1980, abriu um bar na Avenida Vasco da Gama, o Beco de Gal, e criou um importante espaço de encontro para sambistas.
A Roda de Mulheres surgiu em dezembro de 2023, como celebração do aniversário de Patrícia e Clara Elisa. Juntas, decidiram oficializar o movimento, que acontece mensalmente. “A ideia principal é ocupar este espaço. O samba é majoritariamente ocupado por homens, e ao Patrícia assumir o bar, vimos uma oportunidade de firmar este espaço para as mulheres — uma roda aberta, dinâmica, onde somente mulheres participam”, explicou Elisa. A entrada custa R$20 e o espaço é aberto para artistas mulheres que queiram cantar, tocar ou recitar.
A mulher no samba
A origem do samba é marcadamente feminina. Entre os grupos fundamentais para sua formação estão as tias baianas, mulheres vindas de comunidades de terreiros — a partir das confrarias religiosas — que desempenharam papel essencial na construção da cultura popular das cidades, como no caso de Tia Ciata, que participou da fundação da Irmandade da Boa Morte.
No entanto, muitas mulheres sofreram apagamento por causa do machismo. “Todos os dias a gente sofre microviolências, assédios, desvalorização. Tem sempre algum homem vindo dizer o que a mulher tem que fazer, sendo ela especialista naquilo. Isso não é diferente no samba. A Roda de Mulheres é esse espaço seguro para a gente celebrar”, diz Elisa.
Em Salvador, além de referências como Gal do Beco, Josi Clímaco, Juliana Ribeiro e Mariene de Castro, têm surgido cada vez mais grupos formados por mulheres que protagonizam o samba, como Samba de Oyá, Samba das Cumades, Sambaiana, Terreiro da Preta, Samba Ohana, Roda de Samba Mulheres de Itapuã, Samba Clara, entre outras.
Patrícia reitera que existem várias casas de samba, mas nenhuma voltada especificamente para mulheres — e que o Batatinha Bar tem se tornado esse espaço. “Nossa equipe é formada majoritariamente por mulheres, gerida por uma mulher e feita para que as mulheres cantem, toquem, dancem e sejam felizes aqui.”