Com programação iniciada às 18h30, o Bloco Afro Ilê Aiyê reafirmou a sua condição do “Mais Belo dos Belos” em seu cortejo pelas ruas do bairro da Liberdade, neste sábado (23) na capital baiana. Ao som dos tambores que entoaram o protesto musicado pelos becos e vielas do bairro, os vocalistas da Banda Aiyê se revezavam, deixando pública para turistas e nativos da Bahia a força do “cinquentão” e pioneiro bloco afro do Brasil.  Ao lado dos seus familiares, Vovô do Ilê se emocionou na sacada da Senzala do Barro Preto com a chegada dos tambores da Banda Aiyê .

“Tivemos a nossa primeira festa na Concha Acústica e hoje preparamos para nossa comunidade esta festa aqui na Senzala do Barro Preto. Estamos dando continuidade às nossas celebrações pelos 50 anos de fundação com a nossa tradicional caminhada/arrastão que nós fazemos com a culminância desse show que teve aqui. Nunca programamos ou imaginamos isso de festejar 10 ou 30 anos de existência de um bloco afro , mas estamos aqui vivos, firmes e fortes”, diz Vovô, presidente do Ilê.

Quando perguntado sobre como essa nova geração pode superar os desafios do racismo no Brasil , Vovô enfatiza “a importância dos jovens darem continuidade e assimilar a filosofia do Bloco Afro Ilê Aiyê que é liberdade , igualdade e respeito para que nada nos faça mudar nem o nosso jeito de pensar e nem a nossa forma de ser”, finaliza.

Trabalhando há 23 anos no Ilê Aiyê , Jaci Trindade fala da emoção da chegada do Arrastão da Banda Aiyê por conta das festividades pelo cinquentenário do bloco afro . Ela enfatizou a importância para crianças , jovens e moradores de estar realizando esse Ensaio Geral dentro da comunidade da Liberdade . O ator e Afrochefe , membro do Bando de Teatro Olodum , Jorge Washington trouxe para a Senzala do Barro Preto toda a sua culinária com um cardápio especial para o Ensaio Geral 50 anos.

“Muita história acontecendo e estamos trazendo aí o Ilê do Futuro, planejando ainda mais revolução na afirmação identidade racial de nosso povo”, afirmou Edmilson das Neves , um dos diretores do bloco afro durante as apresentações musicais na Senzala do Barro Preto.

Dete Lima, estilista e arte educadora do Instituto Mãe Hilda Jitolu, também falou da sua emoção de lembrar do grupo de jovens que celebra hoje 50 anos de resistência sem pensar como seriam os próximos anos lá atrás na sua fundação. “Pura emoção em vislumbrar as memórias daquele grupo de jovens que se reunia pra brincar o Carnaval de Salvador em 1974 e de repente se tornar essa estrutura carnavalesca fazendo essa revolução com muita calma, com muita alegria, com muito amor mostrando ao mundo o orgulho de ser um bloco negro”, diz.

Espaço lotado de celebridades e deusas do ébano dos anos anteriores, a Senzala do Barro Preto fez valer o seu título de passarela da Beleza Negra na Bahia e no Brasil . Taís de Carvalho Sacramento, com título da Deusa do Ébano 2002 (“Revolta dos Malês”) , sempre afirmou ser uma deusa ativa e disse ser prazeroso celebrar esses cinquenta anos de luta e resistência do Bloco Afro Ilê Aiyê. “Com luta , resistência e beleza, conseguimos chegar ao cinquentenário”, finalizou.

O vice – secretário de Cultura de Salvador, Walter Pinto Jr, falou sobre como o Bloco Afro Ilê Aiyê ensina a celebrar a vida, a  ancestralidade,  resistência . “Durante 50 anos, um patrimônio material e imaterial, o Ilê Aiyê é aquele bloco que nos acolhe, que nos conforta, que nos dá régua e compasso e nos inspira a sermos cada vez mais potentes e nos conectarmos. E é com grande alegria que comemoramos esse cinquentenário no mês da Consciência Negra, que pela primeira vez tivemos no Brasil um feriado nacional, mais um motivo para celebramos a nossa existência. Sabemos dos enfrentamentos ainda necessários, o racismo estrutural é uma realidade, mas temos muitas conquistas e eles devem ser identificadas e celebradas.

O ator baiano Sulivâ Bispo, a  “Koanza: do Senegal ao Curuzu ” nos palcos de teatro da Bahia e do Brasil, marcou presença na Senzala do Barro Preto e disse estar muito feliz em festejar o Bloco Afro Ilê Aiyê. Ele celebrou o fato de ser nascido e criado no Curuzu, na Linha 08, dizendo ser o cinquentenário do bloco um presente identitário e de estar vivendo esse tempo de afirmação, de revolução que os blocos afros trouxeram, principalmente o pioneiro Ilê Ayiê. Mario Pam, multi-instrumentista e maestro da Banda Ayiê, falou da importância de dar continuidade aos cinquentas anos de mobilização política social de combate ao racismo e letramento africano negro na Bahia.

Larissa Valéria Sá Sacramento,  deusa do Ébano 2024, falou da sua gratidão. “Mais um dia celebrando esse marco histórico do Ilê Ayiê com muita resistência , muita luta e beleza”, disse a empresária , coreógrafa e professora eleita durante a 43º Edição da Beleza Negra, no Curuzu. O senegalês Mamadou Saar também participou das apresentações do Ensaio Geral – Ilê 50 anos . Ele foi convidado pelo Mestre Mario Pam após uma semana de vivências nas oficinas percursivas da Banda Aiyê e Banda Erê, na Senzala do Barro Preto.

As bandas Orisun , Cortejo Afro , Didá e Muzenza finalizaram os festejos do pioneiro bloco afro do Curuzu já nas primeiras horas da manhã deste domingo.

Créditos 📸 André Frutuôso / Estúdio Casa de Mainha

Cobertura de Patrícia Bernardes Souza, jornalista, redatora e integrante de projetos de impacto social, letramento, educação e cultura. Repórter colaboradora do Portal Soteropreta.