Artes
Conexões Ancestrais: Luma Nascimento e as Jóias de Crioula

A exposição “Dona Fulô e Outras Joias Negras” propõe resgatar memórias e celebrar a ancestralidade negra através das Jóias de Crioula, peças carregadas de significado cultural e histórico. A união desses dois tempos é representada também por uma de suas protagonistas, Luma Nascimento, artista visual multidisciplinar e modelo que dá vida às obras de arte.
“Nós sabemos que, ao longo das nossas afro-histórias, tivemos nossos verdadeiros nomes de descendências de pessoas nascidas no Brasil apagados e substituídos por nomes de fazendas ou ‘supostos donos de terra’. Ao mesmo tempo, essa confusão do tempo demarca uma possível conexão a partir da contagem dos nossos segundos nomes. Ao me encontrar nesse lugar de estar entre uma das primeiras a usar as jóias de Dona Florinda do Nascimento, pude sentir em corpo que a ligação do espaço-tempo é um detalhe tecido em vários planos. Mesmo que não sejamos parentes, sei que alguém, há muito tempo, desenhou em gestos de ouro, movimentos que traçaram possibilidades para a existência étnica de pessoas de pele escura como eu. Me sinto honrada em saber que nossas trajetórias se comungam de tão perto, comprovadas por um sobrenome que, ao mesmo tempo em que causou desmemória, foi pista para um possível encontro ancestral no presente”, destacou.
Luma, que também é reconhecida por sua produção artística e trabalhos como diretora de arte e diretora criativa, além do envolvimento em projetos importantes como a participação no núcleo de desenvolvimento da lei que instituiu a Política Estadual de Fomento ao Empreendedorismo de Negros e Mulheres na Bahia, desenvolvida pela Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos de Comunidades Tradicionais (SEPROMI), e por atuar como vice-presidenta do tradicional Bloco Afro Os Negões, aceitou o desafio com entusiasmo. Ela enxergou na experiência uma oportunidade de se conectar ainda mais profundamente com seus laços de memórias.
Além de homenagear as mulheres negras que foram pioneiras em suas lutas e expressões culturais, a exposição “Dona Fulô e Outras Joias Negras” convida o público a repensar o conceito de luxo, ressignificando-o a partir de uma ótica de resistência e beleza ancestral.
A multiartista está atualmente em residência artística com o Instituto Sacatar, a primeira residência artística internacional no Brasil, atualmente sediada na Ilha de Itaparica. Lá, ela irá aprofundar seus conhecimentos através das linguagens dos movimentos e das sociedades alternativas organizadas por pessoas pretas, entrelaçando suas vivências e experiências pelo mundo. Nessa investigação, Luma utiliza experimentação corporal, fusão de vidro, modelagem manual e o tear de contas e miçangas. A residência segue até janeiro do próximo ano.
Sobre a artista
Luma Nascimento é artista multidisciplinar, diretora de arte e pedagoga formada pela Universidade do Estado da Bahia. Nascida no Monte Belém de Cima, Dique dos Orixás, e criada em Paripe, Subúrbio Ferroviário de Salvador, a artista também estudou sopro e manipulação de vidro em Pretória, África do Sul, na Glass Forming Academy, e é a criadora da “Lemoriô – Ilê de Miçangas”. Atualmente, é vice-presidenta do tradicional Bloco Afro Os Negões e participou da residência artística CAPACETE + MAM Rio 2020, onde publicou o capítulo “Me Despache_Pra Frente” no livro “Esses Seres Vivemos”, Residências MAM 2020.
Artes
Pinacoteca do Beiru inicia temporada com programação gratuita a partir de maio

A Pinacoteca do Beiru, espaço de arte e memória localizado no bairro de Tancredo Neves, inicia em maio sua programação de atividades para o ano de 2025. Cursos de canto, teatro, pintura e graffiti estão entre as primeiras ações oferecidas, com inscrições abertas até esta sexta-feira (25).
Com uma proposta gratuita e contínua, a Pinacoteca segue sua missão de aproximar a arte da comunidade periférica soteropolitana, promovendo formação, fruição e encontros culturais. As atividades são voltadas principalmente para adolescentes e jovens a partir de 12 anos, e conduzidas por profissionais com trajetória consolidada em suas áreas.

Foto: Clara Pessoa
Os primeiros cursos do ano são:
Canto e Teoria Musical, com Marcos William
Início: 06 de maio | Terças e quintas, das 9h às 12h | A partir de 12 anosGrafite e Pintura, com Márcio MFR
Início: 10 de maio | Sábados, das 9h às 12h | A partir de 12 anosTeatro “Ará Izô”, com Nando Zâmbia
Início: 16 de maio | Sextas, das 14h às 17h | A partir de 14 anos
Além dos cursos, a programação de 2025 inclui exibições do Cinematografinho no Beiru com sessões mensais de junho a dezembro, rodas de conversa em parceria com o Coletivo de Mulheres do Calafate, saraus e encontros voltados à formação de leitores. O ano será encerrado com um grande evento em um equipamento cultural fora da Pinacoteca.
Outro destaque é a realização do Pinacoteca do Beiru Festival de Artes Visuais – Ano II, que retoma o evento de estreia do espaço com ainda mais artistas, exposições e atividades. A proposta é fortalecer as artes visuais na comunidade e fomentar o protagonismo artístico local.
Criada em 2021 pelo artista visual Anderson AC, em parceria com a produtora cultural Juliana Freire, a Pinacoteca do Beiru também avança em seu processo de estruturação institucional como museu, alinhando-se a práticas museológicas contemporâneas e reforçando seu papel na valorização da memória das periferias de Salvador.
SERVIÇO
O quê: Programação 2025 – Oficinas da Pinacoteca do Beiru
Inscrições até: 25 de abril de 2025
Formulário: Clique aqui para se inscrever
Local: Rua Irmã Dulce, 1E – Beiru/Tancredo Neves, Salvador (Referência: Início da Estrada das Barreiras, quase em frente à Curva da Vida)
Instagram: @pinacotecadobeiru
E-mail: pinacotecadobeiru@gmail.com
Artes
Artista soteropolitana Eva de Souza tem obra imortalizada na Suíça com bordado político “Zamambaia”

A artista Eva de Souza, nascida em Salvador, acaba de conquistar um marco histórico em sua trajetória artística: sua obra têxtil “Zamambaia: a testemunha silenciosa” passa a integrar o arquivo público Cantonale, em Berna, na Suíça. A escolha se deu por meio de um processo de seleção rigoroso que visa preservar obras de relevância para as futuras gerações.
Radicada na Suíça há mais de 30 anos, Eva é suíço-brasileira, mas leva com orgulho suas raízes soteropolitanas, que marcam profundamente sua produção artística. Atriz, ativista e artista plástica, ela utiliza o bordado político como ferramenta de denúncia e elaboração artística, transformando linhas e tecidos em poderosos manifestos visuais.

Foto: Divulgação
A obra “Zamambaia” é um tributo à resistência diante das violências cotidianas, especialmente contra corpos negros e femininos. Com forte inspiração nas dores da humanidade, o bordado denuncia o racismo estrutural e a violência de Estado, ao mesmo tempo em que exalta a natureza como testemunha e força vital.
“Esse é o meu protesto contra as desumanidades, o esquecimento e o abandono. Zamambaia ilustra o racismo estrutural e a violência contra a mulher negra que perdura por gerações. A cada linha, um traço de pensamento e a construção de um desenho de ativismo”, afirma Eva.
Com formação em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Eva também é mestre em Gestão Cultural pela Universidade de Basel, em Berlim, e tem especialização em Mediação e Conflito pela Universidade de Berna. Sua trajetória começou nos palcos e galerias de Salvador, expandindo-se para exposições na Alemanha, Suíça e outros países europeus.

Foto: Divulgação
A artista celebra o reconhecimento internacional como um passo simbólico para as vozes e narrativas vindas da diáspora.
“Me orgulho por representar o Brasil na Europa com trabalhos que contribuem para um cenário artístico plural e diverso. Agora, me consolidei não apenas como uma artista suíço-brasileira, mas como uma artista imortal”, destaca.
Para conhecer mais sobre o trabalho de Eva de Souza, acesse seu portal oficial ou siga o perfil @evadesouzabluewin.ch nas redes sociais.
Artes
Artista cabo-verdiana Daja Do Rosário promove oficina gratuita sobre corpo e memória

Salvador recebe entre os dias 10 e 18 de maio, a artista visual cabo-verdiana Daja Do Rosário para uma série de atividades que unem arte, ancestralidade e ecologia. A oficina principal, com o nome “Corpo – Indumentária / Transe”, será gratuita e tem vagas limitadas, acontecerá nos dias 14 e 15, das 14h às 17h, na Casa do Benin e no Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC_BA).
O projeto propõe uma vivência colaborativa que combina práticas ancestrais com arte contemporânea. Os participantes serão convidados a criar esculturas-indumentárias a partir de fibras vegetais, como a ráfia, explorando o corpo, a memória e os gestos como forma de escuta e reverência à ancestralidade africana.
A experiência é destinada a artistas afrodescendentes que atuam em diferentes linguagens: artes visuais, arte têxtil, dança, performance, literatura, música, práticas de cura, escultura, saberes culturais e educação. As inscrições são feitas exclusivamente online, através do FORMULÁRIO.
Resultado da experiência coletiva
Durante a imersão, 15 participantes em cada instituição desenvolverão peças únicas, simbólicas e pessoais, que ao final serão reunidas em uma grande escultura coletiva — um “corpo-fractal” que preserva as individualidades e promove um campo comum de diálogo e pertencimento. Além da inscrição, os participantes são incentivados a levar fibras e tecidos naturais que possam ser incorporados à criação.
Sobre Daja do Rosário
Daja Do Rosário é uma artista visual cabo-verdiana que utiliza sua obra para afirmar sua identidade como mulher afrodescendente. Crescida no sul da França, distante de suas raízes culturais, ela transforma sua trajetória pessoal em uma narrativa coletiva sobre as diásporas africanas. Através de autorretratos e esculturas com materiais reaproveitados — como ráfia, sacos, búzios e tecidos —, Daja combina tradição e contemporaneidade, criando composições que recontam histórias apagadas da África e reivindicam uma identidade plural, ancestral e politizada.

Foto: Divulgação
SERVIÇO:
O que: Oficina “Corpo – Indumentária / Transe”, com Daja do Rosário
Quando: 14 e 15, das 14h às 17h;
Onde: Casa do Benin e no Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC_BA);
Valor: Gratuito;
Inscrições: através do FORMULÁRIO.