Connect with us

Cultura

Curto Circuito das Artes aquece Salvador com 15 espetáculos

Ana Paula Nobre

Publicado

on

Edvana Carvalho | Foto: Brenda Ferreira e Bárbara Carvalho

A segunda edição do Curto Circuito das Artes inicia o ano de 2025, em Salvador, com uma vasta programação cultural, de forma gratuita. Entre os dias 8 de janeiro (quarta-feira) e 16 de fevereiro (domingo), uma mostra de 15 espetáculos de música, dança, circo e teatro vão ocupar seis espaços culturais, alegrando não só o verão dos adultos, mas também da criançada. O objetivo é movimentar a cena cultural da cidade com espetáculos, exposições e residências artísticas que promovam inclusão, diversidade e acesso à cultura. A iniciativa busca envolver e inspirar o público de todas as idades, fortalecendo a conexão com as artes de maneira autêntica e transformadora.

Realizado pela Fundação Gregório de Mattos (FGM), por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Prefeitura de Salvador), em parceria com a Funarte, do Ministério da Cultura (Governo Federal), no dia 8 de janeiro, a temporada de verão do Curto Circuito das Artes será aberta em grande estilo. O público poderá conferir o show “Baba Yaga”, da cantora mirim Lilica Rocha, às 16h, no Teatro Gregório de Mattos, e a peça “Aos 50 quem me aguenta”, da atriz e escritora baiana Edvana Carvalho, às 19h, no Espaço Cultural da Barroquinha. Entre um espetáculo e outro, dá pra conferir  a exposição “Plantações de Autoestima”, dos grafiteiros Sagaz & Pepino, em cartaz na Galeria da Cidade, além de curtir performances de outros artistas que realizam Residências Artísticas no Curto Circuito.

Segundo o idealizador do festival e diretor de Patrimônio e Equipamentos Culturais da FGM, Chicco Assis, as atrações de janeiro e fevereiro vão aquecer ainda mais o verão da capital baiana, ocupando todos os espaços da Fundação Gregório de Mattos espalhados pela cidade: do Quarteirão das Artes aos Espaços Bocas de Brasa, do Centro à Valéria, de Cajazeiras à Cidade Baixa e do Pelourinho à Vista Alegre.

“Um caldeirão fervilhando de teatro, dança, música, circo, artes visuais, performance e muito mais. Vai ter arte transbordando por toda parte, para todos os gostos e idades. Inclusive para a criançada, que será agraciada com espetáculos infantis, contemplando até bebês. Mais do que um festival, a temporada de verão do Curto Circuito das Artes será um estrondo na cidade”, afirma Chicco Assis.

Do axé aos clássicos infantis

A primeira apresentação da mostra de espetáculos que convida o público infantil para cantar, dançar e se divertir é o show Baba Yaga, da artista mirim Lilica Rocha. No dia 8 de janeiro, a cantora, compositora e atriz, de apenas 10 anos, promete agitar o Teatro Gregório de Mattos, a partir das 16h, com canções do seu segundo disco, “Baba Yaga – O Futuro é Agora”, além de releituras de clássicos infantis e da Axé Music, como Faraó, Chame Gente e Raiz de Todo Bem.

Ícone na música para os pequenos, Lilica conquistou a atenção de todas as idades, em 2020, ao fazer uma live nas redes sociais tocando Tigresa, de Caetano Veloso, no teclado. Durante a apresentação promovida pelo projeto, ela promete fazer um pré-carnaval, tirando os pés de todo mundo do chão. “Participar do Curto Circuito com o show Baba Yaga me deixa muito feliz e super animada. Tocar em Salvador pra mim é especial, minha terra, ainda mais no verão. Já vamos entrar no clima de carnaval”, antecede Lilica, que fará mais três apresentações no Curto Circuito ao longo do mês de fevereiro.

Lilica Rocha | Foto: Donminique Santos

Os novos 50

Quem abre a programação de espetáculos adultos do Curto Circuito no dia 8 de janeiro é a peça teatral “Aos 50 quem me aguenta”, da atriz baiana Edvana Carvalho. A artista sobe ao palco no Espaço Cultural da Barroquinha, às 19h, para encenar textos autorais que tratam sobre a sua experiência enquanto mulher negra, nordestina e professora que ultrapassa a barreira dos 50 anos e lida com os desafios que essas condições impõem à mulher contemporânea.

“Os desafios são muitos porque a nossa sociedade ainda é patriarcal. O homem envelhece e fica mais bonito, a mulher envelhece e vira bruxa. Mas nós, mulheres de 50+, em 2024, não aceitamos mais sermos colocadas em caixinhas. Somos bem diferentes das nossas avós, somos mulheres atuantes no mercado, na vida como um todo, muitas vezes refazendo nossas próprias vidas”, afirma Edvana.

Natural de Salvador, Edvana também é poetisa, escritora e educadora. Em 2024, ela foi um dos grandes destaques de Renascer, última novela das 21h da Rede Globo, ao dar vida à personagem Inácia. Agora com o seu trabalho solo “Aos 50 quem me aguenta”, a atriz reforça para as mulheres pretas que as suas histórias são interessantes e podem virar livro, peças teatrais e até mesmo discussões acadêmicas.

“A gente passou uma vida lendo romances em que as mulheres não pareciam com a gente, tanto as que eram destaque nesses romances quanto as que não eram. Agora vivemos num novo tempo, em que escrevemos sobre nós mesmas, sem a tutela de ninguém, e onde outras pessoas poderão enxergar que estamos aqui para sermos felizes como qualquer outro ser humano. A vida não acabou quando criamos nossos filhos ou nos aposentamos, ela está só começando”, reitera a atriz.

Sempre com início às 19h, a peça também será apresentada no dia 10 de janeiro (sexta-feira), no Espaço Boca de Brasa Subúrbio 360°, e no dia 11 (sábado), no Espaço Boca de Brasa Cajazeiras. Como parte da programação do Curto Circuito, que tem o intuito de fortalecer a conexão entre público e arte de maneira autêntica, serão promovidas atividades formativas associadas aos espetáculos da mostra.

No caso da encenação “Aos 50 quem me aguenta”, será realizada no dia 9 de janeiro (quinta-feira), no Espaço Boca de Brasa Valéria, a “Oficina de interpretação teatral e expressão vocal”. A atividade terá início às 9h, com duração de três horas e 20 vagas disponíveis para atores iniciantes e estudantes de teatro. O objetivo central é desenvolver o repertório e as técnicas necessárias para a criação de personagens, utilizando abordagens práticas e teóricas que combinem improvisação, jogos teatrais e construção da personagem. Também serão explorados textos do teatro nordestino e do negro, além da estética afrobrasileira percussiva.

Diversidade

Com uma variedade de linguagens artísticas para todas as idades, a programação do Curto Circuito das Artes promoverá, ao todo, 57 apresentações gratuitas de música, teatro, dança e circo espalhadas por diferentes bairros de Salvador até fevereiro de 2025. Além do show infantil de Lilica Rocha e da peça “Aos 50 quem me aguenta”, a primeira semana da mostra ainda conta com mais cinco espetáculos.

Os atores baianos Rita Assemany e Marcelo Praddo trazem, respectivamente, as peças “Surf no Caos” e “Vou te Contar”. Enquanto Rita se apresenta no dia 10 de janeiro (sexta-feira), às 19h, no Teatro Gregório de Mattos, com um monólogo que questiona a natureza humana através da perspectiva de Lucy, o primeiro ser humano primitivo, Praddo sobe ao palco no sábado (11), às 16h, no Espaço Boca de Brasa Valéria, com um monólogo dirigido e atuado por ele mesmo. O espetáculo dá voz a pessoas comuns, que não possuem milhões de seguidores ou desfrutar das regalias dos camarotes vips do nosso carnaval, mas que são a pura essência da nossa alma brasileira.

Nos dias 9 e 10 de janeiro (quinta e sexta-feira), às 19h, acontecerá a apresentação do espetáculo “Entrelinhas” no Espaço Cultural da Barroquinha. Direcionado ao público adulto, o espetáculo de dança discute a violência contra a mulher e evidencia como a voz da mulher negra é historicamente silenciada dentro de uma sociedade opressora, machista e de mentalidade escravocrata. A coreógrafa e intérprete Jaqueline Elesbão costura uma narrativa essencialmente visual, quase sem palavras, que apresenta uma série de imagens e referências históricas.

No quesito música, haverá a apresentação do projeto Sibí Dúdú nos dias 11 e 12 de janeiro (sábado e domingo), às 16h. O espetáculo também acontecerá no Espaço Cultural da Barroquinha e busca celebrar a cultura de matriz africana em Salvador através das raízes do samba de roda. Os artistas soteropolitanos que comandam o palco são Nega Duda Sambadeira e a Orquestra de Atabaques do grupo Mãos no Couro.

Ocupando três espaços entre 9 e 15 de janeiro, o espetáculo teatral ‘Museu do que Somos’ convida o público a experienciar o lugar de curador de uma exposição e construir um museu que exponha não apenas sua memória, mas sobretudo os contextos do vivido e as peças do presente. Com direção e dramaturgia de Luiz Antônio Sena Jr., a obra mistura teatro, performance e museologia e será apresentada no Teatro Gregório de Mattos (9/01, às 16h), Sesi Casa Branca (11 e 12/01, às 19h) e no Espaço Boca de Brasa Cajazeiras (15/01, às 19h).

Gratuitos, os ingressos para as atrações da mostra serão distribuídos no local, uma hora antes de cada apresentação na bilheteria do teatro. Para mais informações sobre a programação e inscrições das atividades formativas de cada espetáculo, acesse o site da FGM.

Cultura

VI Rede Capoeira celebra heróis e heroínas da cultura afro-brasileira

Ana Paula Nobre

Publicado

on

Foto: Leandro Couri

O VI Rede Capoeira acontece em Salvador, entre os dias 22 e 25 de janeiro, celebrando as linguagens de resistência da cultura afro-brasileira por meio de manifestações artísticas, poéticas e musicais. Com ampla programação gratuita, a atual edição do evento abraça, além da Capoeira, o Samba, o Frevo, o Maculelê e o Repente, além de homenagear heróis e heroínas populares responsáveis pela preservação artística da cultura ancestral.

Todas as atividades acontecem na Doca 1 – Polo de Economia Criativa, no Comércio e conta com o patrocínio do Instituto Cultural Vale por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Durante quatro dias, oficinas, palestras, apresentações artísticas, contação de histórias com griôs, rodas de capoeira, samba e shows devem reunir um público diverso com mais de 5 mil pessoas. A realização e idealização do Rede Capoeira é assinada pelo Projeto Mandinga.

Abertura – Um dos momentos mais emocionantes e emblemáticos do evento está previsto para o primeiro dia, 22 de janeiro (quarta-feira), com a roda de conversa “Heróis Populares” com mestre Sabiá, idealizador do evento, o diretor de Promoção das Culturas Populares do Ministério da Cultura (MinC), Sebastião José Soares, e mediação do poeta James Martins, às 17h. Na sequência, será entregue o Troféu Sankofa – que reconhece o trabalho dos mestres e mestras na preservação da cultura africana – aos Heróis e Heroínas Populares, às 18h30.

Foto: Leandro Couri

Recebem o Troféu Sankofa os capoeiristas octogenários Mestre Nô, Mestre Virgílio da Fazenda Grande, Mestre Baiano, Mestre Fernando e Mestre Boa Gente; a aclamada sambadeira Dona Santinha e o Mestre Walmir Lima, integrante da chamada “primeira geração” do samba de Salvador; o músico Mateus Aleluia, grande símbolo de resistência e sabedoria; a passista de frevo mais antiga do país, Zenaide Bezerra; e o cordelista e repentista nordestino mestre Bule-Bule.

O dia acaba em altíssima vibração com o show do músico, cantor, compositor e pesquisador, Mateus Aleluia. Nascido em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, o artista é remanescente da formação original do grupo musical Os Tincoãs, considerada a primeira banda a expressar a herança cultural, musical e linguística de diferentes povos africanos que aportaram no Brasil.

Berimbau – Oficinas, painéis e vivências marcam o segundo dia do evento, 23 de janeiro (quinta-feira), quando acontece a apresentação dos maiores tocadores de berimbau do Recôncavo, sendo eles mestres Adó, Ivan, Lucas e Carcará, às 18h. A programação inclui oficinas de capoeira com o mestre Lua de Bobó e mestra Nani, neta de João Pequeno.

Outro destaque é a roda de conversa “A Capoeira, Repente e o Frevo” com os mestres Nô, o repentista Bule Bule, a historiadora Mônica Beltrão, a passista de frevo mais antiga do país, Zenaide Bezerra, e mediação de James Martins. Também é esperada grande movimentação em torno das vivências de frevo e maculelê, com Zenaide Bezerra e Mestre Valmir Martins, respectivamente. Às 19h, acontece a Roda de capoeira do Recôncavo e, às 20h, o Samba Chula com o grupo Samba Chula Poder do Samba encerra a programação do dia.

“Além de ser um evento de preservação da cultura popular e celebração da capoeira, o Rede Capoeira também funciona como um grande ponto de encontro, quando capoeiristas e defensores da cultura popular, com atuação na Bahia, Brasil e outros países do mundo, congregam e compartilham suas lutas”, comenta Mestre Sabiá, que criou o evento e assina a sua coordenação.

Capoeira – No terceiro dia do evento, 24 de janeiro, será a capoeira a estrela da vez. Com todas as vagas preenchidas em poucos dias, seis oficinas prometem reunir centenas de praticantes e profissionais da luta ancestral. Os nomes dos mestres que ministram os encontros explicam o interesse dos participantes. São eles os mestres Jurandir, Paulinho Sabiá, Jogo de Dentro, Lobão, Maurão e mestra Preguiça.
O painel feminino “Minhas Referências na Capoeira” com as mestras Nani de João Pequeno, Preguiça, Patrícia Mascarenhas e mediação de Mônica Beltrão também promete ser concorrido. E quem quer conhecer mais sobre a história de mestre Bimba, poderá ouvir seus filhos no painel “Herança do Mestre Bimba: Família Machado”.

O fechamento do dia será com a beleza de rodas de capoeiras e com a voz inconfundível do cantor baiano Aloisio Meneses, que vai embalar todos com o repertório selecionado e dançante do seu show às 19h30.

Cortejo – O último dia do VI Rede Capoeira, 25 de janeiro (sábado) dá continuidade às disputadas oficinas, desta vez ministradas por mestre Sabiá e mestres Peixe Cru, Boa Gente, Medicina e Nô. O ponto alto será o Cortejo do Bando Anunciador do Mestre Lua Rasta e Berimbalada, às 12h40. A despedida e agradecimento a todos os participantes da sexta edição do evento será ao som de Pedrão Abib & O Samba da Democracia, com participação especial do mestre Walmir Lima.

Serviço

O quê: VI Rede Capoeira
Quando: 22 a 25 de janeiro
Local: Doca 1 – Polo de Economia Criativa – Comércio
Programação completa aqui

Continue Reading

Cultura

Caminhada do Pelô ao Bonfim homenageia Clarindo Silva

Jamile Menezes

Publicado

on

Clarindo Silva comemora 82 anos com show na Cantina da Lua

A Caminhada da Amizade, criada em 1986, reunirá lideranças do movimento negro baiano nesta sexta-feira (20), com saída às 7h do Pelourinho em direção à Colina Sagrada. A edição deste ano homenageia Clarindo Silva, fundador do Restaurante Cantina da Lua e leva o tema “Claro que é Clarindo”.

O evento propõe levar mais de 100 pessoas vestidas de branco até a Igreja do Senhor do Bonfim, reafirmando os laços de amizade e harmonia, agradecendo pela vida e pedindo saúde, paz e prosperidade para os próximos anos.

Os participantes usarão blazer e camisa branca, desenhados e confeccionados pelo designer Alberto Pita. A concentração está marcada para as 7h, no Restaurante Negros Bar, onde será servido um café da manhã. Entre os presentes estarão figuras como Vovô do Ilê, Zé Sérgio Gabrielli, Coió, Sílvia Rita, Ângela Guimarães, Alberto Pita, professor Sérgio Guerra, Albino Apolinário, Arizinho, Napoleão, Vadinho França, Jorge Washington, Dode Só, dentre outras personalidades.

Mestre Calá!

Clarindo Silva, jornalista, escritor, poeta, compositor e agitador cultural, é o verdadeiro guardião do Pelourinho, referência cultural do Centro Histórico de Salvador. Empreendedor, proprietário da Cantina da Lua, reduto boêmio de resistência da Cultura Negra na cidade, que já recebeu grandes artistas em sua história.

Serviço:
O que: Caminhada da Amizade
Quando: 20 de dezembro (sexta-feira)
Saída: Negros Bar Pelourinho (ao lado da Deltur)
Horário: 7h

Continue Reading

Artes

Feira Baiana de Agricultura Familiar destaca sabores e tradições quilombolas

Avatar

Publicado

on

Samba de roda, moqueca de ostra e artesanatos feitos de sisal são alguns dos atrativos que estiveram à disposição do público na 15ª Feira Baiana de Agricultura Familiar e Economia Solidária. O evento, que aconteceu no parque Costa Azul até o último domingo (15), contou com mais de 600 expositores e 145 estandes de produtos da agricultura familiar, povos tradicionais e assentados da Reforma Agrária. O objetivo foi atrair novos clientes, alavancar as vendas e viabilizar espaços de discussão e integração de políticas para o desenvolvimento rural baiano.

Durante a abertura da feira, foi assinada a contratação da PRONAF A para a Comunidade Quilombola para o Plano Safra 2024/2025, com investimento de R$100 mil, beneficiando famílias do Quilombo Fortaleza, no município de Bom Jesus da Lapa.

“Vamos celebrar tudo que tiver de bom aqui, mas não vamos esquecer que ainda temos tarefas contra aqueles que ainda fazem grilagem, tarefa contra aqueles que ainda promovem violência no campo e tem tarefa contra aqueles que insistem em continuar negando sobre aquele que é povo originário ou contra aquele que deseja produzir ao lado de suas famílias, seja ele de qual etnia for”, afirmou o secretário de Desenvolvimento Rural da Bahia (SDR), Osni Cardoso.

O potencial empreendedor de pessoas negras quilombolas que ficam à margem dos bens são produzidos também foi exaltado por representantes da gestão social e cultural da Bahia como Ailton Ferreira, sociólogo e coordenador do Instituto da Reparação em Salvador.

“Aqui tem pessoas de quilombos, tem pessoas da resistência, tem pessoas que vem do Recôncavo, do interior da Bahia. Essa 15ª Feira Baiana de Agricultura Familiar dá visibilidade para produtos de qualidade. Aqui não é o ‘agro que é pop ‘ não. Aqui é a Agricultura Familiar Popular, aqui não tem agrotóxico, não tem exploração da terra e nem das pessoas. Aqui são negócios em sua maioria cooperados e familiares, onde a ideia é ganhar todo mundo junto”, afirmou Ferreira. Para o sociólogo, a 15ª Feira Baiana de Agricultura Familiar é sobre solidariedade, agricultura familiar, sustentabilidade e respeito aos povos originários.

 

Movimento negro quilombola e cultural 

Personalidades negras, artistas da cena cultural, musical, gestores culturais e políticos da Bahia percorreram as barracas montadas ao longo da Tenda Quilombola em busca do consumo das artes e da culinária quilombola. A Bahia é o maior estado com população quilombola do Brasil, com mais de quase 400 mil pessoas.

“A 15ª Feira Baiana de Agricultura Familiar tá linda de se ver, estou muito feliz de estar aqui e de poder viver esse momento tão importante para o nosso estado, que traz essa força quilombola e a força indígena. Aqui tem farinha, tem mel, tem a cachaça, tem o artesanato na sua raiz mais simbólica”, vibrou o ator Sulivã Bispo.

Um Tributo a Mãe Bernadete, Ialorixá morta em 2023 no Quilombo Pitanga dos Palmares, reuniu no Palco Arena o músico Jurandir Wellington Pacífico, filho de Mãe Bernadete e membro do projeto Quilombo Cultura Viva , o cantor Reinaldo, ex- Terra Samba, e a banda Kanjerê de Sinhá.

“O Samba de Roda completou 20 anos como Patrimônio Cultural do Brasil e hoje representando Mãe Bernadete, eu como filho com 20 anos também de Samba de Roda, minha mãe era sambadeira e ativista e membro desse Movimento Negro lindo no Brasil. Quero agradecer a presença de todos vocês pela homenagem e dizer que Mãe Bernadete vive. Mãe Bernadete PRESENTE”, exaltou o quilombola.  Durante as homenagens, também aconteceu na plateia do Palco Arena, o 9º Encontro de Mulheres Rurais da Bahia, organizado pela Secretaria de Desenvolvimento Agrário, com marisqueiras e agricultoras rurais como Selma Souza, presidente da Associação Beneficente Educacional e Cultural Quilombola de Ilha de Maré (ABECQIM).

Ancestralidade empreendedora e o grafite rural 

Mulheres do Quilombo Quingoma, da região metropolitana de Salvador, também estiveram presentes pela primeira vez na 15ª Feira de Agricultura Familiar e Economia Solidária. No estande, as quilombolas trouxeram uma coleção inteira com o tema “Tertuliana – Gerações do Coletivo Yá Bahia, além de sabonetes artesanais, crochê, mocó e produtos para escalda pés terapêuticos com ervas medicinais. Em novembro, o Quilombo Quingoma realizou o Festival “Titulação Já”, que trouxe música, dança, desfile afro, debates para celebrar sua existência desde 1569, além de exigir a titulação do seu território.

Nascido do trabalho dos negros que buscavam a liberdade fugindo das senzalas, o artesanato quilombola se destaca pelo uso de vários recursos naturais para a confecção de objetos e instrumentos de trabalho. Alguns desses materiais são a madeira, a taquara, a palha de milho, a fibra de bananeira, a canela e a piaçava.

“Faço graffite há mais de 24 anos e creio que esse painel pioneiro que foi entregue pra essa feira é o símbolo do nosso povo. Essa mistura do que a gente é, a gente vê em cada parte daquele painel e a valorização que essa agricultura familiar deveria ter. Deveria ser muito mais reconhecida em nossas casas, em nossa comunidade. Saber o que a gente come e da onde estes produtos vem e incentivar isso cada vez mais. Pintar esse painel é também pintar essa memória afetiva que remonta às brincadeiras durante as férias na infância, do avô colhendo milho. Esse painel é a união desses povos que compõem a Bahia”, disse o artista visual, Éder Muniz (@calangoss).

Culinária quilombola e o artesanato raiz  

A gastronomia quilombola também atraiu a atenção de baianos e turistas durante a 15ª Feira Baiana de Agricultura Familiar na Tenda Quilombola, no Parque Costa Azul.

Jucilene Viana Jovelino é moradora da comunidade do Quilombo Kaonge, em Santiago do Iguape, em Cachoeira, e se apresenta como mulher preta que está no chão da comunidade quilombola, lutando pela identidade e valorização, na resistência de se manter viva.

“Ser quilombola é estar nessa luta de conquistar nossos direitos e ideais. E hoje estamos aqui em mais uma edição da Feira Baiana da Agricultura Familiar, pois participamos desde a primeira edição. Estamos aqui para mostrar que a identidade quilombola é forte e que nós produzimos agricultura para além de trazer os nossos produtos da agricultura familiar, pois cada produto nosso traz sua história. Nós não estamos aqui mostrando os nossos produtos, estamos contando a história de nossos ancestrais, do nosso povo preto. Enfim, a história dos nossos já que muitos lutaram para que hoje pudéssemos estar aqui”, afirmou Jucilene.

Para Daniele Costa, cientista política e assessora especial da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (SEPROMI), é importante a presença das comunidades quilombolas, das mulheres negras das zonas rurais. Segundo a cientista, essa feira é um grande exemplo do quanto se deve valorizar as mulheres rurais e as mulheres quilombolas.

Elder Anjos, morador do município de Candeias, já acompanha a feira há 10 anos e escolheu o estande da Rota da Liberdade – Quilombo Kaonge para degustar a tradicional ostra e afirma que o atendimento das mulheres quilombolas é o diferencial. “A gente junta as mesas, se reúne feito família e a comida do Recôncavo da Bahia é muito boa. Estou devendo uma visita ao Quilombo Kaonge. As ostras são o carro chefe da culinária, na minha opinião”, disse.

Já para Clecivânia de Jesus Pinheiro, do município de Valente, estar pela primeira vez na Feira Baiana de Agricultura Familiar a empodera ainda mais como mulher preta. Tem apenas 21 anos e já empreende com seus produtos da cooperativa Raízes do Brasil, e a venda da Feijoada.

“Estou aqui colaborando com a Raízes do Brasil com produtos como a cerveja Crioula, o mel, a venda da caneca artesanal de louça e a venda da nossa feijoada”, diz a jovem.

“Trouxemos para o segmento da agricultura familiar da Bahia, que já representa dois milhões de pessoas com mais de 600 mil estabelecimentos que são os grandes produtores de alimentos que chegam na mesa de baianos e baianas. É uma relação de afinidade de quem produz esses produtos e quem consome a sua história. A Bahia é um estado de dimensões continentais e somos o estado com o maior número de agricultores familiares e em número de comunidades reconhecidas. Fazer uma feira de Agricultura Familiar e não trazer essa pluralidade que é esse segmento rural quilombola e indígena da Bahia seria um grande erro. É negar a nossa própria história”, disse Jeandro Ribeiro, diretor- presidente da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR).

A 15ª Feira Baiana de Agricultura Familiar e Economia Solidária  é uma realização do Governo do Estado da Bahia, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) e da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), em parceria com a União das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária do Estado da Bahia (Unicafes-BA), a Feira conta com o apoio de parceiros importantes como o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) e Fundação Luís Eduardo Magalhães (FLEM) e patrocínio do Banco do Nordeste e Caixa Econômica Federal.

Fotos: André Furtuôso/Fabrício Rocha

Patrícia Bernardes Sousa é jornalista, redatora e integra projetos de impacto social, letramento, educação e cultura e colaboradora do Portal Soteropreta.

Continue Reading
Advertisement
Vídeo Sem Som

EM ALTA