Artes
Artista cabo-verdiana Daja Do Rosário promove oficina gratuita sobre corpo e memória

Salvador recebe entre os dias 10 e 18 de maio, a artista visual cabo-verdiana Daja Do Rosário para uma série de atividades que unem arte, ancestralidade e ecologia. A oficina principal, com o nome “Corpo – Indumentária / Transe”, será gratuita e tem vagas limitadas, acontecerá nos dias 14 e 15, das 14h às 17h, na Casa do Benin e no Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC_BA).
O projeto propõe uma vivência colaborativa que combina práticas ancestrais com arte contemporânea. Os participantes serão convidados a criar esculturas-indumentárias a partir de fibras vegetais, como a ráfia, explorando o corpo, a memória e os gestos como forma de escuta e reverência à ancestralidade africana.
A experiência é destinada a artistas afrodescendentes que atuam em diferentes linguagens: artes visuais, arte têxtil, dança, performance, literatura, música, práticas de cura, escultura, saberes culturais e educação. As inscrições são feitas exclusivamente online, através do FORMULÁRIO.
Resultado da experiência coletiva
Durante a imersão, 15 participantes em cada instituição desenvolverão peças únicas, simbólicas e pessoais, que ao final serão reunidas em uma grande escultura coletiva — um “corpo-fractal” que preserva as individualidades e promove um campo comum de diálogo e pertencimento. Além da inscrição, os participantes são incentivados a levar fibras e tecidos naturais que possam ser incorporados à criação.
Sobre Daja do Rosário
Daja Do Rosário é uma artista visual cabo-verdiana que utiliza sua obra para afirmar sua identidade como mulher afrodescendente. Crescida no sul da França, distante de suas raízes culturais, ela transforma sua trajetória pessoal em uma narrativa coletiva sobre as diásporas africanas. Através de autorretratos e esculturas com materiais reaproveitados — como ráfia, sacos, búzios e tecidos —, Daja combina tradição e contemporaneidade, criando composições que recontam histórias apagadas da África e reivindicam uma identidade plural, ancestral e politizada.

Foto: Divulgação
SERVIÇO:
O que: Oficina “Corpo – Indumentária / Transe”, com Daja do Rosário
Quando: 14 e 15, das 14h às 17h;
Onde: Casa do Benin e no Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC_BA);
Valor: Gratuito;
Inscrições: através do FORMULÁRIO.
Artes
Artista soteropolitana Eva de Souza tem obra imortalizada na Suíça com bordado político “Zamambaia”

A artista Eva de Souza, nascida em Salvador, acaba de conquistar um marco histórico em sua trajetória artística: sua obra têxtil “Zamambaia: a testemunha silenciosa” passa a integrar o arquivo público Cantonale, em Berna, na Suíça. A escolha se deu por meio de um processo de seleção rigoroso que visa preservar obras de relevância para as futuras gerações.
Radicada na Suíça há mais de 30 anos, Eva é suíço-brasileira, mas leva com orgulho suas raízes soteropolitanas, que marcam profundamente sua produção artística. Atriz, ativista e artista plástica, ela utiliza o bordado político como ferramenta de denúncia e elaboração artística, transformando linhas e tecidos em poderosos manifestos visuais.

Foto: Divulgação
A obra “Zamambaia” é um tributo à resistência diante das violências cotidianas, especialmente contra corpos negros e femininos. Com forte inspiração nas dores da humanidade, o bordado denuncia o racismo estrutural e a violência de Estado, ao mesmo tempo em que exalta a natureza como testemunha e força vital.
“Esse é o meu protesto contra as desumanidades, o esquecimento e o abandono. Zamambaia ilustra o racismo estrutural e a violência contra a mulher negra que perdura por gerações. A cada linha, um traço de pensamento e a construção de um desenho de ativismo”, afirma Eva.
Com formação em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Eva também é mestre em Gestão Cultural pela Universidade de Basel, em Berlim, e tem especialização em Mediação e Conflito pela Universidade de Berna. Sua trajetória começou nos palcos e galerias de Salvador, expandindo-se para exposições na Alemanha, Suíça e outros países europeus.

Foto: Divulgação
A artista celebra o reconhecimento internacional como um passo simbólico para as vozes e narrativas vindas da diáspora.
“Me orgulho por representar o Brasil na Europa com trabalhos que contribuem para um cenário artístico plural e diverso. Agora, me consolidei não apenas como uma artista suíço-brasileira, mas como uma artista imortal”, destaca.
Para conhecer mais sobre o trabalho de Eva de Souza, acesse seu portal oficial ou siga o perfil @evadesouzabluewin.ch nas redes sociais.
Artes
CAIXA Cultural recebe exposição em homenagem a Jayme Fygura

A CAIXA Cultural Salvador abre ao público, a partir desta terça-feira (15), a exposição póstuma Jayme Fygura: De Corpo e Alma, que presta tributo ao artista plástico, poeta e performer Jayme Fygura, um dos nomes mais emblemáticos da cena cultural soteropolitana. A abertura oficial acontece na noite do dia 15, às 19h. A visitação segue até 6 de julho, de terça a domingo, das 9h às 17h30, com entrada gratuita.
A mostra é realizada pela Ernesto Bitencourt Galeria de Arte e tem curadoria do artista e pesquisador Danillo Barata. No espaço expositivo, o público poderá conhecer 32 pinturas em acrílico sobre tela e 23 objetos emblemáticos — entre esculturas em ferro, cabeças, falos de Exu, manuscritos e figurinos usados em performances do artista.

Foto: Daniel Lisboa
Também integram a exposição projeções audiovisuais e o documentário Sarcófago, dirigido por Daniel Lisboa, que mergulha no universo criativo de Fygura. Outro destaque é a exibição inédita de um show performático do artista, registrado pelo mesmo cineasta, além de recursos sonoros produzidos pelo próprio Jayme, como sua característica caixa de som.
“Suas esculturas, máscaras e pinturas exploram o corpo como território da violência e da reinvenção”, afirma o curador Danillo Barata. “Ao utilizar materiais reciclados e detritos urbanos, Jayme subverte a precariedade em potência criativa, tensionando a percepção do corpo negro e das estruturas de poder.”
A paleta de cores predominante nas obras — com tons de dourado, vermelho e azul — remete à simbologia das religiões de matriz africana, em especial aos orixás Obaluaiê e Exu, referências recorrentes no trabalho do artista.
Para o colecionador Ernesto Bitencourt, responsável pela preservação da obra de Fygura, a mostra é um reconhecimento da importância do artista para a arte contemporânea brasileira. “Jayme transformou dor em arte. Sua produção é um testemunho da força da cultura afro-brasileira e da resiliência diante das adversidades.”
Um legado de resistência
Jayme Fygura, conhecido como “o homem da máscara de ferro”, construiu uma trajetória artística marcada pela experimentação estética e pela crítica social. Explorando pintura, escultura, performance e indumentárias, ele articulou em sua obra elementos de ancestralidade, espiritualidade e política, sempre com forte apelo visual e simbólico. A máscara, um de seus principais signos artísticos, funcionava como instrumento de denúncia, proteção e afirmação, ressignificando o corpo negro como espaço de resistência. Jayme faleceu aos 64 anos de idade, em Salvador no domingo, 26 de novembro de 2023.
Programação educativa
Além da exposição, o projeto inclui ações educativas, como oficinas de criação de instrumentos musicais com materiais reciclados. Estudantes da rede pública de ensino participarão de visitas guiadas, com o objetivo de fomentar a reflexão sobre identidade, pertencimento e criatividade por meio da arte.
A exposição conta com recursos de acessibilidade, como interpretação em Libras, audiodescrição e placas em braile.
SERVIÇO
Exposição póstuma – Jayme Fygura: De Corpo e Alma
Local: CAIXA Cultural Salvador – Rua Carlos Gomes, 57, Centro
Visitação: 16 de abril a 6 de julho de 2025
Horário: Terça a domingo, das 9h às 17h30
Entrada gratuita
Informações: (71) 3241-4200 | Site CAIXA Cultural | @caixaculturalsalvador
Classificação indicativa: Livre
Artes
Com reverência a Exu, Nando Zâmbia lança território afrocênico que celebra trajetórias negras

Na última terça-feira (09), a Casa do Benin, no Pelourinho, foi palco do lançamento de ELEGBAPHO – Território Afrocênico de Celebração Negra, projeto do multiartista baiano Nando Zâmbia. O evento, marcado por performances, conversas e música ao vivo, abriu oficialmente as atividades do projeto que celebra os 25 anos de carreira do artista e promove encontros entre pensadores, criadores e públicos negros. A iniciativa tem apoio do programa Rumos Itaú Cultural 2023-2024.
Inspirado na potência simbólica de Exu — orixá da comunicação, das encruzilhadas e dos caminhos — o território afrocênico se firma como um espaço de celebração e reflexão sobre conquistas, resistências e espiritualidade negra.
“No Candomblé, toda graça alcançada deve ser celebrada. É assim que retribuímos a Exu, é assim que mantemos o axé em movimento”, afirmou Nando Zâmbia durante o encontro.
A noite de estreia foi aberta por um ritual conduzido por Domingos Okanlewá, ogan e pesquisador do culto a Exu, e reuniu nomes de destaque da cena artística negra, como o ator Sulivã Bispo, a coreógrafa Tania Bispo e o músico e compositor Jarbas Bittencourt, acompanhado pelos instrumentistas Talita Felício (baixo acústico) e Jarder Ryan (clarinete). A conversa girou em torno das linguagens da cena negra e da importância de manter vivas as formas de expressão enraizadas nas tradições afrodiaspóricas.
Confira a cobertura do evento AQUI.
Com forte presença estética e simbólica, o projeto é atravessado pela espiritualidade do Teatro Preto de Candomblé — linha de pesquisa desenvolvida por Nando junto à dramaturga Onisajé, que atua como consultora da dramaturgia do ELEGBAPHO.
“Esse território é também um chamado para relembrarmos que a celebração é política, é ferramenta de continuidade, é combustível de futuro. Exu é comunicação, e através dele estamos nos comunicando com o que fomos, somos e queremos ser”, pontuou o artista.
O nome do projeto une “Elegbara”, referência ao orixá Exu, e “bapho”, termo do Pajubá usado para expressar algo grandioso ou impactante. Segundo Nando, a escolha do nome reafirma a pluralidade de Exu e sua presença em diversas linguagens da cultura negra, inclusive na linguagem LGBTQAPN+.
O ELEGBAPHO segue com outros encontros previstos para o mês de maio, sempre com foco na partilha entre artistas negros e na afirmação das artes como ferramentas de ancestralidade e celebração. Mais que um evento pontual, o projeto propõe uma jornada contínua de escuta, criação e comunhão.