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“Volto à Universidade pela porta da frente”, diz Irma Ferreira ao retomar docência

Iasmim Moreira

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Irma Ferreira

“É difícil lembrar de algum momento da minha vida em que a música não estivesse presente”. Assim define Irma Ferreira, 33, cantora lírica soprano, ao falar sobre sua relação com as canções. Hoje, a artista soma mais de 13 mil seguidores e fãs que se encantam com composições que celebram a cultura negra na música clássica brasileira.

Segundo Irma, os caminhos dela e da música se cruzaram ainda na infância, quando a mesma foi presenteada com um piano infantil, no bairro de Alto de Coutos, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. Para ela, aquele momento marcou o início de uma relação longa e íntima com cantores líricos. 

“Com o piano, veio uma relação de fita cassete com compositores da música de concerto — tinha Bach, Mozart — e eu passei a infância inteira ouvindo aquelas músicas. Isso me deu uma grande intimidade com o estilo, que acabaria fazendo parte da minha vida para sempre”, lembra Irma.

Aos 14 anos, enquanto cursava o ensino médio no Colégio Estadual Deputado Manoel Novaes, no bairro do Canela, a jovem aprendeu a tocar violino e com ele faria seus primeiros shows como musicista. 

“O violino foi meu companheiro em algumas das fases mais difíceis da minha vida”, conta Irma. A cantora destaca ainda que foi esse instrumento que a levou, pela primeira vez, a pisar numa sala de aula como professora. “Foi com o violino que recebi meus primeiros cachês, que comecei a dar aulas. Lembro que meu primeiro dia foi em um projeto chamado Mais Educação, realizado em escolas públicas da capital”.  

“O Colégio Manoel Novaes foi um lugar de extrema importância para mim, porque foi lá que me formei como musicista, concluí meu ensino médio e técnico, e conheci as pessoas que me levaram para o canto. Para mim, eu realmente era violinista, e meus amigos sempre diziam que eu também era cantora. […] Sempre, nas apresentações dos seminários, me colocavam para cantar, mesmo sendo a pessoa mais tímida do mundo”, riu Irma.

Após concluir os estudos e enfrentar um problema de saúde que a impedia de tocar, Irma decidiu prestar vestibular para o curso de Música da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

 

ENTRE PARTITURAS E CANTOS 

Durante a graduação, Irma conta que precisou desenvolver estratégias para alimentar sua rede de contatos, garantir renda e manter a atuação artística. Segundo ela, o apoio dos professores e familiares foi fundamental, pois, logo nos primeiros momentos da formação, a musicista começou a participar de master classes – aulões com especialistas.

“Ser uma estudante negra de canto lírico, vinda do subúrbio ferroviário de Salvador, não era fácil, especialmente ao buscar uma carreira em um estilo musical tão eurocêntrico. Durante a graduação, participei de várias master classes e conheci o professor italiano Sabino Martemucci, que foi fundamental para estabilizar minha técnica vocal. Depois disso, comecei a participar de festivais em cidades como Gramado, Santa Catarina, Poço de Caldas e São Paulo”, lembra. 

“Comecei a me inserir no meio musical, com o apoio fundamental da minha família, pois foi um processo desafiador para me aceitar como mulher negra, sem os privilégios financeiros e sociais esperados. Muitos amigos abandonaram o caminho ou mudaram de direção. Em 2018, após uma longa jornada, fiz minha primeira protagonista em Salvador na ópera “Lídia de Oxum”, que curiosamente foi a primeira ópera que assisti na vida, dez anos antes, durante o curso técnico de música. Foi por pesquisas sobre compositores da Bahia que conheci Lindenberg Cardoso e a obra”, conta Irma. 

Entre as encruzilhadas do canto, dos instrumentos e da formação pessoal, Irma busca dedicar-se exclusivamente à música e aos seus ensinamentos. “São todas essas encruzilhadas — da academia, das big bands, das óperas — que me conduzem até o doutorado. Esse tem sido um espaço onde posso, de fato, discutir os atravessamentos vividos por cantores e cantoras líricas negras em suas formações, no palco, e compreender que essa experiência não é só minha. Nesse espaço, consigo elaborar tudo isso em diálogo com outras pessoas”. 

Irma destaca ainda que “É importante compreender nossos corpos dentro desses espaços e as violências que ocorrem simplesmente por sermos artistas líricos e negros”. 

Foi no contexto do doutorado que a cantora decidiu se candidatar à vaga de professora substituta na UFBA. 

“Vi nessa oportunidade uma forma de retribuir A minha comunidade tudo o que me foi doado ao longo desse tempo”, enfatiza. No entanto, em dezembro de 2024, por meio da 10ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária da Bahia, a aprovação de Irma como docente da Universidade foi anulada. Ela havia sido aprovada pelo sistema de cotas raciais em setembro daquele ano e se preparava para assumir o cargo. O caso gerou comoção popular, e a artista passou a ser alvo de ataques e discursos de ódio. 

“Não há lugar onde a gente não seja alcançado pelo racismo. Eu nunca quis virar holofote, não desse jeito, minha arte não é para ser vista assim”, desabafa. 

Após meses de batalha judicial, exposição pública e desgaste emocional, o poder judiciário reverteu a decisão. Nesta quarta-feira (23), com o apoio do Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia (APUB), a professora retorna à universidade “pela porta da frente, como sempre foi”, conta. 

“Hoje retorno à Universidade Federal da Bahia como professora, pela porta da frente — como sempre foi em todos os lugares por onde passo. Desta vez, trazida pelos alunos pelos quais luto, pesquiso, incentivo e valorizo em sala de aula. São corpos, histórias e vozes que também são vidas. Neste momento, faço uma pausa com planos lindos pela frente, porque, como já disse, a sala de aula acontece em paralelo ao palco”. 

Atualmente, Irma Ferreira está em turnê com o espetáculo “Cantos e Encantos de Orixá”, que celebra a ancestralidade e a força das tradições afro-brasileiras por meio da música lírica. A turnê deve passar por diversas cidades do Brasil, Salvador e São Paulo, levando ao público a potência de uma voz que une arte, identidade e resistência. 

Por Bruna Rocha

Teatro

Espetáculo “Um Fio para Liberdade” discute violência sexual infantil

Iasmim Moreira

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Um Fio para Liberdade

“Um Fio para Liberdade” estreia neste domingo (25) no CineTeatro 2 de Julho, com sessões acessíveis e ações educativas dentro da campanha Maio Laranja. O espetáculo, escrito e dirigido por Robson Raycar, da Trupe 7.com, lança luz sobre a violência sexual contra crianças e adolescentes, tema urgente e ainda silenciado em muitos lares brasileiros.

A peça conta a história de Lorena, adolescente vítima de abuso dentro da própria família, que encontra na arte um caminho de resistência e libertação. Embora ficcional, a narrativa se ancora em dados alarmantes. Segundo o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, só na Bahia, entre janeiro e maio de 2024, houve uma média de 11 denúncias diárias de violência sexual infantil.

A atriz Ariele Pétala, que interpreta a protagonista, destaca a responsabilidade do papel.

“É delicado trazer à cena o que tantas crianças vivem a cada 24 horas. O espetáculo é um grito de socorro por aquelas que não conseguiram falar. É também um espaço de cura e denúncia”, afirma.

Além da violência sexual, a obra aborda como o fundamentalismo religioso e o machismo presente nas estruturas familiares podem contribuir para a perpetuação dos abusos. A personagem de Lorena entra em conflito com a própria mãe, que, guiada por valores conservadores, não reconhece a violência vivida pela filha.

“É uma obra sensível, com momentos de humor que ajudam a dar fôlego ao público, mas sem jamais desviar da gravidade do tema”, comenta o diretor Robson Raycar.

Com classificação indicativa a partir dos 12 anos, o espetáculo terá sessão com tradução em Libras, viabilizada pelo projeto Libra Mais. Um Fio para Liberdade tem texto e direção de Robson Raycar, atuação de Ariele Pétala, Renata Bastos, Marcos Lopes, Vinícius Souza, Raquel Bispo, Felipe Oliveira, Mikyleu, Maylla Rocha, Raiane Mendes e Jéssica Mendez, produção de Renata Bastos, assistência de direção de Raquel Bispo, operação técnica de Felipe Oliveira e identidade visual de Mikyleu, com realização da Trupe 7.com.

O espetáculo já havia sido apresentado em 2024 durante a mostra “Novembro das Artes Negras”, e retorna agora com novas cenas e elenco ampliado. A iniciativa faz parte da campanha Maio Laranja, voltada para a conscientização e combate à exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes.

Para denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes, disque 100.

SERVIÇO

Espetáculo: Um Fio para Liberdade
Onde: CineTeatro 2 de Julho (Federação) e Colégio Central da Bahia (Nazaré)
Datas:

  • 25/05 (domingo), às 17h – sessão gratuita e acessível em Libras

  • 25/05 (domingo), às 19h – sessão paga

  • 27/05 (terça-feira) – sessão para alunos do Colégio Central

Ingressos: R$ 20 (inteira) / R$ 10 (meia)
Venda antecipada: (71) 9 8765-0330 (Renata)
Venda presencial: 1h antes do espetáculo
Classificação: 12 anos
Espaço sujeito a lotação

Fotos: Diney Araújo

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Formação

‘Acessibilidade Cultural em Pílulas’ oferece formação gratuita para agentes culturais

Iasmim Moreira

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Acessibilidade

Entre maio e julho, trabalhadores da cultura em Salvador terão a oportunidade de se qualificar gratuitamente em acessibilidade por meio do projeto Acessibilidade Cultural em Pílulas. A iniciativa é promovida pela empresa Dê Um Sinal – Assessoria em Acessibilidade, Inclusão e Diversidade, e propõe oficinas formativas voltadas à criação de ambientes culturais mais inclusivos, acolhedores e acessíveis.

A formação é voltada para gestores, artistas, produtores, educadores e demais profissionais da cadeia cultural. Serão seis oficinas, com início em 22 de maio e término em 3 de julho, realizadas em formato híbrido: encontros online via Google Meet e presenciais no Teatroescola, projeto residente no Teatro Jorge Amado, na Pituba. As atividades acontecem sempre das 18h às 20h.

A programação inclui temas como capacitismo, atendimento qualificado a pessoas surdas, cegas ou com baixa visão, deficiência intelectual e neurodivergência, além de uma introdução à Língua Brasileira de Sinais (Libras). As inscrições devem ser feitas por meio de formulário eletrônico disponível no perfil oficial da Dê Um Sinal no Instagram (@deumsinal).

De acordo com a idealizadora do projeto, Cíntia Santos, a proposta é formar cerca de 200 profissionais ao longo dos três meses de atividades.

“Nosso objetivo é contribuir para a democratização da cultura, garantindo que todos os públicos tenham acesso pleno aos espaços e experiências artísticas. A ideia é também fomentar redes colaborativas e novas ações formativas no futuro”, destaca.

As oficinas serão conduzidas por especialistas com e sem deficiência, promovendo uma troca plural de vivências e saberes. O projeto conta com apoio do edital Territórios Criativos, com recursos da Fundação Gregório de Mattos, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Prefeitura de Salvador, da Lei Paulo Gustavo, do Ministério da Cultura e do Governo Federal.

SERVIÇO

O quê: Oficinas do projeto Acessibilidade Cultural em Pílulas
Quando: De 22 de maio a 3 de julho de 2025
Horário: Das 18h às 20h
Formato: Híbrido (presencial e online)
Online: via Google Meet
Presencial: Teatroescola (Teatro Jorge Amado – Pituba, Salvador)

Foto: Beatriz Meneses

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Música

Jann Souza apresenta show “Orin” na Casa Rosa

Iasmim Moreira

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Orin

A cantora e compositora Jann Souza apresenta o show Orin na quinta-feira, 29 de maio, às 20h, no Teatro Cambará da Casa Rosa, no Rio Vermelho. Os ingressos custam R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), disponíveis pelo Sympla: https://encurtador.com.br/WqqHh.

Celebrando suas raízes afro-brasileiras, Jann reúne no palco músicas autorais, releituras da MPB e cantigas em yorùbá, numa performance que transita entre tradição e contemporaneidade.

Com arranjos modernos, percussão marcante e interpretação intensa, Orin — que significa “canto” em yorùbá — propõe uma experiência sensorial que conecta memória, espiritualidade e identidade afro-diaspórica. “Esse show é um convite para sentir. Cada canção traz uma história, um chamado, uma vibração”, afirma a artista.

O espetáculo já passou por festivais e espaços importantes da cena cultural soteropolitana, como o Poeira Pura Festival, Casa da Mãe e Teatro Sesc Casa do Comércio. Agora, retorna aos palcos reafirmando o compromisso de Jann Souza com a valorização das matrizes africanas na música brasileira.

Sobre Jann Souza


Cantora e compositora baiana, Jann Souza une ancestralidade e contemporaneidade em uma sonoridade que mistura MPB, ritmos afro-brasileiros e cantigas em yorùbá. Sua música é atravessada por espiritualidade, identidade e resistência negra. Com apresentações marcantes, como o show Orin, Jann afirma sua voz como expressão de memória, cura e pertencimento.

SERVIÇO
Show Orin – Jann Souza
Data: Quinta-feira, 29 de maio de 2025
Horário: 20h
Local: Teatro Cambará – Casa Rosa, Rio Vermelho
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)
Venda: Sympla
Classificação: Livre

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