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#EntãoCaminhemos – “ELA-SE! ELE-SE!”

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fernanda júlia

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Todas as vezes que eu vou para a cerimônia pública de iniciação de alguma pessoa no Candomblé, vejo passar diante dos meus olhos meu processo de iniciação. Todas as vezes que participo das cerimônias internas de iniciação, volto a refletir sobre um pensamento africano guardado pelas Comunidades de Axé.

Que, infelizmente, pela herança enviesada da colonização da qual fomos vítimas e continuamos sendo, vem sofrendo duros golpes do esquecimento ou da simples deturpação dos valores ancestrais.

Este pensamento é o ELA-SE! ELE-SE! “Se veja, se perceba no outro”. Inúmeras foram as vezes que, sentada diante do oráculo do merindilogun (jogo de búzios), vi minha mãe e meu babá me ensinarem a enxergar os desafios do meu caminho por meio do entendimento das vitórias ou agruras do caminho do outro.Mas, para além disso: perceber que a sua vida pode e deve ser marcada pelo reconhecimento do outro em você. De como você precisa “se”. Importar-se, colocar-se, dar-se.

Estou falando de empatia, elemento fundamental para o fortalecimento do caráter e do percurso de um indivíduo no mundo.Toda vez que um yawô diante do órun e do ayê salta e revela para a comunidade seu nome de axé, seu nome africano, espera-se que ela-se, que ele-se. O egbé (comunidade de axé) espera que este recém iniciado, renascido para a vida, perceba, respeite e importe-se com o outro.

Espera que seu olhar esteja atento ao outro, tanto como possibilidade de aprendizado, quanto como instrumento do amor, tanto das divindades e ancestrais, quanto da individualidade de cada pessoa.

“Ela-se!”

“Ele-se!”

Fala de amor, de afeto, de sinceramente compreender que importar-se vai além do pedido de favores, dos pedidos de socorro, ou daquela pessoa que gentilmente dispõe-se a ouvir suas queixas sobre a vida. “Se” é agir, é impedir a violência causada pelo excesso de egoísmo e falta total de respeito. Meus egbomis (os mais velhos) me contaram diversos  itans dos Orixás e em cada um deles podemos enxergar  esta ação de “se”. De se colocar no lugar do outro, de aprender com o percurso do outro e mais, de estar atento às necessidades do outro.

Aprendi isso no ariaxé, vendo as yás (mães) da minha família sempre me pedindo para colocar-me no lugar do outro antes de determinar seu caráter e suas ações. Lá no interior da grande barriga chamada ancestralidade, vi e aprendi que o outro não é apenas um objetivo material a ser suplantado, e muito menos, recurso para o saciar as minhas necessidades.

O outro é parâmetro, é célula irmã, o outro é referência. Que possamos cada vez mais ela-se e ele-se em nossas vidas, e que a ancestralidade que nos une, independente de escolha religiosa, possa nos fazer refletir e caminhar rumo ao que os Orixás dizem no jogo de búzios quando todos caem abertos Alafiá!!!!!!

Então caminhemos!!!!            

 

fernanda júlia

Fernanda Júlia Onisajé é a mais nova colaboradora do Portal Soteropreta, iniciando sua Coluna “Então Caminhemos!”. É Yá-quequerê, Mãe-pequena e Dofona de Omolú do Terreiro Ilê Axé Oyá L’adê Inan, natural de Alagoinhas, cidade da Região Litoral Norte -Agreste Baiano, diretora de Teatro formada pela UFBA. É diretora do Núcleo Afro Brasileiro de Teatro de Alagoinhas (Nata), criado em 1988.

Fotos: Andréa Magnoni

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#Opinião – Pretas e Pretos-velhos: uma reflexão de Umbanda

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“Saravá, linha do Congo”. Com essa saudação, a Sagrada Umbanda presta reverência às pretas e pretos-velhos. Nesse 13 de maio, saudamos essas entidades espirituais, caracterizadas por sua imensa humildade e sabedoria. Aquele que escuta os Seus ensinamentos acessa a Evolução, deixando de lado a arrogância e abraçando a caridade.

Em sua obra As Sete Linhas de Umbanda: a religião dos mistérios, o sacerdote Rubens Saraceni (1951-2015) descreve os pretos-velhos como entidades atuantes no Setenário Sagrado, Essência Divina que chega até nós através das Sete Essências Sagradas: Cristalina, Mineral, Vegetal, Ígnea, Eólica, Telúrica e Aquática. Em termos simples, o Setenário se manifesta na terra, na água, no fogo, no ar, nos minerais, nos vegetais e nos cristais. Nada caminha para fora do Setenário Sagrado, porquanto Nele está a Manifestação de Deus que irradia para todo ser vivente.

Ainda conforme o autor, encontramos correlações entre o Setenário Sagrado e os Sete Sentidos da vida: Fé (Essência Cristalina), Amor (Essência Mineral), Conhecimento (Essência Vegetal), Justiça (Essência Ígnea), Lei (Essência Aérea), Razão (Essência Telúrica) e Geração (Essência Aquática). Contemplamos, assim, a vasta sabedoria desse Grau Manifestador do Mistério Divino, denominado preto-velho, haja vista Saraceni descrevê-los como entidades presentes nas Sete Linhas de Umbanda, colaborando para a Evolução Maior.

No entanto, nem sempre pretas e pretos-velhos são pretos ou velhos. Aprendemos com Saraceni que por terem atingido um elevado grau evolutivo, esses espíritos se manifestam em aparência como pretos que foram escravizados, para nos trazer o exemplo da humildade. Paz, tranquilidade, esperança, paciência e perseverança são ensinados por esses Sábios Espíritos, levando cada pessoa a refletir sobre a sua Casa Interna.

Os pretos-velhos estão entre nós para ensinar a fé e a coragem ante as experiências desafiadoras que vivemos. Independente de crença, os Seus conselhos são lições de vida que nos convidam à Sabedoria ante momentos cruciais. “Êpa preto, sinhá”.

 

Armando Januário dos Santos é Trabalhador da Luz, Mestre em Psicologia, Psicólogo (CRP-03/20912) e Palestrante. Contato: (71) 98108-4943 (WhatsApp).
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#Opinião – E o teu feminismo, comunidade? É negro mesmo? – por Aline Lisboa

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Práticas de feminismos coloniais são estratégias de divisão para a nossa comunidade. A primeira onda do movimento feminista surge na Inglaterra no final do século XIX, buscando direitos que eram negados às mulheres e concedidos continuamente como forma de privilégio a homens.

O movimento se popularizou com a primeira luta que foi o direito ao voto. As sufragetes, como ficaram conhecidas, encheram as ruas de Londres, foram presas várias vezes, fizeram greve de fome e por fim após a morte de Emily Davison, que se atirou na frente do cavalo do rei, na corrida Derby, esse direito foi conquistado.

O feminismo chega ao Brasil e as sufragetes brasileiras dão início ao movimento em 1910. Assim, em 1932 é promulgado um novo código eleitoral brasileiro, por meio do qual se conquista o direito ao voto das mulheres brasileiras, entretanto mantém-se vetado o direito ao voto de mendigos e ANALFABETOS.

Considerando a primeira Lei da Educação, promulgada em 1837, que proibia negros e negras, ainda que livres, de frequentarem a escola, pode-se dizer que a conquista em 1932 não abarcavm a população de mulheres negras, assim como a de homens negros daquela época, que tinham os seus privilégios na organização social do convívio estrutural, mas com intersecções das relações que também são de raça.

Com a continuidade do movimento, vê-se que há muitas outras lutas com perspectivas que não abarcam as relações de raça e gênero. Urgiu-se, então, a necessidade de tratar dos direitos das mulheres negras, compreendendo as relações de domínio e poder, dentro e fora da comunidade de pessoas negras, pensando assim, as  perspectivas de um feminismo negro.

O feminismo, quando negro, dialoga com as espistemes decoloniais, já que a luta de mulheres brancas não conversa com os esmagamentos sofridos por mulheres negras, assim, como o privilégio de homens brancos são em números, de forma transparente, maiores que o de homens negros.

Tendo assim, nas camadas sociais, homens brancos, mulheres brancas, homens negros e mulheres negras, que trazem consigo lugares de fala, lutas e quando privilégios, diferentes.

Considerando os contextos acima, é importante pensar como o racismo pode atravessar a luta feminista negra, transfigurando-a em um contexto colonial, sendo um enorme fator de divisão na nossa comunidade.

Nós, mulheres negras, irmandade a qual sou pertencente, enfrentamos inúmeros esmagamentos silenciados na luta feminista colonial. Em números alarmantes, os baixos salários, a maternidade solo, o adoecimento físico e mental, a violência obstétrica, a violência sexual, o encarceramento, a marginalização, humilhação e silenciamento são absurdos.

É impossível escrever aqui sobre a necessidade de diálogos do nosso povo, sem dizer que o racismo e o sexismo, atuando juntos, são potentemente destrutivos às vidas de mulheres negras.

Contudo, considera-se importante pensar o atravessamento do racismo ao feminismo colonial, quando as lutas e colocações são atravessadas pelas imagens que controlam a figura de homens negros. A sociedade constrói estereótipos que vem matando aos pouquinhos homens negros todos os dias.

Já escrevi em outro artigo que como educadora, ao conviver com meninos negros, diariamente, os vejo sobrevivendo a um massacre com sorrisos desesperadores no rosto. Se a luta não considera os impactos do racismo ela não é negra, e para mim, nem é luta.

Se o movimento é sobre odiar, perseguir, expor, marginalizar e matar aos poucos os homens negros, esse movimento tem outro nome, é o racismo. A branquitude é firme em averiguar profundamente, perdoar e esquecer com facilidade falhas por vezes absurdas de homens brancos, enquanto relembra, ataca e marca em corpos de homens negros, falhas que por vezes não são nem verdadeiras, pois como já dizia o Ilê Ayiê, “Preto sempre é vilão, até meu bem, provar que não”.

A colonização é estratégica em dividir comunidades que juntas, dialogando, são poderosas no combate. Não podemos deixar que uma luta que nunca dialogou com o lugar das mulheres negras nos sirva para auxiliar a destruição do nosso semelhante.

Que o nosso feminismo seja negro. Defendendo o lugar de fala de mulheres negras, aniquilando qualquer perspectiva construída pelo racismo para qualquer um dos nossos semelhantes dentro da comunidade. O futuro, não está na colônia, o futuro é Sankofa!

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#Opinião – O amor aos animais: uma reflexão espiritual – Por Armando Januário

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“O homem fez da Terra um inferno para os animais”. A frase do filósofo alemão Arthur Schoppenhauer (1788-1860) descreve como a humanidade tem se comportado de maneira predatória frente a outras espécies.

A morte de Joca, na última segunda, 22 de abril de 2024 é mais um capítulo sobre as violações dos direitos animais. O Golden Retriever de 5 anos foi embarcado por uma empresa aérea em São Paulo, com destino a Sinop (MT). Contudo, a etiqueta da companhia aérea indicava que o animal tinha Manaus (AM) como ponto de chegada. O nome e o peso também eram diferentes. Esses erros levaram o cão a ficar 8 horas sem a devida hidratação. Joca não resistiu e morreu.

Esse evento trágico é mais um chamado à sociedade para a compreensão dos animais como vidas e não bagagem. Agora, Joca se encontra no Plano Maior, tendo os devidos cuidados, para se reabilitar e renascer, oferecendo a cada pessoa que estiver em sua nova jornada, a oportunidade de amar. Sem dúvida, o amor aos animais está de acordo às Leis Universais e revela o caráter da criatura humana.

Se realmente amamos os animais, carinho, alimento e água a eles são o mínimo que podemos oferecer. Na verdade, em observância à Espiritualidade Maior, compreendemos que qualquer animal deve ser respeitado desde antes do seu nascimento, por ser, semelhante a nós, uma energia em processo de evolução.

Portanto, é responsabilidade humana o trato com os animais, inclusive com aqueles que ainda são utilizados para alimento: abates dolorosos refletem a imensa ignorância e crueldade que resultam em doenças para o nosso corpo espiritual e físico. As leis humanas estão sendo convocadas a entrar em sintonia com as Leis Espirituais, do contrário, novas pandemias serão a consequência dos excessos causados pela humanidade face aos nossos queridos irmãos, que, em sua evolução, confiam em nós.

Até breve, Joca. Você é mais um Ser de Luz que demonstra a nossa necessidade de evolução espiritual.

 

Armando Januário dos Santos é Trabalhador da Luz, Mestre em Psicologia, Psicólogo (CRP-03/20912) e Palestrante. Contato: (71) 98108-4943 (WhatsApp).
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