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Danielle Anatólio: uma história de Águas, Ventos, Matriarcas e exemplos

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WhatsApp Image 2016-09-05 at 5.11.16 PMEla é mineira, da Vila Suzana, primeira filha de Glória e Daniel, neta de Ercília, espiritualista que admira o Candomblé e as Irmandades do Rosário. É atriz, terapeuta reikiana, mestranda em Artes Cênicas pela UNIRIO e hoje mora no Rio de Janeiro. O sotaque ainda revela sua naturalidade, mas suas iniciativas profissionais, suas experiências de vida e planos para o futuro legam a Salvador um cabedal de histórias e de expectativas.

Estamos falando de Danielle Anatólio, a Flor de Lótus que encantou centenas de mulheres – e homens também – com sua performance homônima, encenada entre os meses de julho e agosto, em Salvador. Danielle é guiada pelas Águas e pelo Vento, como ela mesma diz; guerreira incansável, desbravadora mas, ao mesmo tempo, muito sensível, que gosta de gente, movimento e que ainda acredita no ser humano. Ela pode ter tido muitos motivos, quando criança e adolescente, para pensar diferente. Sua estética sempre foi daquelas que geram olhares e comentários. Uma mulher grande, de corpo negro fora dos “padrões”, um corpo que não conhecia e que, por isso, a fez recuar muitas vezes diante das agressivas insinuações de homens em seus caminhos. Mas ela sempre teve uma inspiração: vó Ercília, uma lavadeira mineira que a ensinou sobre gratidão. “Faça chuva, faça Sol vamos plantar e vamos agradecer… uma hora a colheita é certa!”, Danielle ouvia.

“A resiliência da minha avó nas enchentes, quando perdia as coisas e ainda assim conseguia levantar a cabeça e seguir em frente sorrindo. Isso foi uma grande aula para meu amadurecimento!”

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Foto: Lis Pedreira

A primeira neta de D. Ercília aprendeu a ser adulta ainda muito nova, a lidar com casa alagada todo fim de ano, com a ausência do pai Daniel, assassinado antes dela ecoar seu primeiro choro. O racismo na escola a testou por muito tempo a acreditar e ver beleza em si mesma, uma luta diária que muitas jovens negras ainda passam hoje. Mas os tempos são outros, muita munição já lhes foi e ainda é dada para serem maiores que o racismo.

Mulheres como Danielle pavimentaram esse caminho de descobertas e a influenciaram em suas buscas. Ariana – ou “Satanáries” como a amiga Carla Akotirene a chama nas redes sociais -, encontrou seu lugar na Arte, em especial no Teatro. Foi como arte-educadora que ela conseguiu acreditar em seu “poder, inteligência, beleza e magnitude”. Aos 19 anos começou a formar outras mentes, lecionando Teatro, coordenando o pré-vestibular comunitário Educafro Minas e se descobrindo enquanto mulher e negra.

No rol das inspirações tem nada menos que Ruth de Souza, Léa Garcia e Chica Xavier, nas quais se vê, e Lázaro Ramos, exemplo de inteligência e profissionalismo para Danielle. As letras negras de Conceição Evaristo a emocionam e, na música, Maria Bethânia, Legião Urbana, Jovelina Pérola Negra, Zé Ramalho e Mateus Aleluia a transformam. Essa parte merece destaque: “Estamos no caos e, às vezes, é realmente difícil manter a fé viva. É nessa hora que o poder de transformação tem que entrar em cena e nos impulsionar para onde quer que queiramos ir.”

E não é? O caos está aí, mas Danielle Anatólio é guiada pelas Águas e pelos Ventos, lembram? Ela quer deixar um legado: o exemplo de alguém que “foi à luta, rompeu com a correnteza, mas alcançou o objetivo”. Foi desacreditada, como muitas, e hoje ela tem a sala de aula e o palco onde pode dar seu recado às crianças e jovens, que é esse: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”. ” Aprendi desde cedo que é consigo mesmo que tudo se inicia e é entre os nossos que deve ser feita a transformação, porque “a revolução começa em casa”, conclui.

Conheça aqui sua mais recente iniciativa: a “Vivência de Auto gestão do corpo feminino”, realizada em Salvador em agosto e que pretende voltar em novembro.

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#NegrasRepresentam – ANAADI, negra, múltipla, das Artes!

Jamile Menezes

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ANAADI
ANAADI

Fto Raul Krebs

Que música é para aquecer nossos corações, não temos dúvidas. Explicar o que a música provoca é como escrever pra primeira paixão das nossas vidas. Aquele bilhetinho no auge do sentimento. E é assim que podemos descrever ANAADI, artista que muitos descrevem como a que canta o que compõe e compõe quando canta. Ela já cativou ouvidos de artistas como Rick Wakeman, Roberto Menescal, Ivan Lins e Ronaldo Bastos.

Destaque na segunda edição do programa The Voice Brasil, Anaadi é o que podemos considerar multi. Como produtora, idealizou o documentário “Arte das Musas?”, cujo destaque são as mulheres na Música. Sua atuação enquanto artista caminha ainda por composições para o documentário “Madrepérola”, que fala sobre  mulheres gordas, beleza e autoestima.

Portal Soteropreta – Como exatamente sua carreira se iniciou?

ANAADI – Minha carreira iniciou compondo canções, e mostrando pros amigos na escola e no cursinho pré-vestibular. Foi assim que fui descobrindo o potencial que tinha, de tocar as pessoas de alguma forma através da Música. Isso foi pelos 16 ou 17 anos, época que  comecei a dar canjas em bares de Jazz da minha cidade.Me formei em Psicologia em 2010, com essas experiências, eu aprendi o poder incrível de contar a própria história, e o quanto isso pode ser transformador tanto pra quem conta, como pra quem escuta. A vontade de fazer documentários veio muito daí. Da minha convivência com pessoas, da música. Sou apaixonada por autobiografias, por ouvir as histórias das pessoas no dia-a-dia, e quando consegui criar a oportunidade de ouvir tantas mulheres que vivem de música e para a música, fiz tudo para que essas histórias ganhassem espaço e chegassem a mais pessoas. Assim nasceu o “Arte das Musas?”. Participar do “Madrepérola” também foi incrível, e é até hoje. O que nos levou a  ganhar um prêmio de juri popular num festival de cinema em Chicago.

Portal Soteropreta – Você lembra quando sua trajetória a levou para produções que exaltam a beleza negra ou combate padrões vigentes?

ANAADI – Lembro sim. Foi em 2011, quando compus a música Sexyantagonista, que busca valorizar outros tipos de beleza, pra além do corpo e dos padrões físicos e comportamentais vigentes. Ela questiona o que é ser sexy. A partir dela, descobri que conseguia levantar essas questões através da minha música, então aos poucos fui compondo outras canções e investindo em outras produções que pudessem colaborar para a desconstrução de conceitos violentos contra as mulheres, por exemplo. O termo “Musa” é um conceito que a gente tenta desconstruir no meu filme “Arte das Musas?”. A gente tenta mostrar que as artistas da Música não têm vidas perfeitas nem nascem com um talento perfeito.

#NegrasRepresentam – Ilka Danusa, mulher de negócios, comunidades e sustentabilidade!

Tenho me unido com muitas mulheres negras que também se descobriram há pouco, e tem sido fantástico finalmente poder me ver no espelho através de outras mulheres, e admira-las, ama-las, chorar com elas, rir com elas. Acredito  que tem rolado um despertar coletivo, sabe? O Brasil parece estar vivendo um momento de despertar da população negra para a sua identidade, o seu valor e a possibilidade de trocas, aprendizados e crescimento juntos.

Portal Soteropreta – Como foi transitar por áreas diferentes das artes? Como você percebe esse impacto na sua atuação social?

ANAADI – Hoje a gente vive num mundo que pensa em rede, não pensa mais em linha. Consideramos muitas possibilidades ao mesmo tempo, e isso é interessante e libertador inclusive socialmente. A questão de ser uma mulher negra é cada vez mais importante no meu caminho artístico e na minha identidade, mas é uma descoberta recente, sabe? Eu não sabia que eu era uma “mulher negra” até 2016. Eu sabia que era uma mulher, e eu sabia que era negra. Ponto. Mas eu nunca tinha me dado conta de que eu vivo essas duas realidades ao mesmo tempo, inseparavelmente. Ou seja, que eu sou da única classe que sofre pelo machismo e pelo racismo ao mesmo tempo, e que pertenço a um grupo de mulheres que sofrem das mesmas aflições e compartilham tantas coisas que implica estar fora de uma rede de privilégios e ser destituído dos seus direitos.

#NegrasRepresentam – Renata Dias, preparada para repensar a Cultura!

 Enfim, a gente considera muitas possibilidades ao mesmo tempo, e todas existem dentro de seus contextos. Essa multiplicidade nos liberta de um padrão de pensamento muito limitante que dizia que tudo era A ou B.  Portando  unir diferentes formas de arte amplia os canais de discussão e dar mais visibilidade pras questões importantes pra a gente. Sendo múltiplo, transitando por mundos diferentes,  vamos encontrando novos jeitos de falar sobre o que precisamos falar.  Eu escolhi a música  e o cinema, outros escolhem a academia o que importa é que estamos falando.

 

 

 

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Entrevistas

#NegrasRepresentam – Luana Soares, feminista, militante e incentivadora!

Jamile Menezes

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Por meio de perfis, a campanha #NegrasRepresentam tem o objetivo de apresentar os pensamentos de mulheres negras em diversas esferas sociais e como suas ações vem propondo mudanças na realidade racial do país. Conheça Luana Soares:

Luana Soares é graduada em História pela Universidade Católica do Salvador e Especialista em Gestão de Políticas Públicas pela UNICAMP. Militante feminista e anti-racista, integra a Marcha Mundial de Mulheres e a Coordenação Nacional de Entidades Negras. Atualmente, compõe a equipe da Coordenação de Políticas para a Juventude, órgão do Governo do Estado da Bahia. Luana é uma destas mulheres que podemos considerar incentivadora e fiel a quem ela considera. Sempre se inspirando em mulheres que resistiram a modelos hostis e violentos, ela vem construindo uma trajetória de força e solidariedade.

Portal Soteropreta – Você é reconhecida por sua atuação na luta pelo direito das mulheres negras, em especial quando se trata de auto cuidado. O que lhe fez optar por esse caminho?

Luana Soares – Venho de uma família de mulheres muito fortes. Do tipo que resolve problemas de todo mundo, mas que dedica pouquíssimo tempo para si. Essa é uma realidade que é delas, uma realidade que é minha e de muitas mulheres negras e que Bell Hooks fala em Vivendo de Amor, a nossa forma de amar, a forma de amar das nossas mães é garantindo a sobrevivência. Somos ensinadas desde cedo que o nosso papel é cuidar, manter a vida girando, a dos filhos, a da comunidade, a dos homens. Então, parar pra cuidar de si, seja física ou psicologicamente e/ou espiritualmente é um ato de muita resistência. Foi observando essas mulheres e a mim que percebi que não nos cuidamos, não porque não queremos, mas porque nosso tempo é massacrado por um divisão sexual do trabalho que é cruel e marcada pelo racismo e machismo.

Portal Soteropreta – Comente um pouco das contribuições que você percebe sobre o sobre o pensamento feminista negro, esse campo de estudo e militância?
Luana Soares – Desnaturalizar violências. Harriet Tubman em seu discurso histórico, na verdade está falando sobre as mulheres a quem o cuidado (mesmo um cuidado de bases machistas) era destinado às outras para quem a violência era destinada e naturalizada. Então, me erguer contra essas violências, falar sobre elas, gritar, sair do papel de “Grand Mama” que a sociedade racista tenta imprimir as mulheres negras, é a principal contribuição do feminismo negro na minha vida. E certamente, a solidariedade. Veja, apenas acredito em uma sororidade não-branca, não-colonizada, então prefiro utilizar o termo Solidariedade de mulher preta pra mulher preta é um negócio surreal. É tangível, é prático, se insere na roda da solidariedade da classe operária e não tem nada a ver com gostar ou não da outra. Sai do romantismo e vai para o gás q acaba e a outra ajuda, é ficar com o filho pra outra poder trabalhar, é amparar na hora do aborto, feito sozinha, é o cabelo que precisa ser trançado pra trabalhar na casa dos brancos. É uma prática ancestral.

 

O que eu gostaria de deixar de questionamento é: as mesmas condições são oferecidas a nós e as mulheres brancas? Ou aos homens brancos e negros? A minha experiência pessoal diz que não. Então acho que temos combatido o silenciamento, estamos ocupando os espaços, mas me preocupa sob quais condições estamos adentrando.

#NegrasRepresentam – Campanha homenageia mulheres no Novembro Negro

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#PoesiaSoteroPreta – A poesia problemática de Geilson de Andrade!

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Poesia marginal e problemática é como o poeta Geilson de Andrade define sua produção artística, que inclui, ainda, peças de teatro e contos. Mas é na escrita e na récita que ele se encontra, se entrega.

De corpo e alma, em busca de atingir o psicológico de quem lhe ouve, ele faz um bombardeio de rimas, expressões corporais e faciais. É impossível vê-lo em atividade e não arrepiar, não sentir os olhos apertarem e o coração se angustiar. A verdade dói! Os primeiros versos tratavam de amor, questões existenciais e sobrenaturais, conflito entre vida e morte, durante a infância e adolescência, lá pelos 13 e os 15 anos de idade. Em 2010, já pesquisador de História, o veio de protesto e afirmação lhe tomou.

Os textos passam a expressar esta identidade que lhe acompanha desde então. Questões sócio raciais e referentes à opressão institucional assomam sua produção textual, toda escrita na tela de um computador. “Não lembro a última vez que usei papel e caneta”, assume Geilson.

Para além de válvula de escape, a poesia é, para Geilson de Andrade, “uma forma de conscientizar as pessoas, uma espécie de mecanismo educacional que desperte o pensamento e o sentimento das pessoas”. E complementa: “A poesia para mim é um veículo pedagógico e de resistência, utilizo o contexto histórico para situar o sujeito psicologicamente enquanto pessoa importante dentro da sua própria existência e resgate de valores”.

A fonte de inspiração é a família, tanto a biológica, normativa, mas, também, aquela que acolhe e abriga no seio da comunidade, seja a vizinhança ou a comunidade dos saraus, dos slams de poesia, os que pensam e defendem os direitos humanos. Este é o poeta, humano, Geilson Andrade.

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Sistema Nazista

Perdeu-se o brilho daquela esteira de estrelas

Que se estendia a caminhar tranquilamente sobre o asfalto

Os brotos morreram, as flores murcharam

Vidas foram ceifadas a flor da idade

Pela foice que corta, na frieza da morte

Por displicência da carne

Foi-se a juventude da alma

E perdeu-se o brilho e ofuscaram o asfalto

Mancharam de sangue coração dilaceraram

Caminhos tortuosos e destinos cruéis

Em meio a frágeis e poderosos

Injustiças entre vítimas e réus

Tenho que parar

Tenho que parar porque não cabe no poema

Esse triste cenário pobre miserável

De mentes estúpidas e corações insensatos

Me tirem desse sistema nazista

Sem perspectiva otimista

Sem que me tirem a vida

Sem que massacrem minhas crianças

Sem que prostituam as minhas meninas

Me tirem desse sistema tão ego

Me tirem desse sistema tão ísta

Por favor, favela

Me tirem desse sistema nazista

 

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