Connect with us

Artigos

Julho das pretas: uma agenda inovadora! – Por Luciane Reis!

Avatar

Publicado

on

Me_despache

Salvador tem crescido de maneira desordenada e desigual há mais de 470 anos. Seu modelo de desenvolvimento não leva em conta a adoção de tecnologias que minimizem os efeitos de séculos de invisibilidade financeira. Estes que impactam tanto na capacitação, como em parcerias com corpos técnicos detentores de tecnologia capazes de resgatar a cidadania e auto estima afro empreendedora negra.

Precisamos reconstruir o olhar sobre um segmento desacreditado e com baixa autoestima, que ao longo de gerações tem perpetuado de maneira involuntária os modelos de sustentação social opressora. Ao valorizar e empoderar comunidades endividadas e desorganizadas administrativamente, o debate feminista negro nos dá a chance de pensar ações que possam mitigar os sérios problemas que as áreas de crescimento econômico e social enfrentam no Brasil e em uma cidade como Salvador.

Quando o Julho das Pretas traz para o centro do debate nacional uma agenda conjunta e propositiva sob a organização do movimento de mulheres negras,  essas  além de  envolver pessoas, organizações sociais, pesquisadores e profissionais ligados ao tema, criam  um agenda de  estímulo não somente ao debate, pesquisa e desenvolvimento sustentável com viés racial, como também olhares sobre como as políticas públicas precisam ser pensadas na ótica das mulheres negras.

Ao envolver empresas, empreendedoras, pesquisadoras, inventoras, estudantes e startups  em  seu  debate feminino de maneira plural, o Julho das Pretas dialoga com  o desenvolvimento inclusivo e criação de metodologias  de  aperfeiçoamento do ecossistema afro empreendedor feminino. E os modelos de investimentos estratégicos  e soluções que vem  minimizando os  problemas históricos enfrentados por  mulheres  e jovens negras que impede seu bem viver.

A população negra ainda é maioria em geografias acidentadas e ocupação irregular, onde planos e políticas públicas não dão conta de um elemento estruturante de   desenvolvimento econômico e modernização das cidades, que é o racial feminino e infanto juvenil. Em 2020, a Campanha Julho das Pretas trouxe para o centro das discussões feministas “A vida de meninas e mulheres negras importam”, nos convidando a pensar a realidade vivida pelas mulheres e em especial meninas negras nas cidades e periferias brasileiras.  Estamos falando de pessoas em desenvolvimento que vivem em situações que corrompem e prejudicam sua infância e adolescência, como denuncia o projeto “Hoje meninas, amanhã mulher”. Este que tem cumprido um papel central na defesa desta infância e adolescência que convivem com situações de  abusos sexuais, domésticos  e gravidez precoce ainda em seu desenvolvimento.

A atuação deste projeto no combate à situação de vulnerabilidade social de crianças e adolescentes do sexo feminino – principalmente no Subúrbio Ferroviário de Salvador – tem contribuído para mapear e evidenciar o tamanho do problema invisibilizado  quando se pauta infância feminina negra. Permitindo-nos, inclusive, refletir sobre a  naturalização de falas que as sexualiza, chamando-as, por exemplo, de “novinhas” e naturalizada pela sociedade em músicas diversas a exemplo do pagode, funk e sertanejo. O que nos faz esquecer que a “novinha” tratada como mulher não passa de uma criança ou adolescente.

Ao colocar em evidência o debate sobre as políticas públicas de enfrentamento ao racismo, aos preconceitos e todas as formas de violação de direitos femininos, reafirmando o protagonismo e a participação das mulheres negras nos espaços políticos, a campanha Julho das Pretas pauta não somente a realidade feminina negra, como também problemas que envolvem danos ambientais, segurança, educação, mobilidade, a falta de emprego e a renda feminina.

É preciso pensar um reordenamento administrativo e de investimento em áreas econômicas prioritárias, tendo as discussões sobre os meios para superar a opressão histórica feminina negra como elemento estruturante. Ao utilizar a produção de dados tangíveis e intangíveis produzidos ao longo do tempo por essas mulheres, é possível  atuar sobre a autoestima e  construção de  redes  institucionais que valorizem  a capacidade de resiliência destas mulheres no  lidar com problemas históricos herdados  em virtude da  “invisibilidade feminina negra” na formulação econômica  e social brasileira.

As situações evidenciadas pelo conjunto de mulheres que concentram no Julho das Pretas o momento de cobrar   da sociedade a criação e compartilhamento de soluções inovadoras, tem permitido a empreendedoras negras em diversos setores atuar de forma assertiva no enfrentamento à realidade que as cerca ao longo do tempo. É através da visibilidade e  valorização das iniciativas e conteúdos transversais produzido por um conjunto amplo de mulheres negras que tem sido possível mexer na realidade desta população. É esse conjunto de mulheres que vem possibilitando que diversas outras assumam lideranças de forma global, reforçando o compromisso com uma agenda contemporânea de desenvolvimento sustentável e resiliência onde a participação da sociedade civil feminina é conceito chave quando se fala de gestão,  inovação afro empreendedora  e mulheres negras.

Mais que um momento de celebração e evidências das lutas negras, o Julho das Pretas vem a cada ano se consolidado como um espaço de construção, formulação e apresentação de políticas públicas com capacidade real de construção de um país mais igual para homens e mulheres negras.

 

Me_despache
Luciane Reis

Luciane Reis é publicitária, idealizadora do Mercafro, Bolsista do Programa Marielle Franco de lideranças negras, mestranda em Gestão Pública – UFBA e Conselheira do Olodum

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Artigos

#Opinião – O poder transformador de um mentor: minha gratidão ao professor Helio Santos

Avatar

Publicado

on

Há momentos na vida em que nos deparamos com pessoas que se tornam faróis em nosso caminho, iluminando nossas trajetórias e transformando nossa jornada de maneiras inimagináveis. Para mim, uma dessas figuras é o Professor Helio Santos. Permita-me compartilhar como sua presença impactante moldou minha vida, tanto pessoal quanto profissionalmente.

Conheci o Professor Helio através do Instituto Cultural Steve Biko, no âmbito do projeto Portas e Mentes Abertas (POMPA). Desde o primeiro encontro, seu comprometimento com a mudança e sua crença no potencial das pessoas, independentemente de suas origens, foram palpáveis. Para alguém como eu, cuja história se originou na Saramandaia, bairro popular de Salvador e sem perspectivas de desenvolvimento e crescimento econômico, suas palavras foram como uma brisa fresca de esperança.

O impacto de Helio na minha experiência pessoal é inestimável. Ele foi um dos primeiros a enxergar além das circunstâncias habituais, acreditando firmemente que eu poderia transcender expectativas e moldar meu próprio destino. Sua mentoria foi um farol em momentos de escuridão, um guia que me ajudou a superar desafios e a abraçar meu potencial.

Entretanto, seu papel transcende o acadêmico. Durante minha jornada acadêmica, do curso de graduação ao mestrado, Helio Santos não foi apenas um educador. Enquanto um mentor ativo, ele continuou desafiando-me a pensar de forma crítica, influenciando meus valores e impulsionando meu desenvolvimento enquanto um ser pensante comprometido com outras convicções e habilidades.

Para alguém como eu, sem uma rede sólida de apoio, sua contribuição foi e é o alicerce que faz toda a diferença. Helio não apenas moldou minha formação acadêmica, sendo um dos meus principais intelectuais do campo econômico. Ele contribuiu significativamente para meu crescimento pessoal. Sua orientação foi a chave que moldou parte da pessoa que sou hoje.

Estamos a menos de uma semana da entrega do título de doutor Honoris Causa ao mesmo, pela Universidade Federal da Bahia. Trata-se de uma honraria concedida a personalidades que se destacaram singularmente por sua contribuição à cultura, à educação ou à Humanidade. Sob essa ótica, refletir sobre suas realizações notáveis é um exercício inspirador.

Sua habilidade de caminhar ao lado de mulheres que desafiam e questionam, sem se sentir ameaçado, é admirável e rara. Ele é um verdadeiro exemplo de como transformar força e diversidade feminina em vantagem e elemento que as impulsionam e não que deprecia, feito que admiro profundamente.

Expressar minha gratidão ao Professor Helio Santos é um privilégio. Sua orientação foi fundamental para esculpir um futuro além das expectativas limitadas impostas a uma jovem de Saramandaia, sem redes de suporte. Sou eternamente grata por sua presença em minha jornada, por abrir portas e expandir horizontes.

Neste momento, enquanto expresso minha profunda gratidão, desejo ao Professor Helio Santos sucesso contínuo em todas as suas empreitadas. Sua dedicação incansável à luta pela igualdade e sua influência inspiradora nas vidas daqueles que cruzam seu caminho são uma bússola para um mundo mais justo e inclusivo.

A vida nos presenteia com mentores que nos desafiam e nos capacitam a ser mais do que jamais imaginamos. Helio Santos é um desses presentes em minha vida, e por isso, meu agradecimento é eterno diante desta honraria tão emblemática.

Obrigada por tudo, Professor Helio Santos. Suas contribuições vão além do que palavras podem expressar.

Luciane Reis é publicitária, especialista em educação digital pela Faculdade de Educação da UFBA e mestra pela Faculdade de Administração da UFBA. Teve no professor Helio Santos, a partir do POMPA, um aliado em suas diferentes caminhadas.

Continue Reading

Artigos

#Opinião – De onde vem e para onde vão os corpos negros executados na Bahia? – Por Aline Lisbôa

Avatar

Publicado

on

No Brasil, o racismo aniquila vidas de forma sistemática todos os dias, ou pior, todas as horas. Desde que esse território foi invadido e se tornou Brasil, exterminar gente preta faz parte dessa história. Na Bahia, os altos índices de assassinatos – cerca de 97,9% dos casos são de vítimas negras – tem um significado ainda mais profundo se consideradas as teorias de marginalização da raça, difundidas por Raimundo Nina Rodrigues, de quem o Instituto Médico Legal (IML) herdou o nome.

Além de todo o processo histórico de colonização e escravização de pessoas negras no Brasil, contextualizado pelo conceito de raça e teorias etnocêntricas da branquitude, aqui na Bahia, no século XIX, difundiu-se também o racismo científico, que teoriza, sem nenhum fundamento comprobatório, a marginalização e inferioridade da raça negra e até mesmo destacava, através da medicina legal, que as diferentes raças deveriam ser um fator de responsabilidade penal.

Um dos principais percursores do racismo científico no Brasil, sobretudo na Bahia, foi Nina Rodrigues. Como membro da Escola Tropicalista Baiana, onde desenvolveu as suas conjecturas racistas, sem nenhum fundamento concludente, o médico maranhense, elaborou teorias antropológicas pautadas na inferioridade do negro.  Nina também acreditava na mestiçagem como um processo de degradação da sociedade em um futuro distante.

Entretanto, a mais violenta das suas teorias foi fundamentada através da medicina legal, caracterizando a raça supostamente inferior como imatura e violenta, estando assim, mais propícia à criminalidade e sugerindo que se as raças variam, o conceito de crime também se torna relativo.

Os corpos negros executados na Bahia vem deste racismo científico, que alimentou o racismo estrutural no Brasil.

Mesmo sem fundamento algum, os escritos do médico racista eram de bastante prestígio aqui no Brasil, lastreando esse conhecido racismo estrutural que no nosso dia a dia marginaliza a população negra nas ruas da Bahia e de todo o país.  Esse racismo científico do século XIX reflete na estrutura da sociedade atual, que cotidianamente expõe negros e negras a atos vexatórios, através de acusações, falsas suspeitas, abordagens violentas e desproporcionais, tirando-nos, por fim, o direito de ir e vir e à própria vida, matando violentamente negros todos os dias.

A teoria assusta, mas a prática de extermínio da população negra nos becos e vielas do estado é naturalizada a ponto de o Instituto Médico Legal, para onde serão levados esses copos, animalizados, com raízes na teoria de Nina Rodrigues, carregar o seu nome.

Em 2022, a Defensoria Pública do Estado, contra o racismo estrutural, pediu mudança do nome do Instituto, um espaço a serviço da população baiana, que carrega o nome de um indivíduo autodeclarado racista pela suas produções anti-intelectuais de grande impacto negativo à comunidade negra. Aguardamos respostas.

CONTRA O RACISMO ESTRUTURAL QUE TOMBA OS NOSSOS, NENHUM PASSO ATRÁS!

Aline Lisbôa, mulher negra, mãe solo, defensora das possibilidades acadêmicas de mães negras, graduanda em Pedagogia- UNEB, pesquisadora em Racismo Estrutural, Educação e Relacões Étnico Raciais e Letramento Racial.

 

 

Continue Reading

Artigos

#Opinião – Nós, LGBTQIAPN+, existimos! – Por Laina Crisóstosmo

Avatar

Publicado

on

Ser LGBTQIAPN+ nunca foi seguro, mas nos últimos tempos tem sido ainda mais assustador perceber e sentir o ódio e a vontade que eles tem de nos exterminar. Falam de religião, Bíblia, Deus, amor, mas pregam “cura” para o que não é doença, ou naturalizam nossas violência e morte .

Nossos direitos ainda são muito recentes e é possível listar cada um deles:

1. Retirada do CID que nossa orientação sexual como doença (homossexualismo) da Classificação Internacional de Doenças pela OMS em 1990
2. Tentativa de aprovação do Projeto de Lei 122/2006 que visava criminalizar a LGBTfobia, proposta por Iara Bernardi (PT-SP),
3. Proposta de casamento homoafetivo por Clodovil com o PL 580 em 2007
4. Conquista da União estável 2011 pelo STF
5. Casamento civil equiparado ao casamento previsto no Código Civil em 2013 também pelo STF
6. Conquista do direito ao uso do Nome social em 2016
7. Tipificação do crime de estupro corretivo, crime patricado especialmente contra mulheres lésbicas e pessoas trans como forma de “cura” em 2018 com a Lei de Importunação Sexual
8. Aprovação da Lei de Criminalização da LGBTfobia em 2019 no STF mais uma vez colocando o crime dentro da Lei 7716/89, Lei CAÓ (lei que prevê o crime de racismo)
9. Direito a Doação de sangue por pessoas LGBTQIAPN+ em 2021 em especial para homens gays e pessoas trans e travestis

Parece muito, mas ainda lutamos todos os dias para provar que não só existimos, resistimos, mas que precisamos de políticas públicas, direitos e acessos. Nessa semana estive em Brasília e foi assustador perceber o quanto os fundamentalistas e facistas nos odeiam, sentir isso na pele, nos olhares, nas falas, ver a deputada federal lésbica Daiana Santos adoecer após ataques e precisar fazer uma cirurgia de urgência foi entender o que nos espera mesmo com a derrota de Bolsonaro. A politica dele ainda está extremamente presente em todas as casas legislativas do Brasil e em especial no Congresso Nacional.

A comissão da previdência, assistência social, infância, adolescência e família decidiu derrubar o direito ao casamento LGBTQIAPN+ e isso tem nos movido para algo que é ou deveria ser óbvio: NENHUM DIREITO A MENOS! Imagine desde 2011 nossas famílias podem ser oficializadas e desde então somos mais de 80 mil famílias em todo o Brasil (dados de 2021), de acordo com pesquisas mais de 51% da população brasileira concorda com o casamento civil homoafetivo.

Mas no último dia 19 de setembro o que vimos foi um show de horrores, transfobia, LGBTfobia, violência, ameaças, deboche, desdém com direito ao uso da Bíblia para dizer o que é família, utilização de falas sobre sexo biológico, violação da lei que criminaliza LGBTfobia desde 2019. Estar lá me fez ter medo, ter crise de ansiedade, ter angústia, mas também ter certeza de que nós existimos e TUDO QUE NÓS TEM É NÓS!

Conseguimos suspender a votação, garantimos que no próximo dia 26 de setembro haverá uma audiência pública sobre o tema e no dia 27 de setembro provavelmente será votado. Certamente perderemos, temos poucos dos nossos, mas que são fundamentais para saber quem está do nosso lado e entender que o #OAmorVence, tem vencido e seguirá vencendo!

Passará pela comissão, depois precisa ir ao plenário da Câmara Federal, depois Senado e se passar por tudo isso com aprovação ainda tem a possibilidade do veto de Lula, então nossas famílias vencerão e seguirão a existir, é preciso ter esperança e união entre nós!

O amor vencerá e nós seguiremos lutando na coletividade!

Laina Crisóstomo
Mulher negra, lésbica, gorda, filiada ao PSOL, mãe, candomblecista, antiproibicionista, advogada feminista e popular, fundadora da ONG TamoJuntas, co vereadora na Mandata Coletiva Pretas Por Salvador e procuradora parlamentar da Mulher da Câmara Municipal de Salvador.

Continue Reading
Advertisement
Vídeo Sem Som

EM ALTA