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Religião

#100AnosBateFolha – “É um feito repleto de grandiosidade, fé e perseverança.”

Jamile Menezes

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São 100 anos de resistência histórica do povo Bantu que chegou a Salvador e aqui fundou um dos mais tradicionais Terreiros de Candomblé da Bahia: o Terreiro do Bate Folha. Localizado no bairro da Mata Escura, o Terreiro está em plena festa de celebração deste centenário, com atividades que vão de lançamento de selos comemorativos, passando por exposição fotográfica, seminário e lançamento de um Memorial sobre a história da Casa. As atividades seguem até este domingo (4).

O Portal SoteroPreta entrevistou, com exclusividade o líder religioso do Terreiro, Cícero Rodrigues Franco Lima, o Tata Muguanxi. Confira:


Historicamente, como o Terreiro do Bate Folha se insere na comunidade e quais relações históricas perduram nos dias de hoje?

Tata Muguanxi – Historicamente, o Terreiro do Bate Folha está inserido no contexto da comunidade do bairro da Mata Escura há mais de cem anos. Atuamos como  um marco referencial de instituição religiosa de matriz africana participativa, representativa e engajada com a comunidade de seu entorno, seja por abrigar a memória coletiva do bairro, por receber os moradores ou abrir as portas para realização de atividades que sejam de extensão. Temos bom relacionamento com cooperativas, grupos culturais e até mesmo, outras entidades religiosas da Comunidade.

As invasões eram mais recorrentes, as ofensas e, inclusive, as penalidades legais às lideranças religiosas. Pensando neste contexto, a gente até entende o porquê das casas serem tão afastadas dos centros das cidades.

terreiro bate folha

Qual a importância de um Terreiro completar 100 anos em uma cidade como Salvador, no contexto de intolerâncias e agressões legais e políticas ao Candomblé?

Tata Muguanxi – A importância reside na constatação de que resistimos às dificuldades de cada período da sociedade e estabelecemos laços de família, união e amor aos Nkisses. É um feito repleto de grandiosidade, fé e perseverança. Quando imaginamos e sofremos com o processo de intolerância religiosa, ocorridos ainda hoje, nos dias atuais, fico pensando em 1916. O processo de abolição dos negros escravizados ainda estava recente e, como consequência, o racismo estava institucionalizado em todas as práticas de matriz africana, principalmente, o Candomblé.

“É importante frisar que na reverência aos Nkisses ela terá a mesma grandiosidade e importância de todas as nossas celebrações e o compromisso com os ritos sacros estão mantidos.”

terreiro bate folhaNesta história centenária, o que, historicamente, não pode ser esquecido?

Tata Muguanxi – Primeiramente, o que não pode ser esquecido de maneira nenhuma nesse processo histórico é a força dos Nkisses, como também a visão de família, de comunidade, de função social de um homem chamado Manoel Bernadino da Paixão, nosso fundador. Essa importância na divulgação, socialização e manutenção de uma religião tão discriminada, tão combatida, como foi e ainda é o Candomblé, embora em menor grau nos dias de hoje. E em segundo, a força do candomblé Congo-Angola, de tradição Banto, em Salvador, que apesar de ser reservado, consegue perpassar toda essência do culto.

É a primeira vez que o Terreiro abre suas portas para uma atividade deste porte?

Tata Muguanxi – Não é a primeira vez que o Terreiro do Bate Folha abre e sedia eventos e atividades de porte expressivo e significativo, basta lembrar do encerramento do 2º Congresso Afro-brasileiro, realizado em 1937, onde seu Bernadino teve participação expressiva, contribuindo, inclusive, com um artigo publicado em 1942 no livro “O Negro no Brasil”. Na verdade, é mais incomum. Geralmente, nossas portas são abertas apenas para cultos religiosos ou visitas de grupos agendados.

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Fotos: Marisa Vianna

“Só que são 100 anos e, por si só, já requer uma celebração à altura, com música, história, debate,
teatro, dança, pesquisadores de casa, olhar de dentro da casa, selo, exposição fotográfica.. enfim! Tudo que um centenário tem direito. E nada mais justo do que isso ocorrer no espaço, na Casa que abrigou o Centenário. “

 

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Tata Muguanxi e Nengua Guaguanssesse

 

Terreiro do Bate Folha – Rua Dionísio Brito Santana, antiga Travessa São Jorge, n. 65-E, bairro da Mata Escura, Salvador.

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Religião

21ª Caminhada Pela Paz homenageia Exú, Mensageiro da Paz

Kelly Bouéres

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Caminhada Pela Paz, Pela Vida e Contra o Racismo Religioso
Fafá Araujo

A 21ª Caminhada Pela Paz, Pela Vida e Contra o Racismo Religioso acontece em Salvador, reunindo comunidades religiosas, artistas e comunicadores para reforçar o combate à intolerância e ao preconceito. O seminário da edição, “Exú, o Mensageiro da Paz”, será realizado no Terreiro do Cobre, Engenho Velho da Federação, no dia 8 de novembro, às 15h, desmistificando preconceitos sobre o Orixá Exú.

“O tema deste ano homenageia Exú, força que abre caminhos e conduz transformações”, afirma a organização.

O seminário contará com Egbomi Marlene de Exú (Axé Bomboxé), Rychelmy Esutobi (Ilê Asé Ojisé Olodumare), Sergio Laurentino (Bando de Teatro Olodum e Ilê Axé Oluayê Onissogum), e a multiartista Nildes Sena. O escritor Nelson Maca participa com intervenção poética, e a mediação é do jornalista André Santana.

A Caminhada será no dia 15 de novembro, com concentração a partir das 14h, na Praça Mãe Runhó, fim de linha do Engenho Velho da Federação. O cortejo percorre ruas históricas do Engenho Velho, Federação, Garibaldi e Vasco da Gama, passando por terreiros tradicionais como a Casa Branca, Gantois, Terreiro de Oxumaré, Bogum, Tumba Junsara e Tanuri Junsara.

Criada em 2003, a Caminhada surgiu como resistência às perseguições e violência contra os povos de axé e se consolidou como um dos maiores atos de fé, diversidade e convivência plural na Bahia.

“Ao som dos atabaques, com cantos, rezas e palavras de ordem, celebramos as heranças africanas que fundamentam a religiosidade negra e a história do Brasil”, afirmam os organizadores.

SERVIÇO:

Seminário: “Exú, o Mensageiro da Paz”
 8 de novembro de 2025, às 15h
Terreiro do Cobre – Rua Apolinário Santana, 154, Engenho Velho da Federação

21ª Caminhada Pela Paz, Pela Vida e Contra o Racismo Religioso
Quando: 15 de novembro de 2025, a partir das 14h
Onde: Praça Mãe Runhó – fim de linha do Engenho Velho da Federação

Informações para imprensa: André Santana (71) 98873-7047 / Meire Oliveira (71) 99995-5308

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Música

Irmãos no Couro celebra oito anos no Casarão das Yabás

Jamile Menezes

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A partir da formação da Escola de Toques é que nasceu, em 2019, a Orquestra Irmãos no Couro, passando a uma fomentar a outra.

No dia 27 de setembro, o projeto Irmãos no Couro completa oito anos tendo como finalidade a preservação e a manutenção da identidade e do saber ancestral afro brasileiro, utilizando como principais ferramentas os toques, as cantigas e os conhecimentos que vem sendo transmitidos por gerações.

Tudo começou com a reverência àqueles encarregados de despertar as divindades através dos toques como os Mestres Nem (Tio Patinho – Terreiro do Cobre), Reinaldo, Tata  Landemunkosi, e Nelson, Tata Jimungongo (Nzo Tanuri Junsara) e os Alagbé Edvaldo Araújo, Asogun Arielson Chagas (Terreiro da Casa Branca), bem como transmitir o conhecimento adquirido no convívio com eles.

Sediado no centenário Nzo Tumba Junsara, localizado no bairro do Engenho Velho da Federação, em Salvador, o Irmãos no Couro realiza oficinas de atabaques, formação de orquestra junto aos Clarins da Bahia, confecção de instrumentos tambor ìlú e xequerê, formação da banda de samba de terreiro e viola.

A partir da formação da Escola de Toques é que nasceu, em 2019, a Orquestra Irmãos no Couro, passando a uma fomentar a outra.

Neste dia 27 de setembro, quando celebra oito anos de criação, o Irmãos no Couro prepara mais uma edição e será no Casarão das Yabás (R. Martin Francisco, 15 – Garcia), a partir das 20h. Os ingressos serão vendidos a R$ 25, até a limitação do espaço. Terá participação de Orisun, Juraci (Samba Trator), Alacorin e Geo da Viola.

 

 

 

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Religião

Mãos no Tambor: formação em Cânticos e Toques do Candomblé reabre inscrições

Jamile Menezes

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Mãos no Tambor

O projeto Mãos no Tambor, idealizado pelos ogans Jean Chagas e Irlan Cruz (Nego Kiri), dará início a uma temporada de aulas mensais de Cânticos e Toques do Candomblé, no Engenho Velho de Brotas a partir de 4 de outubro. A contribuição é de R$ 100 por mês, que dá direito a quatro encontros: às terças e quintas-feiras, das 18h30 às 20h, e aos sábados, das 10h30 às 12h.

Criado em março de 2025, o Mãos no Tambor já realizaram o primeiro Workshop gratuito no Terreiro Casa Branca, com mais de 30 alunos e no próximo dia 20 de setembro, será realizada uma aula com a segunda turma.
Mais do que ensinar técnicas, o projeto promove a valorização da oralidade, do ritmo e da escuta. Ao reunir jovens de diferentes casas, reforça a importância da preservação dos saberes ancestrais.
O nosso compromisso é mostrar que os jovens de terreiro estão assumindo responsabilidades e mantendo a tradição. Por isso, decidimos transformar essa troca em algo regular, para garantir que esse conhecimento circule e inspire novas iniciativas, O objetivo dos idealizadores é que as aulas assegurem a continuidade da tradição. Enquanto os Orixás permitirem, o Mãos no Tambor vai seguir evoluindo, sempre com mais ideias e responsabilidades”, explica Jean Chagas, ogan do Terreiro Casa Branca.

As vagas são limitadas e as inscrições devem ser feitas por meio de um formulário on-line.

Para Nego Kiri, ogan do Terreiro do Cobre, a continuidade é fundamental: “Queremos mostrar que ainda existem jovens comprometidos com a religião e dispostos a preservar os saberes ancestrais. Cada aula é uma forma de resistência e de afirmação da nossa identidade”.

Serviço:

Aulas Mensais – Projeto Mãos no Tambor

Data: a partir do dia 4 de outubro

Inscrição: AQUI 

Fotos: Arthur Seabra

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